CENA 1: O dono da emissora se
espanta.
-O que foi que aquele moleque
aprontou dessa vez? Eu canso de falar pra ele que o dono da emissora
ainda sou eu enquanto viver, mas ele se sente o dono por estar na
gerência...
-Você está certo, João
Bernardo. O seu filho está movendo um processo contra mim, alegando
que estou difamando ele e a emissora.
-Mas que absurdo! Você sabe
que essa nunca foi a maneira que encarei os negócios aqui. Inclusive
fui processado por ex funcionários e paguei tudo o que lhes era de
direito...
-Eu sei disso, querido. Você
tem caráter. Eu sei que o Joãozinho é seu filho, mas ele não tem
caráter...
-Já desisti dele, Marion. A
mãe dele conseguiu fazer o que queria: estragar o menino. Ele fica
nessa coisa de querer medir forças comigo e até tentar me
interditar já tentou. Claro que foi ideia da desvairada da Edwiges.
-Não sei como você conseguiu
aguentar tanto tempo casado com aquela maluca, mas enfim. Eu tenho
algo a te mostrar: meu filho gravou um vídeo denunciando toda a
sujeira arquitetada pelo seu filho pra me queimar com a imprensa.
-Nem precisa me mostrar porque
eu já assisti esse vídeo, infelizmente. Nada do que o Rafael disse
ali é mentira: o Joãozinho se tornou o oposto de tudo o que sou,
sendo preconceituoso, reacionário de direita, homofóbico,
racista... um horror. E a culpa direta disso é da Edwiges, que
sempre foi tudo isso e conseguiu fazer meu filho se afastar de mim
emocionalmente depois que me separei dela.
-Eu sei de tudo isso. É
triste porque esse cara tinha tudo pra dar um novo gás pra emissora
e ele tá encaretando tudo.
-Não me permito morrer
enquanto ele estiver fazendo essa implosão com minha empresa. Eu
fundei isso aqui!
-Eu vim aqui pela consideração
que sempre tive com você, desde que te conheci lá no comecinho da
minha carreira. Mas do jeito que o seu filho tá agindo, eu tou me
vendo obrigada a engrossar o coro com meu filho e jogar toda a merda
sobre ele no ventilador, mesmo sabendo que isso te magoaria, meu
amigo.
-Você faz a coisa certa,
Marion. O errado nisso, mais uma vez, de tantas outras, é o
Joãozinho. Esse garoto não tem limites. Mais de quarenta anos na
cara e agindo como um moleque, porque nunca deixou de ser um.
-Nem sempre o dinheiro e o
poder fazem bem às pessoas, João Bernardo... nem sempre.
-Longe de mim ser
preconceituoso, mas só a gente que veio de baixo e construiu nosso
sucesso na base do suor, sabe de verdade o quanto tudo isso aqui é
efêmero. Meu filho já nasceu rico. Não passou pelo sufoco que eu e
você passamos na vida pra chegar a qualquer lugar. Teve tudo na
mão... talvez meu erro tenha sido não ser mais presente na vida
dele, pra mostrar que dinheiro não é tudo isso...
-Acho que é por isso que nós
sempre fomos amigos, João Bernardo. Você conhece o verdadeiro valor
das coisas. Conhece o valor das nossas lutas, dos nossos sonhos...
-Você poderia ser minha
filha, Marion...
-Verdade. Mas olha, meu amigo:
infelizmente eu vim aqui pra falar dessa situação lamentável que
seu filho armou. Ele está afundando a emissora porque por conta das
coisas que eu falei na coletiva de imprensa, ele está perdendo
anunciantes e patrocinadores... mas a culpa disso é dele e ele é
incapaz de perceber isso. Resolveu me colocar de bode expiatório da
coisa toda, mas enquanto ele faz isso ele afunda a sua emissora.
-Pior é que nem posso demitir
ele. Senão a Edwiges me arranca até a cueca.
-Eu sei. E também sei que a
única pessoa que pode parar aquele inconsequente do seu filho é
você.
-Isso é verdade, Marion. Ele
não escuta mais ninguém, só a mim. Pelo menos isso eu conservei.
-Então fale com ele. Diga que
proíbe ele de continuar com essa palhaçada de envolver a justiça
no meio das confusões que ele cria. Ou então eu dou uma nova
coletiva de imprensa falando que ele joga frutas estragadas e ovos
podres em mendigos e travestis, pra se divertir. A fofoca sobre isso
já rola há anos, mas se houver confirmação, ele está perdido. E
me desculpe, meu amigo... eu sei que isso prejudicaria sua emissora e
te afetaria, mas eu tou sem saída, encurralada por esse moleque que
é seu filho. Então me desculpe, mas não vejo outra alternativa
senão me defender atacando.
-Não vai ser necessário que
se chegue a tanto. Eu vou ter uma conversa bem séria com Joãozinho.
E eu te garanto que desse processo ridículo você vai estar livre em
dois tempos. Pode até se despreocupar, Marion. Não vou permitir que
ele leve essa arbitrariedade adiante.
-Fico aliviada de saber disso,
meu amigo. Não esperava outra coisa de você e até te peço
desculpas por ter tido de recorrer a você. Evitei até onde pude.
-Não se acanhe, Marion. Eu me
aposento daqui alguns meses e alguém vai ter de assumir meu lugar na
emissora. Estou apreensivo com isso porque percebo que Joãozinho não
tem preparo pra nada disso aqui. A decisão vai ser difícil, mas vou
colocar meu sobrinho Eduardo no meu lugar. Joãozinho vai continuar
na gerência, é o único jeito dele não terminar de destruir a
empresa que eu construí.
-Bem que você faz. Não dá
pra tirar ele de onde ele tá, mas dá pra reduzir os danos...
preciso ir agora, meu amigo. Mais uma vez, muito obrigada por tudo.
Você merecia um filho melhor...
Marion vai embora, triunfante.
CORTA A CENA.
CENA 2: Na manhã do dia
seguinte, Cláudio e Setembrino chegam em casa com Bruno e Vânia, já
de alta do hospital.
-Agora você pode finalmente
dizer que esse jogo tá ganho, amor! Acabou aquele pesadelo todo de
ficar na diálise. - fala Setembrino.
-E devemos tudo isso ao Bruno,
nosso filho amado... uma vida nova pra mim e pra todos nós. Mal
posso acreditar que tudo aconteceu assim tão rápido. Ainda sinto as
dores da cirurgia, mas isso não é nada perto do mal estar que eu
tinha por causa da insuficiência renal. Nada de falta de ar, de
desmaios, de inchaço ou retenção de líquido. Nunca mais paradas
cardíacas... eu renasci. E isso é tudo muito louco... primeiro eu
te pari, meu filho... e agora, de uma forma meio esquisita, é como
se você tivesse me parido, de dado a vida de presente... -
emociona-se Vânia.
-Ô, mãe... que isso! Eu
faria isso por você quantas vezes fosse necessário. É justamente
por ser você quem meu trouxe à luz desse mundo. Que me deu a
vida... o mínimo que eu devia a você era te dar parte de mim pra te
salvar. Faria tudo outra vez, se necessário fosse. - fala Bruno,
fortemente emocionado.
Cláudio e Setembrino, também
emocionados, abraçam Bruno e Vânia.
-Depois dizem que amor não
salva. Olhem essa lindeza toda na minha vida, na vida da gente! Até
pouco tempo atrás, eu vivia praticamente sozinho nessa casa, vivia
minhas desventuras amorosas, daí surge o Bruno... eu sabia que minha
vida nunca mais ia ser a mesma quando ele veio... só não sabia que
ia ganhar uma família torta linda como essa... - fala Cláudio.
-Você é um anjo nas nossas
vidas, isso sim. Se não fosse a sua acolhida, seus braços sempre
abertos, talvez eu nem estivesse mais nesse mundo agora... - divaga
Vânia.
-Vira essa boca pra lá, amor!
Sim, o Cláudio é quase um anjo nas nossas vidas, o segundo filho
que a gente não teve, mas vamos tentar não pensar no que poderia
ter sido? O que vale é o que foi e deu certo! - fala Setembrino.
-O papo tá ótimo e eu amando
estar com todos vocês aqui de novo, mas vocês não estão se
amarrando demais pra irem descansar, hein seu Bruno e dona Vânia?
Tou de olho em vocês, hein? Vocês ouviram bem as ordens médicas.
Pelo menos duas semanas de repouso e esforço mínimo e isso vale pra
você também, Bruno! Afinal de contas, você só tem um rim agora,
então nada de se achar o imbatível. Já pra cama, vocês dois! -
fala Cláudio.
Todos riem. CORTA A CENA.
CENA 3: Diogo conversa com
Victor sobre a ideia de se casarem.
-Andei pensando bastante
naquela conversa que a gente teve dia desses, Victor...
-Que conversa?
-Sobre a ideia da gente se
casar no papel, diante da lei, com tudo a que tivermos direito.
-E você concluiu alguma
coisa?
-Sim. Acho que chegou a hora
da gente dar esse passo nas nossas vidas. Você quer se casar comigo?
Victor se emociona.
-Você ainda me pergunta isso?
Como se precisasse responder.
-Ainda não ouvi a sua
resposta. Às vezes sou meio burrinho, sabe?
-Bobo. Você tem alguma dúvida
sobre a minha resposta? É óbvio que eu digo sim. Digo sim desde que
a gente se conheceu. Digo sim porque você nunca desistiu de mim,
mesmo quando duvidou de mim. Digo sim porque você mostrou a mim
mesmo minha própria força e me fez descobrir que sou muito mais
forte que podia imaginar. Digo sim porque desde que o meu caminho
cruzou com o seu, eu tive a certeza de que nunca mais seria o
mesmo... e eu estava certo: você mudou a minha vida. Salvou dentro
de mim a luz que existia dentro de tanta sombra. Te digo sim porque
você me ensinou a me amar em primeiro lugar... te digo sim porque eu
quero te fazer feliz... melhor dizendo: quero sempre ser a soma na
sua vida, assim como você soma tanto na minha.
Diogo se emociona e chora com
a declaração de Victor.
-Golpe baixo, hein? Eu que te
peço em casamento e você que me faz essa declaração? Eu devia ter
gravado isso.
-Mas vai ficar gravado, meu
amor. Vai ficar gravado nas nossas memórias...
-Então a gente já podia ir
pensando numa data, não?
-Podia sim, mas acho
interessante a gente ver quais são os cartórios que não tem nenhum
tipo de restrição ao casamento LGBT.
-Com certeza, Victor... isso
vai ser imprescindível.
-Então é isso, Diogo...
estamos oficialmente noivos, agora.
-Acho que eu mereço um beijo,
não?
-Um beijo? Não... não
merece. Mas não merece mesmo!
-Oi?
-Merece um milhão!
Victor e Diogo se beijam
apaixonadamente. CORTA A CENA.
CENA 4: Haroldo chama Mateus
sem que Laura perceba.
-O que foi, amor?
-A Laura realmente não veio
atrás?
-Relaxa, Haroldo... ela acabou
de entrar no banho. Por que você pediu pra falar só comigo?
-Melhor que te dizer, melhor
te mostrar isso aqui. Leia os comentários que foram publicados no
nosso vídeo... - fala Haroldo.
Mateus vira o notebook para
ler os comentários e se choca.
-Que horror! Esses haters não
se cansam, não? Esse aqui disse que vamos queimar no inferno e o
outro antes disse que merecemos morrer apedrejados. Meu Deus do céu!
Estamos no século vinte e um ou na idade média? Que absurdo!
-Eu quis te mostrar pra você
me dizer se concorda com uma decisão que eu tomei em relação a
esses comentários dos haters...
-E que decisão é essa?
-De apagar esses comentários
pra que eles não cheguem ao conhecimento da Laura... você sabe, ela
tá grávida de um filho meu, enfim... não acho legal ela saber
disso.
-Vai por mim, amor... não tem
sentido poupar ela disso. Eu conheço a Laura desde o ensino médio e
posso te garantir que ela é uma fortaleza. Não ia ser uma besteira
dessas que ia colocar a gravidez em risco. E digo mais: se você não
quiser ver a ariana enfurecida, não tente esconder nada dela, porque
eu já fiz isso antes e sei bem a ventania que ela vira. Nada de
apagar os comentários, tá me ouvindo? O máximo que a gente pode
fazer é fingir que não leu esses comentários antes e deixar pra
ela descobrir por conta própria, mas só...
-Você tem razão, amor... eu
sou um bobo, não sou, Mateus?
-Um pouco bobo, sim. Mas um
bobo que a gente ama.
Os dois se acariciam. CORTA A
CENA.
CENA 5: Raquel encontra
Valentim no consultório a pedido dele.
-Boa tarde, Valentim. Você
deu sorte que hoje eu pego mais tarde na delegacia...
-Melhor assim, Raquel... o que
eu tenho a te dizer talvez não seja muito bom.
-Do que se trata?
-Sobre as investigações que
estão sendo feitas sobre Suzanne.
-Vindo da minha filha eu
espero qualquer coisa.
-Mas pode desempolgar: na
realidade o problema é que não chegamos a nada ainda.
-Como é que é? Não chegaram
a lugar nenhum com ela tendo confessado que matou o próprio pai?
-Cujo crime já prescreveu no
momento da confissão e a confissão não foi feita diante de
oficiais.
-Mas não tem absolutamente
nada até o momento que aponte contra ela?
-Infelizmente, não.
-Isso é um absurdo! Digo, não
as nossas investigações não dando em nada, mas a forma como ela
sempre consegue se esquivar de tudo. E se safa sempre!
-Não podemos dizer que ela
não é inteligente e perspicaz.
-Sem dúvida. Mas ela deve ter
deixado alguma ponta solta, Valentim... não existem crimes perfeitos
e sabemos muito bem disso...
Os dois seguem conversando.
CORTA A CENA.
CENA 6: Diogo está na esteira
ergométrica quando Victor lhe pede um momento.
-Amor... pode parar um
pouquinho a corrida?
Diogo reduz a velocidade da
esteira até parar.
-Fala, amor.
-Desculpa interromper o
exercício, mas é que eu pensei numa coisa que acho que você vai
adorar saber.
-No que?
-Sobre os padrinhos... melhor
dizendo, testemunhas que pensei pro nosso casamento.
-É quem eu tou pensando?
-Se você pensou no Cláudio e
no Bruno, certa resposta!
-Ai, Victor! Você não se
cansa de ser um fofo nessa vida, não? Todo dia é uma surpresa
positiva nesses últimos tempos...
-Gostou da ideia, então?
-Amei, amor! Eu tava pensando
em chamar eles mas tava sem coragem de te dizer.
-Achou no mínimo que eu
poderia reagir estranho ou que isso disparasse alguma crise, não
foi?
-Não vou mentir... eu me
preocupo com você, cê sabe disso...
-Eu te entendo, seu bobo. Isso
é zelo. Mas eu tenho seguido o tratamento e a terapia à risca.
Então tá tudo sob controle...
-Eu te amo, seu coiso. Mas
agora preciso voltar ao exercício, senão volta a fissura pelo
cigarro e eu decidi que não volto mais com esse vício.
Diogo liga a esteira e volta a
correr. CORTA A CENA.
CENA 7: Mara chega ao
consultório de Valentim.
-Demorou pra voltar, hein?
Alguma novidade boa, pelo menos?
-Nada... as investigações
sobre o grupo de homens que pratica estupros corretivos nas lésbicas
continua praticamente na estaca zero. Mas já tou exausta disso por
hoje.
-Imagino que esteja.
-Valentim, eu queria falar
sobre algo que ignoramos esse tempo todo... e que pode ser mais
perigoso do que a gente imagina.
-É sobre o Guilherme?
-Bem... não é diretamente
relacionado a ele, mas indiretamente.
-É sobre o pai dele?
-Exatamente. A verdade sobre o
Altamir só foi totalmente descoberta depois que se descobriu que a
morte dele foi assassinato e não acidente. E no meio disso soubemos
que o Ivan foi chantageado pela facção na época que o Altamir era
o chefe. Devia dinheiro porque era viciado em jogatina.
-Tá, mas nada disso é novo,
tem mais de cinco anos que sabemos disso, onde você quer chegar?
-Na parte que o Guilherme,
quando se tornou chefe, deve ter tido acesso a todas as ações
anteriores da facção, antes de ele assumir o posto.
-Continuo sem entender a razão
desse assunto ressurgir.
-O Guilherme fugiu, certo?
Pensa comigo: ele deve estar precisando de dinheiro pra se manter
foragido. Ele pode acabar ameaçando o Ivan, caso saiba que o
falecido pai dele mandou homens da facção chantagearem Ivan. Tá me
acompanhando? No desespero pela grana, até mesmo o Ivan pode correr
risco...
-Acho improvável, Mara.
-Quer saber? Nem digo mais
nada, você quase sempre duvida de mim... veremos no desenrolar.
CORTA A CENA.
CENA 8: Ivan percebe que
chegou uma mensagem em seu celular e abre para ler.
“Boa tarde, Ivan. Você
deve saber quem eu sou, desde que fui preso no casamento com Cláudio.
Mas o meu papo aqui é contigo: eu sei das suas antigas complicações
com a facção. Sei meu falecido pai tinha você na mão. E que
quando morreu ainda tinha pendências com você. Você deve saber
também que estou foragido, isso todo mundo sabe. Mas eu estou
mandando essa mensagem pra te dizer que a sua dívida com a facção
não acabou...”.
Ivan se apavora. FIM DO
CAPÍTULO 125.
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