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terça-feira, 1 de novembro de 2016

CAPÍTULO 146 - ÚLTIMOS CAPÍTULOS

CENA 1: Vicente ri da audácia de seu ex-chefe.
-Você é mesmo impagável, João Bernardo! Essa ligação é realmente a sério?
-E por que não haveria de ser? “Heróis Reais” tem sido aclamada pelo público e elogiada pela crítica. Prova disso é que vocês foram premiados na Holanda.
-Sim, tudo isso é verdade. Mas como que você fala em comprar a série? Você esqueceu que a Fermata Visual também é uma empresa como a sua?
-Exatamente por isso. É uma conversa de empresário pra empresário, Vicente. Nós dois sairíamos ganhando com isso. A série de Rafael é um sucesso e está gerando muito dinheiro, se eu comprar os direitos de exibição da série, nós podemos investir mais ainda em equipamentos e produção, triplicando o lucro, isso na possibilidade mais pessimista.
-Você é patético, João Bernardo. Seu pai jamais faria uma coisa dessas.
-Claro que ele não faria, já está caduco e não tem a visão que eu tenho. Não vê o que dá lucro, o que garante a sobrevivência da nossa emissora.
-A emissora está afundando e a culpa é somente sua. Você ainda vai matar seu pai de desgosto, seu verme.
-Guarde as suas impressões pessoais sobre mim pra você. Estou ligando para falar de negócios e “Heróis Reais” é uma mina de ouro.
-É mesmo. Mas vamos então falar de negócios... me permite falar minhas impressões a respeito dessa proposta?
-Claro, afinal você provou ser um homem de visão.
-Então lá vai: essa proposta só está sendo feita porque você é um oportunista descarado. Durante anos não fez nada, absolutamente nada para modificar as políticas internas da sua emissora, condenando atores e atrizes LGBT ao ostracismo, obrigando muita gente talentosa a esconder quem realmente são, tudo isso porque você achou que perderia dinheiro se revelassem à mídia. Mais que isso: você, João Bernardo, foi o maior responsável, senão o único, pelo veto de diversas sinopses mandadas por autores. Censurou textos, mandou deletar cenas de capítulos inteiras pra não chocar a “família tradicional Brasileira”, quando na verdade você só tinha medo de perder dinheiro. Nunca quis inovar por conta própria: sempre se utilizou da ideia dos outros. Você tornou a emissora que seu pai construiu numa fraude. Numa farsa. Num arremedo do que ela foi um dia. Se hoje a emissora está afundando a olhos vistos o único culpado disso é você. Você está dando o pior final de vida pro seu pai... e eu não aceito a sua proposta. Não aceito porque o destino da sua emissora é o fim, a concordata, a falência. Tou sabendo que a concessão pública pode não ser renovada e ao que tudo indica, não vai ser mesmo. Você está apenas colhendo o que plantou. Sua ganância destruiu o artístico dessa emissora e agora as consequências disso ficam claras. Nunca eu vou aceitar esse acordo, nunca mais eu coloco os meus pés nessa emissora. Só lamento pelo seu pai, mas sinto um prazer inenarrável de te colocar no seu devido lugar. Você não passa de um verme. Lugar de verme é na podridão, de onde você nunca deveria ter saído.
-Acabou, Jéssica?
-Sim. Isso é tudo o que eu tinha a dizer.
-Digamos que minha emissora esteja acabada, mesmo. Esse é mais um motivo pra eu cair atirando.
-Isso é uma ameaça, João Bernardo?
-Entenda como quiser.
-Pois faça o que quiser. Ameace à vontade. Eu não tenho medo de um sujeitinho baixo que maltrata o povo feito você.
-O mundo dá voltas, Vicente. Um dia você pode me pedir emprego outra vez.
-Pois espere sentado, porque esse dia nunca vai chegar.
Vicente desliga, triunfante. CORTA A CENA.

CENA 2: Marcelo tenta dormir, mas percebe que Rafael não para de andar pelo quarto.
-Mas o que foi agora, amor?
-Eu não consigo parar na cara de pau do João Bernardo.
-Olha, se fosse pra você ficar assim, era melhor o Vicente nem ter te contado. Vem dormir, já tá tarde, amor...
-Mas você não se revolta?
-Claro que me revolto! Esse porco capitalista foi longe demais dessa vez, mas não passa de um verme, um bandido disfarçado de empresário.
-É justamente isso que tá me roubando o sono. A cara de pau desse sujeito não tem limites. Só eu sei o que eu passei durante anos trabalhando pra emissora e tendo de esconder de todo mundo sobre quem realmente sou pra não manchar minha imagem midiática que era do interesse do João Bernardo e da assessoria, que tava faturando alto por isso, que fosse mantida. Eu fui forte, mas quanta gente talentosa não acabou tendo crises de ansiedade, entrando em depressão? Quantos acabaram no ostracismo porque não suportaram a pressão? Quantos até mesmo se suicidaram a olhos vistos e ninguém fez nada? Minha mãe conta que no ano que a gente nasceu, morreu um ator vítima de depressão, adivinha por que?
-Eu acho que já li sobre essa história toda. Realmente tudo isso é de dar nojo. No final das contas eu dei sorte de iniciar minha carreira de ator num momento que não estava sendo tão difícil... aliás, tudo o que estamos conseguindo agora é mérito do nosso amor à arte.
-O que me revolta na proposta que esse playboy de merda fez é isso. Não é pelo dinheiro... é pela exploração da arte, pela coisificação da cultura. É esse tipo de coisa que me deixa possesso.
-Sabia que você fica lindo revoltadinho?
-Eu não acredito que você não está levando a sério...
-Claro que eu tou, amor! Mas o que a gente vai fazer? Matar pra comer, como diria Inês Brasil?
-É... depois, nem eu nem o Vicente venderíamos a série praquele babaca.
-Então? Tá vendo como discutir sobre tudo isso é sem sentido? Eu posso te ajudar a relaxar...
-Seu safadinho...
-Mas bem que você gosta dessa safadeza.
-Posso nem ver que adoro!
CORTA A CENA.

CENA 3: No dia seguinte, Mara e Raquel conversam com Valentim sobre sua decisão de investigar Suzanne por conta própria.
-Isso é uma loucura, Valentim! - fala Raquel.
-Como é que é? Logo você me dizendo isso? Se não fosse pela minha “loucura”, você nem estaria na polícia hoje... - fala Valentim.
-São coisas completamente diferentes, amor! Você não percebe que a Raquel sempre mostrou vocação pra isso e que isso nos dava um pouco mais de respaldo para agir? - fala Mara.
-Gente, tá parecendo que eu tenho mais tempo na profissão do que você, Valentim. É uma loucura sim ir atrás das coisas da Suzanne. E nem falo só dos perigos que envolvem as pessoas que podem estar associadas a ela... você pode acabar sendo desligado da polícia, já parou pra pensar nisso? - alerta Raquel.
-Vocês resolveram ficar com medinho de uma hora pra outra? E você, Mara, que sempre foi a mais destemida, o que aconteceu?
-O que aconteceu é muito simples: você está completamente cego diante dos riscos reais que a gente corre nisso. Não é só você que corre risco nisso. Não se trata somente de você poder acabar demitido... se trata de você colocar todo mundo em risco se de fato a Suzanne estiver associada ao Guilherme, será que você não consegue enxergar isso? - fala Mara.
-Bem, por esse lado... é meio verdade. Mas a princípio esse sujeito nem no país está. - fala Valentim.
-Que a gente saiba. Tem algum tempo que a gente perdeu completamente o rastro dele, mas isso não impede que ele esteja de volta. Nós temos provas suficientes de que ele é um sujeito perigoso. - fala Raquel.
Os três seguem na conversa. CORTA A CENA.

CENA 4: Procópio ensaia Cláudio, que pede uma pausa para conversar.
-Eu sei que o grande dia tá quase chegando, mas a gente podia dar uma conversada antes?
-Sempre, Cláudio. É alguma dúvida sobre o texto? Tem alguma parte que tá mais difícil decorar?
-Não... o texto tá na ponta da língua e isso é ótimo. Mas o que não é nada ótimo é sentir que não estou preparado ainda pra um monólogo, ainda mais quando ele envolve comédia e drama ao mesmo tempo, não sei se vou dar conta de ir do céu ao inferno de uma hora pra outra...
-Rapaz, você é principiante?
-Não, claro que não sou...
-Então por que tá achando que não vai dar conta?
-Fico inseguro, Procópio... você sabe muito bem disso.
-Mas isso não é normal? Até hoje eu fico com o coração na mão antes de qualquer estreia. Vocês atores devem passar por processo parecido.
-Eu sei disso, meu amigo... só que não é só a insegurança de costume. Tem mais coisa nisso.
-Como o que, por exemplo?
-Eu ando tendo pesadelos com a estreia.
-Mais um indicativo de que seu subconsciente tá te sabotando. Vai por mim, Cláudio: vai ser uma grande estreia. Confia nisso.
-Não tenho como não confiar com esse seu alto astral todo. Desculpa se te incomodei com minhas coisas.
-Nunca peça desculpas. Eu tou aqui sempre à disposição.
CORTA A CENA.

CENA 5: Márcio almoça com Raquel no horário de almoço dela.
-Tou te notando um pouco triste, meu querido...
-E eu ando meio triste mesmo, mãezinha.
-Não vai me dizer que é por causa daquela...
-É sim por causa da Suzanne. Eu não entendo como ela pode ser tão cruel com as pessoas, comigo principalmente! Não foi a menina doce que eu conheci.
-Meu querido, ela nunca foi essa menina doce. Era só uma máscara que ela usou enquanto lhe convinha. Eu sei que é duro pra você reconhecer tudo isso. Também é duro pra mim, que sou mãe. Mas é como a vida quis... no final das contas você se tornou o filho do meu coração e a Suzanne, uma desconhecida.
-Mas eu tinha o direito de saber se ela realmente nunca me amou, dona Raquel. Até isso ela me negou! Ainda me mandou sumir, teve a capacidade de dizer pra eu nunca mais aparecer na frente dela. Tudo isso ainda machuca demais, entende?
-Entendo demais, Márcio... mas infelizmente nada disso tem jeito. Você precisa encontrar uma maneira de esquecer Suzanne em definitivo.
-Como, mãezinha... como?
-Não sei.
-E você acha que eu saberia?
-Mas querido, essa é uma resposta que infelizmente você vai ter de buscar dentro de si mesmo até encontrar. Se eu pudesse, arrancaria de dentro de você qualquer dor ou sofrimento, mas infelizmente eu não posso.
-Você é mesmo uma mãe pra mim. A única que eu tive de verdade nessa vida. A única que quis ser minha mãe. Eu te amo demais, sabia? Mesmo se acontecer alguma coisa comigo, nunca se esqueça disso, tá? No meu coração eu sempre fui seu filho.
Os dois se abraçam emocionados e Raquel sente tom de despedida em Márcio. CORTA A CENA.

CENA 6: Horas depois, Raquel, acompanhada de Valentim e Mara, comanda a polícia no cerco a uma casa.
-Vocês vão por trás... - fala Raquel a três policiais.
-Vocês fiquem na porta da casa, dos lados, caso os homens tentem fugir. - orienta Valentim.
-E por último, vocês ficam no pátio lateral, pra evitar qualquer possibilidade de escapatória pros criminosos. - orienta Mara.
-Então é isso, gente. Eu toco a campainha e me digo interessada em alguma arma. Vocês se apresentem quando eu disser “certo, acho que fiz minha decisão”. - fala Raquel, tocando na campainha.
Um homem atende.
-Boa tarde, minha senhora. Tem certeza que acertou o endereço? A gente não vende agulha de crochê aqui... - fala o homem, debochado.
-Não seja preconceituoso. Já matei marmanjos maiores que vocês. Estou procurando uma arma potente e silenciosa. Você pode mostrar quais são os modelos que você tem aqui? - pergunta Raquel.
O homem mostra os modelos de armas que possui e Raquel finge interesse.
-Certo, acho que fiz minha decisão! - fala Raquel.
O homem está preparando a caixa quando Valentim e Mara aparecem mostrando os distintivos, coisa que Raquel também faz.
-Vocês estão presos por contrabando e tráfico de armas. - anuncia Raquel.
CORTA A CENA.

CENA 7: Mateus volta com as compras do dia para casa e Haroldo percebe que ele está com a expressão assustada.
-Tá tudo bem, amor? De repente você ficou pálido. - observa Haroldo.
-Vai ver minha pressão baixou feito a da Laura... - desconversa Mateus.
-Nada disso, Mateus! Eu te conheço desde o ensino médio e sei que você não sofre de pressão baixa. Se está com essa cara, é porque se assustou com alguma coisa. E nem pense em me poupar de nada que senão eu te meto a mão na cara e você sabe que sou dessas! - fala Laura.
-Gente... eu juro que não é pra poupar, mas é que não queria falar sobre o medo que me deu. Eu acho mesmo é que foi coisa da minha cabeça, isso sim... algo como estresse pós traumático, alguma coisa desse gênero... - fala Mateus.
-Fala logo o que é, amor! Tá começando a me deixar morto de curiosidade. - fala Haroldo.
-Eu me senti seguido, observado enquanto eu fui ao mercado fazer as compras. Senti essa coisa sinistra na ida e na volta. Mas eu acho ainda que pode ser tudo coisa da minha cabeça, sério... o problema é o que passou pela minha cabeça... - fala Mateus.
-Haroldo, cê aposta quantos reais que ele ficou logo pensando que isso era coisa do Guilherme? Querido... sério... não faça isso com você mesmo. Você não merece perder a paz depois de tanto tempo. O pior já passou, a gente tá completamente livre de qualquer ameaça, confia isso! - encoraja Laura.
-A Laura tá certíssima, Mateus... não faça isso com você mesmo, meu amor. A gente te ama, te apoia, mas a gente também sabe que não dá pra alimentar esses seus medos. Com a gente você tá seguro, viu? Nunca se esqueça disso. Se separados não nos bastamos em algumas coisas, juntos nós somos imbatíveis. - fala Haroldo.
-Vocês tem uma capacidade incrível de me tranquilizar. Vocês são os amores da minha vida... - fala Mateus, agradecido.
CORTA A CENA.

CENA 8: Mara chega à companhia de teatro e estranha a movimentação próxima ao local.
-Procópio, você tem um instante pra falar comigo?
-Sempre, minha querida. Fomos casados por tanto tempo que ainda te vejo como minha esposa...
-Nem venha com suas cantadas baratas hoje que o papo é sério.
-Eita... desculpa aí, feminista...
-Você não me venha com esses deboches que eu não tou com paciência pra isso. A coisa é séria: notei uma movimentação esquisita aqui antes de chegar.
-Onde?
-Aqui na quadra. Percebi claramente que alguém vigiava quem entra e quem sai daqui do teatro. Você sabe que não me engano em relação a isso.
Procópio se assusta.
-Será que estão tentando fazer mal a alguém? Ao Cláudio? Será aquele ex maluco dele?
-Calma, Procópio... não é momento de concluir tantas coisas, muito menos de alarmar o Cláudio.
-Você tem razão...
-Eu fiz questão de te falar em primeira mão porque vou consultar a possibilidade de garantir uma proteção policial pro teatro. Melhor pecar pelo excesso do que pela falta.
-Concordo. Mas você não disse que é pra evitar alarmar os nossos atores, principalmente o Cláudio?
-Sim, querido. Só que a gente pode fazer tudo isso de uma maneira discreta. Só preciso do seu aval.
-Isso você sempre tem, confio em você.
CORTA A CENA.

CENA 9: Suzanne está na frente do espelho arrumando o cabelo.
-Mas tu é gostosa pra dedéu, hein mulher! Com um cabelo arrasador desses, você vai deixar qualquer um caído aos seus pés... ou qualquer uma, né... nunca se sabe quem tá vulnerável pra levar o bote... - fala Suzanne, consigo mesma.
Seu celular toca.
-Tava bom demais pra ser verdade. Ultimamente eu não consigo ficar nem cinco minutos em silêncio, mas que inferno!
Suzanne atende contrariada.
-Quem é?
-Não tá reconhecendo a minha voz, Suzanne?
-Eu já falei que não é pra você ligar pra mim, seu merda!

Suzanne se irrita. FIM DO CAPÍTULO 146.

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