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segunda-feira, 7 de novembro de 2016

CAPÍTULO 151 - ÚLTIMA SEMANA

CENA 1: Suzanne se queixa da velocidade baixa do taxista.
-Meu querido, de nada adianta você pegar atalho se ficar andando nesse passo de lesma, acelera!
-Senhora, eu não posso ultrapassar o limite de velocidade, me desculpe.
-Já vi que você é desses certinhos, fazer o que...
Suzanne percebe que um carro a segue.
-Deve ser aquele enxerido do Valentim...
-Desculpe, senhora? - estranha o taxista.
-Nada não... pensei alto uma coisa aqui. Você tem como mudar de rota?
-Onde a senhora deseja ir?
-De repente me bateu uma fome. Conheço pouco esses lados da cidade. Você saberia me dizer qual o melhor restaurante que tem aqui perto?
-Claro, moça. Tem um restaurante ótimo aqui perto, especializado em pratos indianos, isso se a senhora gostar.
-Adoro comida indiana, rapaz. Onde fica?
-Três quadras daqui.
-Excelente...
Valentim continua a seguir o táxi onde está Suzanne numa distância que o faz pensar que não foi notado.
O táxi para em frente ao restaurante indicado pelo taxista e Valentim constata que Suzanne percebeu que estava sendo seguida.
-Puta merda... ela percebeu. Eu não devia ter dado esse mole... - lamenta Valentim.
Suzanne paga o taxista e entra no restaurante. Ao sentar-se à mesa, liga para Guilherme, mas o chama pelo nome da identidade falsa.
-Deu ruim, Henrique.
-O que foi dessa vez, Suzanne? Não vai dizer que a polícia te pegou...
-Não foi dessa vez, mas foi por pouco. Não posso ir onde você está.
-Por que você está falando assim? Parece que tá cuidando as palavras.
-Cê acha que eu não sei que meu celular pode estar grampeado?
-Verdade. Mas o que a gente faz agora?
-Eu, você quer dizer...
-Que seja: o que você vai fazer agora?
-Nada.
-Como assim nada? Minha sorte é que você já deposi...
-Feche a matraca, Henrique!
-Desculpe.
-Me ouça com atenção. Não posso te ver hoje. Você trate de se comportar.
-Não tenho mesmo outra opção...
-Você sabe que não. Nem adianta me contrariar.
-Eita... você sempre foi mandona assim?
-Com gente maluca feito você, sim. Preste atenção, rapaz: um passo em falso e todo mundo dança. Se eu cair, você cai junto.
-E daí? Cair é o que menos importa pra quem não tem nada a perder.
-Mas eu tenho... e você sabe a que me refiro.
-Ah, claro... baixou a santa protetora agora...
-Contenha-se, moleque. Eu vou aproveitar que parei num restaurante indiano e fazer uma refeição. Você não me ligue até amanhã. Vou ver como a gente resolve essa questão.
-Tá certo. Afinal de contas, pelo menos a gente tem uma coisa em comum.
-E você pelo menos tem um pouco de sanidade aí... agora preciso desligar. Não me procure. Eu te procuro.
Suzanne desliga. CORTA A CENA.

CENA 2: No dia seguinte, Vicente chama Valquíria para conversar sobre o roteiro escrito por ela.
-E então, Vicente... o que o Leandro César Muniz achou? Fiquei morrendo de vergonha de você ir mostrar meu roteiro pra ele...
-Como esperado, dona Valquíria... ele simplesmente amou! Vibrou com a possibilidade de desenvolver a trama proposta pelo seu roteiro.
-Que? Isso não é uma pegadinha, é?
-Jamais brincaria com a senhora. Leandro ficou animadíssimo com o potencial dramatúrgico da sua ficção.
-Meu Deus... e eu achando tudo o que escrevi sempre ruim... a começar pelos erros ortográficos que eu cometia...
-Talento é uma coisa inata, dona Valquíria. Isso a senhora sempre teve, só demorou para colocar pra fora e ser descoberta. Além de excelente atriz, coisa que o Brasil inteiro já sabe muito bem, você tem tudo para se tornar uma das autoras da primeira novela totalmente produzida para a internet nos moldes em que foi feita para a televisão.
-Como é que é? É sério isso que você tá me dizendo?
-Seríssimo. Claro que não é nada garantido. Leandro sabe que vamos precisar de tempo e de dinheiro para concretizar nossos projetos. Só que ele está disposto a adaptar algumas coisas e a escrever uma novela. Com você sendo a autora principal e escrevendo junto.
-Gente do céu... nunca pensei que na minha vida eu ainda pudesse virar autora de novela... isso tudo é muito doido. Desde muito jovem eu sempre amei novelas, vibrava com cada uma que eu assisti na juventude. As novelas sempre me inspiraram tanto, Vicente! Me ajudavam a sonhar com uma vida melhor... me fizeram sonhar com ser atriz. Levei tanto tempo até conseguir que já tinha desistido. Essas coisas me fazem ter certeza de que enquanto há vida, há tempo de tanta coisa!
-É justamente essa sua força, essa sua capacidade de sonhar, que se reflete no seu texto, dona Valquíria.
-Mas eu me fechei muito tempo pra vida. Fui fraca...
-Já faz parte do passado. Os erros que você cometeu já foram reparados... não tem porque não acreditar nos seus sonhos.
-Isso me emociona demais... eu fiz da vida das meninas um inferno porque a frustrada no final das contas era eu...
-Deixa desse assunto, dona Valquíria. O que vem pela frente é bonito... e vamos todos trabalhar pra concretizar esse seu sonho juntos. Vamos sonhar o mesmo sonho!
CORTA A CENA.

CENA 3: Mara acompanha último ensaio de Cláudio antes da estreia de seu monólogo.
-Já pode dar uma descansada, Cláudio.
-Ainda bem, Mara... eu sei que me cansei pra valer hoje! E olha que ainda é cedo.
-Mas cada gota do seu suor valeu absolutamente, meu querido.
-Ah, disso eu não tenho dúvida. Eu amo demais tudo isso aqui!
-Não é só por isso. Você foi brilhante nesse último ensaio.
-Mas eu nem acabei ainda, Mara! Tenho disposição pra ensaiar muito mais ainda...
-Vai por mim, Cláudio: você não precisa mais ensaiar. A gente pode encerrar por aqui sem problema nenhum.
-Mas eu ainda posso dar uma ensaiada a mais se eu quiser, não posso?
-Pode, mas eu te garanto que não é mais necessário.
-Mesmo assim eu ainda quero dar uma passada em todo o texto, em todas as marcações...
-Cláudio, isso é um monólogo, não tem que se preocupar tanto...
-Ah, mas você sabe como sou exigente comigo mesmo.
-É essa exigência que faz você extrair justamente o melhor de si. Você se transforma em cima desse palco. Entra de corpo e alma de uma maneira tão intensa na coisa, que sinceramente eu olho pra você e vejo qualquer pessoa ali sobre o palco, menos você.
-Ah, não precisa se rasgar em tantos elogios... não sou tudo isso.
-Acredite: você é. Um dia você ainda vai ser considerado um dos grandes do teatro desse país, pode ter certeza...
-Você não se cansa de ser exagerada não, Mara?
-Não é exagero meu agora. Tá certo, às vezes eu sou bem exagerada mesmo, é meu jeitinho sagitariano de ser, mas se tem uma coisa que sei reconhecer nessa vida, é talento inato. É seu caso. Você nasceu para comover plateias pelo Rio, pelo Brasil, pelo mundo!
CORTA A CENA.

CENA 4: Marcelo chama Márcio para uma conversa.
-Poxa, pai... eu não me sinto bem te vendo assim, sério.
-Assim como, Marcelo?
-Dá pra ver estampado na sua cara que você anda triste.
-Tristeza dá e passa, meu filho. Não há muito o que possa ser feito.
-Não posso ajudar? Se quiser desabafar eu tou sempre aqui, viu?
-É que eu não sei se adianta, querido... tem coisas nessa vida que não tem solução, não tem remédio... e você sabe que o que não tem remédio, já está remediado.
-Tem a ver com a Suzanne?
-Também... mas não é só isso... eu fico pensando sobre o que eu fiz com a minha vida. Ou melhor: o que eu não fiz.
-Não tou entendendo...
-Eu poderia ter sido um pai pra você e mesmo pro Cláudio se não tivesse sido escravo do amor que sinto pela Suzanne. Eu fui fraco durante toda uma vida. Agora eu fico com essa culpa aqui, me corroendo por dentro...
-Mas de que adianta tudo isso, pai? Você precisa aprender a viver o agora...
-Eu sei. Só que mesmo quando tento, as lembranças do passado parecem nunca me deixar sossegado...
-O que importa é que você já deu um basta nas manipualções daquela infeliz. Ela não tem mais poder algum sobre você.
-Mas tem o poder de ainda me fazer sentir um inútil diante da vida. Me pergunto qual é o sentido de tudo isso...
-Pense que apesar de tudo o que ela fez, você conseguiu dar a volta por cima... do seu jeito, você se impôs...
CORTA A CENA.

CENA 5: Suzanne aguarda Guilherme encontrar com ela numa praça de alimentação do shopping que costuma frequentar. Ao se deparar com Guilherme, Suzanne tem uma crise de riso.
-Ai, ai... você é mesmo impagável! Nunca pensei que ia te ver num disfarce desses! Vestido de mulher! Viado, você não sabe mesmo se maquiar... deixa eu dar um jeito nessa make horrorosa!
-Dispenso o seu deboche, Suzanne. Eu quero saber se você tem o restante da grana, porque até agora você me deu só metade.
-Eu trouxe os outros quarenta e cinco mil, fique sossegado. Quer dizer... sossegada, não é mesmo?
-Pare de rir, você não é uma hiena.
-Bem, pelo menos com essa roupa, com esse cabelo e com essa make, jamais te pegariam... o dinheiro está aqui na pasta. Vou passar por debaixo da mesa. Você pode conferir pra se certificar que tá tudo aí, se quiser...
-Não precisa. Vou dar um voto de confiança em você. Sei que você me quer longe daqui o quanto antes.
-E você tem toda a razão. Primeiro porque eu quero que você deixe meu filho em paz pra sempre. Segundo porque é só por causa disso que eu mesma ainda não me mandei dessa republiqueta do bananão.
-Tá. Eu só vou resolver minhas pendências e nós dois vamos estar livres pra fazer o que quisermos das nossas vidas.
-Sob a minha supervisão.
-Que?
-Essa é a minha condição, Guilherme: você não dá um passo sem a minha companhia. É pegar ou largar...
Guilherme fica apreensivo. CORTA A CENA.

CENA 6: Laura percebe que Haroldo e Mateus tentam disfarçar tensão diante dela e fica intrigada.
-Amores... eu sei que vocês tem essa mania odiosa de tentar me poupar das coisas, mas se vocês pensam que eu vou aceitar que vocês me escondam alguma coisa, estão muito enganados. Não me custa nada fazer minhas malas e me mandar prum hotel se vocês não me contarem agora o que é que tá deixando vocês dois com essas caras de quem tá pensando na morte da bezerra. - fala Laura...
-Não tem jeito de tentar te esconder alguma coisa, né? - fala Mateus.
-Não mesmo! Então é melhor que vocês me falem de uma vez... -fala Laura.
-Sabe o que é, amor? A gente anda realmente com medo do Guilherme... tá, a gente sabe que o alvo principal dele é o Cláudio, mas ele pode estar muito mais maluco do que a gente pensa... isso assusta, sabe? - desabafa Haroldo.
-É isso, querida... desculpa se a gente não conseguiu disfarçar essa nossa tensão. A gente não quer que você entre nessa energia com a gente... - fala Mateus.
-Vocês são bem cagões mesmo, nunca vi. Não conseguem viver com um pouquinho de adrenalina que já ficam aí, dando defeito... não se preocupem comigo. É claro que essa situação mete medo na gente. Só que nenhum de nós pode deixar que esse medo nos vença... se for assim, a gente não faz mais nada da vida, pensando no que pode acontecer lá fora... assim não tem como ficar bem. Querendo ou não, só nos resta relaxar e manter o pensamento positivo... - fala Laura.
-Queria ter esse seu alto astral... - fala Haroldo.
Laura abraça os dois.
-É... tou vendo que vou ser mãe de três, não de um... - brinca Laura.
CORTA A CENA.

CENA 7: Valquíria e Vicente recebem o autor de novelas Leandro César Martins no RH da produtora.
-É um prazer inenarrável poder te conhecer e saber que você se encantou pelo meu roteiro... confesso que nunca achei grandes coisas nada do que escrevi... - fala Valquíria.
-Compreendo... sabe que é uma coisa excelente entre escritores, autores num geral, ter esse excesso de autocrítica? No final das contas, quem cobra bastante de si, acaba fazendo o possível pra dar o seu melhor... - fala Leandro.
-Verdade. Leandro sempre disse isso. E diz que muitas vezes reescreveu cenas e diálogos inteiros uma centena de vezes, até se satisfazer com o resultado... - fala Vicente.
-A ideia que eu tenho é da gente já começar a dar uma adaptada nesse seu roteiro. Atualizar a trama, entende? Assim, a gente já pode pensar em pré-produção em pouco tempo... - fala Leandro.
-Desses assuntos de pré-produção eu sinceramente não entendo, mas só de ter um autor dos melhores trabalhando comigo, me sinto uma diva! - fala Valquíria, animada.
-Não é pra tanto. Antes de ser um autor conhecido na emissora, sou um escritor que assim como a senhora, também tem suas inseguranças. A gente vai fazer esse seu sonho acontecer. Agora eu sonho junto esse sonho! - fala Leandro.
CORTA A CENA.

CENA 8: Suzanne pressiona Guilherme para ele aceitar suas condições.
-Então, Guilherme: aceita as minhas condições? Porque se não for assim, pode esquecer dessa segunda metade que tou te dando agora, pode esquecer de fugir do país de novo, pode esquecer de tudo.
-Não tenho mesmo alternativa... eu preciso desse dinheiro pra dar no pé depois...
-Isso é um sim?
-Claro que é. Tenho que aceitar as coisas assim... agora você é minha babá.
-Pense positivo, bobinho: pense que sou sua segurança. Sou a garantia de que não vão te pegar antes de você sumir de uma vez por todas.
-É, mas você esquece que o babaca do Valentim tá na sua cola?
-E daí? Você já provou que é bom de disfarce. Só precisa melhorar essa make de palhaço que tá na sua cara...
-Isso pode dar zebra, Suzanne.
-Por que?
-Você sabe que tenho minhas pendências. Queria fazer o que precisa ser feito sem ser incomodado, muito menos por você. Quero assistir a estreia do Cláudio.
-Sem o restante do dinheiro, você não sobrevive nem na Argentina. Tá mesmo pensando em negar minhas condições?
-Não... longe de mim. Eu sei que você não me deixou outra saída.
-É a minha certeza de que você não vai fazer nada contra o meu filho.
-Sabe, eu não entendo esse seu instinto materno tardio, Suzanne...
-Não é pra entender. Quem tá te pagando aqui sou eu, logo você me deve obediência. A não ser que queira voltar pra prisão...
-Tá... já sei que não tenho por onde ir...
CORTA A CENA.

CENA 9: No dia seguinte, Suzanne está voltando ao hotel depois de uma caminhada e, ao entrar no apartamento, nota que há coisas reviradas na sala.
-Não é possível que com essa segurança toda, tenham deixado algum bandido entrar aqui...
Suzanne organiza as coisas deixadas fora de lugar na sala e escuta um barulho vindo do quarto.
-Ai, meu Deus...
Suzanne caminha silenciosamente até abrir a porta do seu quarto e se deparar com Raquel mexendo nas suas coisas e olhando seu celular.
-O que é isso, mãe? Larga o meu celular! Não tem nada pra você aqui! Sai da minha casa!
-Será mesmo que não tem nada? - questiona Raquel.
FIM DO CAPÍTULO 151.

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