CENA 1: Cláudio começa a
chorar e Bruno se assusta.
-O que foi, amor? Nunca te vi
acordar desse jeito. Foi pesadelo?
-Foi, Bruno... e foi horrível.
Nunca me aliviei tanto de me acordar e te ver aqui, ao meu lado.
-Quer falar sobre isso? Talvez
te faça bem.
-Não sei se vai valer a pena,
não sei se vai te fazer bem falar sobre o que eu vi no pesadelo.
-Mas se foi um pesadelo, não
era real. Desabafa, amor... sou eu, o seu Bruno... não estou aqui
pra me negar a te ouvir.
-O Guilherme aparecia no
teatro, eu tava de volta completamente já, atuando numa peça que
nem existe. Ele colocava fogo lá... ele era o próprio fogo, de
certa forma. Parecia uma coisa demoníaca... e foi muito assustador.
-Calma, Cláudio... você deve
ter ficado impressionado.
-Mas impressionado com o que,
se ele simplesmente nem está mais incomodando e provavelmente tá
até fora do país?
-É justamente por isso,
amor... você falou sobre ele com o Valentim, depois conversou com a
gente sobre isso.
-Deve ser coisa do
insconsciente, então...
-Claro que é, seu bobo. De
onde mais poderia vir esse pesadelo bizarro?
-Sei lá, né...
-Você acha que poderia ser
alguma espécie de presságio? Faça-me o favor, Cláudio... não tem
nem sentido uma coisa dessas.
-Mas podia ser sim, por que
não?
-Porque você acabou de dizer
que ele era o próprio fogo. Não percebe a situação fantasiosa
desse pesadelo?
-É... olhando por esse
lado... mas vai que tem algum fundo espiritual nisso?
-Pode ser que tenha, mas
raciocina comigo, Cláudio: um dia você fica sabendo que
provavelmente ele fugiu pra longe e que isso garante paz e
tranquilidade a todos nós, principalmente a você... no outro dia
você tem esse pesadelo. É só juntar as coisas, sabe? O estudante
de psicologia aqui era você, não eu.
-É, mas mesmo assim tudo isso
foi realmente assustador.
-Compreensível que tenha te
abalado. Afinal de contas, Guilherme já fez muita merda com as
nossas vidas. Mas procura se tranquilizar agora, amor...
-Eu vou tentar ficar
tranquilo. Preciso me convencer de uma vez por todas que nada disso
significa nada de ruim.
-Até que enfim, amor... não
quero te ver perder a tranquilidade por causa de um pesadelo besta.
-Besta ou não, tou virado na
Tulla Luana e me tremendo todo até agora.
-Quer um chá? Eu faço pra
você.
-Cê tá bem doido que eu vou
deixar você ir sozinho até a cozinha quando você ainda precisa
terminar de se recuperar da cirurgia, né? Eu aceito o chá sim, mas
a gente desce junto. Talvez tomando esse chá eu sinta sono de novo,
porque nesse momento eu perdi completamente o sono e dá até medo de
dormir de novo e aparecer aquelas coisas horrorosas outra vez.
-Relaxa, amor... tenta não
pensar mais nisso. A gente vai escolher um chá bom e você vai ficar
tranquilo.
-Espero mesmo me tranquilizar.
Os dois descem para preparar o
chá de Cláudio.
CORTA A CENA.
CENA 2: No dia seguinte,
Suzanne surpreende Valentim procurando-o em seu consultório.
-Você aqui? Definitivamente,
a última pessoa que eu esperava ver na minha frente era você,
Suzanne.
-Nós precisamos ter uma
conversa séria e ela não pode ser adiada, Valentim.
-Sei. E do que se trata,
Suzanne?
-Eu preciso que o inquérito
contra mim seja arquivado.
-Você tá maluca, Suzanne?
Isso é impossível. Você é suspeita de uma série de crimes e quem
decide se o inquérito vai ou não ter continuidade é a polícia.
Não posso fazer nada.
-Valentim, eu sei que você
tem influência, eu sei que você pode. Vai ser melhor pra todo mundo
se esse inquérito parar agora.
-O que você tá querendo
dizer, Suzanne?
-Que nada de concreto pode ser
provado contra mim. Manter esse inquérito aberto só prejudica meu
direito de ir e vir e não vai dar em nada, escute o que estou te
dizendo. Nada vai ser encontrado porque eu não cometi os crimes dos
quais sou acusada.
-É o que todo culpado diz,
Suzanne: “sou inocente”. Mas você percebe que nada disso não é
suficiente pra que um inquérito seja arquivado? Me surpreende você
se abalar de sua casa até aqui pra me falar essas coisas... pensei
que fosse mais inteligente.
-Inteligente eu sou, Valentim.
Acontece que tem coisas que eu não posso dizer. Tem gente grande que
pode ferrar com a minha vida e com a vida de mais gente.
-Por um acaso se refere ao
Guilherme?
-Que? Tá maluco, cara? Claro
que não!
-Sei. E por que essa
indignação por uma simples pergunta?
-Valentim, pela última vez eu
vou te explicar: o único crime que eu cometi foi ter matado o meu
pai e eu tinha doze anos. Não posso mais pagar por esse crime e isso
é tudo.
-De qualquer forma, pesam
sobre você as suspeitas de que seu dinheiro seja ilícito, você tem
sorte de não ter tido nada disso comprovado.
-Menos mal, pelo menos minhas
contas não estão mais bloqueadas.
-Mas esse jogo não acabou,
Suzanne. Assim que forem reunidas as provas necessárias contra você,
você pode acabar presa. E você sabe disso. É disso que você tem
medo, não é? De não ser mais livre... de perder a capacidade de
enganar as pessoas. Dificultaria a sua vida de golpista.
-Você não sabe da missa um
terço, Valentim. A vida é feita de escolhas e nem sempre temos como
escolher o melhor caminho. Pra você é fácil apontar o dedo, não
é? Sempre foi filhinho de papai, teve os estudos bancados em
universidade privada... cresceu na carreira como investigador e
psiquiatra porque sempre teve muito dinheiro. No dia que você se
colocar de verdade no lugar das pessoas que não nasceram com esses
privilégios, talvez eu te explique alguma coisa. Você se acha muito
grande, né? Muito acima do bem e do mal, o mais nobre dos nobres.
Você não passa de um vaidoso, de um pretensioso, que pensa que
conhece a natureza humana, mas nunca saiu dessa sua bolha.
-Que seja. E o que é que você
espera que eu faça? Se acha que vou me sentir insultado com esse seu
discurso inflamado e rancoroso, se engana. É assim que você espera
conseguir as coisas, pra que o seu inquérito seja encerrado?
Esperava mais da sua inteligência, Suzanne.
-Você não faz ideia dos
riscos que todo mundo pode correr se essa investigação for longe.
Não faz a mínima ideia.
-Isso é uma ameaça? Sua mãe
vai gostar de saber disso...
-Não é uma ameaça. Não
preciso disso, Valentim. Eu também corro risco.
-Se você pelo menos puder
explicar o que é que tá acontecendo, já vai ser melhor pro seu
lado. Quem sabe assim dá pra aliviar um pouco com a polícia...
-Qual é a garantia que eu
tenho que contando alguma coisa eu vou permanecer livre? Você não
sabe das coisas que eu tive de fazer.
-O seu discurso de súbita
vítima não me convence, Suzanne. Faça um favor: retire-se. Estou
em horário de trabalho e minha primeira paciente vai chegar em
poucos minutos. Esqueça esse assunto. Finja que nem esteve aqui. O
seu inquérito não vai ser fechado.
Suzanne sai frustrada. CORTA A
CENA.
CENA 3: Haroldo vai
acompanhado de Laura e Mateus à mansão dos Bittencourt e é
recebido alegremente por todos.
-Laura, minha amiga! Que
saudade! - fala Cláudio, abraçando Laura.
-Andamos nessa correria, em
falta com todo mundo, mas se for pra marcar presença, então que
venha todo mundo junto! - fala Haroldo.
Ivan nota que o filho está
empolgado.
-Que alegria é essa, meu
filho? - fala Ivan.
-Acho melhor darem logo a
notícia... - fala Mateus.
-Sabe o que é, seu Ivan? Você
vai ser avô de um menino e nós já confirmamos isso! - fala Laura.
-Meu Deus! Que maravilha! Já
escolheram um nome pro meu neto? - fala Ivan.
-Quer dizer então que eu vou
ser tia de um menino. Continuo sendo uma das únicas mulheres dessa
família... - fala Mariana.
-Ah, sim... só você, a
diferentona, a barroca rococó, a escolhida... - brinca Rafael.
-Então, seu Ivan... eu
conversei com os meninos e a gente decidiu só dar o nome bem mais
pra frente... - fala Laura.
-Conhecendo essa daí como
conheço, é bem capaz dela escolher o nome só quando olhar pra cara
do bebê recém-nascido. - fala Mateus.
-Independente de qualquer
coisa, é bom demais saber que um menininho vai estar na nossa
família a partir de agora... - derrete-se Ivan.
-Ei, quero nem saber. Sou avó
torta desse bebê e não aceito ser chamada de outra forma senão de
vó! - fala Marion.
-Óbvio. Você sempre foi a
mãe que eu não tive. Nem lembro da minha mãe biológica. Depois,
quem é que segurava a bronca de quando eu fugia de casa pra jogar? -
fala Haroldo.
-Ainda bem que você se livrou
desse vício a tempo, filho... - fala Ivan.
Todos seguem conversando
animados. CORTA A CENA.
CENA 4: Horas depois, Márcio
visita Cláudio e Marcelo na mansão, sendo bem recebido por Riva e
Vicente.
-Que bom que você veio, meu
amigo. Já estava com saudades... - fala Riva.
-É... até eu tava sentindo
falta desse seu alto astral... - fala Vicente.
-Adoraria passar mais tempo
conversando com vocês, mas vocês devem imaginar que eu vim ver meus
filhos, né? - fala Márcio.
-Claro, querido. Vou chamar os
meninos... - fala Riva.
Cláudio e Marcelo vão à
sala e abraçam Márcio.
-Saudade de você, pai.
Naquele dia que a dona velha veio aqui, a gente mal falou sobre essa
loucura de eu ter me mudado de mala e cuia pra cá... - fala Cláudio.
-Verdade, meu filho. Mas pelo
visto você e seu noivo já se adaptaram bem, né? E os pais dele,
como estão? Gosto muito deles... - fala Márcio.
-Estão ótimos, mas sabe como
é... seu Setembrino não deixa a dona Vânia fazer nada e ficam os
dois enfiados no quarto enquanto ela se recupera do transplante... -
fala Cláudio.
-Eu andei conversando uma
coisa com a mãe e com o pessoal aqui em casa. Inclusive o Cláudio
super concordou com essa minha ideia e ninguém se opôs. - fala
Marcelo.
-O que, filho? - pergunta
Márcio.
-Você pode vir morar aqui com
a gente, não pode? Afinal de contas a edícula tá lá, esperando
pra ser ocupada... - fala Marcelo.
-Ah... será? Não vou ser
incômodo? - preocupa-se Márcio.
-Claro que não vai, pai!
Depois, essa mansão aqui já tá praticamente virada numa pensão de
luxo... - descontrai Cláudio.
-Bem, se são os meus filhos
que estão pedindo... eu aceito! - fala Márcio.
CORTA A CENA.
CENA 5: Horas depois, já pela
noite, Márcio aguarda a chegada de Raquel, já de malas prontas para
partir.
-Ué, que malas são essas,
querido?
-Eu nem sei por onde começar
a dizer, mãezinha, mas... eu tou me mudando pra mansão... a convite
dos meus filhos, entende? Espero que você compreenda...
-Claro que eu compreendo, meu
querido... é a sua família. Um deles ainda por cima é meu neto...
-Vocês precisam se conhecer
logo, por falar nisso. Mas eu só tava esperando você chegar pra me
despedir. Vou sentir sua falta.
-Eu também, meu querido...
mas a gente não vai deixar de se ver e ninguém aqui morreu. Boa
sorte nessa nova moradia...
Os dois se abraçam e Márcio
entra num táxi, com suas malas. Raquel vai ao seu quarto e se sente
só.
-É, minha mãe... agora somos
só eu e você, mais uma vez. Quanta saudade eu sinto de você,
mamãe... que falta a senhora me faz nesses tempos de solidão... -
lamenta Raquel.
Raquel segue a lembrar do seu
passado.
-Ah, mamãe... se a senhora
tivesse vivido o suficiente pra ver tudo o que eu consegui agora...
aposto que se orgulharia. Preciso levar flores no seu túmulo, faz
tempo que não te visito...
Raquel lembra com carinho de
sua falecida mãe.
CORTA A CENA.
CENA 6: Vicente conversa com
Riva sobre seus planos de lançamento nas redes da produtora.
-Quer dizer que você tá
pensando em fazer isso logo semana que vem, Vicente? Não acha meio
precipitado? Fica parecendo que a Fermata Visual tá sendo lançada
nas coxas, isso sim...
-Não acho, querida. Pensa
comigo: com o material que nós já temos, já é uma divulgação e
tanto. Só falta editar os vídeos de uma maneira aceitável, ver se
tem algum problema no áudio, consertar o que for preciso e colocar
esses vídeos no ar. Lembrando que também gravei meus próprios
vídeos esmiuçando todo o nosso processo criativo, desde a
idealização da produtora até sua realização. Isso me leva a crer
que pode gerar uma identificação com o público que for assistir...
pode dar uma sensação de proximidade, sabe?
-Você tá certo, amor... mas
eu fico pensando em como as coisas vão ser depois desse lançamento
oficial. A internet é grande, mas também pode gerar concorrência...
ou mesmo fazer com que os grandes empresários das emissoras de TV se
revoltem com esse novo formato e façam alguma coisa pra boicotar.
-Isso é previsível. Não
espero que sejamos recebidos com flores e ursinhos carinhosos pelos
velhos empresários. Pra mim é claro que vai acontecer isso em algum
momento, mas se já estiver preparado pra isso, vai ser menor o dano.
-Outra dúvida que eu tenho é
sobre o prazo que a gente vai acabar estipulando pras próximas
produções.
-Já conversei com o Rafael
sobre a ideia de juntar o roteiro dele com esses personagens que
criei.
-E o que ele achou da ideia?
-Adorou. Está realmente
disposto a costurar as tramas.
-Espero que consiga, se bem
que com a ajuda do meu filho, é bem capaz que ele consiga isso. Não
é querendo lamber minha cria, mas já lambendo: o Marcelo não entra
em nada se não for pra dar muito certo. Ele mergulha fundo, pesquisa
até a origem do universo se for preciso.
-É justamente por isso que
fico confiante. No final das contas, nossas produções vão sair do
papel muito antes do que imaginávamos...
CORTA A CENA.
CENA 7: Antes de dormir, Mara
conversa com Valentim sobre possível fuga de Guilherme para outro
país.
-Digamos que o Guilherme
realmente tenha fugido pra outro país com uma identidade falsa,
Valentim... se ele conseguiu sair sem ser preso, ele pode também
voltar a qualquer momento.
-Não acredito que ele se
arriscaria tão cedo. Não enquanto ele estiver certo de que vai ser
preso assim que colocar os pés aqui no Brasil outra vez.
-Você está subestimando o
Guilherme, Valentim... não deveria fazer isso.
-Quem disse que estou
subestimando?
-Sua postura, amor... seu
desdém diante dessa situação. Essa calmaria continua não sendo
bom sinal.
-Eu tenho aprendido a te ouvir
mais, Mara... realmente confio na sua intuição, mas dessa vez acho
que é exagero.
-De que adianta me dizer que
confia na minha percepção, intuição ou chame como quiser e logo
depois dizer que estou exagerando? Percebe como você ainda não saiu
dessa postura de macho que diminui tudo o que vem da mulher?
-Não é proposital, Mara...
-Então pense melhor antes de
falar, caramba! Não quero discutir. Mas se eu fosse você, não
subestimava Guilherme. Se ele fugiu com identidade falsa, em algum
momento ele volta com essa mesma identidade falsa.
CORTA A CENA.
CENA 8: Na manhã do dia
seguinte, Raquel sai mais cedo de casa e dirige até o cemitério
onde sua mãe está sepultada. Com flores em suas mãos, Raquel
ajeita as flores no túmulo de sua mãe.
-Espero que a senhora goste
dessa flores, mamãe... se a senhora soubesse o quanto eu sinto falta
do seu riso, da sua luz, do seu amor e do seu olhar sempre otimista
sempre a dizer que tudo fica bem! Parece que posso te ouvir dizendo
no meu ouvido: “se não está tudo bem, é porque ainda não
acabou”. Você estava tão certa sobre isso, mamãe! Só depois de
muito tempo entendi isso. Me tornei investigadora depois de achar que
não tinha mais nada a fazer dessa vida... - fala Raquel, emocionada.
Raquel olha para o túmulo e
continua a falar.
-Queria tanto uma certeza de
que de algum lugar a senhora pode me ouvir...
Raquel deixa a última flor
que tinha nas mãos sob o retrato de sua mãe. É revelado que a mãe
de Raquel é a misteriosa senhora.
FIM DO CAPÍTULO 135.
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