CENA
1: Suzanne se choca com atitude de Márcio, porém aproveita a
confusão que se forma imediatamente e foge. Guilherme se desespera
com o desfecho que a coisa toma e cai em si, num pranto sentido.
Tenta se aproximar de Cláudio, mas antes que isso aconteça, é
algemado.
-Você
está preso! - fala Valentim.
-Eu
juro que não queria que acabasse assim, eu juro! - grita Guilherme.
-Você
tem o direito de permanecer calado. - sentencia o policial que o
algemou.
Guilherme
é levado para fora do teatro. CORTA A CENA.
CENA
2: Cláudio se desespera com o pai ferido e o coloca em seus braços.
Marcelo e Raquel, desesperados com a situação, se aproximam, mas
Cláudio pede que mantenham distância.
-Se
afastem um pouco! Meu pai precisa respirar. Alguém chama uma
ambulância por favor! - fala Cláudio.
-Meu
filho... não fique assim. Eu sabia que seria desse jeito... no fundo
eu sabia. - fala Márcio.
Cláudio
estranha.
-Como
assim, pai? Procura não fazer muito esforço, a ambulância já deve
estar a caminho...
-Acho
que não vai dar tempo. Sim, Cláudio... eu sabia que isso podia
acontecer. Dona Velha me disse... só agora eu entendi.
-A
Dona Velha? O que tem ela?
-Ela
disse que eu precisava tomar uma decisão vital. Eu fiz o que tinha
que ser feito. Te protegi... e evitei que a Suzanne fosse morta. Essa
era a minha missão.
-Para
com isso, pai... você vai ver como vai sair dessa.
-Eu
não vou, filho. Eu estou morrendo.
-Por
favor, pai... para com isso...
Cláudio
começa a chorar e Marcelo se aproxima.
-Pai,
não faz assim com a gente... resiste! A gente tem tanta coisa ainda
pra viver! - fala Marcelo.
-Isso!
Escuta o Marcelo... resiste por nós! Resiste por todas as coisas
bonitas que ainda vão aparecer nessa vida... - fala Cláudio.
-Não
vou deixar de viver. Agora que eu sinto o meu corpo indo embora eu
sei que não vou deixar de viver, nunca. Vou viver em consciência,
vou viver no coração de vocês, no coração da minha mãezinha...
ah, mãezinha... vem cá... - fala Márcio.
-Querido,
não fala muito. Você vai ser atendido em menos de cinco minutos.
Você sempre foi forte, meu filho. Vai sair dessa... - fala Raquel,
chorando.
-Me
desculpa, mãezinha... não vai dar. Eu sei que não é justo com
você. Juro que você sempre foi a mãe do meu coração. Não queria
te causar essa dor... mas não teve outro jeito. Eu tinha que salvar
o meu filho... o seu neto. Marcelo, Cláudio... eu fui muito feliz
nessa encarnação aqui, ainda que tenha sido só nos momentos
finais. Vocês me enchem de orgulho. Foi uma honra poder ser pai de
vocês. É lindo ver que vocês são homens fortes, pessoas dignas,
seres humanos de alma bondosa. São tudo o que eu sempre quis ter
sido. Cláudio, meu filho tão esperado... você tem uma força
imensa de ser feliz. Me promete que nunca vai deixar de sorrir e de
encontrar motivos nessa vida para felicidade e gratidão... - fala
Márcio.
-Claro
que eu prometo, pai. Mas fica aqui com a gente! Pai... pai... pai! -
grita Cláudio.
Márcio
morre nos braços de Cláudio. CORTA A CENA.
CENA
3: UM MÊS DEPOIS.
Cláudio
e Bruno estão no cartório prestes a se casarem. Bruno está
hesitante.
-O
que foi, amor? De repente eu notei você estranho...
-Estranho
não é a palavra, meu amor. Você sabe que tudo o que mais quero
nessa vida é casar com você, não sabe?
-Claro
que sei, Bruno.
-Acontece
que tá tudo muito recente ainda. Você está vivendo o luto pela
morte do seu pai ainda. Se isso abalou a nós, imagina como não foi
com você e com o Marcelo... aquela tragédia até hoje parece
surreal pra mim... é difícil até de lembrar.
-Meu
amor, foi a última promessa que fiz pro meu pai: que eu nunca ia
deixar de sorrir, que nunca em hipótese alguma eu ia deixar de
buscar e encontrar razões pra ser feliz e grato por tudo. Claro que
tudo isso me dói demais ainda... faz um mês que meu pai se foi e eu
sinto como se ele estivesse aqui, comigo, o tempo inteiro. Mas é em
honra a memória dele que eu não posso deixar de ser feliz. E não
posso deixar de te fazer feliz... nem por um segundo...
Cláudio
se emociona e Bruno o abraça.
-Sua
força me inspira, meu amor. Você é a pessoa mais incrível que já
conheci nessa vida, Cláudio. Sou um homem sortudo demais de poder me
casar com um ser humano raro como você.
-Eu
que sou sortudo, Bruno. Você ressignifica dentro de mim todos os
dias o que é o amor incondicional. Você me deu uma segunda família
que eu amo como se fosse a minha. E assim, com tudo isso, fica quase
impossível eu não lembrar da promessa que fiz ao meu pai... que é
de ser feliz todos os dias. É fácil ser feliz na vida quando a
gente ama sem reservas...
Rafael
e Marcelo chegam.
-Olhem
aqui, suas viada melosa, cês parem com essa melação que falta
menos de cinco minutos pra gente entrar e vocês se casarem. Então
tratem de se recomporem que eu não quero saber dos meus afilhados
com cara inchada de choro em pleno casamento, ora essa! - fala
Marcelo.
CORTA
A CENA.
CENA
4: Adelaide, Cleiton, Regina e Geraldo estão na ONG trabalhando
quando são surpreendidos pela chegada de Eva e Renata.
-Surpresa!
- gritam as duas ao mesmo tempo.
-Vocês
não disseram que estavam voltando! - vibra Regina.
Adelaide,
Regina, Geraldo e Cleiton abraçam as filhas.
-A
gente quis fazer uma surpresa pra vocês. Não viemos passar muito
tempo, mas estávamos morrendo de saudades e temos tanta, mas tanta
novidade que vocês nem imaginam! - fala Renata.
-Quantos
dias vocês vão passar aqui? - pergunta Cleiton.
-Acho
que uns quinze dias... é tempo suficiente pra gente matar a saudade
de vocês e do inconfundível tempero brasileiro. Te contar um
negócio, seu Cleiton: a comida no exterior é a coisa mais bizarra
que existe. A gente sente o choque cultural é mesmo no estômago! -
brinca Eva.
-É,
mas não pensem vocês que vão escapar de nos contar tudinho que
vocês andaram vivendo nesses meses fora. A gente quer saber detalhe
por detalhe, por mínimo que seja! - fala Adelaide.
-Lá
vem a virginiana detalhista... - brinca Renata.
-É,
mas bem que vocês gostam da minha chatice! - revida Adelaide.
Todos
seguem conversando animadamente sobre as novidade de Eva e Renata
pelo mundo. CORTA A CENA.
CENA
5: DIAS DEPOIS.
Cláudio,
acompanhado de Bruno, vai visitar Guilherme no instituto psiquiátrico
em que ele está internado em definitivo.
-Você
tem certeza que é seguro, amor?
-Claro
que sim, Bruno... Guilherme se desligou completamente da realidade.
Agora diz se chamar Henrique, que o Guilherme que era o intruso. Ele
vive numa realidade paralela, segundo o que me disseram...
-Pois
ele está vindo. Você prefere que eu fique longe?
-Não...
fica aqui. Qualquer coisa, você entra na fantasia dele...
Guilherme
se emociona ao ver Cláudio.
-Que
bom que você veio, meu amor. Olha só o que eu fiz pra você... -
fala Guilherme, entregando um desenho com o rosto de Cláudio.
-Você
desenha muito bem, Guilherme. Parabéns.
-O
Guilherme não existe, eu sou o Henrique. Você sabe como eu lutei
pro intruso ir embora, não sabe? Eu te amo, você me ama?
-Claro
que eu te amo, Henrique...
Bruno
se incomoda.
-Paciência,
Bruno... paciência... - contemporiza Cláudio.
-Ei,
Bruno... eu lembro de você. Você é aquele amigo que morou junto
com o Claudinho, não é? Como andam as coisas em Santa Tereza?
Saudade daquele bairro. Quando a minha mansão estiver pronta, vou
convidar vocês todos pra morarem comigo. Sempre quis uma casa
cheia... - delira Guilherme.
Bruno
se choca com a desconexão de Guilherme da realidade. Guilherme se
volta aos outros internos.
-Viu,
gente? Eu disse que sou casado. Esse aqui é o Cláudio, meu marido.
Não é, Cláudio? - fala Guilherme.
Cláudio,
chorando pelo estado em que Guilherme se encontra, concorda.
CORTA
A CENA.
CENA
6: MESES DEPOIS.
Nasce
o bebê de Laura. Haroldo e Mateus são parabenizados por Cláudio,
Bruno, Rafael, Marcelo, Vicente, Riva, Mariana, Ivan, Marion e
Valquíria.
-Quer
dizer que correu tudo bem, então? - anima-se Ivan.
-Sim,
pai. Você é oficialmente avô, lide com isso! - vibra Haroldo.
-A
gente já pode ver o bebê? - pergunta Riva.
-Claro
que sim, dona Riva. Já faz uma meia hora que nosso bebê nasceu,
estávamos esperando que vocês chegassem. - fala Mateus.
Todos
vão ao quarto onde Laura está amamentando seu filho pela primeira
vez.
-Eita
que eu tou me sentindo famosa! Que isso, gente! Toda essa montoeira
de gente pra me parabenizar pelo bebê? Amei! - fala Laura.
-E
ainda tá faltando mais gente, minha amiga. Procópio não pode vir
porque tá escrevendo outra peça. Mara, Valentim e minha avó estão
sempre às voltas com o trabalho, então já viu... - fala Cláudio.
-É
mesmo um bebê lindo, grande e forte. Como vai se chamar? - pergunta
Marion.
-Tomei
a decisão tem alguns meses, mas não falei nem pros meninos ainda...
- fala Laura.
-Então
fala que eu já tou me roendo aqui... - fala Marcelo.
-Meu
filho vai se chamar Márcio. Eu tomei a decisão quando aconteceu
aquela coisa toda com o pai de vocês, Marcelo e Cláudio. Ele foi
grandioso, gigante... deu a vida por amor. Só pensei em homenagear
esse grande homem que ele foi desde então... então eu decidi que
meu filho vai ter o nome de Márcio... em homenagem a esse grande
homem, que enfrentou as sombras de si mesmo e soube amar até o
fim... - fala Laura.
Todos
se emocionam. CORTA A CENA.
CENA
7: No dia seguinte, Raquel recebe Cláudio, Bruno, Vânia,
Setembrino, Riva, Marcelo, Rafael, Mariana, Ivan, Vicente Marion e
Valquíria em sua casa para um almoço de fim de semana.
-Sabe,
gente... eu adoro receber amigos em casa. Senti muita falta de fazer
esses almoços pra um batalhão... - fala Raquel.
-E
eu devia ter vindo mais vezes aqui, né vó... que neto desnaturado
eu sou... - fala Cláudio.
-Você
nem se justifique que eu sei que você tava recém-casado com o
Bruno, tem mais é que aproveitar. Mas eu queria saber se vocês
gostaram da comida que eu fiz pra receber vocês...
-Nossa,
Raquel... tava realmente uma delícia! Você é ótima! - fala Riva.
-Essa
daí acha tudo sempre uma delícia, só pensa em comer... mas sua
comida estava realmente excelente. - fala Marion.
-Vó...
eu tava pensando numa coisa aqui... já fiz as pazes com meu passado
e até perdoei a Suzanne por tudo... você se incomodaria de mostrar
pra gente o álbum de família se a senhora tiver? - pergunta
Cláudio.
-Em
primeiro lugar, senhora está no céu, meu querido... me chame de
você porque eu prefiro assim... mas sim, eu pego meu álbum de
família, dá só um minutinho...
Poucos
instantes depois, Raquel retorna com o álbum. Todos sentam-se
próximos dela e ela vai mostrando as fotos de família.
-Bem...
esse aqui era meu pai, o Hildebrando. Morreu jovem, coitado... mas
sempre foi um excelente pai. - fala Raquel.
Quando
Raquel vira a página, Cláudio reconhece a senhora da foto.
-Ei,
espera aí! Eu conheço essa mulher! - afirma Cláudio.
-Eu
também conheço... é a Dona Velha, que esteve lá em casa
inclusive... - constata Riva.
-Gente...
isso que vocês estão me dizendo é algo meio impossível... essa é
minha mãe. Ela morreu há mais de trinta anos. - afirma Raquel.
Todos
entendem quem era a misteriosa senhora e se olham, perplexos e
emocionados. CORTA A CENA.
CENA
8: Estreia a primeira novela totalmente produzida para a internet
pela produtora de Vicente, que comemora com Valquíria o sucesso
imediato da trama.
-É,
dona Valquíria... a melhor decisão que a gente podia ter tomado foi
produzir a sua novela. O sucesso está sendo imediato, os comentários
não param de pipocar!
-Não
dá nem pra acreditar no sucesso dela. Eu tava insegura é sobre o
título que escolhi pra ela... mas quando eu vi, não podia mais
mudar... ficou “Sonhos Líquidos”, mesmo.
-Talvez
esse seja o forte da obra, dona Valquíria... é um título
diferenciado, que chama a atenção. Instiga a curiosidade de quem
possa assistir e não entrega muito sobre o enredo... só vendo pra
descobrir. Aprendi isso nos anos de publicidade...
-É,
meu querido... essa coisa toda tá crescendo e muito!
-Mais
rápido que eu imaginei, inclusive.
-Isso
significa que o trabalho de todos nós vai intensificar... inclusive
o meu, que tenho que dar conta de escrever os cento e cinquenta e
cinco capítulos de “Sonhos Líquidos”...
-Verdade.
Mas hoje mesmo eu vou conversar com um pessoal que saiu das emissoras
pra tentar vaga aqui. Já tou podendo pagar melhor, então a hora é
de expandir...
CORTA
A CENA.
CENA
9: Dias depois, Riva lê uma notícia num famoso site e chama
Vicente.
-Amor,
vem cá ler uma notícia que saiu sobre a Fermata Visual!
-Ah,
tou aqui distraindo nosso filho! Lúcio não quer parar de brincar
comigo. Tem como ler em voz alta?
-Claro,
querido... vou começar, tá?
-Pode
começar.
-A
notícia diz assim no título “O Improvável Império da Fermata
Visual e a Revolução das Mídias”.
-Gente
do céu, que título longo! Continua, amor...
-Depois
segue assim: “Com produções caprichadas e com nível equivalente
às maiores emissoras do Brasil e do mundo, o sucesso improvável da
Fermata Visual prova que o gosto do brasileiro pela dramaturgia nunca
deixou de existir. Faz parte da identidade do brasileiro, bem como o
carnaval e o futebol. Povoa o imaginário popular e ainda prova ser o
motivo de acaloradas discussões, antes em mesas de bar, hoje nos
comentários da internet que nunca param de pipocar. As produções
da Fermata Visual, cujo dono é o ator e diretor Vicente Fernandes,
desde o começo se destacaram aqui no Brasil e fora do país, onde a
produção “Heróis Reais”, primeira série produzida pela
Fermata Visual, foi agraciada por uma importante premiação na
Holanda. Desde então, o requinte da produção de cada obra tem se
mostrado cada vez maior e a estreia da novela “Sonhos Líquidos”,
de autoria de Valquíria Oliveira e Leandro César Martins, prova que
o gênero da telenovela, ainda que deslocado para as plataformas de
internet, tem a capacidade de mover multidões e parar o país. A
ascensão da Fermata Visual determina o nosso futuro, que é
inevitável: a TV, já calejada e obsoleta, está dando um espaço
cada vez maior à internet. Assim como o rádio, não vai deixar de
existir, mas os grandes empresários, donos de impérios, devem
prestar atenção nesse movimento de mudança, antes que terminem
engolidos pelo próprio conservadorismo. O futuro é agora e o futuro
se chama Fermata Visual.”
-Riva...
eu sabia que o sucesso estava sendo cada vez maior, mas a esse ponto?
-É,
amor... acho que nós temos não apenas uma mina de ouro, como
estamos também ditando tendências pro futuro...
-Às
vezes fica difícil de crer que tudo isso é real. E um artigo desses
me deixa até sem graça... mas muito feliz ao mesmo tempo.
-E
não é pra menos... a gente tá conseguindo fazer sonhos se tornarem
realidade. Isso é lindo demais!
CORTA
A CENA.
CENA
10: Cláudio e Bruno chegam a Londres e são recebidos por Victor e
Diogo.
-Nossa,
vocês não disseram que vinham buscar a gente no aeroporto... - fala
Cláudio.
-Insistência
do Diogo. Ele enfiou na cabeça que vocês, logo vocês que são
fluentíssimos no inglês, poderiam se perder pra chegar na nossa
casa. - fala Victor.
-Esse
daí não muda nunca, Victor. Nem mudando de continente ele deixa de
se cercar de mil cuidados... era assim e sempre vai ser pelo visto...
- brinca Cláudio.
-Ah,
olha quem fala. O Cláudio tá sempre dando um jeito de me cercar de
cuidados. Quando eu tinha doado meu rim pra minha mãe, socorro! Esse
daí não me deixava fazer era nada! Então aqui é o sujo falando do
mal lavado, isso sim! - segue Bruno na brincadeira.
-Quantos
dias vocês pretendem ficar aqui em Londres? A gente tem espaço de
sobra na nossa casa, podem ficar o tempo que quiserem... - fala
Diogo.
-Inclusive
se quiserem se mudar pra cá, como eu também sou cidadão britânico,
eu posso facilitar bastante... - fala Victor.
-Que
isso... a gente mal chegou e vocês estão querendo que a gente fique
pra sempre? A gente tem vida no Brasil... enfim, mas pretendemos
passar um mês aqui com vocês, se não for demais... - fala Cláudio.
-Pra
mim tá ótimo... - fala Diogo.
-Pra
mim também.
Os
quatro deixam o aeroporto. CORTA A CENA.
CENA
11: Marion e Riva fazem compras no shopping e quando estão indo à
praça de alimentação, são reconhecidas por fãs.
-Gente,
olhem elas! São elas! - fala um fã.
-Marion
Bittencourt e Riva Oliveira! As melhores atrizes de “Sonhos
Líquidos”! - fala uma fã.
-Vocês
poderiam tirar selfies com a gente? - pergunta outro fã.
-Claro,
queridas! Algum problema, Marion? - fala Riva.
-Nenhum.
Mas vamos nos organizar que tem selfie pra todo mundo! - fala Marion.
Todos
os fãs tiram as selfies com as duas e saem satisfeitos.
-Quem
diria... eu sendo reconhecida como atriz e não é por estar andando
ao seu lado... ainda fico besta com isso...
-É,
Riva... a vida é sempre essa deliciosa caixinha de surpresas...
As
duas fazem pedidos. CORTA A CENA.
CENA
12: Raquel, Mara e Valentim, acompanhadas de policiais, invadem
apartamento de um homem.
-Lucas
Bulhões de Moreira, nós temos um mandado de busca e apreensão. -
anuncia Valentim.
O
homem se assusta e tenta fugir, sendo contido por um dos policiais.
Raquel o encara.
-Nós
sabemos que você é o mentor do maior grupo que prega o estupro
corretivo contra lésbicas. Você tem o direito de permanecer calado
e seus computadores serão confiscados para averiguação, mas além
disso, você está preso. - fala Raquel.
-Isso
é um engano, é uma injustiça! A culpa não é minha, eu posso
provar! - desespera-se o homem.
-Você
não tem mais pra onde correr. Reunimos provas contra você durante
meses de investigação. Não resta dúvida de que você é o cabeça
de tudo isso. Estamos protegendo as mulheres dessa cidade e quem sabe
desse país ao te colocar onde você deveria estar desde o começo. -
fala Mara.
-Esse
jogo não acabou, suas safadas... aposto que uma de vocês aí é
fancha, fanchona das bravas. Eu ainda vou mostrar o que é bom! -
fala o homem, asqueroso.
-Levem
esse sujeito pro camburão antes que eu mesma meta a mão na cara
desse infeliz! - ordena Raquel.
CORTA
A CENA.
CENA
13: Mateus grava sua participação no primeiro programa de
variedades da Fermata Visual e é entrevistado por Marcelo.
-Seja
bem vindo ao “Vozes da Diversidade”, Mateus Viveiros. O tema do
nosso primeiro programa hoje é relações poligâmicas ou, como os
próprios praticantes costumam definir, relações poliamorosas.
Aliás, acho tudo esse termo! O que você pode nos falar a respeito,
Mateus?
-Muito
obrigado pelo convite, Marcelo e produção. Bem... eu acredito que a
primeira coisa que deve ser destacada, quando a gente fala de
relações poliamorosas, é que ao contrário do que pensam as
pessoas mais conservadoras e intolerantes, não tem nada a ver com
promiscuidade. Dentro de uma relação poligâmica podem haver
heterossexuais, bissexuais e homossexuais. Estar dentro de uma
relação dessa natureza não implica necessariamente que todos vão
se relacionar entre si. Já conheci casos de pessoas próximas a mim
que vivem a relação poliamorosa, mais especificamente um caso que
sempre gosto de mencionar, onde os dois homens se relacionam apenas
com a mulher. O interessante dessa dinâmica deles é que os três
desconstruíram ideias de amor que na verdade falavam de apego e
possessividade. Principalmente no caso da mulher que se relaciona com
eles, que venceu muito dos próprios fantasmas interiores e conseguiu
dominar o que antes era o seu pior defeito, que era o excesso de
ciúmes.
-Interessante
isso, Mateus. Realmente essa temática é riquíssima, rende horas e
horas de reflexão, debate e questionamentos. Mas agora eu gostaria
de saber como você lida com o fato de estar numa relação
poliamorosa...
-Bem,
no começo foi um baque, um grande susto. Na verdade as coisas
aconteceram de uma forma tão natural que, quando dei por mim, era a
única alternativa possível. Eu já tinha sido namorado da Laura por
cerca de dois anos, estávamos rompidos, mas morávamos no mesmo
apartamento ainda, coisa que ainda é igual hoje. Foi quando ela
conheceu Haroldo e eles se apaixonaram rapidamente... bem, eu já
conhecia o Haroldo de antes, mas isso seria papo pra outra conversa
fora do tema. O tempo foi passando, eu sentindo falta da Laura ao
mesmo tempo que fui me encantando pelo Haroldo... porque sim, pra
quem ainda tem dúvida, eu sempre fui bissexual. Enfim... chegou um
momento que precisávamos resolver essa questão. Não queríamos
trair uns aos outros... e foi assim que demos livre curso ao amor...
A
entrevista segue. CORTA A CENA.
CENA
14: Riva flagra Vicente pensativo em seu quarto e estranha.
-Eita,
amor... impressão minha ou você tá com a cabeça longe?
-Ah,
Riva... você sabe que às vezes eu fico tendo minhas ideias e vou
pra outros lugares sem nem sair de onde estou...
-É,
mas você parecia estar muito intrigado com os próprios pensamentos.
Tem a ver com a Fermata Visual?
-Tinha,
mas não era o que eu tava pensando agora. Já temos razões
suficientes pra saber que a Fermata é um sucesso inegável e já
está gerando centenas de empregos...
-Mas
então no que você tá pensando?
-Olha,
amor... eu realmente espero que você não leve a mal...
-Claro
que não vou, eu te conheço. Anda, Vicente... pode falar que eu vou
ficar tranquila...
-Cê
acredita que eu ando pensando na Suzanne? Mas não do jeito que você
possa estar pensando.
-Sabe
que às vezes eu também penso nela? Fico pensando o que foi feito
dela...
-É
justamente isso que tava martelando agorinha ainda na minha cabeça.
Nunca mais ninguém soube de nada dela... nem se tá viva, morta, se
trocou de nome, enfim... é intrigante, tudo isso.
-Só
Deus sabe... acho que nós nunca mais vamos saber nada dela...
CORTA
PARA...
...CENA
15 – CENA FINAL: Nas ruas de Milão, Suzanne surge elegante. Entra
em um carro particular e parte para um luxuoso condomínio, onde
chega e deixa suas compras. Chega ao seu quarto depois de dispensar
os empregados e começa a escrever em seu diário secreto. Sua voz é
ouvida em off enquanto ela escreve.
“É...
eu realmente deixei muita coisa pra trás nessa vida. Aprendi a ser
assim quando tive meu próprio coração arrancado do meu peito pela
traição do meu pai. Se arrependimento realmente matasse, talvez eu
já estivesse morta desde jovem, quando tive a dimensão do que fiz
contra aquele a quem mais amei nessa minha vida errante. O fato é
que, a partir dali, eu escolhi não mais amar. Nada, ninguém...
somente a mim mesma. Às vezes, nem isso... mas dá pra se viver. Meu
foco na vida passou a ser lutar para ser rica. Levei tudo isso a
sério. Mas não queria perder tempo... tinha que ser rápido.
Conhecer
o Márcio me trouxe a possibilidade de amar de novo na vida. Mas eu
não podia mais amar... já tinha tomado a minha decisão. Acho que
no começo de tudo, talvez eu tenha amado ele... mas nunca a ponto de
fazer por ele um quinto do que ele fez por mim. Eu jamais morreria
para defender ele. Não entendo como ele teve a capacidade de morrer
por mim.
Hoje
eu não sou mais Suzanne... me chamo Lorena Victorino. Casei com um
senhor milionário e solitário. Só que dessa vez não é golpe...
eu não pretendo eliminar o velho. Eu fui sincera, disse que
precisava refazer minha vida... ele só precisa de companhia. E
assim, eu passo meus dias. Não preciso mais aplicar golpes, pelo
menos não nos próximos anos. Mas, se um dia o aperto chegar, eu já
sou uma cidadã italiana. Posso me candidatar a algum cargo político.
Essa terra ama políticos carismáticos...”
Suzanne
para de escrever por alguns instantes e olha pela janela. A rua está
cinzenta.
-Ah,
meu filho... você é o único que eu amei depois do meu pai. Mas foi
melhor assim... você não merece uma pessoa como eu pra ser sua mãe.
Você ficou melhor sem mim... sem a minha influência. Só me
arrependo disso... de ter te deixado pra trás. Se eu pudesse voltar
no tempo, voltaria pra consertar isso... pra ser a sua mãe de
fato... a mãe que eu nunca fui. Mas é melhor que você me esqueça,
meu querido... que acredite até mesmo que morri. Eu te amo,
Cláudio... pra sempre.
Suzanne
chora e volta a escrever.
“Nunca
tive muito talento pra lidar com emoções. Não sei que tipo de
ausência me consome, mas preferi deixar as pessoas acreditarem que
sou psicopata... assim, talvez elas não sofram pela minha ausência
definitiva. Mas eu não sei deixar de pensar grande... hoje isso faz
parte de mim. Eu quero mais, sempre mais, mais e mais. Pessoas como
eu existem aos montes por aí. Só não vê quem não quer! Eu estou
nos hospitais, nos cargos públicos...
Eu
não sou má. Não me vejo como uma pessoa má... o que eu faço
nessa vida é apenas revelar a sombra oculta de cada pessoa que passe
pela minha vida. Muita gente se convence da pose de bom samaritano
que faz pra sociedade o tempo inteiro... e ficam sem chão quando tem
suas sombras expostas. Eu sou a sombra. Estou por toda parte...
estarei sempre em todos os lugares”.
Suzanne
fecha o diário e ri triunfante, a repetir o que escreveu por último
no diário.
-Eu
estou por toda parte... e vou estar sempre em todos os lugares!
FIM