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segunda-feira, 14 de novembro de 2016

Tabela de Audiência de FACES DA MOEDA

FACES DA MOEDA
Novela de HEYNER MERCADO
publicada de 16/05 a 11/11/2016
155 capítulos 

meta: 10 pontos

SEMANA 1: 16/05 a 21/05 2016: 19 | 14 | 13 | 17 | 15 | 13 = 15,16
SEMANA 2: 23/05 a 28/05/2016: 17 | 15 | 13 | 15 | 15 | 14 = 14,83
SEMANA 3: 30/05 a 04/06/2016: 18 | 14 | 13 | 14 | 15 | 15 = 14,83
SEMANA 4: 06/06 a 11/06/2016: 16 | 17 | 15 | 16 | 16 | 14 = 15,66
SEMANA 5: 13/06 a 18/06/2016: 16 | 16 | 15 | 16 | 16 | 15 = 15,66
SEMANA 6: 20/06 a 25/06/2016: 16 | 16 | 14 | 16 | 17 | 14 = 15,50
SEMANA 7: 27/06 a 02/07/2016: 15 | 15 | 14 | 16 | 17 | 16 = 15,50
SEMANA 8: 04/07 a 09/07/2016: 17 | 18 | 16 | 16 | 16 | 15 = 16,33
SEMANA 9: 11/07 a 16/07/2016: 15 | 15 | 14 | 16 | 15 | 13 = 14,66
SEMANA 10: 18/07 a 23/07/2016: 16 | 16 | 16 | 18 | 16 | 14 = 16,00
SEMANA 11: 25/07 a 30/07/2016: 16 | 16 | 15 | 17 | 17 | 15 = 16,00
SEMANA 12: 01/08 a 06/08/2016: 17 | 17 | 15 | 17 | 16 | 15 = 16,16
SEMANA 13: 08/08 a 13/08/2016: 20 | 19 | 16 | 18 | 16 | 15 = 17,33
SEMANA 14: 15/08 a 20/08/2016: 18 | 20 | 17 | 17 | 16 | 16 = 17,33
SEMANA 15: 22/08 a 27/08/2016: 18 | 18 | 15 | 17 | 16 | 15 = 16,50
SEMANA 16: 29/08 a 03/09/2016: 19 | 18 | 16 | 18 | 16 | 16 = 17,17
SEMANA 17: 05/09 a 10/09/2016: 20 | 19 | 19 | 21 | 19 | 16 = 19,00
SEMANA 18: 12/09 a 17/09/2016: 18 | 18 | 17 | 20 | 19 | 17 = 18,17
SEMANA 19: 19/09 a 24/09/2016: 19 | 18 | 16 | 18 | 18 | 17 = 17,67
SEMANA 20: 26/09 a 01/10/2016: 22 | 20 | 18 | 20 | 18 | 18 = 19,33
SEMANA 21: 03/10 a 08/10/2016: 18 | 18 | 18 | 19 | 18 | 17 = 18,00
SEMANA 22: 10/10 a 15/10/2016: 20 | 20 | 18 | 19 | 19 | 18 = 19,00
SEMANA 23: 17/10 a 22/10/2016: 20 | 19 | 18 | 19 | 18 | 17 = 18,50
SEMANA 24: 24/10 a 29/10/2016: 20 | 20 | 18 | 20 | 20 | 18 = 19,33
SEMANA 25: 31/10 a 05/11/2016: 22 | 20 | 20 | 20 | 19 | 19 = 20,00
SEMANA 26: 07/11 a 11/11/2016: 23 | 22 | 22 | 26 | 31 | ## = 24,80

MÉDIA GERAL: 17,25 (17 PONTOS)

sexta-feira, 11 de novembro de 2016

CAPÍTULO 155 - ÚLTIMO CAPÍTULO

CENA 1: Suzanne se choca com atitude de Márcio, porém aproveita a confusão que se forma imediatamente e foge. Guilherme se desespera com o desfecho que a coisa toma e cai em si, num pranto sentido. Tenta se aproximar de Cláudio, mas antes que isso aconteça, é algemado.
-Você está preso! - fala Valentim.
-Eu juro que não queria que acabasse assim, eu juro! - grita Guilherme.
-Você tem o direito de permanecer calado. - sentencia o policial que o algemou.
Guilherme é levado para fora do teatro. CORTA A CENA.

CENA 2: Cláudio se desespera com o pai ferido e o coloca em seus braços. Marcelo e Raquel, desesperados com a situação, se aproximam, mas Cláudio pede que mantenham distância.
-Se afastem um pouco! Meu pai precisa respirar. Alguém chama uma ambulância por favor! - fala Cláudio.
-Meu filho... não fique assim. Eu sabia que seria desse jeito... no fundo eu sabia. - fala Márcio.
Cláudio estranha.
-Como assim, pai? Procura não fazer muito esforço, a ambulância já deve estar a caminho...
-Acho que não vai dar tempo. Sim, Cláudio... eu sabia que isso podia acontecer. Dona Velha me disse... só agora eu entendi.
-A Dona Velha? O que tem ela?
-Ela disse que eu precisava tomar uma decisão vital. Eu fiz o que tinha que ser feito. Te protegi... e evitei que a Suzanne fosse morta. Essa era a minha missão.
-Para com isso, pai... você vai ver como vai sair dessa.
-Eu não vou, filho. Eu estou morrendo.
-Por favor, pai... para com isso...
Cláudio começa a chorar e Marcelo se aproxima.
-Pai, não faz assim com a gente... resiste! A gente tem tanta coisa ainda pra viver! - fala Marcelo.
-Isso! Escuta o Marcelo... resiste por nós! Resiste por todas as coisas bonitas que ainda vão aparecer nessa vida... - fala Cláudio.
-Não vou deixar de viver. Agora que eu sinto o meu corpo indo embora eu sei que não vou deixar de viver, nunca. Vou viver em consciência, vou viver no coração de vocês, no coração da minha mãezinha... ah, mãezinha... vem cá... - fala Márcio.
-Querido, não fala muito. Você vai ser atendido em menos de cinco minutos. Você sempre foi forte, meu filho. Vai sair dessa... - fala Raquel, chorando.
-Me desculpa, mãezinha... não vai dar. Eu sei que não é justo com você. Juro que você sempre foi a mãe do meu coração. Não queria te causar essa dor... mas não teve outro jeito. Eu tinha que salvar o meu filho... o seu neto. Marcelo, Cláudio... eu fui muito feliz nessa encarnação aqui, ainda que tenha sido só nos momentos finais. Vocês me enchem de orgulho. Foi uma honra poder ser pai de vocês. É lindo ver que vocês são homens fortes, pessoas dignas, seres humanos de alma bondosa. São tudo o que eu sempre quis ter sido. Cláudio, meu filho tão esperado... você tem uma força imensa de ser feliz. Me promete que nunca vai deixar de sorrir e de encontrar motivos nessa vida para felicidade e gratidão... - fala Márcio.
-Claro que eu prometo, pai. Mas fica aqui com a gente! Pai... pai... pai! - grita Cláudio.
Márcio morre nos braços de Cláudio. CORTA A CENA.

CENA 3: UM MÊS DEPOIS.
Cláudio e Bruno estão no cartório prestes a se casarem. Bruno está hesitante.
-O que foi, amor? De repente eu notei você estranho...
-Estranho não é a palavra, meu amor. Você sabe que tudo o que mais quero nessa vida é casar com você, não sabe?
-Claro que sei, Bruno.
-Acontece que tá tudo muito recente ainda. Você está vivendo o luto pela morte do seu pai ainda. Se isso abalou a nós, imagina como não foi com você e com o Marcelo... aquela tragédia até hoje parece surreal pra mim... é difícil até de lembrar.
-Meu amor, foi a última promessa que fiz pro meu pai: que eu nunca ia deixar de sorrir, que nunca em hipótese alguma eu ia deixar de buscar e encontrar razões pra ser feliz e grato por tudo. Claro que tudo isso me dói demais ainda... faz um mês que meu pai se foi e eu sinto como se ele estivesse aqui, comigo, o tempo inteiro. Mas é em honra a memória dele que eu não posso deixar de ser feliz. E não posso deixar de te fazer feliz... nem por um segundo...
Cláudio se emociona e Bruno o abraça.
-Sua força me inspira, meu amor. Você é a pessoa mais incrível que já conheci nessa vida, Cláudio. Sou um homem sortudo demais de poder me casar com um ser humano raro como você.
-Eu que sou sortudo, Bruno. Você ressignifica dentro de mim todos os dias o que é o amor incondicional. Você me deu uma segunda família que eu amo como se fosse a minha. E assim, com tudo isso, fica quase impossível eu não lembrar da promessa que fiz ao meu pai... que é de ser feliz todos os dias. É fácil ser feliz na vida quando a gente ama sem reservas...
Rafael e Marcelo chegam.
-Olhem aqui, suas viada melosa, cês parem com essa melação que falta menos de cinco minutos pra gente entrar e vocês se casarem. Então tratem de se recomporem que eu não quero saber dos meus afilhados com cara inchada de choro em pleno casamento, ora essa! - fala Marcelo.
CORTA A CENA.

CENA 4: Adelaide, Cleiton, Regina e Geraldo estão na ONG trabalhando quando são surpreendidos pela chegada de Eva e Renata.
-Surpresa! - gritam as duas ao mesmo tempo.
-Vocês não disseram que estavam voltando! - vibra Regina.
Adelaide, Regina, Geraldo e Cleiton abraçam as filhas.
-A gente quis fazer uma surpresa pra vocês. Não viemos passar muito tempo, mas estávamos morrendo de saudades e temos tanta, mas tanta novidade que vocês nem imaginam! - fala Renata.
-Quantos dias vocês vão passar aqui? - pergunta Cleiton.
-Acho que uns quinze dias... é tempo suficiente pra gente matar a saudade de vocês e do inconfundível tempero brasileiro. Te contar um negócio, seu Cleiton: a comida no exterior é a coisa mais bizarra que existe. A gente sente o choque cultural é mesmo no estômago! - brinca Eva.
-É, mas não pensem vocês que vão escapar de nos contar tudinho que vocês andaram vivendo nesses meses fora. A gente quer saber detalhe por detalhe, por mínimo que seja! - fala Adelaide.
-Lá vem a virginiana detalhista... - brinca Renata.
-É, mas bem que vocês gostam da minha chatice! - revida Adelaide.
Todos seguem conversando animadamente sobre as novidade de Eva e Renata pelo mundo. CORTA A CENA.

CENA 5: DIAS DEPOIS.
Cláudio, acompanhado de Bruno, vai visitar Guilherme no instituto psiquiátrico em que ele está internado em definitivo.
-Você tem certeza que é seguro, amor?
-Claro que sim, Bruno... Guilherme se desligou completamente da realidade. Agora diz se chamar Henrique, que o Guilherme que era o intruso. Ele vive numa realidade paralela, segundo o que me disseram...
-Pois ele está vindo. Você prefere que eu fique longe?
-Não... fica aqui. Qualquer coisa, você entra na fantasia dele...
Guilherme se emociona ao ver Cláudio.
-Que bom que você veio, meu amor. Olha só o que eu fiz pra você... - fala Guilherme, entregando um desenho com o rosto de Cláudio.
-Você desenha muito bem, Guilherme. Parabéns.
-O Guilherme não existe, eu sou o Henrique. Você sabe como eu lutei pro intruso ir embora, não sabe? Eu te amo, você me ama?
-Claro que eu te amo, Henrique...
Bruno se incomoda.
-Paciência, Bruno... paciência... - contemporiza Cláudio.
-Ei, Bruno... eu lembro de você. Você é aquele amigo que morou junto com o Claudinho, não é? Como andam as coisas em Santa Tereza? Saudade daquele bairro. Quando a minha mansão estiver pronta, vou convidar vocês todos pra morarem comigo. Sempre quis uma casa cheia... - delira Guilherme.
Bruno se choca com a desconexão de Guilherme da realidade. Guilherme se volta aos outros internos.
-Viu, gente? Eu disse que sou casado. Esse aqui é o Cláudio, meu marido. Não é, Cláudio? - fala Guilherme.
Cláudio, chorando pelo estado em que Guilherme se encontra, concorda.
CORTA A CENA.

CENA 6: MESES DEPOIS.
Nasce o bebê de Laura. Haroldo e Mateus são parabenizados por Cláudio, Bruno, Rafael, Marcelo, Vicente, Riva, Mariana, Ivan, Marion e Valquíria.
-Quer dizer que correu tudo bem, então? - anima-se Ivan.
-Sim, pai. Você é oficialmente avô, lide com isso! - vibra Haroldo.
-A gente já pode ver o bebê? - pergunta Riva.
-Claro que sim, dona Riva. Já faz uma meia hora que nosso bebê nasceu, estávamos esperando que vocês chegassem. - fala Mateus.
Todos vão ao quarto onde Laura está amamentando seu filho pela primeira vez.
-Eita que eu tou me sentindo famosa! Que isso, gente! Toda essa montoeira de gente pra me parabenizar pelo bebê? Amei! - fala Laura.
-E ainda tá faltando mais gente, minha amiga. Procópio não pode vir porque tá escrevendo outra peça. Mara, Valentim e minha avó estão sempre às voltas com o trabalho, então já viu... - fala Cláudio.
-É mesmo um bebê lindo, grande e forte. Como vai se chamar? - pergunta Marion.
-Tomei a decisão tem alguns meses, mas não falei nem pros meninos ainda... - fala Laura.
-Então fala que eu já tou me roendo aqui... - fala Marcelo.
-Meu filho vai se chamar Márcio. Eu tomei a decisão quando aconteceu aquela coisa toda com o pai de vocês, Marcelo e Cláudio. Ele foi grandioso, gigante... deu a vida por amor. Só pensei em homenagear esse grande homem que ele foi desde então... então eu decidi que meu filho vai ter o nome de Márcio... em homenagem a esse grande homem, que enfrentou as sombras de si mesmo e soube amar até o fim... - fala Laura.
Todos se emocionam. CORTA A CENA.

CENA 7: No dia seguinte, Raquel recebe Cláudio, Bruno, Vânia, Setembrino, Riva, Marcelo, Rafael, Mariana, Ivan, Vicente Marion e Valquíria em sua casa para um almoço de fim de semana.
-Sabe, gente... eu adoro receber amigos em casa. Senti muita falta de fazer esses almoços pra um batalhão... - fala Raquel.
-E eu devia ter vindo mais vezes aqui, né vó... que neto desnaturado eu sou... - fala Cláudio.
-Você nem se justifique que eu sei que você tava recém-casado com o Bruno, tem mais é que aproveitar. Mas eu queria saber se vocês gostaram da comida que eu fiz pra receber vocês...
-Nossa, Raquel... tava realmente uma delícia! Você é ótima! - fala Riva.
-Essa daí acha tudo sempre uma delícia, só pensa em comer... mas sua comida estava realmente excelente. - fala Marion.
-Vó... eu tava pensando numa coisa aqui... já fiz as pazes com meu passado e até perdoei a Suzanne por tudo... você se incomodaria de mostrar pra gente o álbum de família se a senhora tiver? - pergunta Cláudio.
-Em primeiro lugar, senhora está no céu, meu querido... me chame de você porque eu prefiro assim... mas sim, eu pego meu álbum de família, dá só um minutinho...
Poucos instantes depois, Raquel retorna com o álbum. Todos sentam-se próximos dela e ela vai mostrando as fotos de família.
-Bem... esse aqui era meu pai, o Hildebrando. Morreu jovem, coitado... mas sempre foi um excelente pai. - fala Raquel.
Quando Raquel vira a página, Cláudio reconhece a senhora da foto.
-Ei, espera aí! Eu conheço essa mulher! - afirma Cláudio.
-Eu também conheço... é a Dona Velha, que esteve lá em casa inclusive... - constata Riva.
-Gente... isso que vocês estão me dizendo é algo meio impossível... essa é minha mãe. Ela morreu há mais de trinta anos. - afirma Raquel.
Todos entendem quem era a misteriosa senhora e se olham, perplexos e emocionados. CORTA A CENA.

CENA 8: Estreia a primeira novela totalmente produzida para a internet pela produtora de Vicente, que comemora com Valquíria o sucesso imediato da trama.
-É, dona Valquíria... a melhor decisão que a gente podia ter tomado foi produzir a sua novela. O sucesso está sendo imediato, os comentários não param de pipocar!
-Não dá nem pra acreditar no sucesso dela. Eu tava insegura é sobre o título que escolhi pra ela... mas quando eu vi, não podia mais mudar... ficou “Sonhos Líquidos”, mesmo.
-Talvez esse seja o forte da obra, dona Valquíria... é um título diferenciado, que chama a atenção. Instiga a curiosidade de quem possa assistir e não entrega muito sobre o enredo... só vendo pra descobrir. Aprendi isso nos anos de publicidade...
-É, meu querido... essa coisa toda tá crescendo e muito!
-Mais rápido que eu imaginei, inclusive.
-Isso significa que o trabalho de todos nós vai intensificar... inclusive o meu, que tenho que dar conta de escrever os cento e cinquenta e cinco capítulos de “Sonhos Líquidos”...
-Verdade. Mas hoje mesmo eu vou conversar com um pessoal que saiu das emissoras pra tentar vaga aqui. Já tou podendo pagar melhor, então a hora é de expandir...
CORTA A CENA.
CENA 9: Dias depois, Riva lê uma notícia num famoso site e chama Vicente.
-Amor, vem cá ler uma notícia que saiu sobre a Fermata Visual!
-Ah, tou aqui distraindo nosso filho! Lúcio não quer parar de brincar comigo. Tem como ler em voz alta?
-Claro, querido... vou começar, tá?
-Pode começar.
-A notícia diz assim no título “O Improvável Império da Fermata Visual e a Revolução das Mídias”.
-Gente do céu, que título longo! Continua, amor...
-Depois segue assim: “Com produções caprichadas e com nível equivalente às maiores emissoras do Brasil e do mundo, o sucesso improvável da Fermata Visual prova que o gosto do brasileiro pela dramaturgia nunca deixou de existir. Faz parte da identidade do brasileiro, bem como o carnaval e o futebol. Povoa o imaginário popular e ainda prova ser o motivo de acaloradas discussões, antes em mesas de bar, hoje nos comentários da internet que nunca param de pipocar. As produções da Fermata Visual, cujo dono é o ator e diretor Vicente Fernandes, desde o começo se destacaram aqui no Brasil e fora do país, onde a produção “Heróis Reais”, primeira série produzida pela Fermata Visual, foi agraciada por uma importante premiação na Holanda. Desde então, o requinte da produção de cada obra tem se mostrado cada vez maior e a estreia da novela “Sonhos Líquidos”, de autoria de Valquíria Oliveira e Leandro César Martins, prova que o gênero da telenovela, ainda que deslocado para as plataformas de internet, tem a capacidade de mover multidões e parar o país. A ascensão da Fermata Visual determina o nosso futuro, que é inevitável: a TV, já calejada e obsoleta, está dando um espaço cada vez maior à internet. Assim como o rádio, não vai deixar de existir, mas os grandes empresários, donos de impérios, devem prestar atenção nesse movimento de mudança, antes que terminem engolidos pelo próprio conservadorismo. O futuro é agora e o futuro se chama Fermata Visual.”
-Riva... eu sabia que o sucesso estava sendo cada vez maior, mas a esse ponto?
-É, amor... acho que nós temos não apenas uma mina de ouro, como estamos também ditando tendências pro futuro...
-Às vezes fica difícil de crer que tudo isso é real. E um artigo desses me deixa até sem graça... mas muito feliz ao mesmo tempo.
-E não é pra menos... a gente tá conseguindo fazer sonhos se tornarem realidade. Isso é lindo demais!
CORTA A CENA.

CENA 10: Cláudio e Bruno chegam a Londres e são recebidos por Victor e Diogo.
-Nossa, vocês não disseram que vinham buscar a gente no aeroporto... - fala Cláudio.
-Insistência do Diogo. Ele enfiou na cabeça que vocês, logo vocês que são fluentíssimos no inglês, poderiam se perder pra chegar na nossa casa. - fala Victor.
-Esse daí não muda nunca, Victor. Nem mudando de continente ele deixa de se cercar de mil cuidados... era assim e sempre vai ser pelo visto... - brinca Cláudio.
-Ah, olha quem fala. O Cláudio tá sempre dando um jeito de me cercar de cuidados. Quando eu tinha doado meu rim pra minha mãe, socorro! Esse daí não me deixava fazer era nada! Então aqui é o sujo falando do mal lavado, isso sim! - segue Bruno na brincadeira.
-Quantos dias vocês pretendem ficar aqui em Londres? A gente tem espaço de sobra na nossa casa, podem ficar o tempo que quiserem... - fala Diogo.
-Inclusive se quiserem se mudar pra cá, como eu também sou cidadão britânico, eu posso facilitar bastante... - fala Victor.
-Que isso... a gente mal chegou e vocês estão querendo que a gente fique pra sempre? A gente tem vida no Brasil... enfim, mas pretendemos passar um mês aqui com vocês, se não for demais... - fala Cláudio.
-Pra mim tá ótimo... - fala Diogo.
-Pra mim também.
Os quatro deixam o aeroporto. CORTA A CENA.

CENA 11: Marion e Riva fazem compras no shopping e quando estão indo à praça de alimentação, são reconhecidas por fãs.
-Gente, olhem elas! São elas! - fala um fã.
-Marion Bittencourt e Riva Oliveira! As melhores atrizes de “Sonhos Líquidos”! - fala uma fã.
-Vocês poderiam tirar selfies com a gente? - pergunta outro fã.
-Claro, queridas! Algum problema, Marion? - fala Riva.
-Nenhum. Mas vamos nos organizar que tem selfie pra todo mundo! - fala Marion.
Todos os fãs tiram as selfies com as duas e saem satisfeitos.
-Quem diria... eu sendo reconhecida como atriz e não é por estar andando ao seu lado... ainda fico besta com isso...
-É, Riva... a vida é sempre essa deliciosa caixinha de surpresas...
As duas fazem pedidos. CORTA A CENA.

CENA 12: Raquel, Mara e Valentim, acompanhadas de policiais, invadem apartamento de um homem.
-Lucas Bulhões de Moreira, nós temos um mandado de busca e apreensão. - anuncia Valentim.
O homem se assusta e tenta fugir, sendo contido por um dos policiais. Raquel o encara.
-Nós sabemos que você é o mentor do maior grupo que prega o estupro corretivo contra lésbicas. Você tem o direito de permanecer calado e seus computadores serão confiscados para averiguação, mas além disso, você está preso. - fala Raquel.
-Isso é um engano, é uma injustiça! A culpa não é minha, eu posso provar! - desespera-se o homem.
-Você não tem mais pra onde correr. Reunimos provas contra você durante meses de investigação. Não resta dúvida de que você é o cabeça de tudo isso. Estamos protegendo as mulheres dessa cidade e quem sabe desse país ao te colocar onde você deveria estar desde o começo. - fala Mara.
-Esse jogo não acabou, suas safadas... aposto que uma de vocês aí é fancha, fanchona das bravas. Eu ainda vou mostrar o que é bom! - fala o homem, asqueroso.
-Levem esse sujeito pro camburão antes que eu mesma meta a mão na cara desse infeliz! - ordena Raquel.
CORTA A CENA.

CENA 13: Mateus grava sua participação no primeiro programa de variedades da Fermata Visual e é entrevistado por Marcelo.
-Seja bem vindo ao “Vozes da Diversidade”, Mateus Viveiros. O tema do nosso primeiro programa hoje é relações poligâmicas ou, como os próprios praticantes costumam definir, relações poliamorosas. Aliás, acho tudo esse termo! O que você pode nos falar a respeito, Mateus?
-Muito obrigado pelo convite, Marcelo e produção. Bem... eu acredito que a primeira coisa que deve ser destacada, quando a gente fala de relações poliamorosas, é que ao contrário do que pensam as pessoas mais conservadoras e intolerantes, não tem nada a ver com promiscuidade. Dentro de uma relação poligâmica podem haver heterossexuais, bissexuais e homossexuais. Estar dentro de uma relação dessa natureza não implica necessariamente que todos vão se relacionar entre si. Já conheci casos de pessoas próximas a mim que vivem a relação poliamorosa, mais especificamente um caso que sempre gosto de mencionar, onde os dois homens se relacionam apenas com a mulher. O interessante dessa dinâmica deles é que os três desconstruíram ideias de amor que na verdade falavam de apego e possessividade. Principalmente no caso da mulher que se relaciona com eles, que venceu muito dos próprios fantasmas interiores e conseguiu dominar o que antes era o seu pior defeito, que era o excesso de ciúmes.
-Interessante isso, Mateus. Realmente essa temática é riquíssima, rende horas e horas de reflexão, debate e questionamentos. Mas agora eu gostaria de saber como você lida com o fato de estar numa relação poliamorosa...
-Bem, no começo foi um baque, um grande susto. Na verdade as coisas aconteceram de uma forma tão natural que, quando dei por mim, era a única alternativa possível. Eu já tinha sido namorado da Laura por cerca de dois anos, estávamos rompidos, mas morávamos no mesmo apartamento ainda, coisa que ainda é igual hoje. Foi quando ela conheceu Haroldo e eles se apaixonaram rapidamente... bem, eu já conhecia o Haroldo de antes, mas isso seria papo pra outra conversa fora do tema. O tempo foi passando, eu sentindo falta da Laura ao mesmo tempo que fui me encantando pelo Haroldo... porque sim, pra quem ainda tem dúvida, eu sempre fui bissexual. Enfim... chegou um momento que precisávamos resolver essa questão. Não queríamos trair uns aos outros... e foi assim que demos livre curso ao amor...
A entrevista segue. CORTA A CENA.

CENA 14: Riva flagra Vicente pensativo em seu quarto e estranha.
-Eita, amor... impressão minha ou você tá com a cabeça longe?
-Ah, Riva... você sabe que às vezes eu fico tendo minhas ideias e vou pra outros lugares sem nem sair de onde estou...
-É, mas você parecia estar muito intrigado com os próprios pensamentos. Tem a ver com a Fermata Visual?
-Tinha, mas não era o que eu tava pensando agora. Já temos razões suficientes pra saber que a Fermata é um sucesso inegável e já está gerando centenas de empregos...
-Mas então no que você tá pensando?
-Olha, amor... eu realmente espero que você não leve a mal...
-Claro que não vou, eu te conheço. Anda, Vicente... pode falar que eu vou ficar tranquila...
-Cê acredita que eu ando pensando na Suzanne? Mas não do jeito que você possa estar pensando.
-Sabe que às vezes eu também penso nela? Fico pensando o que foi feito dela...
-É justamente isso que tava martelando agorinha ainda na minha cabeça. Nunca mais ninguém soube de nada dela... nem se tá viva, morta, se trocou de nome, enfim... é intrigante, tudo isso.
-Só Deus sabe... acho que nós nunca mais vamos saber nada dela...
CORTA PARA...
...CENA 15 – CENA FINAL: Nas ruas de Milão, Suzanne surge elegante. Entra em um carro particular e parte para um luxuoso condomínio, onde chega e deixa suas compras. Chega ao seu quarto depois de dispensar os empregados e começa a escrever em seu diário secreto. Sua voz é ouvida em off enquanto ela escreve.
É... eu realmente deixei muita coisa pra trás nessa vida. Aprendi a ser assim quando tive meu próprio coração arrancado do meu peito pela traição do meu pai. Se arrependimento realmente matasse, talvez eu já estivesse morta desde jovem, quando tive a dimensão do que fiz contra aquele a quem mais amei nessa minha vida errante. O fato é que, a partir dali, eu escolhi não mais amar. Nada, ninguém... somente a mim mesma. Às vezes, nem isso... mas dá pra se viver. Meu foco na vida passou a ser lutar para ser rica. Levei tudo isso a sério. Mas não queria perder tempo... tinha que ser rápido.
Conhecer o Márcio me trouxe a possibilidade de amar de novo na vida. Mas eu não podia mais amar... já tinha tomado a minha decisão. Acho que no começo de tudo, talvez eu tenha amado ele... mas nunca a ponto de fazer por ele um quinto do que ele fez por mim. Eu jamais morreria para defender ele. Não entendo como ele teve a capacidade de morrer por mim.
Hoje eu não sou mais Suzanne... me chamo Lorena Victorino. Casei com um senhor milionário e solitário. Só que dessa vez não é golpe... eu não pretendo eliminar o velho. Eu fui sincera, disse que precisava refazer minha vida... ele só precisa de companhia. E assim, eu passo meus dias. Não preciso mais aplicar golpes, pelo menos não nos próximos anos. Mas, se um dia o aperto chegar, eu já sou uma cidadã italiana. Posso me candidatar a algum cargo político. Essa terra ama políticos carismáticos...
Suzanne para de escrever por alguns instantes e olha pela janela. A rua está cinzenta.
-Ah, meu filho... você é o único que eu amei depois do meu pai. Mas foi melhor assim... você não merece uma pessoa como eu pra ser sua mãe. Você ficou melhor sem mim... sem a minha influência. Só me arrependo disso... de ter te deixado pra trás. Se eu pudesse voltar no tempo, voltaria pra consertar isso... pra ser a sua mãe de fato... a mãe que eu nunca fui. Mas é melhor que você me esqueça, meu querido... que acredite até mesmo que morri. Eu te amo, Cláudio... pra sempre.
Suzanne chora e volta a escrever.
Nunca tive muito talento pra lidar com emoções. Não sei que tipo de ausência me consome, mas preferi deixar as pessoas acreditarem que sou psicopata... assim, talvez elas não sofram pela minha ausência definitiva. Mas eu não sei deixar de pensar grande... hoje isso faz parte de mim. Eu quero mais, sempre mais, mais e mais. Pessoas como eu existem aos montes por aí. Só não vê quem não quer! Eu estou nos hospitais, nos cargos públicos...
Eu não sou má. Não me vejo como uma pessoa má... o que eu faço nessa vida é apenas revelar a sombra oculta de cada pessoa que passe pela minha vida. Muita gente se convence da pose de bom samaritano que faz pra sociedade o tempo inteiro... e ficam sem chão quando tem suas sombras expostas. Eu sou a sombra. Estou por toda parte... estarei sempre em todos os lugares”.
Suzanne fecha o diário e ri triunfante, a repetir o que escreveu por último no diário.
-Eu estou por toda parte... e vou estar sempre em todos os lugares!


FIM

quinta-feira, 10 de novembro de 2016

CAPÍTULO 154 - PENÚLTIMO CAPÍTULO

CENA 1: Valentim chama Mara e Raquel para que os três debatam sobre os riscos reais que todos correm.
-Nossa, vocês demoraram! - reclama Valentim.
-Nem venha com suas queixas que a gente não levou nem dez minutos desde que você ligou avisando que precisava da gente aqui com urgência. - fala Mara.
-Você parece assustado... - observa Raquel.
-Não estou assustado. Estou na realidade, perplexo. Eu preciso que vocês escutem o trecho que eu separei da gravação que foi feita da última ligação efetuada pela Suzanne. Se preparem... - fala Valentim, rodando o trecho da gravação.
-Vai de minha babá lá na estreia do seu querido filhinho de quem você nunca lembrou de ser mãe?
-Olha aqui, Guilherme, chega de me apontar o dedo! Você não sabe de nada! Óbvio que eu vou com você, seu louco. Você está proibido de dar um único passo sem a minha companhia, tá me ouvindo bem?
-Isso, imbecil, fala meu nome, retardada! Esqueceu que sou Henrique agora?
-Que seja. Você quer ver o Cláudio estreando o monólogo?
-Claro que quero. Você sabe que essa é uma das pendências que tenho.
-Então vai ser do meu jeito, porque senão eu tomo o seu dinheiro, você sabe que eu faço isso a hora que eu quiser. Você sequer pode abrir uma conta corrente, então o dinheiro não está seguro. E pode ser meu se você der um único passo em falso.
-Você não tem mesmo noção do perigo, não é mesmo, Suzanne?
-Não tenho medo de um maluco. Tenho mais com o que me preocupar.
-É, mas pelo visto tá se borrando de medo de eu fazer algo com seu filhinho.
-Cale-se! Nos encontramos mais tarde. E vai ser do meu jeito.
-Não tenho outra saída...
Raquel se desespera.
-Meu neto! Esse doente quer fazer alguma coisa contra o meu neto! Eu sei, eu sinto! - fala Raquel.
-Raquel, por favor! Você não pode se desesperar desse jeito agora! - fala Mara.
-Como é que vocês esperam que eu mantenha a calma? Meu neto correndo risco num dos dias mais importantes da vida dele e a gente se deparando com essa gravação? Pelo menos a minha filha tem um pingo de decência de garantir a segurança, ainda que do jeito torto dela, do próprio filho... - fala Raquel.
-Tá vendo? Você mesma acabou vendo um lado “positivo” em tudo isso. Mas a gente não sabe quais são os reais interesses da Suzanne nisso. É cedo demais pra qualquer tipo de conclusão. - fala Valentim.
-O fato é que o Guilherme tá no país... tá no Rio. Talvez nunca tenha deixado o Brasil, mas isso é o que menos importa agora. Não é somente o Cláudio que correm perigo: todos correm perigo a partir do momento que aquele cara colocar os pés no teatro. A gente precisa dar um jeito de impedir que isso chegue a acontecer. - fala Mara.
-Mas como? Sem reforços? Pra gente conseguir todo o aparato necessário, isso levaria horas que talvez a gente não tenha pela frente! - fala Raquel.
-A gente vai conseguir dar um jeito. Todos correm risco e a gente não pode ignorar esse fato. - fala Valentim.
-Não é momento de haver nenhum tipo de desespero. Sei que não é fácil saber de tudo isso, Raquel. Mas como investigadores que somos, nossa obrigação é manter acima de qualquer coisa o sangue frio pra poder agir da maneira correta. Enquanto não chegam as forças policiais, a gente precisa pelo menos garantir o básico. Primeiro porque essa estreia do Cláudio vai chamar um público considerável e isso garante alguma segurança, ainda que mínima. Por outro lado, se as pessoas no teatro notarem a presença da polícia, podem entrar em histeria coletiva e tudo o que nós não precisamos é de uma multidão histérica que facilmente dispersaria o foco de qualquer policial bem treinado. - fala Mara.
-O jeito é esperar que toda essa ação corra bem. E pressionar os policiais para agirem o mais rápido possível. - fala Valentim
-Tem que dar certo... - fala Raquel.
-De um jeito ou de outro, vai dar certo. Guilherme pelo menos vai ser preso outra vez. Não garanto nada sobre Suzanne... - fala Mara.
-Contanto que ninguém se machuque... - fala Raquel.
-Vamos fazer o possível para que isso não aconteça. - finaliza Valentim.
CORTA A CENA.

CENA 2: Mateus e Haroldo demoram para se arrumar para comparecerem ao teatro e Laura, já pronta, reclama com eles.
-Poxa vida, gente! Eu que sou mulher e vocês que ficam aí se enrolando pra se arrumar? Daqui a pouco a gente atrasa e eu nem quero saber, se vocês demorarem eu vou na frente e vocês vão depois! - sentencia Laura.
Haroldo percebe a elegância de Laura.
-Amor, você está linda! Como consegue ficar tão arrumada e elegante assim, tão rápido? - fala Haroldo.
-Verdade, Laura... você está deslumbrante. Essa maquiagem, então? Te deixou um mulherão! - observa Mateus.
-Ih, gente... fiz tudo isso aqui em menos de quinze minutos. Não tenho muita paciência pra passar horas na frente do espelho escolhendo vestido ou me maquiando.- fala Laura.
-Mas tá um arraso! - fala Haroldo.
-Olha aqui, vocês parem de me elogiar e tratem de se arrumar de uma vez. Nem evento de gala isso é, vocês nem vão ir de beca pra ficarem nessa enrolação toda. A apresentação começa em menos de duas horas, vocês sabem disso. E também sabem que eu só gosto de chegar aos lugares com muita antecedência porque sou dessas. - fala Laura.
-Tá, a gente vai dar um corridão aqui... - fala Mateus.
-Até sei porque vocês demoraram... resolveram se empolgar, né, seus safadinhos? - brinca Laura.
-Sabe como é, amor... a carne é fraca... - devolve Haroldo.
-Mereço! Assim, a gente vai ter todo o tempo do mundo pra se curtir, pra transar, pra fazer o que quiser, mas não agora. Vamos de uma vez, gente! - finaliza Laura. CORTA A CENA.

CENA 3: No camarim, Márcio vai até Cláudio para conversar com o filho.
-E aí, filhão... muita expectativa pra estreia?
-Nossa, pai... nem me fala! Coração tá tão acelerado que dá a sensação que não cabe mais dentro de mim. Acho que sempre vou ter esse nervosismo antes de pisar no palco pra me apresentar em público, seja estreia ou não. Mas sabe do mais louco disso? É que essa adrenalina toda que corre dentro de mim é viciante. É a minha droga.
-Eu fico muito orgulhoso de você, Cláudio... você não sabe o quanto...
-Ih... que papo meloso é esse?
-Não posso declarar meu amor a você, filho?
-Claro que pode... eu também te amo, pai. Muito mais do que eu pensei que poderia te amar, depois de tudo.
-Eu sou muito grato à vida. Apesar de todos os erros, de todos os tropeços, desses vinte e dois anos de ausência, eu posso dizer hoje que tenho orgulho de ser seu pai... aliás, orgulho de ser seu pai e do Marcelo. Vocês são os melhores filhos que poderiam existir nessa vida. Agradeço a Deus todos os dias por ter tido a oportunidade de refazer os laços com vocês, por poder conviver com vocês e perceber os homens honrados e cheios de força interior que vocês são. Maior inspiração pro amor nessa vida não há de existir... - fala Márcio.
Cláudio se emociona.
-Ô, meu pai... vem cá me dar um abraço!
Os dois, emocionados, se abraçam.
-Eu te amo muito, meu filho. Faria qualquer coisa pra te ver sempre bem, nunca esqueça disso. Qualquer coisa.
-Ei, pode parar com isso que ninguém tá se sacrificando aqui. Acho que nós dois estamos um pouco emocionalmente instáveis com a minha estreia do monólogo daqui a pouco. Eu também te amo, pai. Muito!
-Vou te deixar sozinho agora... sei que você precisa da concentração.
-Preciso mesmo. Mas você não me atrapalha nunca. Fique tranquilo.
Márcio deixa o camarim e Cláudio fica com uma sensação estranha sobre tudo. CORTA A CENA.

CENA 4: Instantes depois, Cláudio vai à cozinha do teatro preparar alguma coisa para comer e encontra Marcelo ali.
-Impressionante que você tá sempre ruminando alguma coisa, sua vaca!
-Ih, olha quem fala! O taurino boca nervosa aqui é você, fofa...
Os dois riem.
-Sabe, Cláudio... eu tou achando nosso pai meio esquisito hoje.
-Você também notou?
-Não teve como não notar... ele tá com um jeito melancólico... parece olhar tudo num tom de despedida...
-Mas ele chegou a conversar com você?
-Sim, mano. Ele veio com um papo de que tinha muito orgulho de mim, de você e de ter tido a oportunidade de poder conhecer a gente, essas coisas...
-Viado... ele me disse praticamente a mesma coisa. Em outras palavras, claro. Ai, que sinistro isso, sério. Quero nem pensar no que isso pode significar.
-Eu fiquei encafifado, Cláudio... de verdade.
-E eu então, Marcelo? Cada coisa que passa aqui pela minha cabeça que eu prefiro nem falar...
-Acho melhor a gente tentar pensar positivo. De repente ele só falou tudo isso pelo calor da emoção, pelo momento... é a primeira vez que ele vai te ver em cima de um palco e ainda por cima num momento único da sua carreira: a sua estreia num monólogo, coisa que muito ator jamais teria peito de encarar. Mas confesso que o tom do nosso pai parecia de despedida... não quero pensar muito nisso, te juro, mano... mas que pareceu, pareceu. E isso me deixou meio assustado.
-A mim também, Marcelo...
-Bem, mas vamos falar de coisa boa. Quer dizer que depois dessa primeira temporada tá tudo acertado pro seu casamento com o meu cunhadinho do edy, digo... do coração?
-Mas não é que tá? A teimosia do Bruno me venceu.
-Queria o que? Casal taurino é isso daí mesmo...
-Bobo. Mas me conta, quando é que você e o Rafa pretendem sair de novo em férias?
-Ih, viado... vai demorar. Do jeito que todos nós estamos envolvidos até o pescoço com “Heróis Reais” e com a própria Fermata Visual, acho que não vai sobrar muito tempo pra gente pensar em descanso...
Os dois seguem a conversar animadamente. CORTA A CENA.

CENA 5: Ao chegar à frente do teatro, acompanhado de Mara, Raquel e dos policiais, Valentim pede um momento a todos.
-Gente, vocês fiquem aqui fora, mantendo uma distância que não dê pro pessoal que já tá ali dentro perceber vocês. Vou ali dentro checar pra ver como andam as coisas. - anuncia Valentim.
Valentim entra discretamente no teatro e percebe que a plateia já está toda nos seus assentos.
-Droga! Aqueles dois devem estar por aí, no meio dessa gente toda... - lamenta Valentim.
Valentim retorna para o lado de fora.
-Pessoal, fiquem vocês do lado de fora. Eu, Mara e Raquel entramos, pois estamos à paisana. O teatro já está lotado e não há mais nenhum lugar vago. De qualquer forma, fiquem vocês do lado de fora, observando qualquer movimentação que for suspeita. - fala Valentim, orientando os policiais.
Raquel fica apreensiva.
-Não é possível que a gente tenha demorado tanto, não passou tanto tempo assim! - reclama Raquel.
-Mas foi o tempo necessário para garantir os reforços policiais. Precisamos agir com cautela nesse momento. - fala Valentim.
-O Valentim tá coberto de razão, Raquel. Não é motivo para alarme nada disso ainda. O que não podemos fazer é vasculhar o teatro sem deixar as pessoas que estão ali, esperando pela peça, assustadas e alarmadas. Todo cuidado é pouco nesse momento. Tudo o que a gente pode fazer é manter nossos olhos vivos, mas mesmo assim, nós, sozinhos, não podemos fazer muita coisa. Qualquer movimentação estranha que vier a acontecer, a gente avisa imediatamente aos policiais que estão lá fora. Não tem outro jeito, vai ter de ser assim... - fala Mara.
-Eu tou nervosa, gente... desculpa. - desabafa Raquel.
-Não fique, Raquel. Tudo vai dar certo... - fala Valentim.
-Eu queria ter essa certeza. Mas tou com o coração apertado. Meu neto, tanta gente aqui dentro e eu não podendo fazer nada a não ser assistir a tudo praticamente de braços cruzados... - continua Raquel.
-Preocupação num momento desses não vai resolver absolutamente nada, além do que pode acabar desviando nosso foco... - fala Mara.
Os três observam a movimentação no teatro, apreensivos. CORTA A CENA.

CENA 6: Suzanne está ao lado de Guilherme e ambos estão disfarçados com roupas escuras. Suzanne se incomoda com Guilherme, que não para de se mexer e de balançar a perna.
-Será possível, cara? Você não consegue parar quieto?
-O que foi, babazinha? Não tá vendo que eu tou quieto?
-É isso que você chama de ficar quieto? Você não para de se mexer um segundo, fica balançando a perna o tempo inteiro! Não tá vendo que todo mundo nessa fileira já tá olhando torto pra você? Se contenha!
-É que eu tou ficando nervoso pela estreia da peça...
-Sei... você pensa que me engana?
-Não penso nada. Não sei do que você tá falando.
-Você acha que eu sou burra, né? Eu te vi crescer, fedelho. Fui quase uma segunda mãe pra você.
-Menos. Você só foi uma puta de luxo bancada pelo meu pai.
-Você ainda quer a grana?
-Claro que quero. Preciso...
-Então faça um favor a nós dois: se cale.
-Eita... não tá mais aqui quem falou.
-Quieto, fedelho. Falta pouco pra peça começar...
CORTA A CENA.

CENA 7: A apresentação da peça de Cláudio se inicia e Cláudio começa a falar na voz de sua personagens.
-Olá, pessoal. Vocês vem sempre aqui? Oh, não... não entendam isso como uma cantada. Já fui uma pessoa mais atirada, mas hoje eu posso dizer que estou num momento mais... digamos... sabático da vida, entendem? Ai, adoro essas palavras difíceis! Acho um luxo que só! Ah... já ia me esquecendo de me apresentar: me chamo Igor. Disseram que aqui tá rolando uma festinha muito louca. Falaram que tem gente famosa aqui inclusive, é mole? Eu aqui, toda trabalhada na juventude que me é peculiar, me sentindo um caco velho, um dinossauro. Falaram também que essa festa tem meu nome... acho que disseram algo como “O Estranho Universo de Igor”. Sinceramente? Achei esse nome brega, um desserviço a toda comunidade LGBT do Brasil. Aliás, do Brasil não: do mundo! Parece nome de filme cabeça, tipo aqueles do Lars Von Trier, saca? Todo mundo que paga de culto assiste e bate palma, mas bem na real quase ninguém entende porra nenhuma. Cinema experimental me dá um sooono! Falando em sono, eu devia estar dormindo a uma hora dessas. Mas disseram que tinha uma festa rolando aqui, não disseram? Cadê todo mundo? Ih... vocês não vão parar de me olhar com essas caras de admiração, né? Eu sei que sou lindo, mesmo. Minha mãe também sempre diz isso, mas sabe como é: em mãe a gente nunca acredita. A minha tá por aí, pelo mundo, fazendo cruzeiro com um milionário que ficou de quatro por ela! Essa é das minhas, viu gente? Não dá ponto sem nó, a danadinha! Ah... vocês devem estar se perguntando pelo meu pai. Nem conto o babado: mais viado que eu e toda a parada LGBT do Rio de Janeiro junta! Um arraso, a bicha! Deu sorte na vida também, conheceu um cubano ma-ra-vil-ho-so e se mandou pra Miami, tá morando lá a safadinha. Às vezes manda notícias. Vive me convidando pra dar uma passada lá, mas como que eu vou? Tou completamente quebrada, adivinha por que? Pois é, gente... eu caí no golpe do boa noite cinderela... o desgraçado me dopou e limpou a minha casa todinha. Não me deixou nem com os cartões. Bem, pelo menos não fez nada com a minha pessoa, então como eu sou toda trabalhada no modo fênix de ser, é claro que eu sempre dou a volta por cima. Mas... nem sempre foi assim. Ai, gente... tou entediado com essa gente que não chega. Vou aqui conversar com vocês enquanto isso... se incomodam? Ah, que bom, quem se incomodar pode dar o fora que eu não quero bicha dando close errado na minha festa...
A plateia interage com Cláudio, empolgada. CORTA A CENA.

CENA 8: Suzanne se encanta com a atuação de Cláudio e Guilherme percebe que ela está completamente distraída.
-Hora de agir... - murmura Guilherme consigo mesmo.
Guilherme saca uma arma de sua calça e, lentamente, abraça Suzanne.
-Ih, fedelho... tá mais maluco que de costume? Tá posando de hetero agora?
-Suzanne... sente o que tá cutucando sua barriga.
Suzanne percebe que Guilherme está armado.
-O que você quer de mim? Me matar?
-Fale baixo. Você vem comigo. Quietinha, sem dar um pio. A gente vai sair daqui abraçado, como se fosse um casal. Ninguém pode notar nada de estranho, tá prestando bem atenção?
Suzanne, apavorada, obedece Guilherme, que se levanta com ela vagarosamente e ninguém percebe nada.
-Onde cê tá me levando, Guilherme?
-Não te interessa...
-Claro que me interessa, seu merda.
-Se eu fosse você, eu calava essa sua boca. Ou pelo menos tratava de parar de me insultar. Eu posso te matar a qualquer momento, é isso que você quer?
-Não...
-Pensei nisso, mesmo. Burra você nunca foi.
Guilherme vai com Suzanne até a coxia.
-O que você quer aqui, cara?
-Você vai ver.
-Dá pra me soltar, pelo menos? Tá me machucando!
-Tá certo. Você se comportou direitinho.
Guilherme solta Suzanne.
-Só quero saber o que você pretende com isso. Eu te falei mil vezes que não queria que você fizesse nada contra meu filho.
-Quem é que tem uma arma aqui, mesmo?
-Eu também vim armada, você sabe disso.
-E daí? Se você tentar qualquer gracinha comigo, morre você e o seu filho.
-O que você quer?
-Deixa eu ver... ainda não sei? Tou pensando...
-Faça o favor de desembuchar que eu detesto enrolação!
-Olha como fala comigo, Suzanne! Me respeite!
-Fale logo o que você pretende com isso.
-Não é óbvio? Essa era a minha pendência. Você, sua imbecil, atrapalhou tudo com esse seu súbito e repentino amor materno. Eu quero uma grande cena. Algo inesquecível. Eu vou matar o Cláudio e assim ele vai ficar gravado na eternidade como o grande ator jovem e promissor que morreu em cena. Não é fantástico?
-Você não seria capaz de fazer isso...
-Pague pra ver, então...
Suzanne, com Guilherme lhe apontando a arma, fica tensa. CORTA A CENA.

CENA 9: Márcio assiste admirado à apresentação do monólogo de Cláudio, que segue falando na pele de Igor, sua personagem.
-Bem que minha mãe avisou: homem é bicho triste mesmo, viu cambada? Tá, eu sei... vocês devem estar se perguntando “ué, mas o Igor também não é homem?” e eu respondo... sim, eu sou. Foi assim que Cher me fez, afinal de contas pra ser fabulosa nessa vida tem que ser no mínimo transgressora. Mas sabe o que mais dói nisso tudo? É a falta de apoio que eu e tanta gente acaba encontrando na rua. Em casa pra mim nunca foi problema, mas e as viada que nem isso tem? Fico doente só de imaginar. Teve uma amiga minha, a Lorena, uma trans lindíssima, que não quis mais continuar nesse show aqui. Pediu pra sair de cena, entendem? Não consigo lembrar dela sem me emocionar. Ela era uma mulher incrível, mas tanta gente insistia em chamar a Lorena por um nome masculino... aquilo foi matando a minha amiga por dentro. Nem mãe nem pai, nem ninguém da família quis a pobrezinha por perto. Ela veio morar comigo. Juntos nós éramos como uma família... dois irmãos de alma. Mas se vocês acham que passei por perrengue nessa vida, é porque vocês não sabem da metade dos perrengues que a coitada da Lorena passou... ela só queria ser quem ela era, mas o mundo dizia pra ela “VOCÊ NÃO É LORENA E NUNCA VAI SER”. Não bastasse isso, queriam acabar com ela, com a beleza dela, com tudo sobre ela. Ela até que aguentou por muito tempo, sabe gente? Eu queria que pessoas como a Lorena fossem eternas... deveriam ser proibidas de sair de cena. Tem gente que quando nasce já brilha nesse palco gigante... e incomoda quem nunca aprendeu a brilhar, por mais que tentasse. Foi por causa dessas pessoas, sem luz e sem brilho próprio, que Lorena tomou a decisão de sair de cena. Mas ficou gravada eternamente no meu coração e no coração de todo mundo que conheceu ela de verdade. A sociedade às vezes é um lixo, sabe gente?
Márcio se emociona com a interpretação de Cláudio. CORTA A CENA.

CENA 10: Guilherme rende Suzanne novamente.
-O que você vai fazer, cara?
-Você vai ver. Você não tava morrendo de curiosidade pra saber como vai ser a cena final do seu pimpolho? Pois veja.
Guilherme invade o palco com Suzanne rendida. Cláudio imediatamente entra em desespero, mas procura não perder a calma e, numa atitude inesperada, segue o monólogo.
-Cês tão vendo, não tão? Assim é como os homens tratam as mulheres desse país, desse mundo! - fala Cláudio, já despindo-se de sua personagem.
A plateia pensa que tudo aquilo faz parte da peça. Raquel se desespera.
-O Guilherme! Tá com a Suzanne rendida! - grita Raquel.
-Vou chamar os reforços imediatamente. - fala Mara.
-Ninguém sai desse lugar! Vocês não querem ver uma grande cena? Não é pra isso que pagaram ingresso? Pois vejam como o palco desse teatro pode ser grandioso! - grita Guilherme.
Márcio, Marion, Marcelo, Rafael, Mariana, Valquíria, Ivan, Vânia, Setembrino, Bruno, Laura, Haroldo e Mateus entram em desespero.
-Vocês são mesmo todos uns patéticos. A família e os amigos do babaca do Cláudio foram os únicos que perceberam o que realmente tá pegando aqui. Tá tudo dominado! Quem manda nessa porra agora sou eu! E você, seu traidor, ainda vai pagar cada centavo que me deve! - grita Guilherme, se descontrolando.
-Guilherme, largue Suzanne. Abaixe essa arma. O seu problema é comigo, não é? Então seja homem e resolva comigo. Não envolva mais ninguém nisso! - fala Cláudio.
-Ui! O traidor resolveu ser tomado por uma súbita coragem, foi? Ou será que é amor repentino pela vadia que te abandonou? Ela tinha que ser a primeira a rodar, não tinha? - provoca Guilherme.
-De onde você tirou que te traí? Você que foi obsessivo por mim, você que fez de tudo para acabar com a minha vida e me deixar sem opção até você se apresentar como única possibilidade pra minha vida afetiva. Você nunca soube admitir que me perdeu ainda na adolescência e que a culpa foi sua. Eu nunca tive a obrigação de te amar, tá me ouvindo? Nunca!
Guilherme solta Suzanne e rende Cláudio com uma “gravata”. Suzanne pega a sua arma e aponta para Guilherme. CORTA A CENA.

CENA 11: Márcio, ao ver o filho rendido, é movido por um impulso e invade o palco, nocauteando Guilherme.
-Você não vai fazer nada com o meu filho, tá me ouvindo, seu moleque? - grita Márcio.
-Agora tá completa a farofa da família feliz do século vinte e um! - debocha Guilherme, pegando sua arma do chão.
Suzanne segue apontando a sua arma para Guilherme.
-Não faça nada com meu filho! Ou eu atiro! - grita Suzanne, desesperada.
-Você acha mesmo que eu pouparia você? Tenho o maior prazer em te matar antes, sua vadia! - fala Guilherme.
Ao perceber que Guilherme vai atirar em Suzanne, Márcio se atira na frente dela e o tiro atinge seu peito.
FIM DO CAPÍTULO 154.