CENA 1: Cláudio fica surpreso
pela decisão de Diogo e Victor. Diogo percebe que Cláudio não está
entendendo muita coisa.
-Eu sei, Cláudio... você
deve estar achando tudo isso uma insanidade sem tamanho, afinal de
contas eu sempre me senti o mais brasileiro dos brasileiros, nunca
considerei a possibilidade de viver fora daqui, mas... sabe como é,
as coisas mudam. Victor tem a dupla cidadania e sente vontade de
conhecer melhor suas origens. - fala Diogo.
-Por mim, a gente ficava aqui
nessa festa maravilhosa até o dia raiar, mas a gente precisa pegar
nossas malas, que já estão feitas e deixar nossa casinha fechada
pra quando a gente vier de passagem aqui no Brasil... - fala Victor.
-Mas então por que vocês não
aproveitam pra passar essa última noite no Brasil com a gente? O
Bruno não bebeu e pode dirigir meu carro, daí vai ele e você,
Victor... pra buscarem as malas e deixar tudo certo no apartamento.
Poxa, é a última noite de vocês em terras latinoamericanas! Vou
sentir saudade dos meus afilhados. Fiquem, por favor! - fala Cláudio.
-Mas a gente não quer
incomodar vocês, gente... já demos muito trabalho com essa festa
que foi preparada só pra receber a gente... - fala Diogo.
-Pare com isso, Diogo. Apesar
de tudo o que foi vivido no passado, você é grande amigo do meu
irmão e vai ser melhor se você e o Victor ficarem aqui com a gente
essa noite e só irem embora amanhã pro aeroporto. Todos nós vamos
sentir saudades, imagina então o Cláudio! - fala Marcelo.
-Então tá certo. Se ninguém
se incomodar, a gente fica numa boa. - fala Victor.
-Óbvio que ninguém aqui se
incomoda. Depois, essa festa tá mesmo uma delícia, vão perder de
ficar mais um tempo aqui aproveitando antes da gente recolher tudo?
Óbvio que não, né? - fala Rafael.
-Ai, melhor que vocês fiquem
mesmo, porque eu não sacudi meu esqueleto o suficiente ainda e olha
que já é quase meia noite! - fala Marcelo.
-Mais uma vez só me resta
agradecer vocês por tanta hospitalidade, simpatia e amizade. Vou
sentir falta desse calor humano aqui do Brasil... - fala Diogo.
-Aqui, sem querer atrapalhar o
momento fofura de vocês, mas é melhor a gente já ir passando no
apê de vocês antes que fique muito tarde e a gente acabe não
aproveitando esse restinho de festa que vai estar do babado! - fala
Bruno.
-Verdade. Melhor eu já ir com
o Bruno até a garagem, pra gente poder já resolver essa questão e
sair daqui amanhã direto pro aeroporto. - fala Victor.
-Você lembra direitinho onde
a gente deixou nossos passaportes, né? - pergunta Diogo.
-Claro que lembro, bobo. A
gente precisa ir. Cláudio, você acompanha a gente até a garagem? -
fala Victor.
-Sim, vamos logo pra vocês
não perderem muita coisa... - fala Cláudio.
Cláudio acompanha Bruno e
Victor. Victor é o primeiro a entrar no carona do carro de Cláudio.
-Bruno... vem cá um
instante... - pede Cláudio.
-O que foi, amor?
-Cuida bem na hora de sair, no
caminho e na hora de voltar, tá?
-Que bobeira... eu sempre me
cuido, amor. Você sabe que sou excelente motorista.
-Você sabe do que eu tou
falando. Aquela situação de mais cedo não saiu da minha cabeça.
Podia ter sido o Guilherme. Se cuida, por você, pelos meninos e por
mim, tá?
-Claro que vou me cuidar. Mas
tira isso da cabeça, Cláudio... a gente tá num momento de festa e
relaxamento, não é bom alimentar essas paranoias agora, acredita em
mim...
-Tudo bem. Só peço pra não
baixar a guarda.
-Fica tranquilo, amor. Eu tou
sempre ligado. Agora eu preciso ir que o Victor pode começar a
reclamar da nossa melação aqui... até mais tarde, te amo.
Bruno beija Cláudio e entra
no carro. CORTA A CENA.
CENA 2: Na manhã do dia
seguinte, Victor é o primeiro a acordar no quarto de hóspedes e
acorda Diogo aos beijos.
-Eita! Em todo esse tempo
junto foram poucas as vezes que você me acordou desse jeito... se
for assim de agora em diante, acho que a melhor coisa que fiz na vida
foi oficializar minha união com você... - fala Diogo.
-Nem vai se empolgando que
você sabe que meu forte não é conservar romantismo. Você viu que
horas são? Já passa das dez da manhã... é bom a gente já fazer
um lanche pra não se atrasar pra ir pro aeroporto no começo da
tarde... - fala Victor.
-Você não tá esquecendo de
uma coisa importante?
-Do que, Diogo?
-Desde que a gente decidiu se
mudar pra Inglaterra, você não comunicou o Valentim a respeito.
Tudo o que fez foi se certificar que a gente vai encontrar por lá
meios de continuar seu tratamento...
-Ih, é mesmo. Tenho que ligar
pra ele...
-Aproveita pra fazer isso
agora, então. Mais tarde não vamos nem mais ter tempo.
Victor pega seu celular e liga
para Valentim, que atende prontamente.
-Bom dia, Victor. Precisando
de ajuda?
-Dessa vez eu tou ótimo. Você
sabe que me casei com Diogo ontem, não sabe?
-Sei sim.
-Pois é por causa disso mesmo
que estou te ligando, Valentim. Eu e Diogo estamos viajando pra
Inglaterra hoje mais tarde. Vamos fixar residência em Londres.
-Se isso está te deixando
feliz e seguro de si, talvez seja uma boa coisa a ser feita, mas...
você vai continuar a se tratar lá?
-Claro que vou. Já contatei
profissionais capacitados, o que já facilita bastante as coisas. No
momento só vai ser tratamento, acho que vou precisar de um pouco
mais de tempo até encontrar terapia por lá.
-Normal. Só quero que você
prometa que não vai suspender nada. Nesse momento, por melhor que
você esteja se sentindo, ainda é necessário mais algum tempo de
tratamento.
-Só espero que eu não tenha
de ficar uma vida inteira dependente disso.
-Não é momento de pensar a
respeito disso. O que deve ser pensado é que você tem a faca e o
queijo na mão pra continuar progredindo.
-É nisso que eu me apego. Sei
que vai chegar o dia que vou estar tão bem e tão seguro de mim que
eu vou poder ir largando os medicamentos e o tratamento.
-Claro que esse dia vai
chegar. Mas não tenha pressa pra que ele chegue logo. Cada um de nós
tem seu tempo... boa sorte nessa sua vida vida.
-Obrigado, Valentim. Estou
muito confiante! Até qualquer dia, meu amigo. Quando viermos ao
Brasil eu te visito.
CORTA A CENA.
CENA 3: Raquel liga para
Márcio, que está assistindo um filme na edícula.
-Oi, mãezinha! Que bom que
você ligou!
-Senti saudades, meu querido.
E estou de folga do trabalho hoje, acredita?
-Nossa, isso é praticamente
um milagre divino. Quer que eu vá te visitar?
-Claro que vou querer. Mas na
verdade eu tava pensando que podia vir você com o meu neto, o que
você acha?
-Adorei a ideia. O Cláudio
gostou muito de você, sabia? Ficou só elogiando depois...
-Que bom, meu filho. Também
achei meu neto um menino de ouro. Dá pra ver na retina que ele tem
um coração nobre. Certamente ele puxou isso de você.
-Deixe de ser tão generosa
comigo, dona Raquel. Você sabe que já fiz muita burrada nessa vida.
-E quem nunca fez? Isso não
tira de você a essência boa que sempre existiu aí dentro.
-Você nunca se cansa de me
colocar lá em cima, né?
-Mas não me canso mesmo. Você
é o filho do meu coração, se eu tivesse te parido talvez não me
sentisse tão sua mãe...
-Eu me sinto seu filho, nunca
se esqueça disso. Mas vou falar com o Cláudio, sim. Certeza de que
ele vai topar te visitar na hora. Que horário fica melhor pra você?
-Qualquer horário, meu
querido... mas se puder ser antes do fim da tarde, melhor ainda...
assim a gente pode passar bastante tempo juntos, conversando.
-E eu posso fazer aqueles
bolinhos de chuva que você diz que sou imbatível. O que acha?
-Adorei! Só de me livrar de
esquentar a barriga no fogão, já é alguma coisa. Nos vemos mais
tarde então, meu filho. Te amo.
CORTA A CENA.
CENA 4: Horas mais tarde,
Victor e Diogo, acompanhados de Cláudio e Bruno, chegam ao
aeroporto.
-É... agora que tá chegando
a hora tá dando um frio na barriga completamente diferente de tudo o
que já senti na vida... - divaga Victor.
-Só não me inventa de passar
mal no avião que isso vai ser uó... - brinca Cláudio.
Todos riem.
-Vou sentir uma saudade tão
grande de tudo aqui que nem sei como vou me adaptar a tudo lá na
Inglaterra. Mas, se isso for melhor pro Victor, também há de ser
melhor pra mim. - fala Diogo.
-A vida é mesmo uma coisa
bizarra. Até ontem a gente não era testemunha ou padrinho de
ninguém, agora que a gente é, nossos afilhados vão pra onde? Pra
Europa! Gente coisa é outra chique, não é mesmo? Digo... - segue
Bruno na brincadeira.
-Acho que nem que eu ficasse
um ano falando o quanto sou grato a tudo o que vocês fizeram pela
gente, conseguiria expressar o tamanho dessa gratidão que sinto.
Cláudio, você é a melhor pessoa que eu já conheci nessa vida.
Depois do Diogo, claro! Afinal de contas, se eu não elogiar esse
bundão, ele passa um ano se queixando! - fala Victor.
-Mas que calúnia! Do jeito
que esse daí tá falando, parece que sou eu a louca da
problematização, mas quem é que fica problematizando até os
personagens de anime, mesmo? - revida Diogo.
-Cês tão vendo que tipinho
de marido que eu arranjei pra vida, né? Me chamando de “esse
daí”... mas eu problematizo muito sim, adoro uma problematização.
Onde tiver opressão eu tou caindo no meio pra mostrar e escancarar
mesmo! - fala Victor.
-Tá, deu de brincadeirinha.
Victor, eu fico tocado, de coração, por todas as palavras que você
me disse. Eu não sei se sou essa coisa maravilhosa que você diz,
mas pelo menos tento ser bom com as pessoas nessa vida. Mas eu
preciso te dizer o quanto eu admiro a sua garra, a sua força para
lutar contra o transtorno limítrofe tão bravamente e tudo mais...
sua busca pelo autoconhecimento é admirável e eu tenho certeza que
essa mudança de vocês para a Inglaterra faz parte dessa jornada.
Quanto a você, Diogo, nem tenho o que dizer: você foi um grande
momento na minha vida. Fomos muito felizes enquanto estivemos
juntos... mas a vida quis que você, como o Haroldo e sei lá mais
quem, fossem vítimas da loucura do Guilherme. Eu admiro a sua
grandeza de mentir pra mim para salvar nossas vidas. Hoje eu sei que
você nunca me traiu... e desejo a maior felicidade do mundo ao lado
do seu verdadeiro amor, que é o Victor. - fala Cláudio.
Todos se emocionam e se
abraçam.
-Chegou a hora... a gente
precisa entrar no avião. Vamos voltar sempre que pudermos, então
podem esperar pela gente que vocês não se livraram de nós! - fala
Diogo, emocionado.
CORTA A CENA.
CENA 5: Horas mais tarde,
Márcio e Cláudio visitam Raquel e saboreiam os bolinhos de chuva
preparados por Márcio.
-Nossa, pai! Você devia
começar a fazer esses bolinhos de chuva lá em casa, são os
melhores que já comi na vida! Como é que você escondeu esse
talento da gente? - fala Cláudio.
-E eu não sei como a mãe do
seu irmão é ciumenta com aquela cozinha dela? Bater de frente com a
Riva poderia me custar os dentes da boca... - brinca Márcio.
Todos riem.
-É tão maravilhoso ver vocês
assim, tão entrosados, se dando tão bem... e te ver bem, homem
feito, com saúde e caráter, Cláudio... é como se todas as minhas
preces tivessem sido atendidas... - divaga Raquel.
-Um tanto atrasadas que essas
preces foram atendidas. Mas o que importa é que a gente tá
aprendendo a ser uma família... - fala Cláudio.
-Falando em família... olha,
gente... eu sei que vocês não querem mais falar sobre a Suzanne e
eu respeito isso. Acontece que aconteceu algo que eu preciso contar
pra vocês: o inquérito contra ela infelizmente foi arquivado. -
fala Raquel.
-Mas mesmo depois da minha
denúncia? Não entendo! Que justiça é essa, dona Raquel? -
revolta-se Márcio.
-Infelizmente não houve
materialidade de provas, o inquérito teve de ser arquivado por causa
disso. Mas pode ser reaberto caso qualquer nova denúncia seja feita
ou se aparecer algo que possa servir de prova contra ela. - esclarece
Raquel.
-Taí... agora eu fiquei
curioso, vó... pelo visto essa mulher é mais esperta do que eu
pensei. Se incomoda se eu pedir pra falar sobre o passado dela? Cê
sabe, né... sou um eterno interessado pela psicologia... - fala
Cláudio.
-Então se prepara, meu
neto... porque tem cada coisa que se você não ficar de cabelo em
pé, não sei de mais nada... - fala Raquel.
Os três seguem conversando
sobre o passado de Suzanne. CORTA A CENA.
CENA 6: Suzanne liga para
Valentim.
-O que você quer comigo,
Suzanne? Já não te disse que não temos o que conversar?
-Nossa, Valentim... eu
esperava que você fosse mais gentil.
-Quem é você para questionar
se sou gentil ou não? De qualquer forma, foi até bom você ter me
ligado.
-Bom? Não vai me dizer que já
cansou de comer o velho feijão com arroz com a Mara...
-Deixe de ser oferecida,
garota. Não é nada disso. Você me procurou há algum tempo pedindo
pra eu intervir sobre o seu inquérito, mas nada disso foi preciso.
-Como assim? Eu estou
entendendo direito? Já não era sem tempo...
-Pode soltar seus fogos de
artifício, Suzanne: o inquérito contra você foi arquivado.
-Eu falei que isso aconteceria
mais dia menos dia, Valentim... você tem que acreditar quando eu
digo que sou inocente.
-Mas eu não acredito. Vai
fazer o que? Vai chorar?
-Não vou perder meu tempo
discutindo com você, Valentim.
-Ué, mas foi você mesma que
me ligou! Não entendo o motivo, então.
-Eu te liguei pra justamente
dizer que assim que se acabasse tudo isso, eu viajaria pra fora do
país. Agora que eu tenho certeza que não existe mais inquérito
algum, não tem nada que me impeça de sumir dessa república das
bananas.
-E você faz questão de
tripudiar sobre nós, não é mesmo?
-Talvez. Fica a seu critério
de super psiquiatra me avaliar. Mas o meu recado foi esse. Não
precisa mais se preocupar comigo, viu? Em poucos dias eu vou sumir.
Talvez nunca mais volte.
Suzanne desliga. CORTA A CENA.
CENA 7: Marcelo chama Rafael
para conferir o número crescente de acessos à série escrita por
ambos.
-Amor, vem cá ver só uma
coisa...
-O que foi, Marcelo? Prenderam
todos os corruptos que tentaram barrar a lei?
-Bobo... quem dera fosse isso,
mas é algo tão bom quanto.
-Se você parar de enrolação
e falar de uma vez, eu vou saber do que se trata.
-Vou precisar falar? Acho que
não, sabe? Veja com seus próprios olhos.
Marcelo vira o notebook para
Rafael, que fica surpreso.
-Gente... o interesse pela
série não tá diminuindo! Passado!
-Não apenas não diminuiu
como aumentou, como você mesmo pode ver.
-Que surreal isso, amor. A
cada hora são mais de vinte mil visualizações e mais de mil
comentários!
-E olha que os haters são a
minoria aqui, tou achando até bom sinal.
-Não é? Os poucos que
aparecem ainda por cima acabam massacrados pelo pessoal que tá
curtindo e apoiando nossa série e a própria Fermata Visual. O
Vicente precisa ver isso!
-E você acha mesmo que ele
não tá sabendo? Só que agora ele deve estar concentrado resolvendo
as questões burocráticas da coisa toda.
-Vicente não se cansa
mesmo... parece uma formiga...
Os dois seguem conversando
sobre sucesso da série. CORTA A CENA.
CENA 8: Horas mais tarde,
Suzanne surge na casa de Raquel, que fica surpresa ao se deparar com
a filha.
-Se você tá procurando pelo
Márcio, ele não mora mais aqui. Aliás, você deu uma sorte imensa
de não cruzar com ele e com o seu filho, não faz nem meia hora que
eles foram embora.
-Não estou procurando por
ele, mãe. Esperava uma recepção mais calorosa de você.
-Você sabe que não tenho
motivos pra te dar um abraço sequer, tanto mais te receber
calorosamente. Fale logo o que você quer e deixe eu aproveitar o
resto da minha folga.
-Vim só dizer que já tou
sabendo que tou livre do inquérito. Parece que não foi dessa vez
que você me colocou atrás das grades, dona Raquel.
-Não me surpreende esse
desfecho, minha filha. Eu só quero saber de uma coisa: você vai
cumprir a sua palavra?
-Que palavra?
-Você disse que sumiria do
país e eu lembro muito bem disso.
Suzanne encara Raquel
incrédula. FIM DO CAPÍTULO 141.
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