CENA
1: Bruno vê que Cláudio está tremendo.
-Pesadelo
outra vez?
-Sim,
amor...
-Tenta
relaxar, querido. Você quer que eu faça um chá?
-Quero,
mas eu desço com você...
Os
dois vão à cozinha e Cláudio desabafa sobre o pesadelo.
-Foi
de novo com o teatro em chamas no dia da estreia. Foi horrível, mas
diferente da primeira vez...
-Como
foi, amor?
-Não
tinha ninguém que eu conhecesse na plateia. Mas tinha um público
imenso... depois do fim da peça, ninguém ia me acompanhar ao
camarim, eu me vestia com minhas roupas e sentia um cheiro de
queimado, de fumaça. Ia à cozinha pensando que era a Mara que tinha
deixado alguma coisa no fogo. Mas era o teatro pegando fogo...
-Que
horror! Mas você sabe que tudo isso é pegadinha do seu inconsciente
por medo de fracassar, não sabe?
-No
fundo eu espero que seja só isso, mas me assustam esses pesadelos,
Bruno... de verdade.
-Amor...
sério: pra que levar a sério tudo isso? Não faz nem sentido. Nossa
vida anda tão boa, tão tranquila! Assim que você se livrar dessa
primeira temporada a gente casa... tá tudo certinho, não tá?
-Sim...
óbvio que tá tudo acertado.
-Então
pra que alimentar esses medos? Aposto que tem a ver com alguns
pensamentos negativos que você alimenta sem perceber.
-Perceber
eu percebo... o duro é deter esses pensamentos.
-Cláudio,
você precisa fazer um esforço nesse sentido. Não vale a pena
perder a paz por tão pouco... ó, seu chá tá pronto.
Cláudio
bebe o chá e procura se tranquilizar. CORTA A CENA.
CENA
2: No dia seguinte, Raquel conversa com Mara na companhia de teatro.
-Mara,
eu tenho certeza absoluta que a Suzanne só não foi embora até
agora porque ela realmente tá acobertando alguém perigoso.
-Acobertando
ou evitando que essa pessoa faça alguma besteira?
-Um
pouco dos dois.
-Você
desconfia que essa pessoa seja o Guilherme, não desconfia?
-Tudo
leva a crer que sim. É por isso que, apesar de saber que o Valentim
corre o risco de se queimar pra sempre, não vejo outra saída a não
ser ele investigar por conta própria tudo isso.
-Sabe
o que mais me deixa impotente diante disso? Saber que é a melhor
alternativa, mas que também pode significar o fim da carreira dele
como investigador.
-Você
vai ver como as coisas aos poucos vão se provando...
-Espero
que seja assim mesmo, Raquel. Não sei se o Valentim realmente
estaria preparado pra um golpe desses...
-Tenho
certeza absoluta de que ele tá no rastro certo.
-Queria
ter essa sua certeza. Que há algo de grave nisso, não há dúvida...
agora, saber se isso implica em processo criminal, já é difícil da
gente saber agora.
-As
coisas vão se provar. Eu sei que vão. É Guilherme que está por
trás disso e a voz interna que me diz isso é o instinto de avó.
Sei que meu neto corre perigo, porque sei que ele é o alvo principal
desse cara...
-Infelizmente,
minha intuição aponta para algo parecido. Só que o que me preocupa
nisso é que tanto ele quanto a Suzanne são safos o suficiente para
fazerem as coisas sem deixar rastros.
-Ah,
Mara... você devia saber melhor que eu que não existe crime
perfeito...
CORTA
A CENA.
CENA
3: Ivan, com o apoio de Marion, chama Mariana e Rafael para uma
conversa.
-Queridos...
eu e a mãe de vocês precisamos contar sobre um passo importante que
eu resolvi dar... - fala Ivan.
-Não
vai dizer que tem a ver com o vício... bem que eu estranhei sua
saída sem explicações aquele dia... - observa Rafael.
-Olha,
pai... se você tiver voltado com isso, não vai ter como te
defender... - antecipa-se Mariana.
-Meus
filhos, querem deixar o pai de vocês falar? - repreende Marion.
-Obrigado,
querida. O negócio é o seguinte: eu recaí sim, depois de mais de
três anos sem ir a bingos clandestinos. Mas eu percebi, com a ajuda
da mãe de vocês, que sou um cara realmente viciado. Que isso tá em
mim e provavelmente nunca vai deixar de fazer parte de mim... só que
eu reconheço isso hoje, com clareza. E é por isso que, com o apoio
total e irrestrito da mãe de vocês, eu estou frequentando o
Jogadores Anônimos... - fala Ivan.
-Que
maravilha, pai! Quer dizer que você nunca mais vai recair? -
pergunta Rafael.
-Nunca
mais é tempo demais. Eu não quero mais recair. Mas vou vivendo um
dia de cada vez, do jeito que tem que ser. Só por hoje eu não
apostei. Só por hoje eu venci esse fantasma que vive dentro de
mim... - fala Ivan, emocionado.
Os
três abraçam Ivan, em sinal de compreensão. CORTA A CENA.
CENA
4: Adelaide e Regina atendem meninas em situação de risco e
vulnerabilidade na ONG enquanto Geraldo e Cleiton se encarregam da
administração e manutenção do site.
-Vocês
podem vir com a gente. Aqui é um lugar seguro e vocês podem ficar o
tempo que precisarem. - fala Regina.
-Não
tenham pressa em falar o que lhes aconteceu. Respeitamos o tempo de
cada uma de vocês, mas ainda assim, precisamos saber de onde vocês
vieram. - fala Adelaide.
-A
gente veio de Campos dos Goytacazes. - fala uma das meninas.
-Vocês
quatro? - pergunta Adelaide.
-Sim...
nós somos irmãs. - fala outra menina.
-Certo.
E qual era a situação de vulnerabilidade que vocês vinham vivendo?
- pergunta Regina.
-Nosso
pai. Nosso próprio pai... ele estuprava a todas nós. Eu inclusive
cheguei a engravidar, mas tive um aborto espontâneo... faz mais ou
menos uns quatro anos. Mas eu sou abusada desde meus oito anos. Já
tem dez anos que sofro calada... e eu soube faz pouco tempo que
minhas irmãs menores também foram abusadas... - fala a mais velha
das meninas.
-Vocês
pensam em denunciar o pai de vocês? - pergunta Adelaide.
-Ele
é violento, dona Adelaide. Disse que se a gente mandasse polícia,
ele matava nossa mãe e nossos irmãos meninos, que ficaram por lá...
- esclarece a irmã mais velha.
-Como
você se chama? - pergunta Regina.
-Tenho
o mesmo nome da senhora. Me chamo Regina. - fala a menina.
-Vocês
podem levar o tempo que precisarem até tomar coragem de denunciar.
Nós precisamos de mais informações, como o endereço da casa de
vocês, de onde vocês fugiram... - continua Regina.
-A
gente passa tudo depois. Mas a gente não quer que nada de ruim
aconteça pra nossa mãe nem pros nossos irmãozinhos... eles não
tem culpa de nada. Não merecem morrer... - preocupa-se uma das
meninas.
CORTA
A CENA.
CENA
5: Raquel conversa com Valentim.
-Tenho
uma ideia que pode ser útil pra você, Valentim.
-Sobre
o que, exatamente?
-Então...
eu sei que você já grampeou o celular da Suzanne... mas eu acho que
existe uma forma mais eficaz de se chegar ao que ela realmente tá
escondendo.
-Como,
Raquel?
-Seguindo
Suzanne.
-Mas
isso é uma loucura! Digo, pode ser arriscado... ela pode estar
envolvida com gente barra pesada, sabemos disso.
-De
qualquer forma, você sabe como seguir uma pessoa sem ser visto, não
sabe?
-Olhando
por esse lado...
-Vai
por mim, Valentim... talvez esse seja um jeito mais rápido de se
chegar ao que ela esconde.
-Espero
que seja. Eu vou considerar essa sua sugestão.
-Se
eu fosse você, nem pensava duas vezes. Pelos anos de experiência
que você tem a mais que eu, deve entender que seguir suspeitos às
vezes é a maneira mais eficaz de se chegar à verdade.
-Claro
que eu sei. O problema vai ser se alguém da Polícia Federal
descobrir o que venho fazendo.
-Não
se deixe levar pela Mara... óbvio que a preocupação dela é
legítima, mas estamos correndo contra o tempo. Uma tragédia pode
acontecer e você sabe muito bem disso...
CORTA
A CENA.
CENA
6: Bruno leva Cláudio numa casa de meditação.
-Só
você mesmo pra me convencer a vir numa casa de meditação quando eu
deveria estar ensaiando...
-Até
parece que você não sabe que o próprio Procópio é adepto da
meditação. Ele não se oporia.
-De
qualquer forma, você acha realmente necessário tudo isso? Só estou
um pouco tenso, mas não é nada fora do normal, Bruno...
-É
fora do normal sim. Você que estudou psicologia, deveria ser o
primeiro a perceber que você ainda manifesta algum estresse pós
traumático. Não dá pra se negligenciar desse jeito, Cláudio... eu
te amo, quero muito que você fique completamente bem...
-Mas
eu estou bem, eu juro.
-Fisicamente
pode até estar. Mas não precisa sofrer psiquicamente.
-Tá...
é aquele ditado, vamos fazer o que?
-Vai
ser melhor, confia... você anda precisando relaxar... olhar mais pra
dentro de si, descobrir essa força que tá bem viva aí dentro.
-Você
já fez meditação antes?
-Muitas
vezes. Sempre gostei de meditar. Claro que nesse lugar, eu nunca
vim...
-Certo...
eu agradeço de coração por essa consideração. Te amo, viu?
-É
por te amar que eu quero que você fique bem, sabe? Somos muito
jovens para deixar tanto estresse invadir nossas vidas...
CORTA
A CENA.
CENA
7: Sem Laura por perto, Haroldo desabafa com Mateus.
-Sabe,
amor... eu tento me manter calmo diante da Laura, mas a verdade é
que eu estou com muito medo de tudo...
-Por
causa daquela situação? Também morri de medo, fomos claramente
seguidos...
-Sim,
Mateus... infelizmente não tem nenhuma dúvida de que seja o
Guilherme. E isso é o que me inquieta.
-Inquieta
a mim também, amor... tudo o que quero é que a gente possa viver em
paz, com tranquilidade, sem ter que cuidar por onde anda... a gente
só valoriza a liberdade quando sente ela ameaçada...
-Sim,
amor. Só que a sensação que me dá é horrível. É como se ele
estivesse perto o tempo inteiro... como se estivesse observando a
gente, agora mesmo... vinte e quatro horas por dia, sete dias por
semana.
-Não
é pra tanto, Haroldo... a gente sabe que ele tem outros alvos.
Inclusive, estamos longe de ser o alvo principal dele.
-Nem
me fala... só de pensar nisso, me dá um arrepio.
-Certo,
mas é melhor a gente encerrar esse assunto que daqui a pouco a Laura
tá estourando aqui.
CORTA
A CENA.
CENA
8: Riva e Vicente conversam com Márcio.
-Desculpa
a intromissão, mas a gente anda te notando triste... - observa
Vicente.
-A
gente não quer invadir sua privacidade, mas se quiser falar sobre
essa tristeza com a gente, lembra que pode sempre contar com a
gente... - encoraja Riva.
-Eu
tou mesmo sentindo tristeza, meus amigos... sei que não devia,
porque tenho motivos de sobra pra ser feliz e grato, pela
oportunidade que tenho de conviver com meus filhos, por descobrir que
nessa vida tenho amigos como vocês, mas... - fala Márcio.
-Mas
você não consegue deixar de se culpar por tudo o que fez por amor à
Suzanne, não é isso? - completa Vicente.
-Sim...
mas não é só isso, Vicente... eu sinto que eu fui fraco. Que não
fui homem o suficiente quando devia ter sido. Deixei a Suzanne fazer
o que fez porque fui fraco. É difícil gostar da vida quando a gente
não consegue se olhar no espelho e gostar do que vê... - desabafa
Márcio.
Os
três seguem a conversar. CORTA A CENA.
CENA
9: Suzanne está na frente do hotel em que se hospeda, impaciente
olhando no celular.
-Mas
que inferno! Faz cinco minutos que chamei o táxi pelo aplicativo e
nada desse demônio chegar até agora! - esbraveja Suzanne consigo
mesma.
Suzanne
aguarda impacientemente pelo táxi, conferindo no aplicativo. Depois
de alguns instantes, o táxi chamado por ela chega.
-Até
que enfim, rapaz! Eu vou reclamar, viu? Levou três minutos acima da
previsão do aplicativo! - fala Suzanne.
O
taxista sente-se culpado.
-Desculpe,
moça... mas é que o trânsito está mais movimentado do que deveria
estar pra esse horário. Por favor, não faça nenhuma queixa...
-Vou
pensar no seu caso, rapaz.
Suzanne
entra no táxi.
-Certo,
podemos ir.
O
táxi arranca.
-Se
você puder pegar algum atalho que tenha menos trânsito, eu não
faço queixa nenhuma... - fala Suzanne.
Valentim
arranca logo atrás do táxi que Suzanne pegou.
-Agora
você não escapa, Suzanne! - fala Valentim consigo mesmo.
FIM
DO CAPÍTULO 150.
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