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quarta-feira, 5 de outubro de 2016

CAPÍTULO 123

CENA 1: Setembrino se apavora e Cláudio tenta manter o sogro calmo.
-Calma, Setembrino... o médico não disse nada ainda. - fala Cláudio.
-Fala, doutor! Como foi a cirurgia? - pergunta Setembrino, aflito.
-A cirurgia foi demorada, não por conta do Bruno, mas por conta da dona Vânia, cuja sedação demorou a fazer efeito. A cirurgia foi um sucesso! - fala doutor Rogério.
Cláudio e Setembrino se abraçam, aliviados.
-Vamos poder visitar eles? - pergunta Setembrino.
-Ainda não, pois eles estão na sala de recuperação. Sua esposa está salva e vai ficar apenas mais dois dias aqui no hospital em observação. Se eu fosse vocês, iria para casa, descansar. Eles só vão pode receber visitas bem mais tarde. - fala Rogério.
-Quantas horas ainda faltam pra que a gente possa falar com eles? - pergunta Cláudio.
-De três a quatro horas. - esclarece o médico.
-Por mim eu fico aqui no aguardo. E você, seu Setembrino? - pergunta Cláudio.
-Claro que eu fico. Afinal de conta, é a minha mulher e o meu filho que estão lá... - fala Setembrino.
-Sua esposa teve sorte, seu Setembrino. Se essa cirurgia de transplante levasse mais duas semanas para ser realizada, talvez ela não tivesse resistido à espera, afinal de contas já tinha passado por três paradas cardíacas. - fala Rogério.
-Ainda bem que nosso filho pode fazer isso pela Vânia. Agora é vida nova! - comemora Setembrino.
-Bem, vocês me deem licença que eu preciso acompanhar outro procedimento cirúrgico. - fala o médico, indo embora corredor adentro.
-É, meu sogro... temos um problema a menos agora.
-Sabe, Cláudio... eu tive muito medo. Queria ter podido fazer mais pela minha mulher, só que eu fiquei meio imprestável depois do infarto...
-Pare com isso, Setembrino. Você não pode achar sempre que carrega o mundo nas costas. Foi por isso que você infartou e o Bruno me disse. Sempre pegando o problema de todo mundo, tomando pra si e tentando resolver o que nem responsabilidade sua era. Pensa que a vida te deu essa oportunidade há anos atrás de colocar o pé no freio pra reavaliar essas coisas. Não é preciso deixar de ser bom e generoso, só não dá pra se esquecer de si mesmo, sabe? Tou vivendo esse aprendizado todos os dias, meu sogro... já fui um sujeitinho muito mais mimado do que possa parecer ser. E ainda tenho muito a melhorar em mim, pra parar de me sentir vítima do mundo ou achar que eu devo alguma coisa às pessoas mais que a mim mesmo.
-Sabe, Cláudio... você é como um filho pra mim, mesmo eu te conhecendo há tão pouco tempo. Você pode não saber sempre do valor que tem, mas ajuda muito a gente quando senta pra conversar com a gente. Eu me senti muito impotente quando pouco tempo depois do meu infarto, a Vânia começou a sofrer dos rins... fiquei pensando que eu podia fazer tanta coisa a mais e simplesmente não podia mais sem que o meu médico me trucidasse...
-Pensa na sorte que a gente teve. No final das contas, cada coisinha mínima que aconteceu e que ainda vai acontecer é porque tinha de ser. E já que a gente vai ficar aqui esperando até a hora de pode visitar os dois, acho que a gente tá merecendo fazer um lanche e tomar um café, não?
-Por favor, meu querido... agora que a ansiedade passou eu percebi que passei o dia inteiro sem comer nada!
-Viu? Daqui a pouco ia acabar ficando fraco...
Os dois partem para fazer um lanche. CORTA A CENA.

CENA 2: Horas depois, Cláudio e Setembrino visitam Bruno e Vânia no quarto do hospital.
-Que bom te ver assim, acordada e serena outra vez, meu amor... - fala Setembrino.
-Serena eu já tava procurando ficar, mas agora a sensação é de alívio... acabou aquele pesadelo. Acabaram os anos de dúvidas e incertezas. E devo tudo isso ao nosso filho, nosso bem mais precioso... ele salvou minha vida. - emociona-se Vânia.
-É, amor... tá vendo como a gratidão é linda? O que você fez pela sua mãe é a coisa mais linda que eu já testemunhei nesses vinte e poucos anos de vida... - fala Cláudio.
-Não chega a tanto, Cláudio. Não fiz mais que minha obrigação. Não mereço aplausos.
-Mas merece todo o amor e toda a gratidão do mundo por conta desse gesto, pode apostar.
-A minha maior recompensa é saber que minha mãe está salva e vai poder viver bem até ficar bem velhinha. E ao nosso lado, já tá decidido!
-Ih, dona Vânia, tá ouvindo seu filho? - fala Cláudio, marotamente.
-Se a gente não der trabalho demais a vocês, acho melhor a gente ficar no Rio. Mas não pensem vocês que não vamos procurar pelo nosso cantinho. - fala Vânia.
-A gente pensa nisso depois, querida. Agora que é mais certo que a gente não volta mais pra Coroados, vamos ter que ainda dar uma passada por lá em algum momento, colocar nossa casa a venda, falar com um corretor de imóveis... esses trâmites meio chatos e demorados, mas a gente vai pensar nisso bem pra frente. O que importa é que de agora em diante é vida nova pra você, meu amor. Vida nova pra todos nós. - fala Setembrino.
-Só fico chateada que por conta dessa emergência toda você tenha tido que adiar seu casamento com Cláudio, filho... - lamenta Vânia.
-Você só pode estar de brincadeira comigo, mãe... por você eu faria qualquer coisa. Aliás, não só por você, mas pelo pai também. - fala Bruno.
-Ah, meu filho... palavras não podem expressar o tamanho do orgulho que eu sinto de você. Orgulho e gratidão, pelo homem generoso e maravilhoso que você se tornou... - fala Setembrino.
-Vocês três se juntaram mesmo em complô pra me fazer chorar, hein? Mais respeito pelo convalescente porque eu também estou sem um rim! - descontrai Bruno.
Todos riem.
-Amor... eu e o seu pai viemos ver como vocês estavam, mas a gente ainda vai precisar passar lá em casa. Como já tá ficando meio tarde, a gente dorme por lá. Mas amanhã a gente volta assim que der. - fala Cláudio.
-Relaxem, queridos. A gente aguenta esses dois ou três dias antes da gente voltar pra casa. Não precisam madrugar pra ver a gente, agora nada de mal pode me acontecer... - fala Vânia, otimista.
-A mãe tá certíssima. E você precisa cuidar da alimentação e descansar bem, pai... seu coração já te pregou uma peça antes, lembra? Não dá pra brincar de testar os próprios limites. Vão pra casa, descansem que no máximo em três dias a gente tá de volta pra infernizar a vida de vocês. - fala Bruno.
-Fiquem com Deus. Amo vocês. - fala Setembrino.
Cláudio e Setembrino deixam o quarto de hospital. Setembrino nota olhar zeloso de Cláudio.
-Ih, menino... nem me olha com essa cara que eu vou me cuidar direitinho sim!
-Sei, seu Setembrino... sei!
Os dois deixam o hospital. CORTA A CENA.

CENA 3: Eva chama Renata, antes que elas durmam.
-Amor, você não sabe quem acabou de doar vinte e cinco mil reais pro nosso projeto!
-Quem, Eva? A Dilma?
-Boba... claro que não! O Marcelo, cê acredita?
-Sério? Mas quanta generosidade! Bem, se bem que vindo do Marcelo não se podia esperar outra coisa.
-Mesmo assim, Renata... é uma quantia maravilhosa pra quem recém tá começando o projeto. Somado às outras doações, anônimas ou não, já estamos arrecadando uma quantia considerável e só falta escolher o local a comprar. Porque com o dinheiro que tá entrando, não vai ser nem necessário alugel de peça ou terreno nenhum... vai ser comprado, mesmo. Vai ser nosso e de todas as mulheres e homens trans que precisarem de apoio e auxílio.
Renata começa a chorar.
-O que foi, amor?
-Imaginar que tudo isso começou com aquela tragédia que aconteceu com a gente. Eu fico confusa aqui, num sentimento que é misto de gratidão com dor. Ainda me fere muito tudo o que nos aconteceu... a forma como aqueles homens violaram a gente... a maneira como eu me senti vulnerável naquele momento. Pensei que ia morrer. Às vezes cansa ser forte o tempo inteiro e fingir que nada disso aconteceu.
-Calma, Renata... nós não estamos e nunca vamos estar sozinhas nisso. Conheço a sua dor porque infelizmente a gente viveu esse trauma juntas. Mas pensei que você estivesse mais forte que eu, depois desse tempo todo. Nunca mais tocou no assunto...
-Amor, eu queria te poupar de relembrar tudo, por isso não falei nada. Mas aquelas cenas ainda aparecem em flashes na minha mente. Como se estivessem acontecendo ainda...
-Nunca mais se violente dessa forma, meu amor... nunca mais. Sempre que se sentir assombrada por essas lembranças, pode falar comigo. Desabafa o quanto for necessário. Se mesmo assim a gente não encontrar uma saída pra superar de uma vez por todas esse trauma, a gente procura terapia. O que a gente não pode fazer é nos silenciarmos diante dessa dor. Jamais!
Eva afaga Renata. CORTA A CENA.

CENA 4: Na manhã do dia seguinte, Márcio bate cedo na casa de Cláudio.
-Que surpresa te ver aqui tão cedo, pai! Entra, por favor!
-Não estou atrapalhando nada? Se você e o Setembrino já estiverem de saída pro hospital visitar Vânia e Bruno, eu vou entender...
-Nada disso, pai. Estamos tranquilos aqui, tomando café da manhã sem a mínima pressa. Ainda mais que esse teimoso do seu Setembrino andou se alimentando muito mal ontem e precisa cuidar disso...
-Ih, cês nem olhem pra mim que eu tou fazendo tudo direitinho! - fala Setembrino.
-Senta com a gente, pai. Gosta de geleia de pimenta?
-É a minha preferida!
-Viu? Alguma coisa eu puxei de você além do rutilismo recessivo!
-Sabe, Cláudio... eu olho pra você e pro seu irmão e como vocês se tornaram homens dignos, retos, de conduta irrepreensível. Sinto muito orgulho de vocês, sabia? Sinto muito orgulho de você, principalmente.
-Ih, seu Márcio. Que isso agora? Tá querendo me emocionar logo no começo do dia?
-Não tou falando mentira alguma, meu filho. Você tem uma força imensa... passou por tudo o que passou, mesmo antes de ter consciência da própria existência, depois perdeu seus pais adotivos que tanto te amaram quando era pouco mais que uma criança mais crescida... e chegou aqui. Está onde está. É um guerreiro nato... isso me deixa orgulhoso demais de você, meu filho... de coração.
-Ai, pai... obrigado, de coração... mas não sei se sou tudo isso. Já fui muito mimado e ainda sou... e o pior é que é sem motivo aparente. Aceitava fácil a posição de vítima, sabe? Fui muito intolerante com muitas pessoas que passaram pela minha vida, acredite. Demorei a compreender que todo mundo mente, custei a ver minhas próprias mentiras... mas estou buscando me melhorar.
-Enfim... se você continuar a falar quem vai se emocionar sou eu com essa maturidade toda...
-Isso é tão relativo, pai. Acho que nunca vamos ser maduros o suficiente. Mas tá certo, vamos falar de coisa boa... e a minha avó, como está?
-Tá ótima, trabalhando demais na polícia, encontrou a vocação dela por lá, mesmo. Você devia se apressar em conhecer dona Raquel. Melhor pessoa!
-Quer muito ter essa oportunidade, mas no meio dessa loucura toda tá difícil encontrar tempo.
Setembrino, Cláudio e Márcio seguem conversando. CORTA A CENA.

CENA 5: Suzanne, frustrada por suas últimas tentativas de golpe não surtirem o efeito desejado, fica pensativa.
-Não entendo... os meus métodos sempre funcionaram. Sempre fui uma observadora! Agora eu não tou conseguindo nem mais identificar quando um cara é hetero ou gay... o que há comigo?
Suzanne permanece pensativa.
-Agir sozinha é foda, cara... mais complicado do que imaginei que seria. Mas não entendo como eu não consigo mais identificar os patos certos. Sempre consegui! O tonto do Márcio e os outros que me ajudaram em algum momento só faziam o que eu man... ÓBVIO! É ISSO! Eu preciso dar um jeito de ter alguém de novo ao meu lado, mas quem? Depois daquela palhaçada armada pela Riva com a ajuda da minha mãe, fiquei queimada com grande parte da alta sociedade... e não tou podendo sair do país, por culpa daquele banana que resolveu me denunciar... mas espera aí... ele sempre foi louco por mim. Se eu chegar de mansinho, fazendo a arrependida diante dele e da minha mãe, aos poucos eu posso trazer ele de volta pro meu lado. Claro! Como é que eu não pensei nisso antes? Por um tempo eu faço pose de madalena arrependida e depois eu vou envolvendo o banana de novo nos meus planos. Isso já funcionou depois que ele saiu da prisão, não teria porque não funcionar agora...
Suzanne sorri maliciosamente.
-É isso. Sempre fui uma excelente atriz. Não vai ser difícil convencer as pessoas certas que eu sou a mais nova santa do pedaço...
CORTA A CENA.

CENA 6: Durante audiência conciliatória, Marion tenta se manter calma diante de João Bernardo.
-Você e eu sabemos que nada do que eu disse é mentira. É um absurdo sem tamanho você tentar mover um processo contra uma pessoa que não falou nada além da verdade.
-É mesmo, Marion? As acusações que você fez contra a emissora são graves. E eu estou perdendo dinheiro por causa disso. Anunciantes e patrocinadores estão rompendo conosco, com medo de terem suas marcas associadas à emissora.
-Então é isso, né, seu João Bernardo Salinas Filho? Nos tempos do seu pai, jamais aconteceria uma arbitrariedade judicial dessas. Ele nunca processou ninguém que denunciou as coisas erradas que acontecem na emissora. E todos sabem disso. Só trouxe à superfície o que muita gente já sabia acontecer por debaixo dos panos.
-Eu proponho um acordo, Marion... se você topar esse acordo, eu retiro a queixa e o processo.
-Pois fale qual é o acordo...
-Você vai ter que convocar uma nova coletiva de imprensa, dizendo que se expressou mal e acreditou em fofocas divulgadas pelos sites de fofoca.
-De jeito nenhum! Você está querendo que eu peça desculpas por ter dito a verdade?
-É isso ou nada feito.
-Então voltamos à estaca zero. Eu jamais nessa vida tive de pedir desculpas por dizer a verdade. Se você está perdendo dinheiro, o problema é inteiramente seu e da maneira como você anda gerindo a emissora. Seu pai sabe de tudo isso? Porque se soubesse, aposto que nem deixaria você seguir com essa palhaçada.
-A minha relação com meu pai não é da sua conta. Somos pessoas completamente diferentes.
-Disso eu não tenho dúvida. Nos vemos na próxima audiência. Passar bem.
CORTA A CENA.

CENA 7: Com a ajuda de Marcelo, Rafael termina de gravar um vídeo para a internet.
-Temos o suficiente, amor?
-Sim. Mas você tem certeza que quer realmente publicar esse vídeo? Isso é nitroglicerina pura, vai ser um escândalo, Rafael!
-Sinto muito, mas ninguém mandou o João Bernardo mover esse processo contra minha mãe. Vamos publicar sim. Ele vai se arrepender desse mau passo...
Marcelo encara o marido, apreensivo. CORTA A CENA.

CENA 8: Pouco tempo depois, Marion chega em casa e Ivan está esperando pela esposa.
-Então, amor... como foi na audiência?
-Nada feito, pra variar. Aquele moleque, que não passa de um vândalo de grife, tá mesmo disposto a complicar minha vida de todas as formas. Não é nem pelo dinheiro, fico furiosa é com a crueldade dele, mesmo.
-Vai ter nova audiência?
-Vai sim. Mas se ele pensa que eu vou retirar tudo o que eu disse, tá muito enganado. Se quer seguir com o processo, que siga. Dinheiro não é problema...
-É, mas o problema vai ser que você vai ficar bastante queimada na mídia, se ele tiver ganho de causa.
-Isso, se ele divulgar. Acho difícil... ele age no escuro, escondido. Se o pai dele soubesse disso, aposto que não permitiria que nada disso acontecesse.
-Como é que um filho pode ser tão diferente de um pai? Nunca vou entender isso...
-Nem eu, Ivan... nem eu.
CORTA A CENA.

CENA 9: Márcio, na casa de Raquel, prepara o jantar e a campainha toca.
-Ué, a dona Raquel nunca esquece a chave... será que esqueceu no trabalho?
Márcio vai atender a porta e se depara com Suzanne.
-Você? Se estiver procurando sua mãe, ela não voltou do trabalho. Nem sei que horas chega.
-Espera, Márcio... eu não vim falar com ela. Vim conversar com você. Te dizer que me arrependo de tudo o que te fiz passar.
Márcio se surpreende com fala de Suzanne. FIM DO CAPÍTULO 123.

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