CENA 1: Na tela aparece a foto
de misteriosa senhora, seu nome e sua data de nascimento e morte:
Oneide Farina (24/06/1933 – 18/05/1986). Raquel faz uma rápida
prece e conversa com o túmulo de sua mãe.
-Preciso tanto da sua luz, de
onde quer que a senhora esteja... se puder me ouvir, me sentir, quero
que saiba que penso todos os dias na senhora, sempre com muito
carinho, muito amor. Mas preciso de uma luz, minha mãe... apesar de
tudo o que consegui nessa vida, os tempos não são nada fáceis...
sua neta se meteu em encrenca atrás de encrenca desde que você se
foi. Ainda por cima descobri depois de mais de vinte anos que foi ela
quem matou o Frederico, por não admitir que ele tenha tido a Riva
com a falecida mãe da garota... tudo isso é tão absurdo que
sinceramente já não sei mais o que fazer.
Raquel sente um impulso
incontrolável de fechar os olhos. Ao fechar os olhos, aparece atrás
dela, com as mãos sobre seu ombro, sua mãe Oneide, a misteriosa
senhora, a falar com a filha. Raquel, no entanto, entende essa
comunicação como a voz de sua intuição. Oneide começa a falar.
-Entenda, Raquel... ninguém
nessa vida é completamente aquilo que demonstra ser. Essa ideia de
que bem e mal são coisas distantes é um erro. Tudo isso vive dentro
de nós... todos somos luz e sombra... porque não há luz se não
houver escuridão. Procure dentro de si sua própria sombra, minha
querida... você vai conseguir encontrar. E vai acolher todas as suas
emoções, vivendo cada uma delas ao seu tempo. Suzanne não consegue
enxergar a própria luz, mas essa luz está no meio de suas sombras.
E é essa luz que faz com que ela tome atitudes nobres sem sequer
perceber a nobreza delas. Lembre-se daquele velho ditado, Raquel...
aquele que diz que ser mãe é padecer no paraíso. Mães sempre
serão mães... mesmo aquelas que escolheram, por algum motivo não
serem mães. Há coisas nessa vida que são infinitamente maiores que
nossas decisões erradas e nossos passos mal dados. Ninguém nasce
mau, assim como ninguém nasce bom. Assim Suzanne é, minha
querida... alguém que se afastou de qualquer sentimento mais
profundo pra se proteger daquilo que ela considera motivo de
sofrimento. Ela não sabe o que faz. Pensa que sabe, mas não sabe.
Aprenda a perdoar, Raquel...
Raquel, pensando estar ouvindo
a própria voz da intuição, responde a si mesma, ainda de olhos
fechados.
-Mas eu sei perdoar... eu juro
que sei.
Oneide continua a falar com a
filha.
-Não sabe perdoar a si mesma
por tudo o que a Suzanne escolheu de errado nessa vida. Apesar de
todos os anos que passaram, ainda não consegue se sentir livre dessa
culpa. Você nunca teve culpa de nada disso... fez o melhor que podia
fazer. Suzanne nasceu com esses desafios, teria de escolher que lado
prevaleceria em algum momento de desafio... e ela escolheu ainda
muito criança. Não se culpe por isso, Raquel, porque você foi a
oportunidade de Suzanne aprender a fazer as coisas pelo lado certo.
Ela ainda tem tempo de aprender, mas longe de você. A vida está
começando a cobrar dela as coisas que ela deixou pra trás... os
sentimentos que ela negou dentro do seu próprio coração. Não
julgue, apenas sinta...
Raquel abre os olhos,
emcionada.
-É, mamãe... às vezes sinto
que o simples ato de vir aqui te visitar me atiça a intuição.
Sinto que você olha por mim de onde estiver. Te amo mais que
qualquer pessoa que já conheci nesse mundo. Espero que a senhora
tenha orgulho de mim...
Raquel vai embora e Oneide, em
espírito, a segue.
-Você é o meu maior orgulho,
minha filha... - diz Oneide.
CORTA A CENA.
CENA 2: Rafael procura Vicente
para conversar sobre o esquema combinado para a estreia da produtora.
-Desculpa te incomodar com
esse assunto tão cedo, Vicente, mas... eu não consigo relaxar
diante dessa proximidade toda.
-Você tá preocupado com essa
ideia que a gente teve de juntar meus personagens com sua sinopse?
-Um pouco preocupado, sim. Mas
quanto a isso, o Marcelo já deu um jeito de encaixar esses núcleos
dentro da minha proposta.
-Então o que é que tá te
deixando assim, tão nervoso? Dá pra ver que você não tá nada
relaxado, Rafa...
-É a proximidade de tudo,
Vicente... faltam poucos dias pro lançamento da Fermata Visual. Isso
tá me deixando nervoso porque, não sei se você se deu conta, mas
pelo aparato que temos e pela futura frequência que todas as
produções possam vir a ter, ela pode virar uma emissora virtual.
-Mas é essa a ideia mesmo,
Rafael. Não entendo o seu receio. Claro que vamos precisar de algum
tempo ainda para organizar outras coisas, contratar pessoal, enfim...
-Sim... afinal de contas em
algum momento pode inclusive haver transmissões ao vivo, dependendo
do alcance que tudo tiver.
-Essa é a ideia. Mas para
isso precisamos começar do zero. Contratar gente capacitada,
profissionais gabaritados no que fazem, desde diretores, operadores
de câmera, editores de áudio, enfim... aquela parafernalha toda que
a gente tá acostumado a ver...
-Imagina o dinheirão que não
vai ir nisso? A gente pode até acabar quebrando desse jeito.
-Não se cada passo for dado
ao seu tempo, Rafael. Ninguém aqui está com pressa. A gente vai
expandindo conforme houver demanda, retorno. De início é óbvio que
vai ser mais investimento do que qualquer outra coisa, mas se a coisa
decolar, pode se tornar fonte de renda pra muito mais gente que você
possa supor no seu sonho mais otimista.
-Sim, mas eu fico com medo de
que minha primeira série acabe fracassando. Não é que eu não
confie em você e no Marcelo, longe de mim, é que a gente fatalmente
vai acabar sofrendo com o boicote dos mais conservadores.
-Mercenários, você quer
dizer. Quanto a isso, nem me preocupo tanto. Tenho muita confiança
em tudo o que a gente tá construindo e realizando. Você vai ver
como, em pouco tempo, as coisas vão ter um retorno bom.
-Queria ter essa mesma certeza
que você.
-Certeza, meu querido, nenhum
de nós tem. Mas se a gente fosse se deixar levar pelo medo de
arriscar, nem a TV existiria, afinal os radialistas boicotaram
fortemente a TV no passado.
-É, só que a TV pelo menos
tinha gente de elite disposta a investir quantias absurdas e tudo
mais.
-Que seja. O movimento na vida
é esse, Rafael... as coisas não param de se renovar a todo tempo.
Sério, relaxa... o máximo que pode acontecer é tudo isso passar em
brancas nuvens e a gente ter de começar do zero. Não seria o fim do
mundo...
CORTA A CENA.
CENA 3: Horas mais tarde,
Marcelo e Cláudio estão no pátio da mansão a conversar com
Márcio.
-Sabe, pai... eu fiquei
realmente feliz demais que você tenha vindo morar aqui com a
gente... - fala Marcelo.
-Sei lá, meus filhos... eu
ainda fico com receio que vocês possam vir a pensar que tou me
aproveitando da posição de vocês... - desabafa Márcio.
-Meu Deus do céu! Quem é
cheio de escrúpulos aqui sou eu, seu Márcio. Sério, pode parar com
isso, pai. Eu te amo. O Marcelo também te ama. A gente fica feliz
demais de ter essa oportunidade de poder conviver todos os dias
contigo, conhecer de verdade esse cara fantástico que você tem
mostrado ser... - fala Cláudio.
Márcio se emociona.
-Acho que nem no meu sonho
mais bonito eu podia imaginar que vocês iam me amar desse jeito...
do jeito que eu sempre amei vocês. Fui um fraco, um covarde durante
muito tempo. Abri mão de conviver com vocês por causa da Suzanne...
e ainda me sinto endividado com você, Marcelo... - fala Márcio.
-Por causa daquele nosso
primeiro encontro catastrófico? Aquilo já passou, pai. Sério.
Depois que tudo começou a se esclarecer, eu entendi que você tava
apenas arranjando uma maneira de não criar laços comigo. Estava a
mando da Suzanne, pra arrancar o dinheiro da gente e no final das
contas todo esse dinheiro foi pra ela... - fala Marcelo.
-Eu não consigo me conformar
que uma mulher como essa foi quem me colocou nesse mundo. Uma
usurpadora, uma golpista, sem o mínimo de respeito ou moral... -
desabafa Cláudio.
-Eu sei que você pode
discordar de mim, filho... e vou compreender se achar absurdo o que
eu disser, mas quem sabe não seja um bom momento pra você ter uma
conversa definitiva com ela? Eu sei que ela já destruiu minha vida
mais de uma vez, que ela tem muita coisa ruim... mas eu também sei
que existe algo de bom dentro dela. Algo que só eu sempre vi. Ela
esconde isso tão bem que acho que nem ela enxerga. - fala Márcio.
-E você acha que eu revelaria
a ela algo que nem ela vê, pai? Seria ela tomada por um súbito
instinto maternal que ela negou por mais de vinte anos? A vida não é
esse conto de fadas, nem uma novela água com açúcar. O mundo pode
ser feio e as pessoas ruins. Acho que estou melhor sem ela. Prefiro
que isso permaneça assim... - fala Cláudio.
-Você que sabe, Cláudio...
mas eu acho que o pai sugeriu uma boa coisa. Você precisa pelo menos
encarar de frente essa mulher... uma vez na vida que seja. Nem que
seja pra zerar essa conta... - opina Marcelo.
-Eu vou pensar no que vocês
estão dizendo... mas preciso de tempo... - fala Cláudio.
CORTA A CENA.
CENA 4: Poucas horas depois,
Vicente encerra primeiras gravações do primeiro episódio oficial
da série de Rafael. Riva, Marion, Valquíria, Marcelo e Vicente
participam das gravações.
-Por enquanto tá mais que
ótimo, pessoal. Continuamos a gravar amanhã. - fala Vicente.
-Eu pensei num nome forte para
essa minha série... minha não, nossa porque o Marcelo também
escreve comigo... - fala Rafael.
-Na verdade a gente pensou e
chegou na mesma conclusão: queremos que essa série se chame “Heróis
Reais”. - fala Marcelo.
-Achei ótimo esse nome. Tem
tudo a ver com as tramas inseridas no seriado. Por um lado fico até
aliviado de ter sido livrado da responsabilidade de escolher sozinho
o nome, faltando tão pouco tempo pra grande estreia. - fala Vicente.
-Como eu me saí nessas
gravações, Vicente? Acho que não encontrei ainda o tom certo de
meu personagem... - fala Marion.
-Você não muda mesmo, né?
Desde sempre achando que não deu o suficiente de si, mas todo mundo
sabe que você arrasa. - fala Vicente.
-Até eu me sinto mais segura
que a Marion, nunca vi uma coisa dessas... e vejam que minha carreira
de atriz é uma coisa super recente... - descontrai Riva.
-Vocês todos estão de
parabéns. Vai ser ótimo editar o material depois de tudo gravado
pra esse primeiro episódio. Se tudo der certo, daqui algum tempo eu
paro de acumular funções e vai haver mais diretores. - fala
Vicente.
-Vai dar tudo certo. Agora
vocês me deem licença que eu tou seca por dar uma passada no
shopping pra comprar umas botas maravilhosas que eu vi outro dia. -
fala Marion.
CORTA A CENA.
CENA 5: Riva circula pelo
shopping depois de fazer suas compras e para na praça de alimentação
para fazer um lanche. Enquanto está distraída, não percebe que
Suzanne senta-se à sua frente e surpreende-se ao se deparar com ela.
-O que foi agora, mulher?
Resolveu me seguir? Tá querendo terminar o que começou?
-Calma, Riva. Não precisa
dessa defensiva toda.
-Com você, toda defensiva do
mundo ainda não é suficiente. Ou você dá o fora daqui agora ou eu
chamo a segurança desse shopping aqui, tá me ouvindo?
-Você nem sabe porque estou
te procurando, Riva. Não dá pra me dar cinco minutos?
-Fala logo o que você quer. É
dinheiro? Pois pode esquecer. Se eu te der dinheiro agora, isso vai
acabar virando uma bola de neve e você nunca mais para.
-Não é nada disso, Riva. Eu
queria conversar com você, sobre tudo.
-Ah é? Que interessante. Só
que até onde eu sei, a gente já nem tem mais o que falar. Tudo o
que a gente tinha de contas pra acertar tá devidamente zerado. Era
só isso? Agora deixa eu terminar meu lanche antes que eu fique com
indigestão ou perca o apetite, “irmãzinha”.
-Eu não quero o seu perdão
nem o seu afeto. Não preciso do seu dinheiro. Eu também sou rica.
-Tá ensaiando pra virar atriz
de verdade, é? Essa expressão de madalena arrependida não tá boa,
tem que treinar melhor na frente do espelho, Suzanne...
-Deixa eu me explicar: eu
soube que você vinha nesse shopping em algum dia da semana. Já
virou rotina. Dei sorte de te achar aqui hoje.
-Sorte? Pensei que eu fosse o
azar da sua vida...
-Chega, Riva... me escute.
-Sou toda ouvidos...
-Todo mundo ainda corre
riscos. Eu preciso alertar vocês disso. Eu também corro risco, se
você quer saber... e quer saber de uma coisa? Meu problema deixou de
ser com você... eu realmente cansei de tudo isso. Não tenho
pessoalmente mais nada contra você e tou sendo sincera quando digo
isso. Mas eu peço que você e o Márcio cuidem do meu filho.
-Ah, que interessante... quer
dizer que agora o Cláudio é seu filho? Pena que tenha esquecido
disso por vinte e dois anos...
-Era só isso que eu tinha a
dizer. Eu sei que você tem bom coração e é corajosa. Cedo ou
tarde vai entender porque tou fazendo tudo isso.
-Entenderia se você dissesse.
-Não posso. Mas conto com
você. Agora preciso sair daqui, posso estar sendo seguida.
Suzanne deixa a mesa e Riva
fica intrigada.
-Mas não é que essa maluca
realmente parecia estar sendo sincera? Será que existe algum traço
de humanidade naquele coração de pedra? Ih, Riva... melhor nem
aprofundar nisso pra não perder o apetite de vez... - fala Riva,
consigo mesma.
CORTA A CENA.
CENA 6: Valquíria conversa
com Marion sobre Marinete.
-Eu sei que não devia ficar
nessa coisa de nostalgia, minha filha, mas às vezes não consigo
evitar e lembro da sua irmã...
-Não tem nada de errado ou
anormal nisso, mãe. Mesmo vinte e cinco anos depois, ainda sinto
falta da Marinete.
-É difícil esquecer de toda
a luta que foi a vida dela. Mais difícil é esquecer que nos últimos
anos de vida dela eu fui uma carrasca depois que percebi que Riva,
assim como você, queria ser atriz.
-Já passou, mãe. Não faz
sentido você se maltratar por coisas que já aconteceram a tanto
tempo. Eu e a Riva chegamos aqui. Você realizou o seu sonho mais
querido... se isso não for merecimento, não sei mais o que é...
-Mas não me livro do peso na
consciência de ter feito a Marinete sofrer o que sofreu. Sei que
tive culpa nisso... acabei com a autoestima dela. Fui indiretamente
responsável pelo envolvimento dela com o Frederico. Só eu sei o
quanto ela sofreu depois que foi abandonada por ele, grávida da
Riva.
-É, mas se não fosse a sua
insistência, o Frederico sequer teria ajudado financeiramente na
criação da Riva, nos primeiros anos. Não entendo porque você
nunca contou nada disso pra ela...
-Pra que? Era mais fácil a
Marinete pensar que eu era uma carrasca, mesmo. Eu já tinha acabado
com a autoestima dela. Se ela soubesse que enquanto ela trabalhava,
eu recebia dinheiro do Frederico, que vinha na nossa casa, talvez ela
fosse se humilhar por ela. Eu não poderia permitir ela passar por
mais dor ainda.
-Do seu jeito torto, você
cuidou dela no fim da sua vida...
-Mas tudo podia ter sido
diferente. Eu escondia tão bem minha frustração com a vida que
acabei me convencendo que a vida era só aquilo ali. Uma coisa
ingrata, sem perspectiva. A maior vítima de tudo isso ainda foi a
Marinete. Admiro demais a sua força e a força da Riva de terem me
virado às costas... com o tempo eu compreendi que se vocês não
tivessem fugido, teriam se afundado feito a Marinete.
-Veja pelo lado positivo, mãe:
no final das contas, você acabou saindo desse fundo de poço,
examinando a própria consciência. Sempre há tempo e você é a
maior prova disso, dona Valquíria.
Marion afaga Valquíria. CORTA
A CENA.
CENA 7: Horas depois, Mara
termina de preparar Cláudio no seu retorno aos ensaios.
-Rapaz, do jeito que você
tava hoje, parece que não passou nem um dia fora daqui.
-Fui tão bem assim, Mara?
-Melhor do que imagina. Você
ainda tem a força e a fúria pra entrar em qualquer personagem.
-Fúria? Me achei tão mediano
hoje...
-Essa sua fúria vem de
dentro, é inerente sua. Você pega qualquer texto e deixa ele
orgânico, encarna qualquer personagem só de ler. É como se fosse
uma incorporação de entidade.
-Não precisa exagerar também,
né...
-Não é exagero nenhum,
Cláudio. O Procópio concorda comigo. Ele viu sua estrela antes
mesmo de eu perceber o artista que tinha diante de mim. Lamentamos
muito que você tenha se ausentado por tanto tempo, inclusive.
-Coisas da vida, Mara... você
sabe muito bem que as coisas foram muito loucas nos últimos tempos.
-Ô, se sei! Mas que bom que
as coisas parecem estar mais calmas agora.
-Eu realmente espero que
estejam. Aquele maluco do Guilherme já tirou a nossa paz muitas
vezes. Agora é hora de tocar as coisas da vida...
-Assim que se diz. O foco aqui
é em te deixar pronto pro próximo desafio.
-E que esse desafio venha em
breve.
-Virá. O Procópio vai me
matar, mas vou contar o que ele tá tramando: ele tá escrevendo uma
nova peça sobre conflitos pós-adolescentes, sobre os impactos que o
jovem tem diante da vida adulta. E ele quer você no papel. Vai ser
um monólogo, onde você vai poder explorar bem essas nuances todas
que existem dentro de você, sendo o “contador” da história
toda.
-Gente, eu sempre quis fazer
um monólogo!
-É, mas fica de bico calado.
Finge que ainda não sabe de nada... o Procópio quer te fazer essa
surpresa, ainda.
CORTA A CENA.
CENA 8: UMA SEMANA DEPOIS.
Chega o dia da estreia de
Fermata Visual, produtora de Vicente, na internet. Vicente demonstra
ansiedade, sendo tranquilizado por Riva.
-Agora que falta tão pouco
que você resolveu ficar ansioso, amor? Vai se distrair com nosso
filho, então...
-Não, Riva... na pilha de
nervos que estou, é capaz de eu fazer o Lúcio chorar em vez de rir.
-Não entendo... você tava
tão confiante até ontem!
-E ainda estou. Mas faltam
minutos pra estreia da Fermata Visual.
-Sim, mas isso não é motivo
de alívio?
-É que estou apreensivo. É
uma inauguração totalmente virtual e confesso que isso me deixa um
pouco receoso por falta dessa “materialidade” de uma inauguração
comum, entende?
-Besteira, amor. Com fita pra
ser cortada com tesoura ou não, o fato é que a largada vai ser dada
e isso vai ser, tenho certeza, um passo imenso nesse seu projeto.
Seu, aliás, não... nosso. Estamos todos sonhando junto com você.
Acreditamos nisso e nos jogamos de corpo e alma nesse projeto. Vai
dar certo, confia.
-Que os anjos passem e digam
amém, Riva...
-Hão de dizer. Até parece
que você já esqueceu de tudo o que a dona velha te disse há dias
atrás...
-É, mas até me provar que
tudo o que ela disse procede, sempre fico meio inseguro.
-Você poderia ser menos
canceriano nessas horas, mas é aquele ditado, vamos fazer o que?
Os dois riem. CORTA A CENA.
CENA 9: Suzanne é acordada no
apartamento em que se hospeda pelo insistente som da campainha.
-Mas que inferno! Quem é que
me procuraria uma hora dessas? É quase madrugada, cacete! -
esbraveja Suzanne, olhando para o relógio, que indica que são 9 da
manhã.
Suzanne veste um robe e calça
pantufas. A campainha não para de tocar.
-Já vai, desgraça! Mas que
inferno! Eu tava dormindo, espera aí! - grita Suzanne, impaciente.
Ao abrir a porta, Suzanne se
depara com Cláudio.
-Você?
-Eu mesmo. Acho que nós temos
muito o que conversar, “mamãe”.
Suzanne paralisa, sem reação.
FIM DO CAPÍTULO 136.
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