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sábado, 29 de outubro de 2016

CAPÍTULO 144 - ÚLTIMAS SEMANAS

CENA 1: Suzanne encara Valentim e começa a gargalhar.
-Ai, você é mesmo um cara muito cheio de si! O que você espera que eu diga a você? Nem temos mais o que falar, afinal de contas eu tou livre das acusações que foram feitas contra mim.
-Você sabe que esconde o jogo, Suzanne. Eu não estou aqui como investigador, estou aqui como pessoa.
-Piorou mais ainda a situação. Me surpreende um sujeito como você, aparentemente tão inteligente, vir atrás de mim pra “conversar”. Tenho mais o que fazer da minha vida, viu? A não ser que você queira aproveitar o tempo comigo de outra forma...
-Não é preciso se jogar pra cima de mim, Suzanne. Sou fiel à Mara. Você sabe porque eu vim aqui.
-Acho que não sei, não... poderia ser mais claro, por favor? Ainda não chegou a minha bola de cristal que mandei vir da Índia...
-Você nunca perde uma oportunidade de ser irônica, impressionante... enfim, eu vim aqui pra saber o que você esconde. E nem adianta me negar que eu sei que você esconde muita coisa e sei que você está sim por trás da fuga do Guilherme do país. Quanto você conseguiu de dinheiro pra ele falsificar identidade e dar o fora daqui, hein?
-Cê tá bem louco achando que eu vou falar alguma coisa, né? Você não sabe de nada, Valentim. Tá só jogando verde pra ver se consegue colher maduro. Que papelão, Valentim... que papelão! Um cara com trinta anos de profissão agindo dessa maneira tão primária. Fez escola onde? Na loucademia de polícia? Ou será que fez curso de dramaturgia numa escola mexicana? Que sujeitinho bem cheio de si que você é, pelo amor de Deus...
-Você não precisa me esconder nada, Suzanne. Estou aqui como cidadão, eu prometo que tudo o que a gente conversar aqui vai ficar entre nós...
-Quem não te conhece que te compre, cara... como cidadão você pode me denunciar e o inquérito seria reaberto. Eu conheço meus direitos, sabia? Quer me denunciar? Tenta! Mas sem eu te dizer nada, isso novamente vai terminar do mesmo jeito. Vai querer perder seu tempo com isso? Acho que não, né? Agora, se você puder me dar licença, eu ainda tenho muito o que fazer hoje.
-Esse jogo ainda não acabou, Suzanne. Disso você pode ter certeza. Hoje você acha que tá por cima da carne seca, mas amanhã ou depois tudo pode mudar...
-Sai daqui, cara! Esse seu mexicanismo chega a me embrulhar o estômago. Quer que eu chame os seguranças pra te convidarem a se retirar ou vai facilitar minha vida?
-Eu vou... mas estou de olho vivo em você, Suzanne.
-Ui, eu estou tremendo de medo! Vaza, Valentim...
CORTA A CENA.

CENA 2: Adelaide está abrindo as portas da ONG quando uma garota aparentando ter dezesseis anos a aborda, chorando.
-Menina... o que está acontecendo?
-O pastor da minha igreja, dona! Ele me estuprou!
-Por favor, entre querida. Estou aqui pra te ajudar. Sou Adelaide. Qual seu nome?
-Juliana.
-Você está em condições de me contar o que aconteceu ou quer um copo d'água antes?
-Consigo falar, dona Adelaide. Esse homem é o pastor da igreja que eu e meus pais vão. Homem de confiança da minha família, acima de qualquer suspeita.
-Como ele se chama?
-Etevaldo.
-E como exatamente aconteceu esse estupro?
-Eu e meus amigos do grupo jovem da igreja fomos em retiro espiritual. O pastor que liderava esse retiro era justamente o Etevaldo. Eu já vinha tentando alertar meus pais que ele parecia dar em cima de mim, mas meus pais falaram que isso tudo era mentira minha e que era eu que estava me oferecendo pra ele, desejando me envolver com ele para alguma coisa. Desisti de conversar com meus pais sobre isso. Eu não queria ir nesse retiro espiritual, mas meus pais me disseram que todo jovem de igreja deveria ir. Não tive escolha... eu fui ao retiro. Hoje bem cedinho, ao me acordar, ele estava em cima de mim. Não tive como reagir... ele disse que se eu gritasse, ele me enforcava. Não consegui escapar. Assim que ele terminou o serviço, ele saiu da barraca que eu dormia. Eu esperei passar uns quinze minutos e fugi do retiro.
-Onde foi esse retiro?
-Em São Gonçalo. Eu vim até aqui pedindo carona pra quem podia me dar.
-Esse caso é grave, Juliana. Precisamos denunciar às autoridades. Você precisa também de apoio das mulheres. Vou entrar em contato com Larissa Gama imediatamente!
-Com aquela comunista? Meus pais dizem que a esquerda é do demônio!
-Juliana, me escute: seus pais estão errados. Ela pode te ajudar.
CORTA A CENA.

CENA 3: Raquel visita Cláudio na companhia de teatro.
-Que bom te ver aqui, vó! Tava mesmo precisando conversar com você.
-Senti saudade, querido. Aproveitei que tenho uns minutinhos de folga e vim te ver.
-Adorei.
-Mas sobre o que você precisa conversar comigo, Cláudio?
-Sobre Suzanne. Ela me procurou... aqui mesmo no teatro, tu me acredita numa coisa dessas?
-Não pode ser... a cara de pau dela realmente não conhece limites. Como foi esse encontro?
-Eu nem quis ouvir o que ela tinha a dizer. Falei eu tudo o que tava preso na minha garganta.
-Fez bem, meu neto... melhor botar tudo pra fora do que alimentar negatividade...
-Mas sabe... eu fiquei pensativo em relação ao que ela disse. Parecia sincera.
-E o que foi que ela disse?
-Disse que queria me proteger do perigo. Ela parecia estar realmente preocupada, zelosa, querendo me proteger de alguma forma.
-Deve ter sido blefe, meu querido... nem leve a sério. Ela tá falando isso pra mim também, pelo visto encarnou direitinho no papel de arrependida. Mas não se force a ficar perto dela, não se force a gostar dela...
-Eu não saberia gostar dela de qualquer forma...
-Menos mal, Cláudio... menos mal.
CORTA A CENA.

CENA 4: Vicente, Marcelo, Riva e Rafael terminam de fazer as malas para partirem ao aeroporto.
Marcelo vai falar com Cláudio.
-É isso então, mano... daqui dois ou três dias a gente tá de volta dessa premiação e você se comporte e cuide bem do Bruno! Não me inventem um casamento surpresa sem mim aqui!
-Bobo! Claro que a gente não teria como preparar tudo assim voando. Boa viagem, meu irmão. E boa sorte!
Cláudio abraça Marcelo.
Rafael se despede de Marion e Ivan.
-Não fiquem com o coração na mão porque vocês já passaram bem mais tempo longe de mim, viu? Dessa vez a viagem é rápida e praticamente a trabalho. Se cuidem vocês, viu? E você, seu Ivan, nada de aprontar joguinhos surpresa que a dona Marion não tira o olho de cima!
Marion e Ivan abraçam o filho.
Rafael e Marcelo chegam à sala.
-Pronto, gente... já nos despedimos de todo mundo. Agora é cruzar os dedos e torcer pra que essa nossa ida à Holanda não seja em vão... - fala Marcelo.
-Em vão já não é. Só da gente ter sido indicado, isso já é uma grande vitória... - fala Vicente.
Os quatro deixam a mansão. CORTA A CENA.

CENA 5: Haroldo, Laura e Mateus gravam um vídeo para o canal falando sobre quebra de tabus.
-Pedimos desculpa se ficamos muito tempo sem postar vídeo novo aqui no canal, mas vocês sabem como é... Laura grávida, a gente ainda ensaiando pra continuar com as apresentações da nossa peça, porque apesar da vontade dos conservadores, não paramos... enfim, vou passar a palavra à Laura... - diz Haroldo.
-O vídeo de hoje trata sobre a dificuldade que é propor uma quebra de tabus nessa sociedade incrivelmente reacionária que temos vivido nos últimos tempos. A ideia é que a gente fale sobre como nosso cotidiano é muito mais comum e mais simples do que as pessoas imaginam, desmistificar a ideia de que as pessoas envolvidas num relacionamento poliamoroso são promíscuas ou fazem orgias. Como vocês sabem, eu estou esperando um bebê, um menino por sinal. E nesse vídeo queremos provar que podemos ser uma família como qualquer outra: cheia de amor. - fala Laura.
-E eu gostaria de aproveitar justamente a fama e visibilidade que tenho pra poder falar sobre isso, mas não somente isso, como também falar sobre a bifobia, que é uma derivação da homofobia, mas é real: nós, bissexuais, como eu e Haroldo, somos invisibilizados o tempo inteiro, seja pelos heteros ou mesmo por parte de gays e lésbicas. Se estamos num relacionamento heterossexual, somos lidos como heteros. Se estamos em um relacionamento homossexual, somos lidos como gays. E não importa em que lado a gente esteja, a gente sempre vai ser invisibilizado ou tido como pessoas que não servem para relacionamento sério. Precisamos discutir sobre isso urgentemente. - fala Mateus.
Os três seguem falando em frente à câmera. CORTA A CENA.

CENA 6: Marion procura Vânia e Setembrino para uma conversa entre eles.
-Não entendi porque você chamou a gente pra conversar só entre nós... - fala Vânia.
-Nem eu... - fala Setembrino.
-É que eu sei que vocês querem uma festa maravilhosa pro casamento do filho de vocês, não querem? Eu vi como você ficou empolgado de escolher o repertório pra festa do Victor com o Diogo, Setembrino... - fala Marion.
-Isso é verdade. O Bino simplesmente fica que nem criança quando se trata de escolher repertório, nunca vi coisa igual... - fala Vânia.
-Então isso é ótimo. Eu chamei vocês aqui porque sei que o Cláudio e o Bruno pretendem se casar logo. E queria saber se vocês me ajudariam a idealizar uma festa que fosse a cara deles... assim, meio de surpresa. O que acham? - propõe Marion.
-Tou amando a ideia! Eu sei de tudo o que o Bruno gosta e arrisco dizer que já entendi muito sobre as coisas que meu genro gosta também! - fala Vânia.
-Maravilhosa a ideia, definitivamente. Conheço os gostos musicais do meu filho, só vai ser duro saber sobre o Cláudio... - fala Setembrino.
-Sobre a música, a gente pode deixar isso pra depois. Eu tou mais focada em descobrir quais itens de decoração pro salão teriam mais a ver com os meninos, coisas que fizessem os dois se identificarem, tanto individualmente quando como coisas que façam eles se identificar como casal, pela história do amor deles, essas coisas... - fala Marion.
Os três permanecem a conversar animados com as ideias para os preparativos do casamento de Cláudio e Bruno.
CORTA A CENA.

CENA 7: Márcio decide procurar Suzanne e Suzanne se surpreende ao abrir a porta e se deparar com ele.
-Mas eu devo ter dançado pole dance na cruz e depois ter jogado a cruz numa fogueira, não é possível. Já não basta o monte de gente que anda aparecendo aqui, agora você tem a pachorra de vir aqui? Mas é muita cara de pau pra quem foi capaz de me denunciar à polícia...
-Você sabe que precisamos acertar nossos ponteiros, Suzanne. Eu fugi desse momento por mais de vinte anos.
-Nós não temos nenhum ponteiro pra acertar. Não sei de onde você tirou essa ideia absurda. O que precisava ser dito já foi dito.
-Eu só queria saber uma coisa de você, Suzanne.
-Rápido, Márcio... eu não tenho todo o tempo do mundo pra ficar jogando conversa fora com um rato feito você.
-Eu quero saber se um dia nessa vida você me amou... nem que fosse por um segundo.
-Ah, que bonitinho, ele! Tão bobinho, tão ingênuo... você mesmo admite que eu só te usei. Por que quer saber disso logo agora?
-Pra quem sabe assim terminar de te superar...
-Você nunca vai me superar. Aceite isso. Mas eu não vou te responder... não importa mais se eu fui ou não capaz de te amar. Acabou. E o melhor que você tem a fazer agora é sumir da minha frente. Aliás... agora não, mas sempre. Eu não quero mais te ver... nunca mais.
-Mas eu tenho o direito de saber se você me amou ou não.
-Não me venha com seus choramingos, Márcio... não seja piegas, isso nem combina você.
-Você realmente nunca me conheceu.
-Que pena, não é mesmo? Vaza daqui. Vai ser melhor pra todo mundo.
Suzanne fecha a porta e Márcio sofre. CORTA A CENA.

CENA 8: Na Holanda, Marcelo, Vicente, Rafael e Riva estão no evento que premiará as melhores produções LGBT do ano, aguardando pelos resultados. Vicente está aflito.
-Calma, Vicente... essa aflição já vai passar. Podia ser pior... eles poderiam não estar falando em inglês e aí sim, nós precisaríamos de intérprete... - fala Riva.
-Dá um desconto pra ele, mãe... tá todo mundo com o coração na mão aqui. Eu tou que não me aguento de ansiedade por esse resultado, mal vejo a hora de anunciarem a categoria de produção audiovisual estrangeira pra internet... - fala Marcelo.
-Gente, prestem atenção em vez de ficar conversando? Eu tou ficando bugado aqui com essa mistura de inglês com português! - repreende Rafael.
A apresentadora do evento anuncia a próxima categoria.
-Now, we'll see the four nominations for best foreign production of the year for the internet. - fala a apresentadora.
-É agora! - fala Vicente.
FIM DO CAPÍTULO 144.

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