CENA 1: Riva se enfurece com a
multidão ensandecida a gritar na frente da mansão e perde a
paciência.
-Vocês não tem o que fazer
da vida, não? Vão catar o que fazer, seu bando de desocupado! Se
vocês não saírem daqui agora eu desço a mão em vocês! - grita
Riva.
Todos na mansão ficam alertas
com a situação.
-Mãe, não dá bola pra esses
merdas! Quanto mais você responder, mais eles vão ficar cegos de
ódio. Gentinha baixa que não conhece o amor e só faz se meter na
vida dos outros... - fala Marcelo.
Um dos homens na multidão
joga uma pedra, que quebra a janela da sala e atinge Cláudio na
testa. Cláudio baqueia com o ferimento e Bruno o ampara.
-Que isso, meu Deus! Essa
gente tá passando dos limites! - apavora-se Bruno.
-Riva, sai dessa janela que a
próxima pedra pode te atingir! - desespera-se Valquíria.
-E o que você ainda tá
fazendo aqui em baixo, mãe? Suba já pro seu quarto! - ordena
Marion.
-Nem pensar! Eu não posso
deixar esse bando de malucos me meter medo! - teima Valquíria.
-Vó, ouve a sua filha. Você
esqueceu que tem aneurisma? Vai mesmo ficar nesse estresse? Você vai
subir comigo pro seu quarto e nem pensa em descer, porque eu vou te
vigiar sim! E se reclamar eu chamo o Rafa e o Marcelo pra vigiarem
junto! - impacienta-se Mariana.
Mariana sobe com Valquíria.
Parte dos revoltados tenta arrombar a porta de entrada da mansão e
todos se apavoram.
-A gente vai invadir essa casa
e acabar com essa pouca vergonha! Vamos matar os pecadores! - grita
uma mulher ensandecida.
-Essa gente tá fora de si!
Estão dispostos a nos agredir de verdade. Temos que chamar a polícia
agora! - exclama Vicente.
-Chamar a polícia não vai
adiantar. Não vão levar a sério. Temos que ligar pro Valentim que
pode providenciar proteção mais rápido! - fala Ivan.
-O pai tem razão. Se a gente
ligar direto pra polícia, vão demorar demais e até lá o pior pode
ter acontecido. - fala Rafael.
-Vocês querem parar de se
enrolar que a gente tá realmente correndo risco? O que vai ser da
gente se essa multidão de loucos invadir essa casa? A gente pode
morrer, caramba! - desespera-se Marcelo.
Cláudio se refaz da pedrada
que levou enquanto Bruno cuida do ferimento em sua testa.
-Pare você de entrar em
pânico, mano! Isso não vai tirar esses loucos daqui. Eles querem é
meter medo mesmo. - fala Cláudio.
-Tá, eu ligo pro Valentim! -
fala Ivan.
-Anda de uma vez, Ivan! Essa
gente tá completamente fora de si. Se acham os donos da verdade,
provavelmente compraram o discurso de ódio desses pastores
mercenários... - fala Riva.
Ivan tenta ligar para
Valentim. Marcelo, Rafael, Riva, Marion e Vicente fazem barreira
humana na porta para impedir que a casa seja invadida. Ivan consegue
ligar para Valentim.
-Consegui, gente! Valentim
atendeu! - grita Ivan.
Todos seguem apreensivos
diante da situação. Mais pedras são arremessadas pela janela.
CORTA A CENA.
CENA 2: Instantes depois,
Valentim manda reforços policiais e multidão enlouquecida que
tentou invadir mansão é dispersada. Valentim e Mara acompanham de
longe e tocam a campainha assim que a mansão está livre de seus
invasores.
-Se acalmem, pessoal. A
polícia já conseguiu dispersar todo mundo daqui. - avisa Valentim.
Marion abre a porta para ele e
Mara.
-Como vocês estão? -
pergunta Mara.
-Foi um susto e tanto, gente.
Sinceramente nunca imaginei que o ódio cego dessa gente pudesse
chegar a tanto. Até agora isso não tá fazendo muito sentido na
minha cabeça, porque não consigo ver motivação real pra tanto
ódio... - desabafa Marion.
Valentim percebe que Cláudio
está com a testa ferida.
-E essa ferida, Cláudio? Cê
tá bem? - perocupa-se Valentim.
-Tou inteiro. Isso aqui foi
uma pedra que jogaram e me pegou em cheio. Mas tá tudo tranquilo,
não vou precisar ir ao hospital nem levar ponto, já parou de
sangrar. - fala Cláudio.
-Menos mal. Olha só gente,
devido à gravidade da situação que ocorreu aqui, nós vamos manter
alguns dos nossos homens vigiando a mansão. Não podemos deixar
vocês vulneráveis a esse tipo de ataque. - fala Mara.
-Menos mal. Tou chocado e
perplexo com tudo isso, ainda. Pensei que já tivéssemos evoluído o
suficiente pra não ver esse tipo de “caça às bruxas”
acontecendo em pleno século vinte e um... - desabafa Rafael.
-Verdade... essa situação
toda acabou sendo um soco no nosso estômago. O ódio à diversidade
ainda é algo real e perigoso. Mas não dá pra gente viver com medo,
também... - fala Marcelo.
-Vocês deveriam prestar
queixa contra esses invasores. Registrar ocorrência do ocorrido é
direito de vocês. - fala Valentim.
-Pra que, Valentim? Se no
final das contas a própria polícia relativiza crimes de ódio
contra LGBTs? - revolta-se Marion.
-Acontece que eu e Valentim
podemos garantir que pelo menos dessa vez a denúncia vai ser levada
adiante. - contemporiza Mara.
-Talvez seja bom a gente dar
queixa, mesmo... mas e o resto das pessoas que sofrem essa opressão,
essa violência? Como ficam? A gente tem sorte de conhecer vocês e
de sermos ainda por cima uma família conhecida... - destaca Riva.
-Ainda assim, meus queridos...
é justamente por conta dessa fama, dessa notoriedade que vocês
possuem, que o melhor a ser feito é que esse caso ainda seja
amplamente divulgado para todos os veículos midiáticos, para que
sirva de exemplo... - fala Mara.
-É, mas tudo isso pode
acirrar mais ainda os ânimos dos religiosos e conservadores que
ficam incitando o ódio contra LGBTs e suas famílias... - fala
Bruno.
-Independente de qualquer
coisa, vocês tem direito de recorrer à lei. Não devem perder essa
oportunidade. Bem, agora nós estamos de saída, mas nossos homens
vão ficar aqui, cercando a mansão. Amanhã vocês pensam melhor se
denunciam o ocorrido ou não. - fala Valentim.
Mara e Valentim deixam a
mansão. CORTA A CENA.
CENA 3: Na manhã do dia
seguinte, Mateus se acorda com o telefone residencial tocando. Laura
e Haroldo se espreguiçam na cama.
-Alô?
-Poderia falar com Laura,
Mateus Viveiros ou Haroldo? - pergunta a mulher que liga.
-Sou o Mateus. Quem deseja?
-Aqui quem fala é Lígia
Marcondes, diretora do programa Mega Hype, da Rede People.
-Ah, eu conheço o programa...
mas o que você gostaria de falar com a gente?
-Queria saber se vocês
topariam participar do nosso programa hoje à noite.
-Assim, em cima da hora?
-Sabe o que é? É que nossa
apresentadora, a Luísa Gerald, ficou muito impressionada com os
relatos de vocês três sobre o amor a três e ficou com mais vontade
ainda de ter vocês no programa dela depois que foi postada a
denúncia da violência gratuita ocorrida aqui em São Paulo. Se
vocês toparem participar do nosso programa, nós bancamos as
passagens de ida e volta, tudo certinho. Hospedagem em hotel,
enfim...
-Certo... por mim eu topo, mas
preciso falar com a Laura e com o Haroldo pra saber se eles também
topam participar do programa hoje à noite, certo?
-Perfeito. Se vocês
conseguirem confirmar antes das onze da manhã, temos tempo de
anunciar ao longo da programação do dia.
-Ótimo, vou falar com eles.
Até mais.
Mateus desliga. Laura e
Haroldo ouviram a conversa.
-Nem precisa falar que a gente
ouviu tudo. É programa que explora o bizarro? É, mas dá
visibilidade, então eu topo. - fala Laura.
-Tou com a Laura. A gente
topa, sim. É o Mega Hype, não é? - fala Haroldo.
-Sim... vou avisar que a gente
topa daqui a pouco, então... - fala Mateus.
CORTA A CENA.
CENA 4: Riva conversa com
Marion sobre incidente da noite anterior.
-Eu sei que tudo aquilo foi
assustador e justamente por isso andei pensando numa alternativa.
-Que alternativa, Riva?
-A gente podia vender essa
casa e comprar outra pra todos nós morarmos lá... num lugar
diferente, que não seja conhecido pelo público em geral.
-Ficou louca, Riva? Você já
falou com o Vicente sobre isso? E a grana, e o investimento feito no
complexo de estúdios no nosso terreno? E o terreno que ele comprou
pra expandir o complexo de estúdios e ser fiel ao projeto? Você
pensou nisso?
-Não pensei muito a respeito,
Marion... mas estou pensando na nossa segurança, só isso.
-Segurança? Não te reconheço
mais, Riva. Não é você que sempre enfrentou tudo na vida de peito
aberto? Que exemplo você quer dar pro Lúcio quando ele crescer? Que
é certo a gente abrir mão dos nossos sonhos por causa de uma meia
dúzia de gente que se opõe? Faça-me o favor, Riva... faça-me o
favor!
-Verdade. Eu tou me sentindo
uma covarde de pensar nisso tão rapidamente.
-Concordo. Você nunca foi
assim... depois, essa casa existe desde que os pais do Ivan eram
recém-casados. Tem toda uma história. Vamos abrir mão de tudo isso
por causa desses tresloucados? Não mesmo!
-Acho que nem vou comentar com
o Vicente sobre essa ideia absurda que passou pela minha cabeça, ele
ficaria no mínimo chateado comigo, isso se não me chamasse de
egoísta.
-Melhor coisa que você tem a
fazer é esquecer esse assunto, na boa...
CORTA A CENA.
CENA 5: Horas depois, Marion
recebe a imprensa e fala sobre o ocorrido na noite anterior.
-Você pensa em registrar
queixa contra as pessoas que tentaram invadir sua casa? - pergunta um
repórter.
-Sinceramente, pensamos muito
nisso. Mas consideramos melhor não prestar queixa pelo motivo que
podemos denunciar diretamente à mídia, fazendo com que essa atitude
irracional de violência possa ser repudiada pelo público que me
conhece e acompanha tanto a minha carreira quanto a carreira de meu
filho, minha mãe e, mais recentemente, de Riva. - fala Marion.
-Inclusive percebemos que
nenhum deles está aqui nessa coletiva. Estão acuados, com medo? -
pergunta outro repórter.
-De forma alguma. Apenas
consideraram melhor não se manifestarem a respeito desse assunto e
eu gostaria de que a privacidade de meus familiares fosse respeitada.
- fala Marion.
-Você suspeita de que essas
ações tenham sido motivadas por alguma espécie de represália
arquitetada por João Bernardo Salinas Filho? - pergunta uma
repórter.
-Prefiro não me pronunciar a
respeito desse senhor. - fala Marion.
A coletiva segue. CORTA A
CENA.
CENA 6: Vicente está reunido
com Rafael e Marcelo tentando definir um nome para sua produtora.
-Eu pensei que um bom nome
poderia ser “Arte Sem Fronteiras”, pois cairia bem com a
proposta, já que a internet é algo que tem alcance maior que a TV
aberta, no que diz respeito a outros países, coisas do tipo... -
fala Marcelo.
-Ai, amor. Pelo amor de Deus!
A ideia até é interessante, mas um nome desses é tão previsível
que dificilmente chamaria a atenção do público, não despertaria
interesse. O que a gente precisa é dar uma identidade, algo que seja
único... - opina Rafael.
-Essa coisa parecia ser mais
fácil no começo, mas tou vendo que esse brainstorm é mais que
necessário. Que dificuldade de encontrar um nome que seja a cara da
nossa produtora, meu Deus! - reclama Vicente.
-A gente vai dar um jeito. Só
precisamos pensar com vontade, fazer uma lista de nomes eu acho super
válido... talvez assim, a gente consiga extrair alguma coisa, ou
mesmo chegar numa conclusão juntando e cruzando nossas próprias
sugestões, o que vocês acham? - sugere Marcelo.
-Excelente ideia, Marcelo! -
anima-se Vicente.
Os três começam a anotar as
ideias. CORTA A CENA.
CENA 7: Horas mais tarde,
Laura, Mateus e Haroldo são chamados pela apresentadora do programa
Mega Hype ao palco.
-Boa noite, amadinhos e
amadinhas! Está começando mais um Mega Hype comigo, a diva divônica
Luísa Gerald. Vamos receber no nosso programa hoje os incríveis,
maravilhosos e ultra divônicos Laura Vieira, Mateus Viveiros e
Haroldo Bittencourt, o triângulo amoroso mais querido das redes
sociais! - anuncia a apresentadora.
Laura, Haroldo e Mateus entram
e são aplaudidos pela plateia.
-Por favor, queridos, podem se
sentar. - fala a apresentadora.
Laura é a primeira a falar.
-Boa noite, Luísa, boa noite
Brasil! Em primeiro lugar eu gostaria de fazer uma correção,
querida... não somos um triângulo amoroso, não nesse sentido que
você falou, intencionalmente ou não... - dispara Laura.
Luísa fica constrangida e
tenta disfarçar descontraindo.
-Ui, que pedrada, minha gente!
Qual seria o termo mais adequado então, queridos? - segue a
apresentadora.
Haroldo começa a falar.
-Bem, não se trata de termo
correto, se trata de enxergar a relação poligâmica como algo
natural, sem esse misticismo todo que se cria em torno do assunto.
Vivemos uma vida normal, nos amamos e desejamos constituir família,
tanto que Laura está esperando um filho... - esclarece Haroldo.
-Sim, essa gravidez já foi
anunciada pela internet. Desculpe a pergunta, mas o Brasil inteiro
quer saber: quem é o pai da criança? - pergunta Luísa.
-Querida, acho que esse é o
tipo de pergunta que não temos a mínima obrigação de responder.
Eu, Mateus e Haroldo nos amamos entre nós. Essas questões sobre
quem é o pai da criança e quem não é são de foro íntimo e cabe
a nós saber disso. A nós e ao cartório quando formos registrar
essa criança depois do nascimento. Então vá me desculpar, mas não
vamos responder isso e tenho certeza que essa curiosidade não é
geral. - sentencia Laura.
A plateia aplaude a fala de
Laura. Mateus começa a falar.
-Isso sem mencionar que já
vivemos uma vida relativamente pública, principalmente por eu fazer
parte desse relacionamento. Afinal de contas, sou uma pessoa pública.
Ocorre que estamos aqui hoje para tentar quebrar o tabu em torno do
assunto, fazer o público compreender que uma relação poligâmica
ou poliamorosa, chamem como quiser, se trata apenas do que realmente
é: uma relação de amor. Então não vejo sentido nessa abordagem
binária... - dispara Mateus.
A participação deles no
programa segue enquanto a apresentadora fica constrangida pelas
respostas firmes dos três. CORTA A CENA.
CENA 8: Após jantar, Cláudio
e Bruno vão conversar com Marcelo.
-Estão precisando desabafar
sobre o incidente de ontem? - questiona Marcelo.
-Bem, cunhado... não é bem
isso. Na realidade é que por mais que a gente tenha aceitado morar
aqui, a gente fica meio se sentindo demais nessa mansão... - fala
Bruno.
-É isso, mano. Eu sei que
faço parte da família, que sou sobrinho da sua mãe ainda por cima,
mas a gente fica com medo de estar meio... abusando da boa vontade de
vocês, entende? - fala Cláudio.
-Meu Deus, como vocês são
bobos, meninos... cês acham mesmo que eu não teria convidado se eu
não tivesse certeza que tava todo mundo de acordo com isso? Depois,
a sua mãe e o seu pai são pessoas ótimas, Bruno. Querendo ou não
você também já faz parte dessa família e casa cheia é uma
delícia! - fala Marcelo.
-Ai, mano... é que a gente
ainda assim fica com medo de parecer que tá explorando vocês... -
desabafa Cláudio.
-Que besteira, Cláudio. Você
também é rico, criatura. É meu irmão, é sobrinho da minha mãe,
o que mais você quer pra se convencer? E outra coisa, o que menos
importa aqui é o dinheiro. Você devia saber disso... - continua
Marcelo.
-Tou vendo que a gente tá se
preocupando a toa... - constata Bruno.
-Óbvio que sim. Não sei
porque vocês vieram com esse papo. Depois, morar aqui é mais
seguro, no final das contas, apesar do incidente de ontem... -
finaliza Marcelo.
CORTA A CENA.
CENA 9: Suzanne está se
arrumando para mais uma noite.
-Hoje eu não posso sair de
mãos vazias. Vai que tem alguém precisando de um “ombro amigo”
pelas boates da vida? - fala Suzanne consigo mesma, se admirando no
espelho.
-Mas tu é gata pra danar,
hein mulher? A cada dia que passa essa pele fica mais macia. As
células desse corpo te amam! - segue Suzanne, se admirando no
espelho.
Suzanne está terminando de se
maquiar quando seu celular toca e ela suspira.
-Se for aquela gente chata de
novo, eu juro que mando à merda! - reclama Suzanne.
Suzanne atende o celular.
-Achei que nunca mais ia
atender. Tá muito ocupada preparando o próximo bote, querida?
-O que você quer, Guilherme?
- pergunta Suzanne, reconhecendo Guilherme.
FIM DO CAPÍTULO 130.
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