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quinta-feira, 27 de outubro de 2016

CAPÍTULO 142 - ÚLTIMAS SEMANAS

CENA 1: Raquel encara Suzanne com firmeza e cobra postura e palavra da filha.
-E aí, como é que vai ser? Vai ficar me olhando com essa cara ou vai conseguir me dizer alguma coisa?
-Nem sei o que te dizer. A última pessoa que eu esperava que me dissesse uma coisa dessas era você. Quer dizer que agora você me quer longe?
-Já que não tem outra saída... da lei você sempre escapa. Pelo menos longe não causa mais estrago a ninguém.
-Você tá dizendo que causo estragos, mas não sabe da missa a metade.
-Pelo visto vou continuar sem saber de nada, você nunca se abriu mesmo! Já nem espero mais por isso, Suzanne. Você pode até ser minha filha, mas eu não sei quem é você. Nunca vou saber e já me conformei com esse fato.
-Eu só pensei que a gente podia tentar resgatar uma relação de mãe e filha... mas pelo visto me enganei.
-Não venha com esse papo furado pra cima de mim agora, Suzanne. Resgatar o que? Resgatar algo que nunca existiu? Você nunca permitiu que essa relação entre nós fosse de mãe e filha! Durante anos eu me sujeitei a uma série de humilhações pra ficar perto de você, até perceber que você não tem sentimento por ninguém, muito menos por mim.
-Você não sabe de nada, mãe. A vida foi mais dura comigo do que com você.
-Foi você mesma que fez com que a vida fosse mais dura com você! Foi você que matou aquele que diz ter sido o único que amou. Ele era seu pai! Você escolheu esse caminho, é a única responsável por isso. Não ouse tentar me culpar por nada porque eu não caio nesse jogo! De você, eu só quero a certeza de que te resta um pingo de dignidade: honre sua palavra.
-Mas o que você quer que eu faça? Que eu suma de uma vez por todas?
-Exatamente. Por perto você só causou estragos e danos, durante esses anos todos. Escondeu uma gravidez de mim, obrigou o Márcio a jogar seu jogo usando ele, se aproveitando do amor cego que ele sempre teve por você. A culpa é toda sua, Suzanne! Por sua causa eu e o Márcio perdemos de conviver com o Cláudio por vinte e dois anos! Você tem alguma noção da gravidade disso? Não! Porque desde pequenina a única pessoa que importou a você foi você mesma! Então a única coisa que eu espero de você é que você vá embora... que suma de uma vez. De preferência, pra sempre. Fique longe de mim, do Márcio, do meu neto, de qualquer pessoa que você tenha prejudicado nessa sua cruzada insana pelo poder.
-Eu vou embora do país, se essa é a sua grande preocupação comigo, “mamãe”.
-Quando?
-Agora eu não posso.
-O que te impede? Olha aqui, Suzanne Farina Lopes: eu ainda sou sua mãe e tenho força pra te dar uma surra pior que a surra que a Riva te deu se você fizer qualquer coisa pra prejudicar ela ou a família dela. Esquece que ela é tia do Cláudio? Querendo ou não, ele é seu filho! Fique longe de nós, tá me ouvindo?
-Mãe, eu preciso que você me dê pelo menos um último voto de confiança nessa vida. Nunca te pedi nada!
-O pior é que vejo alguma sinceridade nos seus olhos. Não sei se você realmente está sendo sincera ou se aprendeu a ser excelente atriz nesses anos todos de golpe...
-Eu tou falando a verdade. Não posso ir embora agora... porque se eu for embora agora, uma tragédia pode acontecer. Eu tenho como evitar essa tragédia e é exatamente isso que eu vou fazer.
-Do que você tá falando?
-Não posso te explicar nada além do que eu já falei, mãe. Desculpa... eu realmente não posso.
-Então resolva o que tem que resolver de uma vez. E depois suma das nossas vidas, pra não voltar mais.
-Está certo. É exatamente isso que eu vou fazer. Só te peço pra torcer por mim, porque vou precisar de sorte dessa vez. Me deseja boa sorte?
-Boa sorte, Suzanne. Agora pode ir embora da minha casa?
-Não vou mais fazer você perder seu tempo comigo. A gente se fala, ainda...
Suzanne vai embora e Raquel fica intrigada. CORTA A CENA.

CENA 2: No dia seguinte, Cláudio está saindo para o intervalo de seu ensaio na companhia de teatro e Procópio o chama rapidamente.
-Desculpa chamar, sei que você deve estar morrendo de fome, mas você está impressionante nesse ensaio de hoje!
-Ah, que isso, Procópio. Os créditos são todos da Mara, que me preparou muito bem pra encarar esse desafio.
-Não se subestime, Cláudio. Sem sua dedicação nem mesmo a preparação da Mara surtiria efeito. Você está entrando de corpo e alma nesse monólogo que a gente tá preparando e isso só demonstra que você tem um talento imenso pro drama. É impossível não se comover com a maneira que você encarna o texto. Vira outra pessoa, como se estivesse incorporado.
-Ih, sai pra lá que eu não sou médium, sou ator!
-Bobo! Tou falando sério. Se o monólogo não for sucesso de público, pelo menos de crítica eu tenho certeza que vai ser.
-Falando nisso, eu queria saber quando que a gente vai estrear.
-Falta eu falar com a Mara, com o Ivan e com o pessoal responsável pelo patrocínio. Eu te mantenho informado quando tiver alguma resposta. Se tudo der certo, ainda hoje eu já posso dar uma posição definitiva a respeito disso.
-Só espero que não caia em cima da semana que tou planejando me casar com Bruno. Afinal de contas, já adiei uma vez meu casamento com ele, mas né... as situações nem se comparam, ele tinha de salvar a mãe dele...
-Vamos ver como as coisas vão ser. Mas caso caia em cima do casamento de vocês, não vejo problema, afinal de contas, uma coisa não impede a outra.
-Como que não impede? Eu vou querer pelo menos uma semana aproveitando com ele, né... sabe como é... mas enfim, a gente fala sobre isso depois que eu tou morto de fome.
CORTA A CENA.

CENA 3: Vicente comenta com Riva sobre empresas que entraram em contato com ele.
-É, Riva... parece que a Fermata Visual logo vai tomar proporções maiores que a gente sonhou.
-Por que você tá dizendo isso, amor?
-Só hoje foram três empresas oferecendo patrocínio, cê pode com uma coisa dessas?
-Não brinca! É sério isso?
-Seríssimo!
-Gente, isso é maravilhoso! Em pouquíssimo tempo a gente já tá a caminho de expansão... acho que a velha mídia tem muito a temer a partir de agora.
-Você acha, amor? Eu tenho certeza!
-Mas você sabe que a partir de agora a reação deles vai piorar, não sabe, Vicente?
-Que os cães ladrem à vontade. É um direito deles, não é?
-Só que isso pode acabar prejudicando futuramente a Fermata...
-Nem continua, Riva. Quem se queima é a velha mídia. Se o nosso trabalho está se destacando e despertando o interesse das empresas em investir no nosos negócio, isso tem a ver única e exclusivamente com o nosso trabalho.
-É, mas você sabe que a concorrência pode ser uma pedra no sapato.
-Nem como concorrência deveriam ser classificados...
-Olhando por esse lado, faz sentido... afinal de contas, são um outro filão.
-Tá vendo? Não é difícil entender. A gente tá crescendo. Óbvio que isso vai incomodar, mas é de se esperar.
-Pior que qualquer coisa que eles vierem a tentar contra a Fermata Visual vai ser um tremendo tiro nos próprios pés deles. Afinal de contas, se nós nem temos concorrência direta, uma mídia velha e caduca tratar outro meio de mídia como ameaça, seria no mínimo primário.
-Mas muito mais recorrente do que se imagina. Assim foi, assim é e assim vai continuar a ser o capitalismo enquanto ele for dominante na sociedade. Um querendo comer o outro.
-E dessa vez nem tem o Aécio pra ser comido no meio...
Os dois riem.
CORTA A CENA.

CENA 4: Raquel conversa com Valentim no consultório dele sobre possibilidade de investigarem Suzanne outra vez.
-Vai por mim, Valentim... é intuição de mãe que tá no meio disso, além do meu faro de investigadora. A gente precisa arranjar uma maneira de continuar investigando Suzanne.
-Como, Raquel? Sem amparo judicial nós nos tornamos fora da lei também.
-Não seria a primeira vez, porque se não fosse assim, eu não faria parte da polícia hoje.
-Só que agora a coisa mudou de figura, minha amiga: não havendo sequer uma única prova contra ela, uma investigação agora nem faz sentido.
-Mas eu sei que lá no fundo você percebe, você sente que a Suzanne está escondendo algo grande de nós. Vai me dizer que não sente isso?
-Sinto. Mas de que adianta? Nesse momento temos muito trabalho pela frente e nenhum dos casos envolve sua filha.
-Ela disse com todas as letras que está aqui no Brasil ainda porque tem de evitar uma tragédia. Isso me deixa assustada e aflita, porque eu não tenho a mínima ideia do que ela possa estar falando. Já pensei em tudo.
-Pensou no Guilherme?
-Mas ele não está fora do país?
-A gente acha que ele está. Simplesmente perdemos qualquer rastro dele.
-De qualquer forma não faz tanto sentido assim. O fato é que ela me pareceu realmente assustada. Se não assustada, pelo menos acuada ela estava, só não entendo a razão disso.
-O máximo que a gente pode fazer é investigar como pessoas civis. Nada além disso.
CORTA A CENA.

CENA 5: Eva conta a Renata da ligação que acabou de receber.
-Amor... você não faz ideia de quem acabou de ligar pra gente.
-Quem? A Lady Gaga?
-Ai, dá pra me levar a sério? O assunto é do seu interesse também. Sabe a Wendy Martells, fundadora da “Women's Lives Matter”? Foi ela que acabou de falar comigo.
-Não brinca! Não pode ser! Gente do céu... isso é vida real, mesmo?
-Creia: é! Ela disse que quer que nós viajemos primeiro pra Austrália e depois pelo mundo, juntamente com as mulheres que já participam desse projeto.
-Meu Deus! Acho que nem nos meus sonhos mais delirantes eu imaginei que isso poderia acontecer com a gente. Que lindo, Eva!
-Nem eu, Renata. Mas sabe o que isso significa? Que a gente tem que estar partindo pra Austrália em menos de vinte e quatro horas.
-Que?
-É isso mesmo. Foi o que a Wendy me disse.
-Ai, minha santa Inês Brasil... tão rápido assim?
-É pegar ou largar. Nossas despesas serão pagas pela associação.
-Então a gente vai! Claro que a gente vai!
CORTA A CENA.

CENA 6: Ao final de mais um dia de ensaios, Procópio chama Cláudio, que arruma sua mochila naquele momento.
-Tem cinco minutos pra falar comigo, Cláudio?
-Até dez se você precisar, Procópio. O que manda?
-Já consegui definir quando vai ser a estreia do seu monólogo.
-É mesmo? Que ótimo! Quando vai ser?
-Bem... aí é que eu acho que mora o problema...
-Não vai me dizer que...
-Vai ser daqui duas semanas sim, querido. Não tive saída. Todos acordaram dessa maneira e eu seria voto vencido.
-Mas você é o dono desse teatro, cara! Não tinha como você ter um pouco mais de voz ativa nisso? Poxa vida!
-Não fica chateado, Cláudio... você sabe que não foi por mal...
-Como é que não vou me chatear? Pela segunda vez eu vou ter que adiar meu casamento com o Bruno, você não percebe?
-Isso significa que você aceita a data de estreia?
-Eu sou profissional, Procópio. Tenho amor ao que faço. Jamais te deixaria na mão. Só que você percebe como isso me deixa dividido? É praticamente como se vocês me jogassem contra a parede e me forçassem a escolher o que eu amo mais na vida: se é o Bruno ou o teatro. Só espero que o Bruno entenda que eu não posso abrir mão do meu retorno aos palcos depois de tanto tempo sem me apresentar em público...
-Não esperava outra postura senão essa de você, Cláudio.
-Eu sei. É pelo compomisso, pelo amor à arte e principalmente pela nossa amizade que eu não teria como ter outra postura.
CORTA A CENA.

CENA 7: Márcio e Marcelo percebem que Cláudio chegou em casa contrariado e o seguem até edícula.
-O que foi que aconteceu, mano? Normalmente você chega em casa e vai direto pro Bruno... - observa Marcelo.
-Não tenho nem coragem de ir falar com ele agora... - desabafa Cláudio.
-Por que, meu filho? Tá acontecendo alguma coisa chata? - pergunta Márcio.
-Sabe o que é, gente? Foi definido que a estreia da minha peça vai acontecer justamente na semana que eu ia me casar com o Bruno, bem na semana que a gente tinha combinado tudo, só faltava acertar isso com o cartório. Agora eu não sei com que cara eu chego pra ele dizendo que mais uma vez a gente vai precisar adiar... - fala Cláudio.
-Que bobeira se preocupar com isso, Cláudio. Vocês não se amam? Claro que se amam! Já provaram isso de tantas formas um pro outro! Você acha que ele não vai entender? Ele sabe o quanto o teatro é importante na sua vida. Tenho certeza que ele não te julgaria por isso... - fala Marcelo.
-Seu irmão não poderia estar mais certo nisso tudo, filho. Você tá dando importância demais a uma coisa que não deve ter esse tamanho todo... tenta relaxar, confia no que existe entre vocês... - fala Márcio.
-Sabe de uma coisa? Vocês dois tem toda razão. Eu preciso me livrar dessa mania de fazer um cavalo de batalha pra tudo na vida, como se tudo fosse definitivo e dramático. Preciso vencer esses meus pequenos egoísmos de quando as coisas não saem exatamente do jeito que eu espero que elas aconteçam... - fala Cláudio.
-Até que enfim, Cláudio. Sabe, filho... você é muito jovem pra buscar sofrimento. Não cometa o mesmo erro que eu... tou aqui, com provavelmente mais da metade da vida já vivida e desperdiçada amando Suzanne. Pior de tudo é que não consigo superar tudo isso ainda... - desabafa Márcio.
Os três seguem a conversa. CORTA A CENA.

CENA 8: Adelaide, Regina, Cleiton e Geraldo vão à casa de Eva e Renata se despedir de suas filhas.
-Desculpa não ter avisado antes, mas a notícia pegou a nós mesmas de surpresa. Nem a gente esperava que fosse acontecer e que tivéssemos que partir assim, tão rapidamente... - fala Renata.
-Deixa disso, filha. A gente sabe o quanto essa luta é importante. A luta também é nossa e você não precisa se preocupar... aliás, vocês duas podem ir tranquilas viajar por esse mundão que a gente cuida da ONG do jeito que tem que ser... - fala Adelaide.
-Vou sentir saudade de tudo, de coração. Vocês são os melhores pais do mundo e se não fosse pela força que vocês sempre encontram pra doar pra gente, não sei se eu teria tanta garra nessa vida... - emociona-se Eva.
-Ô, filha... a força não vem da gente, não. A gente só ajudou você a perceber o que sempre esteve aí dentro... - fala Geraldo.
-Se cuidem, queridas. E cuidem das mulheres que estiverem precisando de apoio, de ajuda, pra elas saberem que nunca vão estar sozinhas nem desamparadas. Toda sorte do mundo pra todas nós! - fala Regina.
-Agora vocês querem parar com essa melação antes que eu termine de desidratar de tanto chorar? Vou sentir sua falta, minha filha... - fala Cleiton.
Renata abraça Cleiton e Adelaide e Eva abraça Regina e Geraldo.
-A gente já precisa ir. Não podemos perder o voo... - fala Eva.
-Pode deixar que a gente cuida direitinho da ONG... - fala Adelaide.
CORTA A CENA.

CENA 9: Cláudio dorme ao lado de Bruno e imagens de seu sonho começam a aparecer.
No sonho, já é dia da estreia de seu monólogo na companhia de teatro e Cláudio se vê em cena no palco, sob os olhares atentos da plateia. Na plateia, ele vê todos os familiares e amigos, incluindo Marcelo, Márcio, Laura, Haroldo, Mateus, Diogo e Victor. Ao final da apresentação em seu sonho, Cláudio é abraçado por todos e elogiado por seu desempenho.
-Ah, gente... eu nem sei se fui tão bem assim, mas se vocês dizem que fui bem, acredito... - fala Cláudio.
Cláudio percebe que seu pai não está ali e se volta para Marcelo.
-Mano, cadê o pai? Eu vi que ele tava na plateia...
-Que pai, Cláudio? Tá doido? A gente não tem pai...
Cláudio se desespera e se acorda do sonho.
-Eu tenho pai sim! - grita Cláudio ao se acordar, assustando Bruno.
FIM DO CAPÍTULO 142.

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