CENA 1: Suzanne se impacienta
com o silêncio de Guilherme no outro lado da linha.
-Você quer fazer o favor de
parar com essa merda de silêncio, fedelho? Tou sabendo que você tá
foragido, só não sei o que você quer me ligando, seu bostinha! Seu
pai se envergonharia das merdas que você fez até a facção acabar
por sua culpa.
-Cale a boca, Suzanne! Você
sequer fez parte dessa organização pra querer me dar pitaco sobre
como eu deveria ter gerido essa porra toda.
-E eu posso saber por que você
tá me ligando?
-Tou precisando de dinheiro e
sei que você tem como me descolar essa grana.
-Sei. Me dê um único motivo
pra eu te liberar essa grana que eu posso pensar no seu caso.
-Eu quero mudar de vida. Isso
é sério, Suzanne... eu ainda sou jovem e tou cansado dessa vida de
crimes, de ter que fugir. Eu preciso de dinheiro primeiro pra
conseguir uma identidade falsa e depois dar o fora, sumir por aí...
quem sabe até mesmo deixar esse país.
-Nossa, Guilherme, como você
é brilhante, só que nunca! Quer se livrar da vida de crimes
cometendo mais um crime? Se te pegam com identidade falsa...
-Olha quem está falando! Você
já usou mais de dezesseis identidades falsas.
-Não é da sua conta.
-É da minha conta sim, porque
mesmo que você não tenha participado diretamente da facção, eu
sei que você tem o rabo preso com os homens da época do meu pai. Eu
posso falar com eles, se você preferir.
-Você está me ameaçando?
Você sabe que faz anos que eu não tenho participação indireta
nenhuma com essa merda de facção. Depois, ela já está quebrada,
falida. Não tem como se sustentar. Os homens que trabalharam ali são
todos uns vendidos, já devem estar em outra facçãozinha menor que
esteja rendendo grana pra eles. Então pense duas vezes antes de me
ameaçar.
-Calma, Suzanne... não é
nada disso, você me entendeu errado. Não estou te ameaçando, só
quero essa grana pra poder começar uma nova vida.
-E qual é a garantia que eu
tenho disso? Olha aqui, seu fedelho: você fique longe do meu filho,
tá me ouvindo?
-Ah, quer dizer que agora você
lembra subitamente que é mãe do Cláudio, não é? Mas pra enganar
todo mundo, inclusive ao Márcio, dizendo que não sabia de nada, não
pensou duas vezes.
-Você sabe perfeitamente que
se não fosse pela minha interferência, Cláudio já estaria morto,
se dependesse da sua loucura.
-Comovente esse seu instinto
materno. Pena que, na prática, você nunca foi mãe de ninguém.
-Não se meta na minha vida,
babaca. Você quer a grana? Vou ver o que posso fazer.
-Preciso que você seja
rápida.
-Quem decide o tempo sou eu.
Enquanto isso, se vire. E nem pense em chegar perto do meu filho.
Agora me dá licença que eu tenho que trabalhar.
-Sei bem que tipo de trabalho
é o seu.
-Cale-se!
Suzanne desliga, enfurecida.
-Só o que me faltava: esse
demente querendo me importunar justo agora. É o quadro da miséria.
- esbraveja Suzanne.
CORTA A CENA.
CENA 2: Na manhã do doa
seguinte, Marcelo e Rafael servem café da manhã para Bruno e
Cláudio, enquanto os dois se acordam.
-Mas o que é isso? Tratamento
vip, agora? - espanta-se Cláudio.
-Isso é pra vocês pararem de
pensar que estão se abusando da gente. Onde já se viu? Vocês
também são da família. - fala Rafael.
-Marcelo, eu vou te matar!
Você falou pro Rafael sobre nossa conversa de ontem! - constata
Cláudio.
-Falei mesmo. Vocês não me
pediram segredo e Rafael é meu marido, falo mesmo! - fala Marcelo.
-Mas agora a gente realmente
deu trabalho pra vocês... - fala Bruno.
-Vocês querem fazer o favor
de deixarem de ser bobos? A gente resolvei que ia fazer isso ontem,
antes de dormir. Pra mostrar justamente que vocês não estão demais
nessa casa. - fala Rafael.
-É, mas não vão se
acostumar com isso todo dia, não... isso aqui foi só pra mostrar
que vocês são parte dessa casa sim e não tem porque se sentirem
como se fossem pesos mortos por aqui. Mas nada de café na cama todo
dia, de agora em diante é como diria a princesinha Britney: you
better work, bitch. - brinca Marcelo.
-Vocês são ótimos, mesmo. E
convenhamos que essas torradas estão mesmo uma delícia. - fala
Bruno.
-Né não? Mas mudando de
assunto, na verdade a gente tá ficando ansioso é pelo casamento do
Victor com o Diogo nos próximos dias... - fala Cláudio.
-Nem me fala, amor. Espero
estar completamente liberado pelo médico até lá... - fala Bruno.
-Claro que vai estar, bobo.
Você é saudável, só não vai inventar de fazer polichinelo depois
de ter doado um rim pra sua mãe, né? - fala Marcelo.
-Mas mudando de assunto: vocês
não ficaram assustados com aquela loucura toda dos fanáticos
tentando agredir a gente e invadir a casa? - questiona Rafael.
-Assustado é claro que a
gente ficou e eu ainda ganhei de brinde uma pedrada na testa. Mas é
aquele ditado: vamos fazer o que? - fala Cláudio.
Os quatro riem.
-Mas então é isso, viados...
a gente vai deixar vocês enchendo o bucho em paz e mais tarde a
gente volta pra ver se vocês ainda estão fazendo pose de humildes
pobrezinhos que ficam morrendo de preocupação por estarem dando
trabalho... - brinca Rafael.
Marcelo e Rafael deixam o
quarto de Cláudio e Bruno. CORTA A CENA.
CENA 3: Valentim conversa com
Mara sobre ligação de Suzanne com pai de Guilherme.
-Só não compreendo uma
coisa, Mara.
-O que?
-Como é que a Suzanne teve a
oportunidade de trabalhar para a maior facção do estado e mesmo
assim preferiu ficar de fora? Ela era amante do chefe!
-Pensei que você soubesse
melhor que eu, Valentim. Suzanne não dá pinto sem nó... se ela não
quis trabalhar para a facção, é porque sabia que não teria a
liderança que julga merecer alcançar. O negócio dela nunca foi ser
subordinada a ninguém, mas sim que as pessoas sejam subordinadas
dela.
-Eu entendo e concordo... só
que ainda assim, estar na facção mexeria com outro ponto fraco
dela...
-Qual? O dinheiro?
-Exatamente.
-Mas pra que ela iria precisar
se “rebaixar” a ponto de ser uma subordinada da facção quando
ela já tinha conquistado o Altamir? Percebe que nada disso seria
útil para ela? Não teria razão dela perder tempo se arriscando,
podendo inclusive ir presa, em nome de um dinheiro que ela poderia
conseguir. E foi por isso que ela seduziu o chefe da facção na
época, captou?
-Sim... mas ainda assim eu
acredito que ela não seja tão inocente em relação à facção
como diz.
-Ah, meu querido... só
teremos como descobrir isso se a gente investigar a fundo e terminar
descobrindo alguma coisa... ou então tudo isso não vai passar de
mera suposição.
-Mas tem muita coisa que me
intriga nisso. Alguém deve ter sido responsável por alçar
Guilherme ao posto de chefe, por exemplo.
-Peraí, você tá querendo
dizer que a Suzanne pode ter sido essa intermediária? Mas eu duvido
e muito dessa sua teoria, se for isso.
-Mas é óbvio que pode ter
sido ela, Mara... pensa comigo: por mais que ele seja filho do cara,
tudo isso é estranho.
-Estranho por que? A ordem das
coisas dentro das facções é hierárquica. O único parente vivo
próximo do Altamir era o próprio filho.
-Sim, mas ocorre que quando
ele foi alçado à posição de chefe, ele já lidava com
problemas...
-O que em nada interferiu na
capacidade dele de traçar estratégias e ser surpreendentemente
inteligente...
Os dois seguem conversando.
CORTA A CENA.
CENA 4: Diogo e Victor vão à
mansão dos Bittencourt visitar Cláudio e Bruno.
-Viaaaado do céu! Eu sabia
que essa mansão era grande pelo que via na TV, mas que loucura é
esse interior? Bicha coisa é outra rica, digo... bicha rica é outra
coisa, né não? - espanta-se Victor.
-Ai, nem me fala, Victor, tou
acostumando ainda com essa vida toda trabalhada no glamour. Logo eu
que sempre fui o básico do básico, meu edy que vou mudar por causa
disso, porque né... - fala Cláudio.
-Mas enfim... a gente veio
aqui hoje porque quer convidar vocês pra mais uma coisinha depois do
casamento da gente... - fala Diogo.
-Contanto que não seja andar
de montanha russa eu tou topando. - brinca Bruno.
-Ai, a gente não é doido de
chamar uma pessoa que acabou de doar um rim pra isso, bobo. Na
verdade a gente vai fazer uma festa lá no nosso apartamento depois
do casamento, só pros mais íntimos... e como vocês vão ser as
testemunhas do nosso casamento, é claro que a gente quer vocês
nessa festa. - fala Diogo.
-Por mim eu topo, só não tou
podendo beber por enquanto... - fala Bruno.
-Ai, ótimo... eu também não
ando podendo e nem sou muito chegado... - fala Victor.
Os quatro seguem a conversar.
CORTA A CENA.
CENA 5: Eva e Renata acertam
os últimos detalhes sobre campanha que resolveram lançar na
internet.
-Tudo certo pra jogar a
campanha no site?
-Sim, Renata. Espero que esse
espaço deixe as mulheres à vontade para denunciarem o que sofrem.
-Também espero, amor.
Infelizmente muitas mulheres sequer sabem que estão vivendo
situações de assédio.
-Nem me fala, Renata... às
vezes elas estão em relações emocionalmente abusivas, se sentem
culpadas e sequer reconhecem que tudo isso se trata de assédio.
-Talvez o pior deles, diga-se
de passagem, com direito a gaslighting e com a ilusão alimentada de
que elas não podem viver sem as pessoas que abusam psicologicamente
delas.
-Sim... e muitas mulheres
pensam que, por não se relacionarem com homens, estão livres desses
abusos. Se enganam redondamente...
-Nem me fala. Até hoje não
digeri direito aquela história daquela garota lésbica que ficava
falando sobre feminismo pelo Brasil e pela América Latina e acabava
estuprando e abusando das meninas...
-É, mas nem é disso que eu
falei... falei mesmo foi das relações longas, que muitas vezes são
tóxicas e abusivas por um lado e suas vítimas não percebem isso
até se darem conta do buraco existencial que estão se enfiando...
isso quando se dão conta, né... tem gente que nunca cai em si,
mesmo depois de se afastar dos amigos, da família... ainda seguem
defendendo o “amor da vida” delas, achando que tá todo mundo com
inveja, enfim...
-Ai, chega desse papo. Já tá
tudo pronto aqui no site, amor. Agora é só esperar pra ver se vai
rolar denúncia logo. E esperar que as mulheres se sintam seguras e
encorajadas a denunciar essas situações...
CORTA A CENA.
CENA 6: Conversando a sós com
Cláudio, Victor desabafa.
-Sabe, Cláudio... eu já fui
tão injusto com você! Me arrependo de verdade pelos julgamentos que
fiz a seu respeito...
-Pra que falar nisso agora,
Victor? Já não tá tudo resolvido e tudo bem?
-Mesmo assim, eu sinto que
preciso ser sincer contigo. Faz parte do meu tratamento poder ser
aberto em relação às coisas.
-Ainda fico com medo que isso
te desestabilize, mas vai em frente.
-Eu fui um babaca. Quando
comecei a namorar com o Diogo, ele vivia falando sobre você. Acabei
tendo raiva de você. Minhas inseguranças só aumentavam porque eu
tava doente e não sabia... então eu te via como o culpado disso
tudo... achava que o Diogo me evitava quando saía pra noite. Mas eu
não notava que era eu que me recusava a sair com ele por não querer
participar do que pra ele era normal. Eu queria que as coisas fossem
todas do jeito que eu idealizei e me decepcionei quando vi que Diogo
era boêmio, coisa que eu nunca fui. Eu pintei você como o vilão da
história, antes de saber que eu tenho o transtorno limítrofe...
você era como o grande causador dos problemas que haviam entre eu e
o Diogo, mas eu não percebia que quem criava esses problemas era eu
mesmo... e eu te peço desculpas por tudo isso, de coração.
-Cara... não precisa pedir
desculpa. Sério. Eu sempre gostei de você, de graça. E entendo o
esforço que você fez pra conseguir melhorar nesse tratamento. Dá
cá um abraço e chega de se lamentar pelo passado...
Cláudio abraça Victor. CORTA
A CENA.
CENA 7: Rafael se queixa com
Marion sobre ataques na internet que não cessam.
-Poxa, mãe... eu sei que você
fez a coisa certa de dar aquela coletiva de imprensa, mas você tem
lido os comentários que andam postando nos sites que noticiaram? Tá
de dar nojo e medo...
-Medo, meu filho? Quem te viu
e quem te vê! Logo você com medo? Sempre foi tão destemido!
-Ah, mãe... mas as coisas às
vezes mudam de figura. Aquela cena daquele pessoal enloquecido
jogando pedra na nossa casa e tentando invadir não sai da minha
cabeça.
-De qualquer maneira, Rafael,
isso já passou. Você não deveria ficar preso a esse incidente como
forma de justificar esse medo. Dá medo? Claro que dá, mas ao mesmo
tempo não podemos deixar de fazer o que é certo fazer, muito menos
desistir dos nossos sonhos. O Vicente tá empolgado feito criança
diante de brinquedo novo com a produtora, com o complexo de estúdios
que tá quase pronto. Se eu fosse você, meu filho, focava nisso, nas
coisas que a gente tem de concretas. O que passou, já era...
-Mas e se continuarem a nos
atacar, mãe?
-Deixe que ataquem, ué. Vamos
fazer o que? Matar pra comer, como diria Inês Brasil? Não, né!
-Mas isso não deixa de ser
uma coisa séria e citar meme não vai ajudar em nada.
-Ai, filho, às vezes parece
que quem tem quarenta anos aqui é você e não eu... te contar uma
coisa, viu? Deixa que falem, que ameacem, que façam o que quiserem.
A gente vai continuar firme.
-Sabe, mãe... no fundo eu sei
que você tem razão. É que resistir às vezes cansa.
-Você é jovem demais pra se
cansar, meu filho. Nós vamos resistir e disso tudo a gente ainda sai
mais forte, é só uma questão de tempo, perseverança e paciência,
você vai ver...
Marion abraça Rafael. CORTA A
CENA.
CENA 8: Laura, Mateus e
Haroldo se divertem ao relembrar da participação no programa na
noite anterior.
-Eu não consigo parar de rir
toda vez que eu lembro daquela cara de tacho da Luísa Gerald! -
gargalha Mateus.
-E não é? Só faltava abrir
um buraco pra ela se enfiar dentro, de tanta vergonha que ela passou
com as perguntas imbecis! - diverte-se Laura.
-A cara dela foi impagável,
toda vez que a gente falava ela ficava morta de constrangida! - ri
Haroldo.
-Fiquei com pena foi da
Carolina Gadelha, tadinha. Foi ser convidada pra cantar naquele
programa justo quando a apresentadora tava passando vergonha com as
merdas que disse... - fala Laura.
-Ah, mas a Carolina Gadelha
pelo menos vai ficar com a carreira de cantora intacta, já o Mega
Hype... vai pro ralo! - diverte-se Haroldo.
-Desculpa interromper o papo,
mas eu fico preocupado é com o nosso futuro, gente... - desabafa
Mateus.
-Mas por que isso, querido? É
medo dos crentelhos cretinos? Eu tou é cagando pra essa gente... -
fala Laura.
-Não, gente... na verdade eu
continuo com medo que aquele doido do Guilherme faça alguma coisa
com a gente... - continua Mateus.
-Ai, amor... na boa, chega
desse assunto que eu já perdi a paciência com esse miserável. Você
não acha que se ele fosse fazer alguma coisa, ele já não teria
feito? Não tem pouco tempo que ele fugiu. Sério, na boa... melhor a
gente parar de falar em coisa negativa que é pra nem chamar
urucubaca... - fala Haroldo.
CORTA A CENA.
CENA 9: Horas mais tarde,
todos estão fazendo lanche na mansão dos Bittencourt e Vânia
elogia prato feito por Riva.
-Nossa, Riva... não basta ser
chique, não? Tem que cozinhar maravilhosamente bem desse jeito? Olha
que desse jeito eu nunca mais coloco minha barriga num fogão... -
fala Vânia.
-E nem vai mesmo, porque eu
amo cozinhar pra todo mundo aqui em casa... - fala Riva.
A campainha toca.
-Vou atender, queridos. Já
volto. - fala Riva.
Riva abre a porta e se depara
com misteriosa senhora.
-Dona velha? Você por aqui? -
espanta-se Riva.
FIM DO CAPÍTULO 131.
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