CENA 1: Cláudio vai,
apreensivo, até a sala conversar com Valentim.
-Oi, Valentim... espero que o
assunto que você tem a tratar comigo não seja o que estou pensando.
-Eu não sei o que você está
pensando, mas tem a ver com o Guilherme.
-Ai, meu Deus... que seja pelo
menos uma notícia boa. Ele foi recapturado?
-Infelizmente não. Na
realidade ele andava se comunicando com algumas pessoas até pouco
tempo, como você sabe. Só que faz algum tempo que ele não dá mais
sinal de vida e isso pode significar que ele tenha fugido para longe.
-Isso significa algo bom?
Porque sinceramente, já chega desse pesadelo, Valentim. Só de
pensar que qualquer um de nós pode voltar a correr risco por culpa
desse babaca eu fico muito mal...
-Pois pode se tranquilizar,
meu querido. Tudo indica que ele tenha fugido do país e que tenha
utilizado uma identidade falsa. Para que seja possível descobrir
isso, já estou encaminhando investigações mais apuradas. A
Interpol já está avisada e com isso, ele não vai mais estar seguro
em qualquer lugar do mundo onde estiver, se realmente tiver saído do
país com uma identidade falsa.
-Fico aliviado por saber
disso, de verdade. Pra me livrar completamente das lembranças desse
infeliz, só falta vender o carro que acabou ficando comigo. Assim
ele deixa de assombrar de vez.
-Faça isso, Cláudio, mas
mesmo diante dessa possibilidade, é importante que você nunca baixe
a guarda. Nem você, nem ninguém que possa ser potencialmente um
alvo dele.
-Mas você não disse que
provavelmente ele nem no país tá mais pra poder fazer algo contra
mim ou qualquer pessoa?
-Sim, Cláudio, eu disse...
mas veja bem: isso é uma suposição. Cem por cento de certeza só
vai ser possível se a Interpol pegar ele... ou se a polícia acabar
capturando ele aqui mesmo no Rio.
-Então sinceramente não tou
compreendendo muito bem porque você se abalou até aqui pra me dizer
tudo isso.
-Eu te explico: foi pra avisar
que, apesar de tudo estar aparentemente mais tranquilo, vou estender
a proteção policial a vocês por mais algumas semanas, entendeu? É
só pra garantir, mesmo. Se você preferir, posso solicitar que
mantenham alguma distância de você, inclusive. Sei que você se
sente sufocado com essa coisa toda.
-Me sinto mesmo, Valentim. A
sensação de estar protegido em si é boa, mas prefiro alguma
distância, inclusive porque pessoalmente eu acho isso mais seguro do
que dar na cara de qualquer um que estou ou estamos escoltados.
-Perfeito. Eu vou repassar as
ordens aos policiais, então. Mas se eu fosse você, Cláudio, eu me
tranquilizava de agora em diante. Agora é vida nova e completamente
livre, sem temer que algo de ruim aconteça. Você já parou coisas
demais nesses últimos tempos.
-Sim, Valentim... mas nem foi
tanto pelo medo, é que foi muita coisa em pouco tempo, mesmo.
Primeiro a passagem por Coroados, depois os meus sogros vindo morar
conosco, depois a dona Vânia precisando de transplante e o Bruno
doando um rim... quando vi não tinha mais tempo nem de pensart
direito, quanto mais de ir à companhia de teatro por exemplo. Mas
agora, que tá tudo mais tranquilo, já dá pra pensar em retomar a
rotina como ela era antes.
-Se eu fosse você, eu faria
exatamente isso.
-É o melhor que posso fazer
por mim e por todo mundo que me rodeia, por todos que amo e por todos
que me amam.
-Isso aí, Cláudio. Eu sinto
muito se atrapalhei seu momento, mas era meu dever como investigador
te falar sobre o que vem acontecendo, afinal você é a parte mais
interessada em saber de tudo.
-Relaxa, Valentim. Eu fico na
verdade é agradecido por sua consideração... se o Guilherme
realmente tiver dado no pé, ainda que não seja o ideal, é melhor
pra mim e todo mundo. Queria ver ele preso, trancafiado lá na
instituição, mas se isso não tem como acontecer agora, pelo menos
já consola saber que a gente pode respirar aliviado depois de tanta
tensão que esse demente causou na minha vida e na vida de todo mundo
que me rodeou.
-Agora é tempo de começar de
novo, Cláudio.
-É exatamente isso que vou
fazer. A começar pelo grupo de teatro que morro de saudade.
-Faz bem, rapaz. Bem, agora eu
preciso ir porque ainda tenho trabalho pela frente hoje. Fique
sossegado, Cláudio.
Valentim deixa a mansão.
CORTA A CENA.
CENA 2: Na manhã do dia
seguinte, Cláudio chega cedo à companhia de teatro assim que
Procópio abre o local.
-Que surpresa te ver aqui,
Cláudio! Resolveu voltar de vez, agora?
-Nem devia ter saído, né...
mas foi tanta coisa, Procópio... primeiro aquela loucura toda do
casamento que foi sem nunca ter sido porque meu santo é forte,
depois essa função do Bruno doando rim pra mãe dele... enfim, uma
doideira só. Tou podre de chique agora, morando na casa da família,
vê se pode?
-Eta vida que nunca para de
dar voltas. Se a gente tiver labirintite, se estrebucha no chão!
Os dois riem.
-Senti falta desse seu humor
único, Procópio.
-Deixa ver se entendi: isso
significa que você tá mesmo de volta?
-Se você não se opuser...
-E por que eu me oporia? Você
é um dos atores mais talentosos que já tive...
-Então eu tou mesmo aceito de
volta?
-As portas nunca se fecharam,
Cláudio. Você sabe como eu sou e deveria saber disso.
-Bem... eu espero que tenha
alguma nova peça pintando por aí...
-Digamos que eu tenha algumas
ideias. Mas ainda é cedo pra dar mais detalhes.
-Você não muda mesmo, hein?
Sempre cheio dos mistérios...
-Faz parte do meu show, como
diria Cazuza. Depois, eu ainda tou concentrando todas as atenções
na “Segredos de Travesseiro”.
-Tá fazendo um sucesso
danado, né? Que sorte que vocês deram... a Laura e os meninos
merecem.
-Podia estar em turnê pelo
Brasil, se não fosse pela pressão dos mais conservadores. Mas,
enquanto a gente não reverte essa arbitrariedade, continuamos
apresentando por aqui.
-Nem fale. Acho tudo isso tão
absurdo que sinceramente nem consigo encontrar adjetivos pra
expressar o que sinto diante dessa gente que fica apontando o dedo
pra todo mundo o tempo inteiro...
-Depois dizem que a educação
e a arte não libertam... veja o que a falta de conhecimento e falta
de sensibilidade artística pode fazer com o ser humano...
-Enquanto isso, os “homens
de bem” insistindo que arte é coisa de vagabundo... lamentável.
-Mas... chega de lamúria. É
aquele velho ditado: o que não tem remédio, remediado está.
-Ah... mas bem que essa gente
de ódio podia sentir o amargo do próprio fel.
-Verdade. Mas enquanto isso
não acontece, a gente tem trabalho a fazer. A despeito do que dizem
os ignorantes, o trabalho aqui é árduo.
-E eu bem sei disso. Se isso
for ser vagabundo... porra... que quer dizer ser trabalhador então,
né?
Os dois riem.
-Vem comigo. Daqui a pouco a
Mara chega pra definir as dinâmicas do dia.
CORTA A CENA.
CENA 3: Vicente convoca
Rafael, Marion, Marcelo e Riva para ensaiarem e gravarem pela
primeira vez nos estúdios prontos da produtora.
-Espero que todo mundo esteja
bem descansado, porque a gente vai ter uma boa quantidade de coisas a
fazer hoje. - fala Vicente.
-Descansado a gente tá, mas
eu adoraria saber qual é a ideia que você tá tendo pra hoje... -
fala Marcelo.
-Então, gente... como falta
ainda fazer os ajustes finais no roteiro do Rafa, eu tava pensando
que a gente podia primeiro gravar cada um de vocês fazendo uma
espécie de teste... tipo os testes que tem nas emissoras, só que
sem valor de avaliação. Eu separei pra cada um de vocês textos
escritos por mim mesmo, aleatórios, pra que vocês possam ler e
escolher qual vocês se identificam mais, então a partir disso a
gente dá uma ensaiada rápida e depois eu gravo cada um de vocês
com o texto escolhido. O que acham da ideia? - fala Vicente.
-Adorei a ideia, amor! Assim a
gente já pode ir imaginando como é trabalhar aqui. É como se fosse
trabalhar na emissora, só que numa escala menor... - fala Riva.
-Com a diferença que nós
mesmos definimos nossa escala de trabalho... - fala Rafael.
-Ih, Rafael, vai sonhando. Tão
achando que eu não sei ser chefe carrasco? Me aguardem, me aguardem!
- brinca Vicente.
-E os textos, Vicente? Onde
estão? - pergunta Marion.
-Estão aqui comigo. Vou
entregar todos eles a vocês e vocês escolhem o que mais se
identificam. A partir disso a gente dá uma ensaiada e depois
gravamos. - finaliza Vicente, entregando os textos para todos
analisarem. CORTA A CENA.
CENA 4: Victor confidencia a
Diogo planos para o futuro.
-O que você acha da gente
sair aqui do Brasil depois que a gente se casar?
-Ah, Victor... a gente pode
pensar nisso, sim. Mas quais países você gostaria de visitar?
-Então, amor... eu não tou
pensando em visita turística.
-Não? Deixa ver se entendi
direitinho: você quer que a gente não more mais aqui no Brasil?
-Andei pensando muito em tudo
isso ultimamente, Diogo. Você sabe que sempre tive uma ligação
forte com a Inglaterra, por causa dos meus antepassados.
-É, mas ainda assim... você
não tem parentes vivos lá.
-Só que ainda tenho dupla
nacionalidade, bobo. Minha avó materna era de lá.
-Então você tá pensando que
a gente podia se mudar pra lá? É isso?
-Não vejo maiores
impedimentos pra que isso seja possível no futuro.
-Por você pode não haver
impedimentos, mas para mim? Não tenho descendência nem de terceira
geração, quanto mais de lá.
-Mas é aí que tá, bobo...
você vai estar casado com alguém que tem a cidadania.
-Ai, amor... não sei. Não
acha melhor a gente deixar pra pensar nisso outra hora, depois que a
gente já estiver com nosso casamento oficializado diante da lei?
Porque por mais que você tenha essas facilidades, até onde sei isso
exigiria alguns trâmites que podem ser meio demorados,
principalmente por minha conta. Depois, não tenho tanta certeza de
que me adaptaria a uma vida fora daqui... são culturas diferentes,
entende? Não sei se eu suportaria o choque cultural e ainda me
deparar com o possível preconceito que pode rolar contra latinos,
que é o que nós somos...
-Nossa, Diogo... eu não tinha
parado pra pensar em tudo isso. Mas olhando por esse lado, o melhor
que a gente tem a fazer agora é focar no nosso casamento, mesmo...
pra depois ir pensando no que a gente pode fazer.
-Né não? Então, voltando ao
casamento... eu tava pensando que a gente podia chamar aqueles seus
ex colegas pra festa, o que você acha?
-Pode ser, amor... mas ainda
assim, amigos meus eles nunca foram. São conhecidos.
-Mesmo assim, né... acho que
seria de bom tom convidar quem já participou da sua vida em algum
momento.
-Pode ser. Mas se eles
recusarem o convite, não vou me importar. Os poucos amigos que eu
fiz são os seus amigos também... então eu me sentiria melhor numa
festa mais íntima, mesmo.
-Não, mas você tá certo,
Victor... a festa vai ser mais fechada, mesmo. Até porque não tem
muito espaço nesse apartamento e a gente não pode fazer muito
barulho pra não correr o risco de pagar multa depois.
-É tanta coisa pra pensar que
a cada detalhe novo eu fico é mais empolgado com o nosso
casamento...
-Assim que gosto de te ver,
amor... animado, feliz, cheio de vida e disposição.
CORTA A CENA.
CENA 5: Adelaide tem uma
conversa com Cleiton sobre as ameaças que recebeu recentemente do
pastor e dos religiosos.
-Pra mim já foi esgotada
qualquer possibilidade de diálogo civilizado com o pastor e com os
seguidores dele, Cleiton... já chega de ser intimidada por essa
gente.
-Assim que é bom te ver,
Adelaide. Cada vez mais firme e segura de si.
-É absurdo tudo isso. Essa
gente fala de Deus, de amor, mas tudo o que essa gente deseja é
poder. Não é a toa que estão invadindo a política. Não é sobre
ensinamentos religiosos... é sobre poder... podre, por sinal.
-Verdade. Acho que nossa
militância, principalmente sua futura candidatura, vai ajudar muita
gente a sair desse meio tão pernicioso.
-Mas eu quero mais que isso,
Cleiton. Eu quero denunciar formalmente o pastor e todo mundo que se
envolveu nos esquemas de corrupção daquela igreja.
-Você tem certeza disso,
amor? Você sabe que vai ser bastante criticada e perseguida, não
sabe?
-Nada sai de graça nessa
vida, amor. Se esse for o preço, eu pago.
-Admiro a sua força,
Adelaide.
-Não sei se é de se admirar.
Mas o que não posso fazer, definitivamente, é me curvar a esse tipo
de coisa. Não mais. Já foram décadas de silêncio, acuada por uma
série de coisas. Muito antes de eu pensar em deixar a religião eu
já me sentia sufocada. Essa gente manipula o medo da gente... faz
terrorismo psicológico. Deveriam ser responsabilizados por isso
também... quantos jovens LGBT inseridos em famílias de fieis acabam
odiando a si mesmos? Quantos tentam suicídio? É isso que eu quero
combater com a denúncia. Vidas estão em jogos... ninguém mais
merece morrer em nome de Deus algum. A inquisição não pode voltar.
-Depois você não quer que eu
te admire, amor... você está cada vez mais forte... a cada dia que
passa. Essa luz que vem de você me deixa mais apaixonado ainda por
você. Como se nós fôssemos aqueles garotos na faculdade. Cheios de
sonhos, acreditando num futuro melhor. Esse brilho no seu olhar só
me alegra...
-É, Cleiton... eu acho que
essa chama da nossa juventude nunca saiu de mim... já perdi tempo
demais num caminho que não era bom percorrer. Demorei muito tempo
pra entender que a igreja que frequentamos era completamente
contrária a tudo o que a gente sempre defendeu ideológica e
politicamente... essas igrejas se alinham com a direita, com o
conservadorismo. E eu prefiro distância de tudo isso...
-Faço minhas as suas
palavras, amor... mas chega um pouco dessa conversa toda. Porque essa
sua chama tá acendendo outra chama, só que em mim.
-Bobo...
Os dois se amam. CORTA A CENA.
CENA 6: Laura vai acompanhada
de Haroldo e Mateus fazer uma ecografia.
-Laura Velasquez Vieira, pode
vir comigo... - fala a médica.
-Os meninos podem me
acompanhar? Eles estão curiosos sobre o bebê, também... - fala
Laura.
-Claro que podem. - fala a
médica.
-Vamos ficar quietinhos, pode
deixar. - fala Haroldo, ansioso.
Laura se acomoda e a ecografia
começa a ser realizada.
-A gestação está indo muito
bem, Laura. Você está com aproximadamente treze a catorze semanas
de gestação e os batimentos do bebê estão dentro da normalidade.
Tamanho também está dentro das expectativas... pelo visto você
anda se alimentando bem. - observa a médica.
-Estou sim, doutora. E também
não deixei de praticar atividades físicas. Nem preciso fazer
academia, porque o teatro já me faz gastar bastante energia. - fala
Laura.
-Excelente. - continua a
médica.
-Doutora, tem como já saber o
sexo da criança? - pergunta Mateus.
-Ai, meu Deus! Mal fechei três
meses, meninos, vocês sosseguem, viu? - repreende Laura.
-Mas dá pra saber, sim... só
vou precisar prestar um pouco de atenção e torcer pro bebê se
virar numa posição que seja visível... - fala a médica.
A médica segue examinando e
reconhece o sexo da criança.
-É, Laura... já deu pra ver
o sexo, sim. Você vai ser mãe de um menino! Parabéns! - fala a
médica.
Haroldo se emociona.
-Quer dizer que meu primeiro
filho vai ser um menino... gente, que coisa linda! Precisamos pensar
num nome pra ele... - fala Haroldo.
-Vamos pensar nisso mais pra
frente... talvez só mais pro fim da gravidez, se vocês não se
importarem... - fala Laura, emocionada.
Mateus e Haroldo afagam Laura.
CORTA A CENA.
CENA 7: Horas depois, Riva,
Marion, Marcelo e Rafael estão exaustos de ensaiarem e gravarem seus
textos para os vídeos de divulgação da produtora de Vicente.
-É isso, meus queridos.
Temos! - fala Vicente.
-Nossa, já tava sentindo
falta desse cansaço gostoso... - fala Rafael.
-Verdade, filho. É uma
delícia se cansar fazendo o que a gente ama... - fala Marion.
-E vocês foram muito bem.
Riva, meu amor... se existia alguma dúvida de que você é atriz de
mão cheia, só digo que você arrasou na sua escolha de interpretar
a cafetina. Virou outra pessoa e a câmera gosta de você! - fala
Vicente.
-Não adianta, nasci com esse
amor pela arte. Tenho sorte de viver essa vida agora e poder colocar
pra fora essa arte toda... só eu sei o quanto eu sonhei com tudo
isso desde garota... - fala Riva.
-Eu também sei, boba...
esqueceu que a gente sonhava junto? Velhos tempos... justo a dona
Valquíria, que nos proibia até de ter TV em casa, acabou virando
atriz depois de idosa... essa vida é mesmo uma coisa muito louca...
- fala Marion.
-Tão louca que eu mesmo nunca
imaginei que fosse me tornar ator, quanto mais descobrir que o amor à
arte vivia desse jeito dentro de mim... - fala Marcelo.
-Aliás, Marcelo... você é
outro que arrebentou com a personagem que escolheu. Quando a gente
colocar esses vídeos no site da produtora, tudo isso vai bombar, eu
sinto! - empolga-se Vicente.
-Que os anjos passem e digam
amém! - fala Rafael.
-Falar na produtora,
queridos... já decidi o nome. Vai se chamar “Fermata Visual”...
a ideia é que isso cause no inconsciente do expectador a sensação
de que todas as nossas produções possuem catarses, aquele momento
de clímax, aquela pausa dramática... então considerei que juntar
música com artes visuais, no nome, seria algo apropriado. - fala
Vicente.
Todos seguem a conversar.
CORTA A CENA.
CENA 8: Suzanne está no
apartamento, apreensiva.
-Preciso dar um jeito de fazer
essa investigação parar... senão é bem capaz de acharem que eu
tenho alguma coisa com aquele maluco do Guilherme. Até explicar pra
polícia que eu só banquei a coisa toda, se descobrirem, pra me
livrar de uma vez por todas dele, eu posso entrar em maus lençóis...
e depois, ninguém acreditaria que eu só quis proteger meu filho da
fúria insana daquele maluco... como é que eu vou conseguir tirar o
foco dessas investigações disso, se a minha mãe tá super
desconfiada de tudo? Eu devia ter deixado aquele verme se foder
sozinho... mas não podia arriscar. O Cláudio poderia correr risco
por causa da loucura do Guilherme. Eu tenho mesmo é merda na cabeça,
agora eu posso realmente me complicar pela primeira vez com a polícia
em todos esses anos justamente para proteger meu filho. Isso não é
justo! Eu não quis ser mãe! Eu não nasci pra isso! Ele vive melhor
sem a minha presença... talvez nem tivesse se tornado esse menino
bom se eu tivesse topado criar o menino como o Márcio tanto insistiu
antes dele nascer... ia ter visto a própria mãe aplicando golpes,
ia aprender a tirar vantagem de tudo. Nenhuma criança merece isso.
Nem o Márcio entenderia porque eu fiz essa escolha. Ninguém
entenderia. Eu não presto, nunca prestei... mas criança nenhuma
nesse mundo nasce assim, estragada como eu fiquei. Se não fosse a
traição do meu pai, talvez eu nunca tivesse me tornado esse
monstro. Ele acabou com o que tinha de bom em mim... e eu preciso dar
um jeito de fazer essa investigação parar. Vão me associar com o
Guilherme quando eu só quis livrar todo mundo dele...
Suzanne segue apreensiva.
CORTA A CENA.
CENA 9: Horas mais tarde,
Cláudio já dorme ao lado de Bruno e aparecem as imagens de seu
sonho.
No sonho, Cláudio e Bruno se
casam e andam tranquilos pelas ruas, fazendo planos e se amando.
Logo depois, Cláudio se vê
na companhia de teatro, ensaiando primeiro e logo depois apresentando
uma cena de uma peça que sequer existe. Durante essa cena, alguém
na plateia começa a gritar.
-Fogo! Fogo! Esse lugar está
pegando fogo!
Cláudio, ainda no sonho, vê
que o teatro está sendo tomado pelas chamas e se desespera. Tenta
ajudar Procópio e todos os presentes a apagar o fogo, quando alguém
surge em meio às chamas, triunfante e com uma risada maliciosa.
-Estão gostando do showzinho
que eu preparei, seus traidores? Agora vocês vão queimar no mesmo
inferno que me colocaram!
Cláudio reconhece Guilherme e
se acorda gritando.
-Fogo! - grita Cláudio,
acordando Bruno. FIM DO CAPÍTULO 134.
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