CENA 1: Marion fica perplexa.
-Olha, eu sinto muito por tudo
isso, dona Marion... estou aqui representando a justiça, mas
pessoalmente sou seu fã e torço para que tudo termine da melhor
maneira possível. - fala Valério.
-Que isso, rapaz... eu tenho
consciência de que você está só cumprindo o seu dever... pode
ficar sossegado, viu? Vou sobreviver a isso. Só não esperava que o
processo fosse ser movido justamente pelo João Bernardo...
-Bem, Marion... eu vou
precisar que você assine aqui, por favor. Você deve comparecer na
data marcada na audiência conciliatória no endereço indicado na
intimação.
-Está certo... você tem uma
caneta aí?
-Claro. Só um momento.
Marion assina a via que fica
com o oficial de justiça.
-Bem, sendo assim, dona
Marion, você está ciente do que deve ser feito.
-Pelo menos aquele filhinho de
papai que certamente não puxou ao próprio pai teve a decência de
marcar uma audiência conciliatória... poderia ser pior... mas
enfim, muito obrigada pelo apoio, querido.
-Sinto muito, de verdade...
mas agora preciso ir.
O oficial de justiça vai
embora e Marion ferve de raiva.
-Era só o que me faltava!
Aquele atirador de ovo podre querendo acertar um ovo podre em mim...
me aguarde, João Bernardo... me aguarde!
Marion vai intempestiva para a
edícula e Ivan percebe. CORTA A CENA.
CENA 2: Instantes depois,
Marion chama a todos para comunicar sobre o processo.
-Desculpa chamar vocês assim,
ignorando se vocês estão ou não ocupados com alguma coisa, mas...
o fato é que eu recebi uma intimação para comparecer numa
audiência conciliatória daqui alguns dias. O presidente da emissora
está movendo um processo contra mim. - comunica Marion.
-Como é que é? Mas que
absurdo é esse, mãe? - indigna-se Rafael.
-Não tem nem motivo pra isso!
- exclama Mariana.
-Então, gente... pelo que
pude entender, ele está me processando por calúnia e difamação. -
esclarece Marion.
-Mas como isso, Marion? Não
faz o mínimo sentido! Me explica onde que tá a calúnia! - fala
Riva.
-Ele deve ter considerado
ofensivo tudo o que eu falei sobre a emissora na coletiva de
imprensa... daí resolveu me processar. - fala Marion.
-Mas isso é absurdo, tia!
Como é que pode um negócio desses? Tudo o que você disse sempre
correu à boca pequena entre as pessoas... não é novidade pra
ninguém! - fala Marcelo.
-Sim, mas daí a essas
afirmações se tornarem públicas, através de uma atriz do alcance
da Marion, a coisa muda de figura. É possível que esse processo só
esteja sendo movido porque o João Bernardo deve ter perdido
anunciantes ou patrocinadores, que devem ter pulado fora para não
ter suas marcas vinculadas à emissora. Por que ele não processou a
nenhum de nós, que também se desligou da emissora? Por um motivo
simples: a Marion foi quem mais falou na coletiva de imprensa e ela
foi escolhida como Judas nessa situação, pra ser malhada pela
opinião pública. Pelo menos é isso que o pessoal da emissora vai
tentar fazer, acredito... - fala Vicente.
-O duro é perceber que você
tem razão, Vicente. Essa é a única explicação possível e
razoável pra justificar essa acusação contra mim. Acusação que
por sinal é inverídica... - fala Marion.
-Esse mundinho de gente famosa
às vezes pode ser bem podre, credo, minha filha... sujeito acha que
porque ele é rico e preside uma emissora ele pode comprar a lei? -
revolta-se Valquíria.
-Não só pode como na prática
muitas vezes manipula e compra, mesmo... - esclarece Vicente.
-Não fiquem assim revoltados,
queridos. Não fique tão revoltada, mãe... a senhora ainda tem
aneurisma, esqueceu? Não é porque está assintomático que deixou
de existir. Então nada de se estressar. E isso vale para todos
vocês! Eu vou na audiência na data marcada. E vou me sair bem,
porque só vou dizer a verdade, simples assim. - fala Marion.
Todos apoiam Marion. CORTA A
CENA.
CENA 3: Na manhã do dia
seguinte, Cláudio encoraja Bruno ao acordar.
-Ei, bom dia nervosinho!
Conseguiu dormir alguma coisa?
-Quase nada. Por mim eu teria
ficado lá no hospital, nem tinha voltado pra cá. O médico disse
que eu podia ficar se eu quisesse.
-Mas você estaria ainda mais
nervoso, eu sei disso. A cirurgia só vai ser bem mais tarde hoje. E
sua mãe e seu pai fizeram bem de insistir que você viesse pra cá.
Se eu vejo o tamanho da sua ansiedade diante disso, eles devem saber
disso melhor que eu.
-É... tem razão... talvez eu
fosse infernizar as pessoas por lá, mesmo sem querer.
-Tá vendo? Mas fica
tranquilo, Bruno. Hoje as coisas vão mudar e vai ser pra melhor.
-Tenho muita esperança que
seja assim, Cláudio... mas agora que tá chegando perto eu fico
nesse nervosismo, sabe? Bate um medo da coisa não dar certo, da
minha mãe não resistir...
-Deixa disso, amor... sério.
Pensamento positivo é importante e fundamental nesse momento e nem
me venha com esse papo furado de que não ajuda porque ajuda sim!
-Eu já quero ir pro hospital,
se isso não for te incomodar.
-Ai, tá bom. Você não vai
poder comer nada agora, mesmo...
-Assim eu acho que vou me
tranquilizar... poder conversar com a mãe e com o pai antes. Essas
coisa, sabe?
-É, mas não me inventa de
dar ataquezinho de ansiedade se as horas demorarem a passar. Trate de
sossegar esse facho que você precisa estar relaxado antes de entrar
pro bloco cirúrgico e doar o seu rim...
-Vamos nos arrumando, então?
-Vamos sim. Mas você se
comporte, senão já viu!
Os dois começam a se
organizar para sair de casa. CORTA A CENA.
CENA 4: Marcelo liga para o
pai.
-Oi pai... tudo bem com você?
Espero não ter te acordado.
-Não me acordou, Marcelo...
estou bem, na medida do possível.
-Não esperava menos de você.
Ainda mais depois de todos nós deixarmos claro o quanto você é
realmente querido por nós.
-Ah, meu filho... eu agradeço
todos os dias por essa nova chance que a vida tá me dando.
-Besteira, seu Márcio... quem
tá se dando essa chance é você mesmo, sua vontade de fazer e ser
diferente.
-E dessa vez seguindo o meu
coração... sendo verdadeiro comigo mesmo.
-Isso faz toda a diferença do
mundo, pode apostar. Quando nós somos verdadeiros com nós mesmos,
isso transparece e transforma tudo à nossa volta.
-Eu espero que um dia a
Suzanne seja verdadeira com ela mesma, filho. Pode parecer besteira
minha, mas eu ainda acredito na redenção dela.
-Se eu fosse você, não
contaria com isso. Ou esperaria sentado, porque não creio que ela
queira se redimir por qualquer coisa. Ninguém conhece aquele coração
dela...
-Isso infelizmente é verdade,
filho. Vou precisar desligar agora, nos falamos assim que for
possível. Beijo, filho.
-Beijo, pai.
CORTA A CENA.
CENA 5: Laura, Haroldo e
Mateus estranham ambiente do teatro durante ensaio.
-Procópio... que eu mal te
pergunte: por que tá tudo tão organizado hoje aqui no teatro como
se fosse dia de estreia? - questiona Laura.
-Porque é dia de estreia. -
explica Procópio.
-Mas estreia de que peça? Não
tou sabendo de nenhuma outra peça... - estranha Haroldo.
-Sabe o que é, queridos? Se a
Laura não fosse tão observadora e conhecedora aqui das
dependências, eu conseguiria manter a surpresa até o final, mas a
verdade é que a nossa peça vai ter uma pré estreia hoje. Era
surpresa pra vocês... - fala Procópio.
-Que!? - espanta-se Mateus.
-Não se assustem, seus bobos.
Essa pré estreia só vale pro pessoal da crítica especializada. -
esclarece Procópio.
-Ah, sim... me tranquilizou
muito saber disso. Eu nunca me apresentei em público antes! - fala
Haroldo.
-Ai, meninos... desencanem! Eu
amei essa ideia e já esperava por algo assim, conhecendo o Procópio.
Vai ser tranquilo, eu prometo... vamos usar esse nervosismo todo a
nosso favor, podem apostar isso comigo! - fala Laura.
-Explica melhor essa história,
Procópio... quem são as pessoas que vão nos assistir mais tarde?
Ou melhor: quantas? - questiona Mateus.
-Vai ser um grupo reduzido de
pessoas... vinte, no máximo. Só vão ser críticos de teatro,
cinema e TV. Dependendo da avaliação deles, a gente vai poder fazer
a estreia oficial mais em breve do que vocês imaginam... - fala
Procópio.
-Não se preocupe, Haroldo...
e você, Mateus, deveria estar acostumado, até parece que nunca fez
teatro aqui... - fala Laura.
CORTA A CENA.
CENA 6: Bruno e Vânia,
acompanhados de Cláudio e Setembrino, aguardam para entrar em bloco
cirúrgico.
-Não sei como você consegue
aparentar tanta calma agora, mãe... - fala Bruno.
-Melhor assim, meu filho... já
me acostumei com essa coisa toda. Já são alguns anos convivendo com
essa doença e me alivia saber que agora eu vou poder levar uma vida
melhor... - fala Vânia.
-Você que deveria ficar mais
tranquilo, Bruno... não tá vendo a serenidade da sua mãe? - fala
Cláudio.
-Ai, gente... eu juro que tou
fazendo o meu melhor pra ficar calmo, mas tou bem nervoso. Esse dia
tá comprido demais, parece que as horas nunca passam... - fala
Bruno.
-Não fica assim, filho. Todos
nós estamos na expectativa e torcendo para que tudo saia bem.
Nervoso eu também fico, mas esse nervosismo não pode ser maior que
nossa fé de que tudo vai terminar bem. - fala Setembrino.
-Escute seu pai, meu filho. Eu
já sou infinitamente grata por essa oportunidade que você e nosso
genro deram de nos chamar pra vir aqui pro Rio morar com vocês. Eu
sei que eu sou teimosa e cabeça dura, mas reconheço que se a gente
não tivesse aceitado e tivesse ficado lá em Coroados, numa hora
dessas eu estaria numa péssima situação, sem perspectivas... não
quero nem pensar no que minha teimosia poderia ter acarretado. Mas o
fato é que a gente tá aqui, bem assistido, com tudo encaminhado. Eu
tenho muita sorte de ter você, Bruno... um filho que vale ouro e que
resolveu fazer esse gesto por mim. Isso não cabe nas minhas
palavras, porque minha gratidão vai ser eterna. Sua atitude não tem
preço, meu filho. Eu te amo mais ainda por ver que você se tornou
esse homem tão maravilhoso... - derrete-se Vânia.
Bruno se emociona.
-Vocês tão mesmo querendo me
fazer chorar... - fala Bruno.
Bruno e Vânia são
encaminhados ao bloco cirúrgico e Cláudio fica na expectativa, ao
lado de Setembrino. CORTA A CENA.
CENA 7: Eva e Renata conferem
o resultado final da enquete com as sugestões de nome para a ONG.
-É, Eva... parece que o nome
mais votado para a nossa futura ONG foi mesmo “Roxo é o Poder”.
-Quem diria, Renata... justo o
nome que eu fiquei mais reticente em colocar. Como é que pode?
-Isso eu não sei, amor... mas
posso imaginar que foi pelo impacto que esse nome possa causar. É um
nome aparentemente simples, mas cheio de personalidade e de
identidade. Deixa subentendido que se trata de uma causa feminista,
mas não deixa óbvio.
-Ih, Renata... você saiu
daquela empresa de naming há anos e pelo visto não perdeu os
cacoetes profissionais de lá....
-Não mesmo, amor! E modéstia
a parte, quem é que deu a ideia de todos os nomes que foram
colocados na enquete?
-Foi você...
-Tá vendo?
-E por mais que eu tenha
ficado reticente quanto ao vencedor, o fato é que nenhuma das demais
sugestões, bem como o nome vencedor, eram óbvias.
-Viu só como faz diferença?
Querendo ou não a gente vai acabar cedo ou tarde sendo associada a
essa marca. É como se fosse um produto e, de certa forma, é.
-Falando em questões
práticas, amor... a gente ainda precisa fazer o levantamento de
quanto dinheiro a gente vai ter de investir nisso e pegar uma
estimativa de quando a gente vai conseguir de fato colocar nossa ONG
pra funcionar a todo vapor e ajudar as mulheres que precisarem de
auxílio e orientação.
-Eita que a gente vai acabar
perdendo é noites de sono nisso tudo, mas vai ser maravilhoso...
As duas seguem conversando.
CORTA A CENA.
CENA 8: Cleiton percebe que
Adelaide está apreensiva.
-Não tou entendendo, amor...
até agora você tava super empolgada com todos os projetos que
causas com que anda se envolvendo... pra que essa cara de
preocupação?
-Ai, amor... não é bem
preocupação. Quer dizer... até é, mas é mais medo que qualquer
outra coisa.
-Medo do que, Adelaide?
-Não consigo esquecer das
ameaças daquele pastor corrupto da igreja que frequentei. Eu sei
muito bem que ele é bom de lábia, persuasivo... pode muito bem
manupular e induzir todo um grupo de pessoas a nos perseguir.
-Mas será que vale a pena
pensar nisso agora, querida? A gente já tá conseguindo avançar em
tantos sentidos...
-Eu sei, Cleiton... eu
realmente sei. Só que isso não vai diminuir o poder destrutivo que
esse sujeito tem nas mãos. O negócio dele é dinheiro e poder. E
pra se manter na posição que ele mesmo tratou de se colocar, ele é
bem capaz de passar por cima de qualquer um.
-Ainda acho que não há razão
pra tanto medo assim. Aquela igreja dele pode ter centenas de fieis,
mas ainda assim, é pequena comparada com os grandes impérios
neopentecostais.
-Eu espero que você esteja
certo, Cleiton. Mas eu conheço aquele sujeito... sei que ele seria
bem capaz de vender a própria alma ao diabo pra ter mais influência,
dinheiro e poder. Essas igrejas estão cheias de vigaristas,
golpistas e aproveitadores. Não tenho a mínima dúvida de que ele é
mais um desses...
-Não acho saudável ficar
alimentando esses pensamentos, Adelaide. Ele até pode fazer o que
quiser fazer, mas nem por isso vamos deixar de lutar pelo que é
justo. Não é por isso que você vai deixar de lutar e entregar os
pontos, né?
-Isso nunca! De jeito nenhum
que eu volto a me curvar a qualquer pessoa que venha me meter medo.
Nessa armadilha eu não caio mais. Deus está em qualquer lugar desse
universo, menos nas igrejas. O lance dessas igrejas não tem nada a
ver com o sagrado... tem a ver com influência, com poder.
-A bancada evangélica que o
diga...
-Justamente...
-Vamos deixar esse papo pra
lá, querida... temos coisas melhores pra pensar, falar e fazer...
CORTA A CENA.
CENA 9: Rafael vai conversar
com Marion.
-Cê tá bem, mãe? Quase não
saiu do quarto hoje...
-Tou ótima, filho... só
precisei desse tempo comigo mesma.
-É por causa do processo, não
é?
-Nem tanto, mas em parte é
sim...
-Você tá com medo?
-Não tem razão ou motivo pra
eu sentir medo, Rafael. Eu tou sendo processada por ter dito a
verdade. E não retiro uma palavra do que eu disse. Não tenho medo
da cara feia e das atitudes baixas do atirador de ovos podres.
-Mas então por que tá se
isolando desse jeito, mãe?
-Porque apesar de não ter
medo, essa situação toda me enoja, me dá um embrulho no estômago.
Tenho que me preparar psicologicamente pra encarar aquele fanfarrão
do João Bernardo de frente. E me manter firme, na minha postura.
-Entendo... bem, qualquer
coisa que você precisar, chama a gente, viu? Sempre...
CORTA A CENA.
CENA 10: Horas depois, Cláudio
e Setembrino estão apreensivos esperando por notícias sobre a
cirurgia de transplante de rim.
-E essa demora, seu
Setembrino? Já não era pra gente ter alguma notícia?
-Não sei, Cláudio... também
estou nervoso e achando tudo isso demorado.
-Quero nem falar o que tá
passando pela minha cabeça. Dá medo de tanta coisa!
-Nem fala nada, querido.
Melhor não falar pra não atrair energia negativa.
-Ai, mas essa espera tá me
botando doido, seu Setembrino. Pela dona Vânia e pelo seu filho...
ninguém até agora disse nada!
O médico se aproxima.
-Pois eu acho que chegaram pra
falar com a gente agora... - alerta Setembrino.
-E então, doutor Rogério...
como foi tudo? - pergunta Cláudio.
-Eles estão bem? - pergunta
Setembrino.
O médico encara os dois com
expressão enigmática.
FIM DO CAPÍTULO 122.
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