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quinta-feira, 13 de outubro de 2016

CAPÍTULO 130

CENA 1: Riva se enfurece com a multidão ensandecida a gritar na frente da mansão e perde a paciência.
-Vocês não tem o que fazer da vida, não? Vão catar o que fazer, seu bando de desocupado! Se vocês não saírem daqui agora eu desço a mão em vocês! - grita Riva.
Todos na mansão ficam alertas com a situação.
-Mãe, não dá bola pra esses merdas! Quanto mais você responder, mais eles vão ficar cegos de ódio. Gentinha baixa que não conhece o amor e só faz se meter na vida dos outros... - fala Marcelo.
Um dos homens na multidão joga uma pedra, que quebra a janela da sala e atinge Cláudio na testa. Cláudio baqueia com o ferimento e Bruno o ampara.
-Que isso, meu Deus! Essa gente tá passando dos limites! - apavora-se Bruno.
-Riva, sai dessa janela que a próxima pedra pode te atingir! - desespera-se Valquíria.
-E o que você ainda tá fazendo aqui em baixo, mãe? Suba já pro seu quarto! - ordena Marion.
-Nem pensar! Eu não posso deixar esse bando de malucos me meter medo! - teima Valquíria.
-Vó, ouve a sua filha. Você esqueceu que tem aneurisma? Vai mesmo ficar nesse estresse? Você vai subir comigo pro seu quarto e nem pensa em descer, porque eu vou te vigiar sim! E se reclamar eu chamo o Rafa e o Marcelo pra vigiarem junto! - impacienta-se Mariana.
Mariana sobe com Valquíria. Parte dos revoltados tenta arrombar a porta de entrada da mansão e todos se apavoram.
-A gente vai invadir essa casa e acabar com essa pouca vergonha! Vamos matar os pecadores! - grita uma mulher ensandecida.
-Essa gente tá fora de si! Estão dispostos a nos agredir de verdade. Temos que chamar a polícia agora! - exclama Vicente.
-Chamar a polícia não vai adiantar. Não vão levar a sério. Temos que ligar pro Valentim que pode providenciar proteção mais rápido! - fala Ivan.
-O pai tem razão. Se a gente ligar direto pra polícia, vão demorar demais e até lá o pior pode ter acontecido. - fala Rafael.
-Vocês querem parar de se enrolar que a gente tá realmente correndo risco? O que vai ser da gente se essa multidão de loucos invadir essa casa? A gente pode morrer, caramba! - desespera-se Marcelo.
Cláudio se refaz da pedrada que levou enquanto Bruno cuida do ferimento em sua testa.
-Pare você de entrar em pânico, mano! Isso não vai tirar esses loucos daqui. Eles querem é meter medo mesmo. - fala Cláudio.
-Tá, eu ligo pro Valentim! - fala Ivan.
-Anda de uma vez, Ivan! Essa gente tá completamente fora de si. Se acham os donos da verdade, provavelmente compraram o discurso de ódio desses pastores mercenários... - fala Riva.
Ivan tenta ligar para Valentim. Marcelo, Rafael, Riva, Marion e Vicente fazem barreira humana na porta para impedir que a casa seja invadida. Ivan consegue ligar para Valentim.
-Consegui, gente! Valentim atendeu! - grita Ivan.
Todos seguem apreensivos diante da situação. Mais pedras são arremessadas pela janela. CORTA A CENA.

CENA 2: Instantes depois, Valentim manda reforços policiais e multidão enlouquecida que tentou invadir mansão é dispersada. Valentim e Mara acompanham de longe e tocam a campainha assim que a mansão está livre de seus invasores.
-Se acalmem, pessoal. A polícia já conseguiu dispersar todo mundo daqui. - avisa Valentim.
Marion abre a porta para ele e Mara.
-Como vocês estão? - pergunta Mara.
-Foi um susto e tanto, gente. Sinceramente nunca imaginei que o ódio cego dessa gente pudesse chegar a tanto. Até agora isso não tá fazendo muito sentido na minha cabeça, porque não consigo ver motivação real pra tanto ódio... - desabafa Marion.
Valentim percebe que Cláudio está com a testa ferida.
-E essa ferida, Cláudio? Cê tá bem? - perocupa-se Valentim.
-Tou inteiro. Isso aqui foi uma pedra que jogaram e me pegou em cheio. Mas tá tudo tranquilo, não vou precisar ir ao hospital nem levar ponto, já parou de sangrar. - fala Cláudio.
-Menos mal. Olha só gente, devido à gravidade da situação que ocorreu aqui, nós vamos manter alguns dos nossos homens vigiando a mansão. Não podemos deixar vocês vulneráveis a esse tipo de ataque. - fala Mara.
-Menos mal. Tou chocado e perplexo com tudo isso, ainda. Pensei que já tivéssemos evoluído o suficiente pra não ver esse tipo de “caça às bruxas” acontecendo em pleno século vinte e um... - desabafa Rafael.
-Verdade... essa situação toda acabou sendo um soco no nosso estômago. O ódio à diversidade ainda é algo real e perigoso. Mas não dá pra gente viver com medo, também... - fala Marcelo.
-Vocês deveriam prestar queixa contra esses invasores. Registrar ocorrência do ocorrido é direito de vocês. - fala Valentim.
-Pra que, Valentim? Se no final das contas a própria polícia relativiza crimes de ódio contra LGBTs? - revolta-se Marion.
-Acontece que eu e Valentim podemos garantir que pelo menos dessa vez a denúncia vai ser levada adiante. - contemporiza Mara.
-Talvez seja bom a gente dar queixa, mesmo... mas e o resto das pessoas que sofrem essa opressão, essa violência? Como ficam? A gente tem sorte de conhecer vocês e de sermos ainda por cima uma família conhecida... - destaca Riva.
-Ainda assim, meus queridos... é justamente por conta dessa fama, dessa notoriedade que vocês possuem, que o melhor a ser feito é que esse caso ainda seja amplamente divulgado para todos os veículos midiáticos, para que sirva de exemplo... - fala Mara.
-É, mas tudo isso pode acirrar mais ainda os ânimos dos religiosos e conservadores que ficam incitando o ódio contra LGBTs e suas famílias... - fala Bruno.
-Independente de qualquer coisa, vocês tem direito de recorrer à lei. Não devem perder essa oportunidade. Bem, agora nós estamos de saída, mas nossos homens vão ficar aqui, cercando a mansão. Amanhã vocês pensam melhor se denunciam o ocorrido ou não. - fala Valentim.
Mara e Valentim deixam a mansão. CORTA A CENA.

CENA 3: Na manhã do dia seguinte, Mateus se acorda com o telefone residencial tocando. Laura e Haroldo se espreguiçam na cama.
-Alô?
-Poderia falar com Laura, Mateus Viveiros ou Haroldo? - pergunta a mulher que liga.
-Sou o Mateus. Quem deseja?
-Aqui quem fala é Lígia Marcondes, diretora do programa Mega Hype, da Rede People.
-Ah, eu conheço o programa... mas o que você gostaria de falar com a gente?
-Queria saber se vocês topariam participar do nosso programa hoje à noite.
-Assim, em cima da hora?
-Sabe o que é? É que nossa apresentadora, a Luísa Gerald, ficou muito impressionada com os relatos de vocês três sobre o amor a três e ficou com mais vontade ainda de ter vocês no programa dela depois que foi postada a denúncia da violência gratuita ocorrida aqui em São Paulo. Se vocês toparem participar do nosso programa, nós bancamos as passagens de ida e volta, tudo certinho. Hospedagem em hotel, enfim...
-Certo... por mim eu topo, mas preciso falar com a Laura e com o Haroldo pra saber se eles também topam participar do programa hoje à noite, certo?
-Perfeito. Se vocês conseguirem confirmar antes das onze da manhã, temos tempo de anunciar ao longo da programação do dia.
-Ótimo, vou falar com eles. Até mais.
Mateus desliga. Laura e Haroldo ouviram a conversa.
-Nem precisa falar que a gente ouviu tudo. É programa que explora o bizarro? É, mas dá visibilidade, então eu topo. - fala Laura.
-Tou com a Laura. A gente topa, sim. É o Mega Hype, não é? - fala Haroldo.
-Sim... vou avisar que a gente topa daqui a pouco, então... - fala Mateus.
CORTA A CENA.

CENA 4: Riva conversa com Marion sobre incidente da noite anterior.
-Eu sei que tudo aquilo foi assustador e justamente por isso andei pensando numa alternativa.
-Que alternativa, Riva?
-A gente podia vender essa casa e comprar outra pra todos nós morarmos lá... num lugar diferente, que não seja conhecido pelo público em geral.
-Ficou louca, Riva? Você já falou com o Vicente sobre isso? E a grana, e o investimento feito no complexo de estúdios no nosso terreno? E o terreno que ele comprou pra expandir o complexo de estúdios e ser fiel ao projeto? Você pensou nisso?
-Não pensei muito a respeito, Marion... mas estou pensando na nossa segurança, só isso.
-Segurança? Não te reconheço mais, Riva. Não é você que sempre enfrentou tudo na vida de peito aberto? Que exemplo você quer dar pro Lúcio quando ele crescer? Que é certo a gente abrir mão dos nossos sonhos por causa de uma meia dúzia de gente que se opõe? Faça-me o favor, Riva... faça-me o favor!
-Verdade. Eu tou me sentindo uma covarde de pensar nisso tão rapidamente.
-Concordo. Você nunca foi assim... depois, essa casa existe desde que os pais do Ivan eram recém-casados. Tem toda uma história. Vamos abrir mão de tudo isso por causa desses tresloucados? Não mesmo!
-Acho que nem vou comentar com o Vicente sobre essa ideia absurda que passou pela minha cabeça, ele ficaria no mínimo chateado comigo, isso se não me chamasse de egoísta.
-Melhor coisa que você tem a fazer é esquecer esse assunto, na boa...
CORTA A CENA.

CENA 5: Horas depois, Marion recebe a imprensa e fala sobre o ocorrido na noite anterior.
-Você pensa em registrar queixa contra as pessoas que tentaram invadir sua casa? - pergunta um repórter.
-Sinceramente, pensamos muito nisso. Mas consideramos melhor não prestar queixa pelo motivo que podemos denunciar diretamente à mídia, fazendo com que essa atitude irracional de violência possa ser repudiada pelo público que me conhece e acompanha tanto a minha carreira quanto a carreira de meu filho, minha mãe e, mais recentemente, de Riva. - fala Marion.
-Inclusive percebemos que nenhum deles está aqui nessa coletiva. Estão acuados, com medo? - pergunta outro repórter.
-De forma alguma. Apenas consideraram melhor não se manifestarem a respeito desse assunto e eu gostaria de que a privacidade de meus familiares fosse respeitada. - fala Marion.
-Você suspeita de que essas ações tenham sido motivadas por alguma espécie de represália arquitetada por João Bernardo Salinas Filho? - pergunta uma repórter.
-Prefiro não me pronunciar a respeito desse senhor. - fala Marion.
A coletiva segue. CORTA A CENA.

CENA 6: Vicente está reunido com Rafael e Marcelo tentando definir um nome para sua produtora.
-Eu pensei que um bom nome poderia ser “Arte Sem Fronteiras”, pois cairia bem com a proposta, já que a internet é algo que tem alcance maior que a TV aberta, no que diz respeito a outros países, coisas do tipo... - fala Marcelo.
-Ai, amor. Pelo amor de Deus! A ideia até é interessante, mas um nome desses é tão previsível que dificilmente chamaria a atenção do público, não despertaria interesse. O que a gente precisa é dar uma identidade, algo que seja único... - opina Rafael.
-Essa coisa parecia ser mais fácil no começo, mas tou vendo que esse brainstorm é mais que necessário. Que dificuldade de encontrar um nome que seja a cara da nossa produtora, meu Deus! - reclama Vicente.
-A gente vai dar um jeito. Só precisamos pensar com vontade, fazer uma lista de nomes eu acho super válido... talvez assim, a gente consiga extrair alguma coisa, ou mesmo chegar numa conclusão juntando e cruzando nossas próprias sugestões, o que vocês acham? - sugere Marcelo.
-Excelente ideia, Marcelo! - anima-se Vicente.
Os três começam a anotar as ideias. CORTA A CENA.

CENA 7: Horas mais tarde, Laura, Mateus e Haroldo são chamados pela apresentadora do programa Mega Hype ao palco.
-Boa noite, amadinhos e amadinhas! Está começando mais um Mega Hype comigo, a diva divônica Luísa Gerald. Vamos receber no nosso programa hoje os incríveis, maravilhosos e ultra divônicos Laura Vieira, Mateus Viveiros e Haroldo Bittencourt, o triângulo amoroso mais querido das redes sociais! - anuncia a apresentadora.
Laura, Haroldo e Mateus entram e são aplaudidos pela plateia.
-Por favor, queridos, podem se sentar. - fala a apresentadora.
Laura é a primeira a falar.
-Boa noite, Luísa, boa noite Brasil! Em primeiro lugar eu gostaria de fazer uma correção, querida... não somos um triângulo amoroso, não nesse sentido que você falou, intencionalmente ou não... - dispara Laura.
Luísa fica constrangida e tenta disfarçar descontraindo.
-Ui, que pedrada, minha gente! Qual seria o termo mais adequado então, queridos? - segue a apresentadora.
Haroldo começa a falar.
-Bem, não se trata de termo correto, se trata de enxergar a relação poligâmica como algo natural, sem esse misticismo todo que se cria em torno do assunto. Vivemos uma vida normal, nos amamos e desejamos constituir família, tanto que Laura está esperando um filho... - esclarece Haroldo.
-Sim, essa gravidez já foi anunciada pela internet. Desculpe a pergunta, mas o Brasil inteiro quer saber: quem é o pai da criança? - pergunta Luísa.
-Querida, acho que esse é o tipo de pergunta que não temos a mínima obrigação de responder. Eu, Mateus e Haroldo nos amamos entre nós. Essas questões sobre quem é o pai da criança e quem não é são de foro íntimo e cabe a nós saber disso. A nós e ao cartório quando formos registrar essa criança depois do nascimento. Então vá me desculpar, mas não vamos responder isso e tenho certeza que essa curiosidade não é geral. - sentencia Laura.
A plateia aplaude a fala de Laura. Mateus começa a falar.
-Isso sem mencionar que já vivemos uma vida relativamente pública, principalmente por eu fazer parte desse relacionamento. Afinal de contas, sou uma pessoa pública. Ocorre que estamos aqui hoje para tentar quebrar o tabu em torno do assunto, fazer o público compreender que uma relação poligâmica ou poliamorosa, chamem como quiser, se trata apenas do que realmente é: uma relação de amor. Então não vejo sentido nessa abordagem binária... - dispara Mateus.
A participação deles no programa segue enquanto a apresentadora fica constrangida pelas respostas firmes dos três. CORTA A CENA.

CENA 8: Após jantar, Cláudio e Bruno vão conversar com Marcelo.
-Estão precisando desabafar sobre o incidente de ontem? - questiona Marcelo.
-Bem, cunhado... não é bem isso. Na realidade é que por mais que a gente tenha aceitado morar aqui, a gente fica meio se sentindo demais nessa mansão... - fala Bruno.
-É isso, mano. Eu sei que faço parte da família, que sou sobrinho da sua mãe ainda por cima, mas a gente fica com medo de estar meio... abusando da boa vontade de vocês, entende? - fala Cláudio.
-Meu Deus, como vocês são bobos, meninos... cês acham mesmo que eu não teria convidado se eu não tivesse certeza que tava todo mundo de acordo com isso? Depois, a sua mãe e o seu pai são pessoas ótimas, Bruno. Querendo ou não você também já faz parte dessa família e casa cheia é uma delícia! - fala Marcelo.
-Ai, mano... é que a gente ainda assim fica com medo de parecer que tá explorando vocês... - desabafa Cláudio.
-Que besteira, Cláudio. Você também é rico, criatura. É meu irmão, é sobrinho da minha mãe, o que mais você quer pra se convencer? E outra coisa, o que menos importa aqui é o dinheiro. Você devia saber disso... - continua Marcelo.
-Tou vendo que a gente tá se preocupando a toa... - constata Bruno.
-Óbvio que sim. Não sei porque vocês vieram com esse papo. Depois, morar aqui é mais seguro, no final das contas, apesar do incidente de ontem... - finaliza Marcelo.
CORTA A CENA.

CENA 9: Suzanne está se arrumando para mais uma noite.
-Hoje eu não posso sair de mãos vazias. Vai que tem alguém precisando de um “ombro amigo” pelas boates da vida? - fala Suzanne consigo mesma, se admirando no espelho.
-Mas tu é gata pra danar, hein mulher? A cada dia que passa essa pele fica mais macia. As células desse corpo te amam! - segue Suzanne, se admirando no espelho.
Suzanne está terminando de se maquiar quando seu celular toca e ela suspira.
-Se for aquela gente chata de novo, eu juro que mando à merda! - reclama Suzanne.
Suzanne atende o celular.
-Achei que nunca mais ia atender. Tá muito ocupada preparando o próximo bote, querida?
-O que você quer, Guilherme? - pergunta Suzanne, reconhecendo Guilherme.
FIM DO CAPÍTULO 130.

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