CENA 1: O grupo de pessoas
começa a correr atrás de Laura, Mateus e Haroldo, que se
desesperam.
-A gente precisa dar um jeito
de despistar esses malucos de uma vez! - fala Haroldo.
-Cala a boca, Haroldo! Eu tou
grávida, eu não tou sem poder correr. Corre, gente! - grita Laura.
Os perseguidores quase
capturam Mateus, mas Haroldo o puxa e consegue trazê-lo de volta.
-Corre direito, amor! Quase
que eles te pegaram! - alerta Haroldo.
-E da próxima vez a gente vai
acabar com vocês! Vocês são depravados, degenerados, merecem a
morte! Estão levando a perdição pro mundo e a punição pro pecado
é a morte! Nós somos os mensageiros de Deus! - fala um dos homens.
Laura, Haroldo e Mateus seguem
correndo o mais rápido que podem e Mateus olha para trás.
-Rápido, gente, a gente
precisa se esconder agora! Despistamos aqueles fanáticos religiosos!
- fala Mateus.
Os perseguidores perdem os
três de vista e ficam furiosos.
-Vocês não prestam pra nada,
mesmo! Nem pra matar aqueles demônios! - reclama o líder deles.
CORTA A CENA.
CENA 2: Mateus, Haroldo e
Laura conseguem entrar num bar que estava fechando naquele exato
momento, assustando a dona do bar.
-Isso é um assalto? Olha,
levem o que quiserem, mas não façam nada comigo! Poxa vida, não
faz nem um mês que assaltaram esse bar pela última vez... - se
queixa a dona do bar.
-Calma... não somos bandidos.
Somos atores e estávamos sendo perseguidos por conservadores. -
explica Laura.
A dona do bar reconhece
Mateus.
-Ei, você não é Mateus
Viveiros? Adorei as novelas que você participou, muito talentoso!
Nem parece nordestino... - fala a dona do bar.
Mateus se revolta.
-Qual é seu problema com o
meu povo? Sou nordestino sim e com muito orgulho. Baiano até morrer.
Problema? Será que a senhora não vê que a gente acabou de escapar
de um bando de fanáticos que queriam nos matar? Guarde seus
preconceitos pra si, valeu? Tudo o que eu menos quero ver hoje é
xenofobia! - impõe-se Mateus.
-Não... não é nada disso.
Não me entenda errado, é que você é tão bonito, sabe? - fala a
dona do bar.
-Não justifica que piora.
Nordestino tem cara, agora, minha senhora? - revolta-se Mateus.
-Desculpem, gente. Estou
nervosa. Me chamo Cláudia. - fala a dona do bar.
-Vamos acalmar os ânimos, por
favor? Tá todo mundo meio nervoso aqui. Minha senhora, dona...
Cláudia, é esse seu nome, né? A gente se refugiou aqui sem pensar,
na pressa. A gente só pede pra ficar aqui sei lá, uns quinze
minutos, até a gente sentir que tá seguro. Aquele grupo que tava
perseguindo a gente parecia ser conservador de igreja, ou mesmo
aqueles grupos de skinheads ou coisa do tipo. A gente mal consegue
acreditar pelo que acabou de passar. Correram atrás da gente,
queriam pegar pra agredir no mínimo... isso pra não falar coisa
pior. E não estamos aqui porque escolhemos, estamos aqui para nos
protegermos. - fala Haroldo.
-É verdade. E eu estou
grávida. - complementa Laura.
-Eu não sabia... está bem no
começo, não está? - pergunta Cláudia.
-Sim, querida. Estou de oito
semanas, mais ou menos. - esclarece Laura.
-Eu tou reconhecendo vocês
dois... vocês são os companheiros da menina, não são?
Apresentaram a peça de vocês ali no Municipal, não foi? É uma
honra pra mim poder ajudar vocês, de coração. Há mais de vinte
anos eu vivi um relacionamento com dois rapazes. - revela Cláudia.
Mateus e Haroldo se espantam.
-Como é que é? - pergunta
Mateus.
-Nunca imaginei que você... -
começa Haroldo, sendo interrompido por Cláudia.
-Que uma mulher simples como
eu podia ter vivido o que vocês vivem? Eu sei. Já passei dos
quarenta, fica difícil acreditar, né? Mas um dia eu fui jovem como
vocês. Era no começo dos anos noventa... namorava com Renato, que
era um dos garotos mais bonitos na época. Nos conhecemos no segundo
grau, o que vocês chamam de ensino médio hoje. Ele tinha um melhor
amigo, que se chama Marcos... sempre andavam juntos, grudados. Um dia
o Renato terminou tudo comigo e eu não entendi direito o que tava
acontecendo. Até que, meses depois, a mãe do Marcos me fez uma
proposta indecente: que eu desse em cima do Renato pra destruir o
relacionamento dos dois... foi quando eu descobri que eles tinham se
apaixonado um pelo outro... mais tarde eu entendi que Marcos sempre
foi apaixonado pelo Renato e não entrei no jogo da mãe do Marcos.
Mas a gente penou demais pra conseguir viver um relacionamento a
três... durante algum tempo eu fui vista como a vilã da coisa toda,
antes de tomar coragem de contar que a princípio, tudo tinha sido
armado pela mãe do Marcos, que não aceitava a sexualidade do filho.
Eu acabei engravidando no meio desse processo. Nos mudamos pro mesmo
apartamento e estávamos começando uma vida juntos, a três. Mas o
Renato nos deixou... morreu num acidente de carro. Aquilo acabou com
a nossa história em definitivo. O meu filho, hoje um rapaz quase da
sua idade, Laura, é filho biológico do Marcos e nós três nos
relacionamos muito bem... mas até hoje temos essa dor de ter perdido
nosso grande amor. O pai do meu filho, por exemplo, nunca mais falou
com a própria mãe, que foi responsável indireta pelo desfecho
trágico que tudo isso teve. Um dia eu apresento Daniel, meu filho, a
vocês... é um menino de ouro! - fala Cláudia, emocionada.
-Essa história toda parece
com a que li num livro uma vez... - observa Laura.
-Sei de que livro você está
falando. Parte do que aconteceu ali é verdade, mas o autor distorceu
algumas coisas, pra ser bem sincera. Deu um enfoque erótico demais e
considerei um tanto machista a visão que ele colocou sobre mim e os
personagens femininos no livro, da maneira que tudo foi contado. Se
tornou praticamente uma ficção inspirada em fatos reais, mas tem
muita coisa fora de contexto ali, coisas que não correspondem aos
fatos. - esclarece Cláudia.
-Quem diria que a gente
encontraria um personagem de um livro que a gente já leu por aí...
e justamente uma pessoa que viveu algo que a gente vive hoje... -
espanta-se Haroldo.
-Vocês fiquem tranquilos,
viu? Fiquem aqui pelo tempo que precisarem. Eu sei como o ódio pode
destruir vidas inocentes que só querem amar. Contem comigo.
Laura, Haroldo e Mateus
abraçam Cláudia, agradecidos. CORTA A CENA.
CENA 3: No dia seguinte,
Victor e Diogo visitam Cláudio e Bruno.
-Bom dia, meus futuros
padrinhos! - fala Victor.
-Chegamos em boa hora? -
pergunta Diogo.
-Nesses últimos dias qualquer
hora é boa hora, já que tenho feito vários nadas. - brinca Bruno.
-Tá reclamando de barriga
cheia pra se aparecer, esse daí. - continua Cláudio.
Todos riem. Diogo e Victor
tomam o café servido por Cláudio.
-Que café maravilhoso, viado!
- exclama Victor.
-Ideia do Bruno, acredita? Uma
vez experimentei colocar um pouco de canela e sal no pó e acabou
virando rotina... - fala Cláudio.
-Mas enfim... o café
realmente tá ótimo, mas a gente veio aqui pra dizer que já tá
confirmadíssima a data do nosso casamento! - fala Diogo.
-Sério? Quer dizer que falta
pouco pra eu e o Bruno sermos, além de futuramente casados,
compadres também? - fala Cláudio.
-Falta pouco e isso já é
confirmado. Agora é só esperar pra oficializar o que a gente já
vive há mais de um ano. - anima-se Victor.
-Fico feliz por vocês, de
verdade. Especialmente por você, Diogo... depois de tudo o que a
gente viveu, das coisas que você teve de abrir mão, é
reconfortante saber que a felicidade tá tão forte na sua vida... -
fala Cláudio.
-Qualquer dia desses vocês
podiam ir lá na nossa casa, né? Antes do nosso casamento e tal... -
fala Victor.
-Eu adoraria, só não sei se
vou ter liberação médica pra dar voltinhas por aí antes de fechar
as duas semanas da cirurgia... - fala Bruno.
-Mas meninos, quase que
esqueço de contar que a gente tá saindo dessa casa, cês acreditam
nisso? - continua Cláudio.
Os quatro seguem conversando.
CORTA A CENA.
CENA 4: Horas depois,
Procópio, Laura, Mateus e Haroldo retornam ao Rio de Janeiro. Laura,
Haroldo e Mateus vão diretamente para a casa.
-É... até que no final das
contas o saldo dessa nossa passagem por São Paulo foi bem positivo,
né? - fala Haroldo.
-Positivo, amor? Eu achei
maravilhoso! Tá certo que a gente podia ter passado sem aquele bando
de loucos perseguindo a gente justo na última noite, mas fazer o
que... - fala Mateus.
-Se não fosse aquele
incidente infeliz, a gente não ia ter entrado no bar da Cláudia e
jamais iríamos saber que ela foi personagem de um livro que todos
nós já lemos. Acho que o saldo disso ainda foi positivo, porque a
gente fez um sucesso estrondoso nas nossas primeiras apresentações
lá no Theatro Municipal de São Paulo e ainda por cima tivemos esse
presente torto no final da nossa estadia por lá. - fala Laura.
-Só fico triste que o
desfecho da história dos três tenha sido tão trágico. E que
justamente a mãe de um deles tenha sido a pior algoz de toda a
história. Fico me perguntando se o cara que morreu no acidente não
foi atingido de alguma forma por essa negatividade toda, a ponto de
se desestabilizar... - divaga Haroldo.
-Ah, meu querido... isso a
gente nunca vai saber. Pelo menos a Cláudia tem a felicidade de ter
o filho, já que amorosamente ela foi tão infeliz... - complementa
Mateus.
-Ai, meninos... vamos mudar de
assunto? Não se esqueçam que eu tou grávida e mais sensível... -
fala Laura.
-Ué, mas não é você que
diz que gravidez não é doença? Eu hein... - brinca Haroldo.
-Tou vendo que criei dois
monstros mesmo! - brinca Laura.
Os três se divertem enquanto
desfazem as malas. CORTA A CENA.
CENA 5: Horas mais tarde,
Cláudio, Bruno, Setembrino e Vânia chegam de mudança para a mansão
dos Bittencourt, sendo recebidos por Marcelo, Rafael, Riva, Vicente,
Marion e Ivan.
-Sejam bem vindos, meus
queridos... - fala Marion, receptiva.
-Eu sou a Vânia, mãe do
Bruno. Sempre fui muito fã do seu trabalho. Nunca pensei que um dia
viveria na mesma casa de uma das minhas atrizes prediletas... -
encanta-se Vânia.
-Mãe, por favor. Sem
tietagem! - fala Bruno.
-Deixe sua mãe, Bruno... até
a gente se acostumar a morar aqui ela pode fazer o que quiser, não
é, Marcelo? - fala Cláudio.
-Exatamente. Com o tempo vocês
se acostumam com a loucura dessa pensão de luxo... - brinca Marcelo.
-Queridos... vocês podem me
acompanhar? Vou levar vocês até os seus quartos, assim você e seu
filho descansam, porque ainda estão se recuperando. - fala Riva.
Vânia, Setembrino e Bruno
seguem Riva.
-É... parece que agora eu
realmente tou em família... - fala Cláudio.
-Quem diria. Com essas voltas
loucas que a vida dá, você ser meu irmão por parte de pai e ainda
ser sobrinho da minha mãe... - divaga Marcelo.
-Sem querer cortar o barato de
vocês, mas já cortando, eu tou super com vontade de pegar umas
bebidas e fazer uma birinight entre nós que podemos beber lá na
edícula, o que vocês acham? - fala Rafael.
Marcelo, Cláudio, Rafael,
Vicente e Ivan seguem à edícula. CORTA A CENA.
CENA 6: Eva e Renata terminam
de gravar, com Laura, um vídeo denunciando a violência dos
fanáticos religiosos.
-Tá ótimo, meninas. Já
temos o suficiente. - fala Haroldo.
-Obrigada mais uma vez por
terem topado vir aqui em casa pra gravar esse vídeo... - agradece
Laura.
-A gente aceitou vir assim que
soube desse absurdo. - fala Eva.
-Sem dúvida. A gente sabe e
sentiu na pele como é o ódio injustificado dessa gente
conservadora, que justifica na religião seus próprios preconeitos.
Parece que se interessam mais pela vida alheia do que com seus
próprios umbigos, estão sempre fiscalizando a vida pessoal dos
outros, impressionante... - fala Renata.
-Tudo isso é revoltante
demais, gente. Por que não arranjam uma vida de verdade pra viver?
Ou sei lá, que tal se tentassem colocar em prática o amor que dizem
pregar? Na prática eu só vejo ódio. Isso não é amor cristão,
isso é intolerância com a diversidade... - desabafa Haroldo.
-Por isso mesmo que acho mais
que justo que nenhum de nós se cale. Essa gente só acha que tem voz
porque muita gente que é oprimida se cala. Não podemos nos calar. O
certo é fazer o que a gente tá fazendo: denunciando essa violência
infundada e gratuita, que é estimulada pelos discursos de ódio de
sujeitos como... - fala Laura, sendo interrompida por Mateus.
-Melhor nem invocar o nome
desse demônio, já estou de saco cheio de ouvir falar no nome desse
fascista... - fala Mateus.
Os cinco seguem a conversar.
CORTA A CENA.
CENA 7: Valentim conta a Mara
sobre sua descoberta sobre passado de Suzanne.
-Mara, eu acabei de descobrir
algo importante sobre o passado da Suzanne... talvez isso possa
finalmente dar um rumo diferente ao inquérito.
-Do que se trata? Porque se
isso for tirar esse inquérito finalmente do zero a zero, já passou
da hora.
-Falta confirmar. O fato é
que há confirmação de que ela foi amante de Altamir.
-Como é que é? Amante do pai
do Guilherme, foi isso mesmo que entendi?
-Sim. Por isso que as contas
dela no exterior são aparentemente legais. Estavam todas no nome de
um laranja do Altamir. Foi ele que enriqueceu Suzanne antes de
morrer.
-Isso é uma informação
valiosa, Valentim. Com ela, podemos inclusive levantar a suspeita de
que pode ter sido a própria Suzanne a mandante do assassinato de
Altamir, afinal de contas, só se sabe que o antigo chefe da facção
foi traído, mas nunca chegamos no mandante do crime.
-É uma suspeita a ser levada
a sério. Só fico com receio do que isso pode causar.
-Por um acaso você tá
pensando em poupar a Raquel de saber da verdade? Pois eu acho que ela
tem que saber imediatamente de tudo isso. Ela é uma investigadora
como nós, não vejo motivo pra não contar sobre essa descoberta.
-Acontece que apesar de tudo,
Suzanne ainda é filha dela.
-Justamente por isso,
Valentim. Raquel é esperta, talvez consiga arrancar alguma confissão
da Suzanne, compreendeu ou tá difícil?
-Ainda assim, não teria valor
pro inquérito.
-De qualquer forma, você vai
contar tudo pra ela. Isso é uma afirmação: você vai, é a coisa
certa a fazer.
-Não tenho opção, né,
Mara?
-Exatamente. É justo que ela
saiba de tudo.
CORTA A CENA.
CENA 8: Marion conversa com
Rafael sobre seu projeto.
-Não sei por que você não
me mostrou tudo isso antes. Tenho certeza que quando você mostrar
tudo isso ao Vicente, ele vai no mínimo comprar a ideia. Talvez
transforme esse roteiro numa série... meu filho, já pensou se essa
acaba sendo a série inaugural das produções pra internet da
produtora do Vicente? Ia ser tudo!
-Mãe... você não acha que
tá indo um pouco longe demais na expectativa e no sonho? Não é
porque sou seu filho que você tem que babar ovo em tudo o que faço.
Pra te ser bem sincero, ainda tou bastante inseguro em relação a
tudo isso. Se não fosse o Marcelo ajudando a desenvolver, nem teria
te mostrado.
-Você vai mostrar isso pro
Vicente, sim senhor! É brilhante sim e nada de ficar inseguro porque
isso nem combina com o menino talentoso que você sempre foi.
-Quer saber? Você tem razão,
mãe. A gente tá se atirando no novo, no desconhecido. Não tem que
ter medo de experimentar.
-É a isso que eu me refiro,
Rafael. Esse é um novo começo pras nossas carreiras. Podemos
arriscar, se tropeçarmos a gente vê como fica, mas se der certo,
vai ser melhor ainda!
-Você acha que eu mostro tudo
isso pro Vicente ainda hoje?
-E por que não? As obras já
estão adiantadas, mesmo! Em menos de uma semana já dá pra começar
a gravar lá...
-É, né? Obrigado, mãe...
mais uma vez você me deixou confiante!
Rafael abraça Marion. CORTA A
CENA.
CENA 9: Suzanne está saindo
do banho e se maquiando para sair para mais uma noite.
-Tomara que hoje pelo menos eu
consiga encontrar um pato pra entrar na minha. Se aquele infeliz do
Márcio não quer mais trabalhar comigo, eu provo que consigo
sozinha! - fala Suzanne, consigo mesma.
A campainha toca.
-Ih, será que é o tonto que
mudou de ideia e resolveu cair na minha rede, de novo? Ai, ai... já
vi esse filme antes...
Suzanne abre a porta e se
depara com Raquel a encará-la.
-Ih, mãe, que cara de quem
não fode há trinta anos!
-Estou sem paciência para
suas gracinhas, Suzanne Farina Lopes. Eu já sei de tudo e quero
saber detalhe por detalhe dessa história muito mal contada de você
ter sido amante do pai do Guilherme! - confronta Raquel.
Suzanne paralisa. FIM DO
CAPÍTULO 128.
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