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sexta-feira, 28 de outubro de 2016

CAPÍTULO 143 - ÚLTIMAS SEMANAS

CENA 1: Bruno tenta acalmar Cláudio, que está ofegante.
-De novo pesadelo, amor? Ei, se acalma... a gente tá em casa, tá tudo bem, tá tudo seguro...
-Bruno, vem comigo.
-Contigo onde? Do que cê tá falando?
-Desce comigo, amor... tou te pedindo.
Cláudio pega Bruno pela mão e não diz nada.
-Cê pode me explicar o que tá acontecendo? São quase duas da manhã... a gente podia voltar a dormir...
Cláudio chega com Bruno à edícula e vê Márcio dormindo em sua cama.
-Dá pra explicar por que você me fez descer com você só pra ver seu pai dormindo?
-Bruno, eu tive um pesadelo com o dia da estreia da peça...
-De novo?
-Sim. Mas foi diferente. Quando a apresentação do monólogo chegava no fim, eu recebia todos os amigos e familiares que me cumprimentavam pela peça. Eu perguntava pelo pai pro Marcelo e ele me dizia que a gente não tinha pai. Aquilo me desesperava, foi uma sensação de vazio horrorosa!
-Ei, Cláudio... fica calmo! Foi só um pesadelo, nada além disso! Você deve ter se deixado sugestionar pela decisão do Procópio...
-Será? Mas o que é que esse pesadelo tem a ver com a gente adiando mais uma vez nosso casamento?
-Amor, raciocina comigo, você estudou psicologia por anos! Não tem a ver diretamente com nosso casamento... tem a ver com você perdendo quem você ama. Tem a ver com os seus medos secretos.
-Nem tão secretos assim, né Bruno... afinal de contas meus pais adotivos morreram há oito anos... eu ainda sinto medo de perder as pessoas que amo. Tive medo de te perder quando você doou seu rim pra sua mãe, embora eu saiba da nobreza do seu gesto. Senti medo e sinto medo de perder meu irmão, meu pai... faz tão pouco tempo que tenho uma família de verdade, sabe?
-De repente é por isso e só por isso que você fica com medo de perder. A rapidez com que tudo aconteceu, entende? Talvez você possa estar pensando que com a mesma rapidez que as coisas vem, elas vão... mas sossega, amor. Essa é a sua, a minha, a nossa família. Sobe comigo, Cláudio... não vamos perder o sono por isso, por favor...
CORTA A CENA.

CENA 2: Na manhã do dia seguinte, Marion está em seu computador repassando o texto que precisa decorar e resolve se distrair um pouco navegando pela internet. Marion acaba se deparando com um artigo que trata da maior crise já vivida pela emissora na qual trabalhou por mais de vinte anos e clica no artigo para ler. Surpresa, chama Ivan.
-Amor, vem ler esse artigo! Eu sabia que a situação era delicada, mas que tava grave desse jeito, não fazia ideia....
Ivan vai até Marion e lê o artigo por cima.
-Quem diria, Marion... quem diria! A maior emissora do país, que um dia já dominou inclusive a política, entrando na pior crise...
-Né não? O artigo dá conta que tempos difíceis para as finanças da emissora só ocorreram dessa forma antes há mais de cinquenta anos, quando tudo ainda era o começo e ainda faltava algum tempo pra ela alcançar a liderança...
-Pelo visto o padrão de qualidade tá caindo, hein... bem que você fez de se desligar dela. O barco já começava a afundar e a gente nem sabia disso...
-Pra você ver como as coisas são. Só lamento muito pelo meu querido amigo João Bernardo, o pai... ele construiu essa emissora com muito esforço. Deu o melhor de si. Por ele, ele jamais teria dado os rumos que os antigos gestores e o filho dele acabaram dando a tudo.
-É, mas não dá pra esquecer que, por mais gente boa que ele seja, ele meio que “vendeu a alma ao diabo” quando fez acordos questionáveis para manter as concessões públicas.
-Pior disso tudo é saber que você tá coberto de razão, Ivan. Tudo isso não deixa de ser um retorno a tudo isso. Emissoras antigas foram sucateadas e algumas até mesmo faliram, quando as concessões foram perdidas.
-É... felizmente ou infelizmente, isso é um retorno justo. Mas a gente pode pensar pelo lado positivo da coisa: durante mais de cinquenta anos, nosso amigo viu sua empresa crescer e se expandir muito mais do que ele sonhou na juventude.
-Verdade... é como dizem, amor... toda estrela morre, se apaga. Acho que chegou a vez da emissora...
CORTA A CENA.

CENA 3: Horas depois, Cláudio ensaia na companhia de teatro e é surpreendido pela chegada de Suzanne. Inicialmente, Cláudio a ignora, mas Procópio chama sua atenção.
-Cláudio, essa mulher parece realmente estar querendo falar com você. Deixa que a gente continua o ensaio mais tarde... - fala Procópio.
Cláudio vai contrariado até Suzanne.
-O que você quer agora, mulher? Acho que a gente não tem nada pra conversar. Você não percebeu que tá atrapalhando meu ensaio?
-Só queria poder conversar com você, meu filho. Te conhecer melhor.
Cláudio explode com Suzanne.
-Agora eu sou seu filho, é? Desagraçada! Onde é que você esteve nesses vinte e dois anos? Você tem problema de memória, infeliz? Você escolheu me abandonar! Você fez um monte de merdas e me condenou a muita coisa que eu vivi por egoísmo! Nunca mais, nem em pensamento, ouse me chamar de filho! Eu não sou nada seu! Minha mãe já morreu! Eu tenho um pai sim, mas não tenho uma mãe. Eu nunca vou reconhecer uma psicopata golpista como mãe, tá me ouvindo bem? Eu tenho nojo de você. Nojo e pena! De mim você só tem o desprezo!
-Você não sabe de nada, Cláudio. Não tem ideia do motivo que me levou a tomar as decisões que eu tomei. Eu só vim aqui pra te dizer que eu tou sempre por perto. E que vou te proteger de qualquer perigo.
-Sai daqui, mulher. Que perigo? Eu estou a salvo. Eu não preciso saber de mais nada a seu respeito porque já sei o suficiente. Você não precisa do meu perdão nem do perdão de ninguém. Assuma a responsabilidade pelas merdas que você fez nessa vida. E me deixe em paz. Nunca mais apareça na minha frente, tá me ouvindo? Nunca mais! Eu te nego, te desprezo e te repudio! Some da minha vida!
CORTA A CENA.

CENA 4: Riva conversa com Marcelo e Vicente sobre Suzanne.
-Eu sei que vocês não gostam que eu toque no nome da Suzanne, mas... bem ou mal, ela não deixa de ser minha irmã biológica... - fala Riva.
-Fico com nojo só de lembrar que tenho essa mulher como tia, mas fazer o que... não tem remédio... - fala Marcelo.
-Mas você não pensa em dar uma chance a ela, pensa? - questiona Vicente.
-Claro que não. Isso nem me passa pela cabeça. Eu sei muito bem que ela não merece a confiança de ninguém e a culpa disso é dela mesma. Mas confesso a vocês que, depois de tudo o que já passou, todos esses altos e baixos dos últimos tempos, eu não consigo sentir mágoa dela. - fala Riva.
-Eu te entendo, mãe. Guardar mágoas só envenena os nossos corações. Você é boa demais, sempre foi... só fico com medo que cedo ou tarde você acabe convidando ela a participar da vida da gente... - desabafa Marcelo.
-Não... isso não tem a mínima chance de acontecer, meu filho. Mas eu sinto de certa forma algum afeto por ela. Mínimo, é claro... acabo me colocando no lugar dela e pensando na criança que ela foi, traumatizada e com sua ilusão destruída... tá certo que nada disso justifica ela ter matado o próprio pai, mas mesmo assim eu não vou deixar de compreender a dor que isso deve ter sido pra ela. - fala Riva.
-Que seja... mas a gente tem coisas melhores pra falar, não acha, amor? Por exemplo, temos ainda muito trabalho pela frente para produzir os próximos episódios da série, então a gente podia já ir dando uma agilizada nisso... - sugere Vicente.
CORTA A CENA.

CENA 5: Horas mais tarde, Rafael chama Marcelo, Cláudio, Bruno, Ivan, Vicente, Marion e Valquíria para dar uma importante notícia relacionada à série dele e de Marcelo produzida pela Fermata Visual.
-Chamei todo mundo aqui porque tenho um comunicado importantíssimo a fazer e tem a ver com a série “Heróis Reais”: eu, Vicente, Marcelo e Riva vamos ter de partir amanhã mesmo para a Holanda. - comunica Rafael.
Todos ficam sem entender nada.
-Como é que é esse negócio? Holanda? - espanta-se Riva.
-Eu explico: nós fomos indicados para o prêmio que ocorre lá, que elege as melhores peroduções audiovisuais voltadas para o público LGBT. Fomos indicados na categoria internet e precisamos estar lá para o evento. - explica Rafael.
Todos comemoram.
-Gente, que delícia! Mas como é que pode uma coisa dessas? Mal estreou e já foi indicada a um prêmio internacional? - espanta-se Marion.
-Pois é, mãe... a internet tem dessas vantagens. Corre o mundo! Eles precisavam apenas de mais uma produção indicada e nós fomos os escolhidos para essa indicação! - vibra Rafael.
-Gente pop é outra coisa, não é mesmo? Já conheci a Austrália, agora vou conhecer a Holanda! E nem venha você com recalque pra cima de mim, Cláudio... isso não é close, são condições! - brinca Marcelo.
Todos riem. CORTA A CENA.

CENA 6: Raquel conversa com Valentim.
-Você tem certeza que não existe nenhuma maneira da gente encontrar brechas pra continuar investigando Suzanne?
-Brechas a gente tem, Raquel. A questão aqui é avaliar se vale a pena esse esforço.
-Qualquer esforço em busca da verdade sempre é válido.
-Acontece que sendo válido ou não, nesse momento nós temos impedimentos judiciais.
-Isso é o que me deixa inconformada. Eu sei que não havia maneira nenhuma de manter aberto um inquérito por tanto tempo, mas isso ainda me frustra demais. Porque nada tira da minha cabeça que Suzanne se envolveu sim em crimes graves. Essa falta de provas só indica que ela soube se esconder bem e teve laranjas e testas de ferro suficientes para levarem a culpa das coisas que ela tramou.
-Sim, mas como é que a gente vai chegar nessas informações se todos os criminosos suspeitos de terem trabalhado pra ela não colaboram? Delação premiada não compensa, porque em muitos casos a redução da pena é mínima.
-Eu insisto, Valentim. Você precisa conversar com Suzanne. Se eu tentar, vai ser chover no molhado. Se você for conversar com ela, pelo menos, é possível que ela se sinta à vontade de te dizer algo, se você der a certeza para ela de que ela não vai ser penalizada por nada disso. Ela pode acabar falando demais e aí a armadilha já vai estar feita.
-Isso é um tiro no escuro, Raquel. Não tem como saber se isso vai dar certo. Ademais, seria uma conversa informal. Necessitaria de nova denúncia para que o inquérito pudesse ser reaberto.
-E você não poderia ser o denunciante? Antes de ser investigador, você é um cidadão. Acho que você se esqueceu desse pequeno detalhe.
-Bem, está certo... você me convenceu. Ainda hoje eu procuro sua filha.
CORTA A CENA.

CENA 7: Regina está ajustando algumas informações úteis no site da ONG quando recebe um vídeo gravado por Eva e Renata, para ser colocado no site.
-Adelaide, Cleiton, Geraldo! Venham ver o que as meninas mandaram pra colocar no site!
Todos vão assistir ao vídeo. Regina dá o play.
-Bem, queridas e queridos que apoiam a nossa causa. Como vocês já sabem, tivemos de viajar à Austrália e ainda vamos passar por vários lugares e países desse mundo juntamente com a “Women's Lives Matter”. Primeiramente, como vocês podem perceber, chegamos inteiras e bem! - fala Renata.
-E gostaríamos imensamente de agradecer todo o apoio que temos recebido, todas as doações espontâneas de quem acredita no nosso projeto. Nós estamos longe, mas estamos ao mesmo tempo sempre por perto. Deixamos nossa ONG aos cuidados de nossos pais e sempre que possível, vamos encontrar tempo de atualizar nosso site. A todas as mulheres do Brasil e do mundo, gostaria de dizer que vocês nunca vão estar sozinhas enquanto houver resistência e luta. O patriarcado um dia há de ruir! Só que esse será um processo lento e contínuo. Precisamos de união, precisamos estar todas alinhadas a favor desse mesmo ideal. - fala Eva.
-É exatamente como a Eva falou, minhas amigas e meus amigos. Mulheres, cis ou trans e homens trans sofrem cotidianamente com o machismo estrutural e isso, infelizmente, não está restrito ao Brasil. É um problema mundial. É justamente por conta disso que aceitamos sem pestanejar o convite para fazermos parte do “Women's Lives Matter”, para que possamos estender nossas lutas e quem sabe, num futuro próximo, trazer mais gente pra essa nossa causa. Feminismo é luta. Lutar pelo feminismo é lutar pela equidade de direitos. - fala Renata.
Adelaide, Regina, Geraldo e Cleiton se emocionam com o vídeo gravado pelas filhas. CORTA A CENA.

CENA 8: Suzanne está saindo de seu banho e se preparando para mais uma noite tentando aplicar pequenos golpes, quando toca sua campainha.
-Mas que inferno! Será que esse hotel virou a casa da mãe Joana agora? Já dispensei o serviço de quarto hoje, mas que droga! - esbraveja Suzanne.
A campainha persiste tocando.
-Já vai, inferno! Não dá pra esperar um minuto? Que merda! - grita Suzanne, impaciente.
Suzanne abre a porta e se depara com Valentim.
-Você aqui? Mas que milagre é esse? Será que tem unicórnios voando pelo céu do Rio de Janeiro e eu não vi?
-Dispenso suas gracinhas, Suzanne. Eu vim aqui para termos uma conversa séria sobre o que você realmente esconde.

Suzanne se espanta. FIM DO CAPÍTULO 143.

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