CENA 1: Valentim não se deixa
intimidar.
-Eu sei que é você,
Guilherme. Você se acha realmente muito esperto, não é? Posso
saber o que te deu pra ligar pra mim? Eu podia estar rastreando essa
ligação.
-Eu não acho que sou muito
esperto, Valentim... eu realmente sou. Suficientemente pra saber
quando alguém está blefando.
-Você, melhor que ninguém,
entende de blefes.
-Será? Olha que não sou do
tipo de cão que costuma ladrar, viu? Prefiro morder. E não mordo se
não for pra matar.
-Isso é uma ameaça,
Guilherme?
-Entenda como quiser. Mas é
bom você lembrar que nem Deus conseguiu te livrar de cair naquela
emboscada que eu preparei especialmente pra você. Sua sorte é que
eu não fui competente o suficiente em te trancafiar lá dentro.
Devia ter colocado blocos de madeira nas janelas, mas... falha minha.
Da próxima vez que eu te pegar, eu não vou errar, tá me ouvindo?
-A mim você não engana,
Guilherme. Você esquece que também sou psiquiatra e estudei durante
anos psicanálise? Não há a mínima convicção na sua voz. É como
se você falasse as coisas de uma forma e as sentisse de outra.
-Ih, nem vem começando com
esse papo mole que é impossível você me ler pelo telefone. Não
seja prepotente.
-Não é prepotência. Admita
que você só ameaçou o Ivan, assim como ameaçou o Cláudio e o
Mateus antes, por não saber a quem recorrer. Você está perdido,
sem rumo desde que fugiu da prisão. Não sabe pra onde correr. Viu
sua facção desbaratada e meia dúzia de gatos pingados que ainda
colaboram com você se cagando de medo de serem descobertos pela
polícia porque eles deram no pé para não serem descobertos. Te
ajudam até a página dois, porque precisam conservar suas
reputações. Tou falando alguma mentira?
-E se tudo isso for verdade? O
que te leva a acreditar que eu pediria socorro a você?
-Saber que eu sou psiquiatra.
O Alceu você não procuraria, porque sabe que ele te denunciaria.
-Isso nem faz sentido. Estou
ligando de número privado. Se eu quisesse pedir ajuda a alguém,
pediria ao Alceu.
-Você está mentindo,
Guilherme. Pare de se enganar. Você sabe que eu sou o único que
pode te ouvir sem te julgar, pois até mesmo Alceu te julgaria. Pelo
menos, na sua crença.
-Tá certo, Valentim... você
venceu. A verdade é que eu fiz merda logo que fugi. Tava naquela
coisa de achar que podia tudo, que era invencível. Matei os meus
dois cúmplices e saí dali como se nada tivesse acontecido. Depois
que voltei a mim, me dei conta do que tinha feito. Em todos os anos
de facção, eu nunca tinha matado ninguém com minhas próprias
mãos. Sempre mandei fazerem o serviço por mim. Mas eu me tornei um
assassino. Me desesperei com a possibilidade de um deles ser pego e
falar demais, sobre nosso plano de fuga. Matei os dois porque prometi
uma coisa que não poderia cumprir.
-O que você prometeu,
Guilherme?
-Emprego pros dois. Menti que
a facção existia, ainda. Eu sei que a facção foi desbaratada na
sequência da minha prisão. Mas eles não sabiam disso. Eu usei os
dois... e depois, quando me arrependi, já era tarde, porque os
doidos iam grudar feito carrapato em mim. Iam me cobrar o que
prometi. Poderiam até me matar. Então eu me antecipei e matei os
dois antes que eles fizessem isso comigo. Mas fiquei chocado comigo
mesmo depois. Me desesperei. Me senti um monstro... um monstro que eu
não pensava que realmente pudesse ser.
-E foi por conta de tudo isso
que você resolveu começar com essa série de ameaças a cada um dos
que você considera seus devedores?
-Não sei, Valentim. De
verdade... eu não sei. Eu tou cagando pro Mateus, pro Ivan ou pro
Haroldo... ou pra qualquer um que tenha cruzado o meu caminho e o
caminho do meu pai em algum momento. Mas o Cláudio me deve até a
alma... foi ele que acabou com a minha sanidade. Foi ele que me
deixou enlouquecer. Foi ele que me abandonou duas vezes. Ele tem que
pagar por isso.
-Tire isso da cabeça,
Guilherme... raciocine comigo: por que ele tem que pagar pelas
mazelas que são suas? Você seria esquizofrênico de qualquer forma.
Isso independe da influência que o Cláudio possa ter tido no
processo que desencadeou o primeiro surto. O transtorno nasceu com
você. Não é justo nem correto você querer acabar com a vida dele.
Já não basta tudo o que você armou? Você manipulou e chantageou
Diogo, Haroldo e quase tirou o Bruno do caminho do Cláudio. Você
queria o Cláudio só pra você, mas isso não é amor... isso é
obsessão. E tem tratamento. Mas para isso, você vai precisar se
entregar. Na instituição você pode seguir sendo tratado e
acompanhado.
-Não posso me entregar. Não
agora, Valentim. Eu quero recomeçar minha vida. Não sei como nem
onde... não sei nem se vou mudar de nome. Talvez eu mude. Talvez eu
esqueça quem eu fui durante esses vinte e dois anos.
-Você precisa de ajuda,
Guilherme. Você vai ter essa ajuda se aparecer e se entregar.
-Vou tentar por mim mesmo. Me
testar. Provar a mim mesmo que posso. Eu quero a liberdade, eu quero
a vida, eu quero merecer a vida. Mas quer saber? Nem sei porque te
liguei. Eu não devia ter feito isso.
-Se fez isso, é porque sentiu
necessidade de pedir socorro.
-Pare de tentar me ler, que
saco!
-Então desliga, ué.
-É isso mesmo que eu vou
fazer!
Guilherme desliga e Valentim
fica pensativo. CORTA A CENA.
CENA 2: Na manhã do dia
seguinte, Marcelo vai à casa de Cláudio.
-Que milagre o Rafa não vir,
mano. - fala Cláudio.
-Ele é meu marido, não meu
irmão siamês, não nascemos grudados... - fala Marcelo.
-Eu fiz uma torta de limão,
se você quiser experimentar... - fala Bruno.
-Tá vendo como esse daí é
teimoso, Marcelo? Mal se segura, tá sempre arranjando alguma coisa
pra fazer mesmo com a recomendação de manter repouso... - fala
Cláudio.
-Nem começa, Cláudio.
Cozinhar não é esforço nenhum e eu ia ficar maluco de não fazer
nada. Depois, é a torta preferida da mãe e do pai. - fala Bruno.
-Enfim, queridos. Eu vim aqui
porque eu andei conversando com o Rafa e com a mãe... com o pessoal
lá em casa pra ser mais exato. - fala Marcelo.
-Mas o que vocês andaram
conversando sobre nós? Bem que o seu irmão falou que você é viada
ladina fofoqueira... - brinca Bruno.
-Cês combinam tanto que tem
até o mesmo tipo péssimo humor que eu adoro! - fala Marcelo.
-Fala, mano. O que vocês
andaram conversando? - fala Cláudio.
-A gente queria convidar vocês
quatro, ou seja, incluindo seus pais, Bruno, para irem morar com a
gente lá na mansão. - fala Marcelo.
-Como é que é? Mas viada, eu
tenho a minha vida aqui, essa casa eu comprei com meu dinheiro, sabe?
É minha... eu agradeço pelo convite, mas não sei se quero ir
embora daqui. Não quero colocar essa casa pra vender. - fala
Cláudio.
-Ai, pelo visto vai ser
difícil te explicar o óbvio, né? Você é meu irmão e sobrinho da
minha mãe, esqueceu desse detalhe? Isso faz com que estejamos todos
em família... - insiste Marcelo.
-Sim, Marcelo, mas eu não sou
da família, não tenho o mesmo sangue que você e nem meus pais. A
gente não quer dar trabalho nem parecer aproveitador, só porque tou
com o Cláudio, que é rico por tabela... - fala Bruno.
-Pelo menos pensem com
carinho, queridos... você fala com seus pais pra ver se eles topam,
pode ser, Bruno? Eu gostaria que vocês pensassem em tudo isso,
porque o papo aqui não é sobre dinheiro, mas sim sobre família.
Depois, aquela nossa casa já é tão cheia... e tão grande, sabe?
Sempre tem espaço pra mais um. Tá certo que não é um espaço
infinito, mas nós temos justamente dois quartos que não estão
sendo utilizados ainda, tudo isso porque os falecidos pais do Ivan
foram exagerados na hora de mandar construir a casa... - continua
Marcelo.
-Tá bom... por mim eu aceito.
E você, Bruno? - fala Cláudio.
-Por mim eu acho de boa.
Preciso consultar meus pais pra saber se eles também topam... - fala
Bruno.
CORTA A CENA.
CENA 3: Horas mais tarde,
Diogo e Victor retornam do cartório.
-Finalmente temos uma data
definida pro casamento...
-Nem me fala, Diogo. Pode
parecer pouco, mas foi o suficiente pra eu já me sentir casado com
você.
-O que não deixa de ser
verdade, levando em conta a vida que a gente tá levando nesse último
ano...
-É, mas mesmo assim. Daqui
duas semanas a gente vai ter tudo isso oficializado diante da lei.
Nossos direitos garantidos.
-Bem que podiam ser mais
direitos, né? Se não fossem aqueles conservadores pensando que nós
queremos privilégios, quando na verdade só lutamos pelos nossos
direitos básicos...
-Melhor nem falar sobre isso
agora, amor... vamos focar no lado positivo de tudo isso. Afinal de
contas, se isso fosse há dez anos, a gente nem estaria planejando
essa união. No máximo estaria assinando contrato de união estável
e teríamos ainda mais restrições do que as que ainda temos.
-Eu tava pensando que a gente
podia aproveitar e ir naquele restaurante maravilhoso ir almoçar,
né?
-Acho ótima a ideia. A gente
se poupa do trabalho de cozinhar e já vai comemorando esse passo que
a gente vai dar daqui duas semanas...
-Vamos, então?
-Sim. Só deixa eu trocar de
roupa?
-Claro!
CORTA A CENA.
CENA 4: No consultório de
Valentim, Mara pede um momento da atenção dele.
-Querido, desculpa interromper
mais uma vez o seu trabalho, mas acho que nós precisamos conversar.
-Você nunca me interrompe,
Mara... pode falar.
-Mais uma vez, volto a falar
sobre o caso do Guilherme.
-Você acha que tem algo a
acrescentar sobre esse assunto? Ele realmente pareceu estar cansado
de tudo e disposto a deixar todo mundo em paz.
-Só não dá pra você
encarar essa situação exclusivamente com os olhos de psiquiatra,
entende? Veja com os olhos de investigador que eu tenho certeza que
você logo vai perceber que tem algumas pontas soltas, além do fato
óbvio de que ele continua sendo um foragido e de periculosidade
incalculável.
-Sim, por esse lado você está
certa e em momento algum considerei cessar as investigações sobre o
paradeiro dele. Cedo ou tarde ele vai ser pego.
-Já parou pra pensar que ele
é bastante inteligente e articulado? O suficiente inclusive para
manipular até um psiquiatra e investigador como você?
-Onde exatamente você tá
pretendendo chegar, Mara?
-Na parte de que ele pode
estar pensando em tudo. Ele não teria confessado que matou os dois
cúmplices na fuga se não quisesse deixar uma mensagem subentendida
nisso: que ele pode voltar a matar. Ele pode estar fazendo essa pose
de arrependido pra ganhar tempo. Manipular você e a nós
investigadores, para que adiemos as investigações ou a deixemos em
segundo plano...
-Sabe o pior de tudo, Mara?
Você tá coberta de razão. Essas ações dele podem ser para
dispersar as nossas atenções. Para o Mateus e para o Ivan é lógico
que ele blefou, mas a coisa complica quando chega no Cláudio...
-Esse é o nosso principal
problema. Guilherme insiste em culpar Cláudio pela ruína mental que
é dele. Atribui a ele tudo o que aconteceu de ruim a ele nos últimos
anos.
-De fato, Mara... ele nunca
superou a rejeição. Achou que o Cláudio estaria esperando por ele
toda a vida. Se frustrou quando percebeu que não.
-Não sou psiquiatra,
Valentim, mas posso garantir que esse rapaz não aprendeu a seguir em
frente. Acaba fugindo das próprias responsabilidades e como forma de
compensar essa incapacidade, projeta suas frustrações no primeiro
que ele puder apontar como culpado. O que ele sente pelo Cláudio
nunca foi amor, mas sim uma obsessão alimentada e cultivada pela
frustração que Guilherme sente por nunca ter conseguido de fato
manipular o Cláudio... quando chegou perto de conseguir isso,
teminou desmascarado pelo Mateus e preso. Mas ele não enxerga o
Mateus como responsável por tudo isso: pra ele, a culpa dele ter
entrado na vida de crimes iniciada pelo pai ainda é do Cláudio.
-Mais uma vez, querida... você
está coberta de razão.
Os dois seguem conversando.
CORTA A CENA.
CENA 5: Vicente acompanha o
início das obras do complexo de estúdios no terreno da mansão e no
terreno vizinho, já comprado. Riva o chama.
-E aí, amor? Tá feliz?
-Feliz é muito pouco pra
definir o que tou sentindo agora. Um sonho que alimentei por anos tá
começando a se tornar realidade e de uma maneira tão rápida que às
vezes eu me belisco pra ver se não tou sonhando.
-Você não tá sonhando esse
sonho sozinho, Vicente... eu, Marcelo, Rafael e Marion estamos
sonhando junto. Vovó também, tenho certeza, vai sonhar com a gente.
Aliás, acho que nunca te contei que ela tinha o costume de escrever
ficções, né?
-Realmente, Riva... não
lembro de você ter contado com isso.
-Ela sempre sonhou com vida de
artista, mesmo nos tempos difíceis que ela foi uma megera pra
disfarçar a própria frustração.
-Sim, disso eu já sei...
-Pois então: eu tava pensando
que mais pra frente a gente podia falar com ela sobre isso, pra você
avaliar se valeria a pena produzir algo que ela escreveu. Mas vamos
precisar de tempo e tato pra isso, porque ela morre de vergonha de
tudo o que escreve.
-Não vamos passar por cima do
tempo da dona Valquíria... se um dia ela se sentir preparada pra
mostrar esses escritos pra gente, aí sim dá pra pensar no que pode
ser feito.
-Foi exatamente o que pensei,
Vicente. Se tem uma coisa que ela detesta nessa vida é se sentir
exposta sem necessidade.
-Acho que ninguém gosta, né?
Em algum momento isso até serve de filtro na vida da gente, pra
gente saber separar as pessoas que respeitam nossos espaços das que
não respeitam.
-Vish, esse papo todo até me
lembrou da Suzanne.
-Né não? Aquela ali nunca
respeitou o espaço de ninguém.
-E nem vai, pelo andar da
carruagem. Sorte que o Márcio pelo menos não tá mais caindo no
jogo sujo dela.
-Isso nem sorte é, amor... é
juízo e caráter. Mas vem comigo, olha só que coisa linda que já
tá ficando a fachada!
Vicente e Riva acompanham a
construção. CORTA A CENA.
CENA 6: No restaurante, já
comendo a sobremesa, Diogo desabafa seus temores com Victor.
-Sei que a gente veio
comemorar, que o momento é pra gente relaxar e tudo mais, mas não
consigo parar de pensar em todas as coisas ruins e péssimas que
aconteceram nos últimos anos com o Cláudio.
-Pra que relembrar tudo isso
justo agora, Diogo? Você já não tinha dito que você superou
completamente o fato de ter sido obrigado a terminar com ele?
-Mas isso realmente foi
superado. Ainda mais depois de esclarecida toda a verdade. Só que é
o Guilherme que me assusta. Você sabe que ele está foragido.
-Sim, mas queimado do jeito
que o sujeito tá, sem facção pra dar cobertura, como que ele pode
fazer alguma coisa? Mais fácil ter dado no pé...
-Ainda assim, Victor... eu
temo pela segurança do Cláudio... aliás, não somente pela
segurança dele, mas pela segurança do Bruno e dos pais dele.
-Ai, Diogo, não adianta ficar
com medo disso agora. O que a gente pode fazer efetivamente pra mudar
alguma coisa? Nós somos da polícia? Não. Não acha mais fácil
falar com o Valentim? A gente podia aproveitar que eu tenho consulta
com ele ainda essa semana e você já vai e fala com ele. Pergunta
como as coisas realmente estão e o que ele sabe sobre o Guilherme,
se é que ele sabe de alguma coisa... não acha que vai ser melhor
assim? Agora, ficar tocando nesse assunto nesse nosso momento de
comemoração só vai servir pra quebrar o nosso clima de felicidade
e expectativa pelo nosso casamento.
-Você tem razão, amor...
desculpa por entrar nesse assunto.
-Não tem motivo pra pedir
desculpa... só vamos tentar relaxar em relação a tudo isso, tá?
Os dois seguem a conversar
sobre amenidades. CORTA A CENA.
CENA 7: Horas depois, Laura,
Mateus e Haroldo chegam ao hotel acompanhados de Procópio, exaustos
e satisfeitos por mais um dia de apresentação em São Paulo.
-Gente do céu! Eu nunca
imaginei que o barato de estar no palco fosse tudo isso! Chegar ao
fim da peça e ver todo aquele público ovacionando, aplaudindo de
pé... é algo lindo demais! É como uma droga, gente... vicia! -
fala Haroldo.
-Não disse que eu tinha olho
cínico... digo, clínico pra essas coisas? Desde o começo eu sabia
que você tinha nascido pra ser ator! - vibra Laura.
-Tava sentindo falta era desse
cansaço bom. Se apresentar em turnê faz a gente gastar mais energia
que um dia inteiro de estúdio, mas não tem nem comparação! - fala
Mateus, sorrindo e deitado na cama.
-Nem eu tava esperando por
esse sucesso todo, mas ele só foi possível porque vocês escreveram
o texto dessa peça comigo, sugerindo e escrevendo as falas dos
personagens, enfim... sozinho talvez eu não conseguisse captar a
essência de cada personagem que eu mesmo criei, inspirado em vocês.
E ninguém melhor que vocês mesmos para extrair a essência. - fala
Procópio.
-É, Procópio, só que no meu
caso eu tive que extrair uma essência bem do meu lado B... aliás,
melhor seria dizer lado Z, porque transformamos meu personagem numa
pessoa neurastênica e problemática. Provavelmente eu seria assim em
um universo paralelo! - brinca Laura.
-O que tá me deixando
completamente surpreso e perplexo é a maneira como todo mundo
insiste em me dizer que minha atuação é grandiosa, irrepreensível,
essas coisas. Não paravam de me elogiar, gente! Eu não sei lidar
com elogios, dá vontade de enfiar a cara num buraco... - desabafa
Haroldo.
-Isso é um misto de timidez
com insegurança. E isso faz de você mais fofo ainda... - derrete-se
Mateus.
-Tirem as crianças da sala!
Isso significa: Procópio, dá o fora que eles vão fazer coisas
proibidas para pessoas mais puritanas! - brinca Laura.
-Eu estou muito orgulhoso de
vocês, do nosso sucesso, da maneira como a peça vem sendo recebida.
Bem, vou deixar vocês descansarem. Boa noite! - fala Procópio.
-Descansar é a última coisa
que a gente vai fazer... - fala Haroldo.
CORTA A CENA.
CENA 8: Cleiton nota que
Adelaide circula inquieta pela casa.
-Vem dormir comigo, amor! Já
são quase meia noite! O que te deu pra ficar andando de um lado pro
outro nessa casa?
-Não sei, Cleiton... um
aperto no peito, um negócio esquisito.
-Você tá bem? Quer que eu
pegue o aparelho de medir a pressão?
-Não, amor... de saúde eu
tou bem. Não é nada físico... só tou com uma sensação ruim... o
peito apertado, pensamento preocupado e alguma coisa abafada aqui
dentro.
-Quer falar sobre isso,
Adelaide?
-Não sei se vale a pena
dizer.
-Confia em mim, querida.
-Eu acho que isso é uma
espécie de pressentimento ruim.
-Com o que?
-Não sei dizer. Não sei se
tem a ver comigo, com as meninas ou se tudo isso não passa de
paranoia minha.
-Será que isso não é mais
uma daquelas crises de ansiedade que você costumava ter com mais
frequência antes?
-Acho que não. Mas acho que
vou tomar um chá pra ver se o sono vem de uma vez...
-Eu faço o seu chá, amor...
fica aqui esperando que eu já venho. Não há de ser nada demais.
CORTA A CENA.
CENA 9: Laura, Haroldo e
Mateus circulam felizes pela Vila Madalena.
-Ai, Haroldo... melhor ideia
foi essa que você nos deu. Andar na Vila Madalena não podia faltar
no nosso roteiro de turistas antes da gente ir embora daqui de São
Paulo... - fala Mateus.
-Me deu foi vontade de tomar
uma cerveja bem gelada agora, mas daí eu lembrei que não é legal
beber durante a gravidez. Vocês podiam me ajudar a pensar em alguma
alternativa, né? - fala Laura.
-Claro, amor! A gente vê o
que pode fazer... - fala Haroldo.
Um grupo de pessoas encara os
três e Mateus nota.
-Gente... vamos saindo de
fininho daqui que aquele grupo de pessoas ali do outro lado da rua
não parece estar nada amistoso. Olhem discretamente o jeito que eles
estão encarando a gente... - alerta Mateus.
Os três caminham para longe
do grupo, que os segue. Um homem grita.
-Vocês vão morrer,
degenerados!
Mateus, Haroldo e Laura
começam a correr. FIM DO CAPÍTULO 127.
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