CENA 1: O segurança fica sem
compreender nada.
-Mas o senhor disse que não
era pra deixar ninguém dessa família passar... - estranha o
segurança.
-Você é pago pra questionar
minhas ordens, rapaz? Ah, deixa eu ver... acho que não. Você é
pago para obedecer, pensar não está no pacote. Deixe os quatro
passarem. Quero saber o que eles tanto precisam conversar comigo. -
fala João Bernardo.
O segurança deixa Riva,
Rafael, Valquíria e Marion passarem. Os quatro acompanham João
Bernardo até sua sala.
-Pois falem logo o que vocês
querem comigo que eu tenho muito o que fazer antes de encerrar esse
dia. - fala João Bernardo.
-A gente veio aqui saber uma
coisa: baseado no que você está armando esse boicote covarde à
Fermata Visual? - questiona Rafael.
-Vocês tem como provar o que
estão dizendo? - debocha João Bernardo.
-Quem não te conhece que te
compre, moleque. Seu pai morre de vergonha dessas suas atitudes. -
fala Marion.
-Que coisa, não? Mas quem vai
acabar com o comando disso tudo aqui um dia, sou eu. Paciência,
né... tem que entubar! - fala João Bernardo.
-Eu conheço essa fala, rapaz.
Você se acha tão esperto, tá sempre cheio de si e fica imitando a
fala de uma personagem de novela! - fala Riva.
-Tá se achando a bucetuda,
coitada... Laura Prudente da Costa teria vergonha de ser citada por
um babaca feito você. - fala Rafael.
-A gente veio aqui só pra
dizer uma coisa, seu verme: quer levar em frente essa palhaçada?
Pois leve. Faça o que quiser, afinal de contas você é bem
crescidinho pra saber o que faz. Só que se você acabar afundando a
empresa que seu pai, um homem honrado, levou uma vida inteira de
dedicação pra construir, você nunca mais vai ter sossego nessa
vida. Você tá comprando uma briga feia com milhões de brasileiros
que são fãs da gente e não estão comprando essa história mal
contada de que traímos a emissora. Aliás, não apenas milhões de
brasileiros, mas também nossos fãs do exterior. Quem é mesmo que
tava falando sobre entubar aqui, mesmo? Você não passa de um
playboyzinho patético. Tá cavando a própria cova e nem percebe. O
seu dia vai chegar, João Bernardo. E quando esse dia chegar, você
vai estar numa merda tão grande que ninguém, muito menos seu pai,
vai te estender a mão. Vai em frente, moleque... tenta boicotar a
Fermata Visual, tenta! Você vai ver como as coisas vão acabar
acontecendo. Só não se esquece que esse mundão dá voltas. Um dia
você pode precisar do Vicente... e eu tenho certeza que ele não vai
te ajudar. Era tudo o que eu tinha a dizer. Vamos embora, gente... -
fala Marion.
CORTA A CENA.
CENA 2: No dia seguinte,
Vicente conversa com Riva a respeito do incidente envolvendo o filho
do dono da emissora.
-Você não acha que é meio
um tiro no pé fazer isso, amor?
-Riva, se ninguém se
pronunciar, esse sujeito nunca vai parar. É disso que ele vive, de
polêmica. Se cerca de advogados corruptos e sai sempre ileso.
-Mas é justamente por isso,
Vicente... você acha que valeria perder tempo denunciando um cara
que se cerca do pior tipo de gente pra fazer valer a sua própria
vontade?
-Vale a pena sim, afinal de
contas já não é de hoje que as pessoas estão sabendo quem ele
realmente é.
-E você tá mesmo disposto a
fazer uma denúncia pública no site da Fermata Visual?
-Não tem outro jeito, amor.
Quem começou essa briga foi ele. Por mim isso nem é uma briga, só
que não dá pra ficar calado diante de tudo.
-Concordo. Mas isso pode
acirrar mais ainda as coisas. Talvez o boicote proposto por ele se
intensifique, porque você sabe perfeitamente que tem muita gente
nesse país que é defensora da emissora... defendem como se fosse um
time de futebol, com muita paixão e pouca razão.
-De qualquer forma, Riva... a
gente sabia perfeitamente onde estava se metendo quando eu decidi que
ia levar adiante o projeto da Fermata Visual. O velho, diante do
novo, tenta ganhar no grito.
-Bem, olhando por esse lado...
realmente. Nos resta a resistência e a luta.
-Claro, amor. Tudo isso está
dentro do previsto.
-Só espero que isso não
acabe prejudicando o andamento da Fermata Visual.
-Se prejudicar, paciência.
Estamos apenas no começo...
CORTA A CENA.
CENA 3: Marcelo chama Cláudio
para uma conversa.
-Não entendi por que o Bruno
não pode participar dessa conversa, mas tudo bem...
-Sabe o que é, Cláudio? É
que eu queria poder conversar contigo sem a interferência de
ninguém. Sem ninguém opinando. Apenas eu e você, nem o pai
opinando...
-Mas por que, criatura?
-Porque no meio dessa loucura
toda, eu acho que você deixou algo importante no meio do caminho.
-Olha, se for pra sugerir que
eu fique frente a frente de novo com aquela nojenta da Suzanne, pode
esquecer. Já gastei a cota de uma vida toda e não penso em voltar
atrás, você sabe muito bem como eu sou.
-Teimoso feito uma porta
emperrada. Mas fica tranquilo, mano... não é sobre a Suzanne que eu
queria falar.
-Ainda bem, né. Você sabe
muito bem que insistir comigo é pura perda de tempo.
-Sei disso há mais de dez
anos, mas enfim. Eu queria mesmo é falar sobre Raquel. Ela é sua
avó, poxa... não tem culpa de ser mãe da Suzanne. Acho que já
passou da hora de vocês se conhecerem de verdade. Conversarem um
pouco... você dar essa chance a ela.
-Sinceramente eu nem tinha
parado pra pensar direito nisso, mano... mas a questão aqui é que
eu não sei se eu ainda tenho cabeça pra encontrar com ela. Não
estou dizendo que tenho medo, só não sei como reagiria.
-Mas você sabe que ela é uma
pessoa boa, não sabe? O pai vive se desmanchando em elogios...
-Não, Marcelo... disso eu
sei. Eu só não sei se tou preparado pra isso agora. É muita coisa
pra pensar ao mesmo tempo, ainda. O casamento do Victor com o Diogo
tá estourando aí, depois tem o meu próprio casamento. No meio
disso tudo ainda tem meus ensaios pro monólogo que eu vou estrelar.
Não sei se tenho tempo pra pensar em outra coisa.
-Tempo a gente arranja sempre
que quer. Não entendo porque você tá se apegando nessa desculpa.
Você nunca foi de fugir da raia.
-Eu não tou fugindo. Quer
dizer... talvez eu esteja. Eu não sei, Marcelo. Até um ano atrás
eu não tinha família, é muita coisa...
CORTA A CENA.
CENA 4: Horas depois, Rafael e
Marcelo chamam Vicente para conversar.
-O que foi, meninos?
-Vicente, a sua decisão de
denunciar as ações do filho do dono da emissora não pode ter sido
mais acertada... - fala Marcelo.
-Como assim? - pergunta
Vicente.
-Veja com seus próprios olhos
o quanto o vídeo da sua denúncia viralizou... - fala Rafael,
alcançando seu celular.
Vicente olha e fica animado.
-Gente do céu. Em poucas
horas ultrapassando um milhão de acessos e ainda por cima com uma
chuva de comentários apoiando! É... se aquele playboy pensava que
ia ser fácil deter a Fermata Visual, acho bom ele reconsiderar essa
ideia de boicote... - comemora Vicente.
-Reconsiderar? Acho mesmo que
ele vai querer enfiar a cara num buraco... - fala Marcelo.
-E isso vai ser bem merecido.
Se vocês vissem a cara de deboche e ouvissem as coisas que ele disse
ainda ontem pra gente, se sentindo superpoderoso, estariam tendo
frouxos de riso agora. A lei do karma é mesmo uma linda! - fala
Rafael.
-Como costumo dizer... karma
is a bitch. - fala Marcelo.
-Pois é, gente... pelo visto
a vida da velha mídia não anda nada fácil. E ao que me consta,
daqui em diante, só tende a piorar. Eu podia dizer que tava com
pena? Podia, mas tou achando isso bem feito pra esse babaca. Coitado
do pai dele, isso sim... prestes a deixar a emissora de uma vez por
todas e vendo o próprio filho terminar de afundar com ela. Só
lamento por isso... não é justo com o pai dele, porque de resto,
esse playboy tá tendo somente o retorno justo pelas merdas que andou
fazendo. - fala Vicente.
-Mas isso tá sendo é ótimo!
Sinto mais vontade de continuar escrevendo os outros episódios da
série, que a gente ainda vai gravar. - fala Rafael.
-Sinto a mesma coisa. Esse
tipo de boa notícia atiça a minha inspiração de uma forma que nem
sei descrever. Então já sabe, amor: bora baixar a cabeça que a
gente tem trabalho pela frente e um produto que, se Cher quiser, vai
fazer sucesso contínuo. - fala Marcelo.
-Que Inês Brasil passe e diga
amém! - brinca Vicente.
Marcelo e Rafael gargalham.
-Ai, Vicente... você fica
impagável tentando falar feito a gente! - diverte-se Marcelo.
CORTA A CENA.
CENA 5: Cláudio, depois de
desabafar sobre conversa que teve mais cedo com Marcelo com Bruno,
Rafael, Vânia e Setembrino, é aconselhado por eles.
-Ainda acho que seu irmão tá
coberto de razão, meu genro. Sua avó não tem a mínima culpa da
filha dela ter se tornado essa pessoa horrorosa. - fala Vânia.
-Eu sei, dona Vânia. Mas
mesmo assim... eu não sei com que cara eu chego. Eu não sei como
encarar minha avó... não sei se chamo de dona Raquel, de vó... tá
tudo muito confuso ainda... - desabafa Cláudio.
-De qualquer forma, amor...
quanto tempo você ainda vai perder em dúvidas? Olha, como taurino
eu sei que às vezes a gente tem esses processos lentos, demorados,
mas a vida nem sempre espera a gente até a gente tomar as decisões
que a gente tem de tomar. A vida não espera a gente parar de
procrastinar. - opina Bruno.
-Sou obrigado a dar razão ao
Bruno, cunhado. Não é difícil entender que tudo isso, quanto mais
cedo for resolvido, melhor vai ser pra todo mundo. Pelo pouco que
conheço da sua avó, sei que ela é uma pessoa boa e seu pai vive
dizendo isso. Imagina o quanto ela tá esperando por esse encontro?
Só que ela também tem as coisas dela, a correria dela trabalha na
polícia, você sabe... - fala Rafael.
-Eu sei disso tudo, gente. Mas
é que se ela quisesse me encontrar, já teria feito isso... - fala
Cláudio.
-Não seja injusto, meu
querido. Uma coisa é você aí, cheio de juventude e gás, outra
coisa é uma pessoa que já passou dos cinquenta... - opina
Setembrino.
-Ai, quer saber, gente? Acho
que eu vou falar com o pai, assim que ele voltar da volta que ele foi
dar... - fala Cláudio.
-Até que enfim uma decisão
acertada, cunhado! Conversa com ele e fala sobre a sua vontade de ir
ver sua avó... - fala Rafael.
CORTA A CENA.
CENA 6: Atores e atrizes se
dirigem ao RH da emissora e pedem demissão. João Bernardo,
percebendo a movimentação, que envolve mais de dez atores e
atrizes, vai entender o que está acontecendo.
-O que foi que aconteceu,
gente? Rebelião geral? Colocaram alguma bomba atômica aqui dentro e
eu não tou sabendo? - questiona João Bernardo.
-Nada disso. A gente resolveu
pedir demissão da emissora. O motivo é um só: nós repudiamos suas
últimas atitudes e o rumo que você tá dando pra essa emissora. Não
reconhecemos mais esse lugar como nosso local de trabalho. E é por
isso que eu, Fernanda Rios, com mais de vinte e cinco anos de casa,
estou pedindo demissão. Eu e todo mundo que tá aqui na minha
companhia. Decidimos isso sabendo das consequências que isso vai
ter. Vamos pagar centavo por centavo das nossas multas rescisórias...
só não vamos mais ficar um minuto sendo funcionários dessa
emissora, que mente, que engana, que passa a perna em qualquer
concorrência. Já chega. Nós vamos perder dinheiro sim, mas quem
perde mais é você, seu moleque. - fala uma atriz.
-Que bonito, tudo isso. Estão
parecendo uns adolescentes cheios de idealismos, mas na prática são
vocês que perdem. O que vocês acham que vai acontecer com vocês
saindo daqui? Essa emissora é a maior audiência desse país. Sem
ela vocês vão ser reduzidos a nada, vão acabar no ostracismo. Vão
pra onde? Pra Megamaster TV? Não me façam rir. Aquela bostinha
sempre foi e sempre vai ser vice. - fala João Bernardo.
-Se engana, queridinho... se
você tá pensando que a gente vai pra concorrência na TV, pode
tirar seu cavalo de pau da chuva. A gente vai pra concorrência, sim.
Mas nós vamos é para a Fermata Visual, ajudar o projeto a crescer.
Vamos ajudar essa produtora a crescer e se depender de nós, vamos
fazer com que ela tenha o mesmo alcance que sua emissora. Isso é: se
não conseguirmos ainda mais, João Bernardo. Conforme-se: o futuro
não vai ser televisionado. - sentencia um ator.
-Vocês não se cansam de ser
idealistas, mesmo, né? Só não venham pedir esmola na porta da
minha emissora quando estiverem passando fome! - grita João
Bernardo, saindo furioso dali.
CORTA A CENA.
CENA 7: Horas mais tarde,
Raquel chega exausta em casa de mais um dia de trabalho e está
preparando seu banho, já tirando a roupa, quando a campainha começa
a tocar insistentemente.
-Já vai! - grita Raquel,
vestindo novamente as roupas que estava usando antes.
-Sou eu, mãezinha! O Márcio!
Trouxe uma surpresa pra você! - grita Márcio.
-Segura aí, querido! Tava
indo pro banho nesse momento, acabei de chegar em casa. Só mais um
minutinho e eu já abro!
Raquel desliga o chuveiro,
calça seus sapatos novamente e rapidamente vai à cozinha, apagando
o fogo da comida que preparava.
-Já tou indo, meu filho! -
anuncia Raquel, terminando de fechar a blusa. Assim que termina de se
arrumar, abre a porta.
-Que bom te ver aqui, querido!
- fala Raquel.
Márcio então puxa Cláudio
pela mão e Raquel o vê.
-Meu neto! Quanto tempo eu
esperei pra te ver! - emociona-se Raquel.
FIM DO CAPÍTULO 138.
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