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quinta-feira, 3 de novembro de 2016

CAPÍTULO 148 - ÚLTIMOS CAPÍTULOS

CENA 1: Marion chora junto do marido.
-Como é que você permitiu que isso acontecesse outra vez de tanto tempo?
-Foi mais forte que eu, Marion... eu sinto muito.
-Sente muito? Você tem noção do que isso significa? Lembra que nos levou praticamente à falência?
-Eu lembro... eu não vou fazer isso de novo.
-Quem me garante, Ivan? Quem? Só que agora as coisas são completamente diferentes. O dinheiro e o sustento de muito mais gente está em risco se você continuar com esse vício maldito, você não percebe isso?
-Claro que percebo...
-Não, não percebe! Sabe qual foi meu erro, amor? Ter passado a mão na sua cabeça... não ter insistido mais pra que você fosse aos Jogadores Anônimos. A culpa também é minha por ter empurrado esse problema com a barriga por mais de vinte anos. Você é viciado, precisa se tratar. Você pode arruinar com nossos bens de novo e agora a coisa é mais grave que antes porque o Vicente tem a Fermata Visual, será que você não vê? Será que não percebe que você pode colocar o dinheiro da Riva nisso também? Chega, Ivan! Chega! Essa situação já passou de qualquer limite. Está insustentável!
-Mas você está contra mim? Você me disse que sempre estaria ao meu lado.
-Pelo amor de todos os deuses, Ivan! Não seja infantil! Você tem cinquenta e cinco ou cinco anos? Acorda pra vida, amor! Estar ao seu lado não significa concordar sempre com tudo. Ou eu vou ter que refrescar sua memória pra te lembrar de tudo o que o Haroldo, seu filho, viveu de ruim por ter herdado esse vício de você? Por que você não se espelhou nele? Ele venceu esse fantasma dentro dele. Se ele conseguiu, por que você não consegue? Me diz!
Marion se desespera e chora. Ivan fica arrependido.
-Eu nem sei que palavras usar... eu realmente quero acabar com tudo isso.
-Será que quer mesmo, Ivan? Há vinte e dois anos eu te conheço... e há vinte e dois anos você sempre diz que vai ser a última vez. Chega, Ivan. Você precisa parar de falar. Tem que agir mais. Você sabe perfeitamente o que fazer. E te digo mais: por mais que eu te ame, se você não for buscar ajuda profissional, eu peço divórcio. Tá me ouvindo? Não me custa nada sair dessa casa e recomeçar minha vida, por mais que eu te ame mais que tudo.
-Eu não sei viver sem você, Marion. Você é a luz dos meus dias, a razão pela qual eu quero viver por mais trinta anos no mínimo.
-Então faça por onde, meu amor. Não faça isso com você mesmo, não faça isso com nós dois. Eu estou exausta.
-Tá certo. Eu vou procurar os Jogadores Anônimos.
-Se for pra procurar, que seja imediatamente.
-Mas já é de madrugada, amor.
-Ivan, você não me enrole. Amanhã pela manhã, sem falta, você entra em contato com eles. Se quiser eu vou com você. Você quer realmente mudar? Então vai ter que ser do meu jeito. Senão você já sabe...
-Eu aceito qualquer condição que você impuser.
-Não são imposições. É pelo seu bem... você sabe disso.
-Amanhã, sem falta... no máximo depois de amanhã, eu prometo.
-Eu realmente espero que dessa vez você esteja disposto a se livrar desse vício de uma vez por todas.
Marion abraça o marido, apreensiva. CORTA A CENA.

CENA 2: Na manhã do dia seguinte, Rafael conta a Marcelo sobre seus novos planos.
-Acredita que eu já tenho a ideia para um novo roteiro?
-Que? Mas amor, “Heróis Reais” mal começou...
-É justamente por isso... pelo sucesso dessa primeira investida que nós fizemos, juntos.
-Sei. Sobre o que se trata essa nova ideia?
-Ainda tá bem embrionária... sei que você vai me ajudar a desenvolver tudo. Afinal de contas, como escritor, você é infinitamente melhor e mais talentoso que eu.
-Não se subestime, Rafael... se não fossem as suas ideias, eu não teria nem como dar sequência aos diálogos e ações.
-É, mas eu jamais saberia escrever do jeito que você escreve. Reconheço que sozinho não conseguiria... nós somos uma dupla... sem você, nem mesmo “Heróis Reais” alcançaria o sucesso que tem alcançado.
-Ah, pare de me superestimar e de se subestimar. Se não fossem as suas ideias é que nada disso seria possível. Sabe-se lá quanto tempo levaria pro Vicente fazer a Fermata Visual ter sucesso. Nós somos como uma equipe. Nosso trabalho em conjunto é o que tá construindo tudo isso, mas... chega dessa rasgação de seda: será que você pode revelar sobre essa sua nova ideia?
-Tava pensando numa trama que abordasse as questões de gênero. Com foco principal em atores e atrizes trans. De nada adiantaria chamar pessoas cisgêneras para interpretarem transexuais, porque disso a TV já tá cheia. É um projeto ambicioso, vai levar tempo ainda...
-Amei a ideia! Sem falar que deve haver por aí muitas atrizes e muitos atores transexuais que estão esperando justamente por uma oportunidade de trabalho.
-É justamente por isso que essa ideia ainda pode demorar a sair do papel. Por mais que a Fermata Visual esteja fazendo todo o sucesso que a gente sabe que tá fazendo, o Vicente ainda precisa expandir a empresa...
-Verdade. Afinal de contas, os profissionais precisam ser bem remunerados, ninguém é relógio pra trabalhar de graça.
-Mesmo o relógio só funciona se tiver pilha, né...
-Bobo, você entendeu a analogia, não faz a louca da correção aqui...
Os dois seguem conversando. CORTA A CENA.

CENA 3: Suzanne bate no apartamento de Guilherme e ele se surpreende por ela ter encontrado ele.
-Como é que você sabia?
-Rapaz... quando você tá indo, eu já fui, já voltei e já peguei o mapa da mina. É óbvio que você se esconderia aqui... todo mundo pensando que você ainda tá fugido em algum lugar do mundo, nenhuma atenção se voltaria pro lugar mais óbvio: seu apartamento.
-Tá, quer um biscoitinho pela sua esperteza? Tá em falta, fofa... tou sem dinheiro e você sabe porque...
-Quanto é que você tá precisando?
-De uns noventa mil.
-Que? Você tá doido?
-Você sabe que eu sou doido, mesmo. É isso ou nada feito, daí eu não me responsabilizo pelo que pode acontecer.
-Isso é uma ameaça, fedelho?
-Entenda como uma, se você preferir.
-Você realmente acha que tem como bater de frente comigo... qual é a garantia que eu tenho que você vai dar o fora desse país assim que eu te der esse dinheiro?
-Garantia nenhuma. Eu não pretendo deixar o país de imediato, você sabe muito bem disso.
-Posso saber o motivo?
-Tou me divertindo sendo Henrique. É a oportunidade de andar livre na rua sem ser pego.
-Se você acha que essa barba e essa tinta no seu cabelo mudou muita coisa, se engana. Dá pra te reconhecer fácil, ainda. Você não pode ficar dando bobeira por aí.
-Ah, Suzanne... eu quero me divertir um pouco antes. Terminar algumas coisinhas que deixei pendentes.
-Eu espero que você esteja falando só da facção. Se você tocar um dedo que seja no meu filho, eu te mato! Com minhas próprias mãos!
Guilherme percebe a fúria de Suzanne e muda de assunto.
-Não... eu só quero mesmo é me divertir um pouco... e ver a estreia do Cláudio no monólogo... tenho certeza que essa vidinha de ator de merda que ele acha que pode levar não vai dar em nada. Vou gostar de ver ele quebrando a cara.
-Se for só isso, eu te libero a grana. Mas você tem que me prometer que vai sumir desse país assim que puder.
-Tá... eu prometo. Quando você vem com a grana?
-Hoje mesmo. E não se esqueça que eu sei onde você tá se escondendo. Acompanho cada passo seu.
CORTA A CENA.

CENA 4: Márcio chama Marcelo e Cláudio para contar sobre sua decisão final.
-Filhos... eu andei pensando muito em tudo o que a gente conversou. - fala Márcio.
-É sobre a possibilidade de você voltar pra sua cidade natal? - questiona Cláudio.
-Não vai me dizer que resolveu ir embora... - preocupa-se Marcelo.
-Nada disso, meus filhos. Eu pensei muito em todas as coisas... em tudo o que a gente tem vivido nesses últimos tempos. Eu não tinha uma família, mas agora eu tenho. Tudo isso é muito mais importante pra mim, tem muito mais valor do que matar as saudades de memórias que nem seriam tão boas assim. Minha família são vocês e a dona Raquel, minha mãe do coração. Eu decidi ficar! - fala Márcio.
Cláudio e Marcelo abraçam Márcio aliviados.
-Até que enfim uma decisão acertada! Eu ia morrer de saudade de você, pai... - fala Marcelo.
-Melhor assim... eu não iria querer perder meu pai de vista justo agora que a gente tem essa relação tão boa... - fala Cláudio.
-Vocês não me perderiam, queridos. Nunca vão me perder. Eu só estaria mais distante, mas pensei melhor e percebi que estou melhor aqui, com vocês. E mesmo que um dia eu venha a me ausentar, nunca se esqueçam de que eu amo vocês mais que tudo nessa vida... - fala Márcio.
-Nada de falar essas coisas que assim fica parecendo até que você tá morrendo, eu hein... - fala Marcelo.
Os três seguem a conversar. CORTA A CENA.

CENA 5: Vicente chega com novos equipamentos profissionais adquiridos e Riva se surpreende.
-Quanta coisa, Vicente! Você disse que ia comprar só umas coisinhas...
-É, mas agora a Fermata Visual tá tomando um rumo mais profissional. Óbvio que precisaria de equipamentos profissionais.
-Mas é um dinheiro incalculável que vai nisso. E se der zebra? Vai que as emissoras realmente conseguem sabotar a Fermata Visual? O prejuízo vai ser todo nosso...
-Com o Leandro César Martins contratado, a coisa muda de figura. Depois, a gente sabia que poderia perder dinheiro.
-Sim, mas quando que a coisa vai começar a render lucros suficientes pra pagarem tudo o que a gente tem investido? Não tenho medo de ficar pobre de novo, meu medo é que a Fermata Visual acabe fracassando e isso te deixe triste.
-Amor... a gente sonha esse sonho junto. Eu, você e todo mundo nessa casa. A gente sabe que pode não dar em muita coisa, mas também pode dar muito certo.
-Esse seu otimismo me encanta. Depois, a gente já foi até premiado por causa de uma produção da Fermata...
-Eu tava indo falar sobre isso, mas você já disse o óbvio: o reconhecimento está vindo numa velocidade incrível!
-Agora que me dei conta: em pouco tempo a gente pode estar produzindo a primeira novela para internet!
-Primeira não vai ser, mas fiel ao formato de telenovela, talvez...
Os dois seguem a conversar, animados. CORTA A CENA.

CENA 6: Bruno e Cláudio pesquisam as canções que vão escolher para a festa de casamento que planejam.
-Precisa dessa antecedência toda, Cláudio? A gente nem sabe direito ainda quando vai ser o casamento da gente...
-É, mas é melhor escolher as músicas logo. Mesmo que eu esteja pensando numa festinha pequena, aqui em casa mesmo.
-Pequena pode até ser, mas quem entende como ninguém de música nessa vida é meu pai, acho que tínhamos que falar com ele, isso sim.
-Até parece que você não sabe que tanto o seu Setembrino quanto a dona Vânia iriam querer uma festa daquelas, cheia de convidados... você é filho deles e sabe melhor que eu.
-E daí? A gente tem um monte de amigo, mesmo! Qual é o problema de chamar todo mundo?
-Mas com que tempo, Bruno? Assim que eu liberar da primeira temporada da peça, a gente casa. E isso vai ser decidido às pressas... nas coxas, entende? Não temos tempo de pensar numa coisa grande.
-Enfim... que seja. Eu pensei que uma música que tem a sua cara de cabo a rabo é aquela da Rumer.
-Qual? São tantas as músicas dessa mulher que eu amo...
-Eu acho “You Just Don't Know People” a sua cara, do começo ao fim.
-Ai, que tudo! Também me identifico!
-Agora eu tou tendo dificuldade de achar uma que fale por mim e outra que fale por nós...
-Lá vem brainstorm dos bravos...
CORTA A CENA.

CENA 7: Márcio liga para Raquel.
-Tou te atrapalhando, mãezinha?
-Nunca, Márcio. Pra você eu sempre arranjo um tempo...
-Tava precisando dar uma conversada com você...
-Claro, querido, pode falar!
-Na verdade eu queria te contar de uma decisão que tomei sobre um assunto que eu nem tinha te contado antes pra não te deixar chateada.
-Tem a ver com a Suzanne?
-Felizmente, dessa vez não. Na realidade, eu andei pensando muito seriamente em voltar pra Barra de São João. Sabe... tentar recuperar alguma coisa de boa que eu pudesse ter deixado de mim por lá. Mas meus filhos acabaram se opondo e eu repensei toda minha vida. Descobri que sou mais feliz aqui na capital, perto da minha família, perto de você, mãezinha... então decidi ficar.
-Acho muito bom que você não tenha decidido abandonar a sua mãe do coração, seu menino malcriado! Agora entendi porque tava sentindo um tom de despedida quando a gente conversou aquele dia...
-Era isso, dona Raquel... só que não tive coragem de te dizer o que eu tava pensando.
-E se me dissesse, eu ia me juntar com o Cláudio e com o Marcelo.
-Sei bem disso. Desculpa se eu pensei em largar tudo... é que nessa vontade de recomeçar tudo às vezes eu me perco.
-Justamente por isso, meu querido... é nesses momentos que você deve lembrar que tem uma família e amigos com quem pode contar. Riva, Vicente e todo mundo também não iam gostar de saber que você tá longe... enfim, meu querido... agora eu vou precisar desligar que ainda tenho trabalho de sobra pela frente...
CORTA A CENA.

CENA 8: Valquíria mostra a Marion um roteiro que escreveu.
-Então, minha filha... eu guardei esse segredo por trinta e tantos anos...
-Mamãe! Esse roteiro é sensacional... tem um potencial dramatúrgico imenso... e agora com o Leandro César Martins contratado pela Fermata... gente, fico pensando coisas!
-Não é pra tanto, Marion... acho até meio bobo esse roteiro que escrevi... tem tanto tempo, sabe? Tudo mudou de lá pra cá...
-Mas esse roteiro nas mãos de um autor feito o Leandro pode virar inclusive uma novela, sabia?
-Você acha, filha?
-Tenho certeza, mãe. Esse roteiro é sensacional... e pode ser perfeitamente atualizado para os tempos atuais, vai por mim.
-Se você diz, eu até começo a acreditar que dou pra ser autora.
-Claro que sim, dona Valquíria! Não venha você se subestimando agora... isso aqui pode render uma obra e tanto! Vou mostrar ao Vicente e ao Leandro, com certeza.
-Mas já? Fico com vergonha, filha...
-Pare com isso. Nessa vida a gente tem que colocar a cara no sol, mãe...
Valquíria fica apreensiva, porém empolgada com a ideia.
-Ai... será? Acho que já realizei tantos sonhos nesses últimos tempos...
-Mãe... nenhum sonho jamais deve ser ignorado. Se a gente tiver meios de realizar esses sonhos, por que não?
-Olha que desse jeito eu começo a levar a sério.
-E é pra levar mesmo!
CORTA A CENA.

CENA 9: Haroldo, Mateus e Laura estão a caminho de casa depois de um passeio.
-Gente, não tem nada melhor nessa vida do que andar por aí sem rumo... acho sempre uma delícia! - fala Laura.
Haroldo percebe que alguém os segue e tenta disfarçar, mas Mateus percebe.
-Tá acontecendo alguma coisa, amor? Cê ficou com uma cara fechada... - observa Mateus.
-Nada não... - desconversa Haroldo.
Laura, no entanto, percebe juntamente de Mateus que uma pessoa os segue.
-Tem alguém nos seguindo... - assusta-se Laura.
-Não pode ser! - desespera-se Mateus.
Os três começam a caminhar com pressa, temendo serem agredidos.

FIM DO CAPÍTULO 148.

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