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terça-feira, 4 de outubro de 2016

CAPÍTULO 122

CENA 1: Marion fica perplexa.
-Olha, eu sinto muito por tudo isso, dona Marion... estou aqui representando a justiça, mas pessoalmente sou seu fã e torço para que tudo termine da melhor maneira possível. - fala Valério.
-Que isso, rapaz... eu tenho consciência de que você está só cumprindo o seu dever... pode ficar sossegado, viu? Vou sobreviver a isso. Só não esperava que o processo fosse ser movido justamente pelo João Bernardo...
-Bem, Marion... eu vou precisar que você assine aqui, por favor. Você deve comparecer na data marcada na audiência conciliatória no endereço indicado na intimação.
-Está certo... você tem uma caneta aí?
-Claro. Só um momento.
Marion assina a via que fica com o oficial de justiça.
-Bem, sendo assim, dona Marion, você está ciente do que deve ser feito.
-Pelo menos aquele filhinho de papai que certamente não puxou ao próprio pai teve a decência de marcar uma audiência conciliatória... poderia ser pior... mas enfim, muito obrigada pelo apoio, querido.
-Sinto muito, de verdade... mas agora preciso ir.
O oficial de justiça vai embora e Marion ferve de raiva.
-Era só o que me faltava! Aquele atirador de ovo podre querendo acertar um ovo podre em mim... me aguarde, João Bernardo... me aguarde!
Marion vai intempestiva para a edícula e Ivan percebe. CORTA A CENA.

CENA 2: Instantes depois, Marion chama a todos para comunicar sobre o processo.
-Desculpa chamar vocês assim, ignorando se vocês estão ou não ocupados com alguma coisa, mas... o fato é que eu recebi uma intimação para comparecer numa audiência conciliatória daqui alguns dias. O presidente da emissora está movendo um processo contra mim. - comunica Marion.
-Como é que é? Mas que absurdo é esse, mãe? - indigna-se Rafael.
-Não tem nem motivo pra isso! - exclama Mariana.
-Então, gente... pelo que pude entender, ele está me processando por calúnia e difamação. - esclarece Marion.
-Mas como isso, Marion? Não faz o mínimo sentido! Me explica onde que tá a calúnia! - fala Riva.
-Ele deve ter considerado ofensivo tudo o que eu falei sobre a emissora na coletiva de imprensa... daí resolveu me processar. - fala Marion.
-Mas isso é absurdo, tia! Como é que pode um negócio desses? Tudo o que você disse sempre correu à boca pequena entre as pessoas... não é novidade pra ninguém! - fala Marcelo.
-Sim, mas daí a essas afirmações se tornarem públicas, através de uma atriz do alcance da Marion, a coisa muda de figura. É possível que esse processo só esteja sendo movido porque o João Bernardo deve ter perdido anunciantes ou patrocinadores, que devem ter pulado fora para não ter suas marcas vinculadas à emissora. Por que ele não processou a nenhum de nós, que também se desligou da emissora? Por um motivo simples: a Marion foi quem mais falou na coletiva de imprensa e ela foi escolhida como Judas nessa situação, pra ser malhada pela opinião pública. Pelo menos é isso que o pessoal da emissora vai tentar fazer, acredito... - fala Vicente.
-O duro é perceber que você tem razão, Vicente. Essa é a única explicação possível e razoável pra justificar essa acusação contra mim. Acusação que por sinal é inverídica... - fala Marion.
-Esse mundinho de gente famosa às vezes pode ser bem podre, credo, minha filha... sujeito acha que porque ele é rico e preside uma emissora ele pode comprar a lei? - revolta-se Valquíria.
-Não só pode como na prática muitas vezes manipula e compra, mesmo... - esclarece Vicente.
-Não fiquem assim revoltados, queridos. Não fique tão revoltada, mãe... a senhora ainda tem aneurisma, esqueceu? Não é porque está assintomático que deixou de existir. Então nada de se estressar. E isso vale para todos vocês! Eu vou na audiência na data marcada. E vou me sair bem, porque só vou dizer a verdade, simples assim. - fala Marion.
Todos apoiam Marion. CORTA A CENA.

CENA 3: Na manhã do dia seguinte, Cláudio encoraja Bruno ao acordar.
-Ei, bom dia nervosinho! Conseguiu dormir alguma coisa?
-Quase nada. Por mim eu teria ficado lá no hospital, nem tinha voltado pra cá. O médico disse que eu podia ficar se eu quisesse.
-Mas você estaria ainda mais nervoso, eu sei disso. A cirurgia só vai ser bem mais tarde hoje. E sua mãe e seu pai fizeram bem de insistir que você viesse pra cá. Se eu vejo o tamanho da sua ansiedade diante disso, eles devem saber disso melhor que eu.
-É... tem razão... talvez eu fosse infernizar as pessoas por lá, mesmo sem querer.
-Tá vendo? Mas fica tranquilo, Bruno. Hoje as coisas vão mudar e vai ser pra melhor.
-Tenho muita esperança que seja assim, Cláudio... mas agora que tá chegando perto eu fico nesse nervosismo, sabe? Bate um medo da coisa não dar certo, da minha mãe não resistir...
-Deixa disso, amor... sério. Pensamento positivo é importante e fundamental nesse momento e nem me venha com esse papo furado de que não ajuda porque ajuda sim!
-Eu já quero ir pro hospital, se isso não for te incomodar.
-Ai, tá bom. Você não vai poder comer nada agora, mesmo...
-Assim eu acho que vou me tranquilizar... poder conversar com a mãe e com o pai antes. Essas coisa, sabe?
-É, mas não me inventa de dar ataquezinho de ansiedade se as horas demorarem a passar. Trate de sossegar esse facho que você precisa estar relaxado antes de entrar pro bloco cirúrgico e doar o seu rim...
-Vamos nos arrumando, então?
-Vamos sim. Mas você se comporte, senão já viu!
Os dois começam a se organizar para sair de casa. CORTA A CENA.

CENA 4: Marcelo liga para o pai.
-Oi pai... tudo bem com você? Espero não ter te acordado.
-Não me acordou, Marcelo... estou bem, na medida do possível.
-Não esperava menos de você. Ainda mais depois de todos nós deixarmos claro o quanto você é realmente querido por nós.
-Ah, meu filho... eu agradeço todos os dias por essa nova chance que a vida tá me dando.
-Besteira, seu Márcio... quem tá se dando essa chance é você mesmo, sua vontade de fazer e ser diferente.
-E dessa vez seguindo o meu coração... sendo verdadeiro comigo mesmo.
-Isso faz toda a diferença do mundo, pode apostar. Quando nós somos verdadeiros com nós mesmos, isso transparece e transforma tudo à nossa volta.
-Eu espero que um dia a Suzanne seja verdadeira com ela mesma, filho. Pode parecer besteira minha, mas eu ainda acredito na redenção dela.
-Se eu fosse você, não contaria com isso. Ou esperaria sentado, porque não creio que ela queira se redimir por qualquer coisa. Ninguém conhece aquele coração dela...
-Isso infelizmente é verdade, filho. Vou precisar desligar agora, nos falamos assim que for possível. Beijo, filho.
-Beijo, pai.
CORTA A CENA.

CENA 5: Laura, Haroldo e Mateus estranham ambiente do teatro durante ensaio.
-Procópio... que eu mal te pergunte: por que tá tudo tão organizado hoje aqui no teatro como se fosse dia de estreia? - questiona Laura.
-Porque é dia de estreia. - explica Procópio.
-Mas estreia de que peça? Não tou sabendo de nenhuma outra peça... - estranha Haroldo.
-Sabe o que é, queridos? Se a Laura não fosse tão observadora e conhecedora aqui das dependências, eu conseguiria manter a surpresa até o final, mas a verdade é que a nossa peça vai ter uma pré estreia hoje. Era surpresa pra vocês... - fala Procópio.
-Que!? - espanta-se Mateus.
-Não se assustem, seus bobos. Essa pré estreia só vale pro pessoal da crítica especializada. - esclarece Procópio.
-Ah, sim... me tranquilizou muito saber disso. Eu nunca me apresentei em público antes! - fala Haroldo.
-Ai, meninos... desencanem! Eu amei essa ideia e já esperava por algo assim, conhecendo o Procópio. Vai ser tranquilo, eu prometo... vamos usar esse nervosismo todo a nosso favor, podem apostar isso comigo! - fala Laura.
-Explica melhor essa história, Procópio... quem são as pessoas que vão nos assistir mais tarde? Ou melhor: quantas? - questiona Mateus.
-Vai ser um grupo reduzido de pessoas... vinte, no máximo. Só vão ser críticos de teatro, cinema e TV. Dependendo da avaliação deles, a gente vai poder fazer a estreia oficial mais em breve do que vocês imaginam... - fala Procópio.
-Não se preocupe, Haroldo... e você, Mateus, deveria estar acostumado, até parece que nunca fez teatro aqui... - fala Laura.
CORTA A CENA.

CENA 6: Bruno e Vânia, acompanhados de Cláudio e Setembrino, aguardam para entrar em bloco cirúrgico.
-Não sei como você consegue aparentar tanta calma agora, mãe... - fala Bruno.
-Melhor assim, meu filho... já me acostumei com essa coisa toda. Já são alguns anos convivendo com essa doença e me alivia saber que agora eu vou poder levar uma vida melhor... - fala Vânia.
-Você que deveria ficar mais tranquilo, Bruno... não tá vendo a serenidade da sua mãe? - fala Cláudio.
-Ai, gente... eu juro que tou fazendo o meu melhor pra ficar calmo, mas tou bem nervoso. Esse dia tá comprido demais, parece que as horas nunca passam... - fala Bruno.
-Não fica assim, filho. Todos nós estamos na expectativa e torcendo para que tudo saia bem. Nervoso eu também fico, mas esse nervosismo não pode ser maior que nossa fé de que tudo vai terminar bem. - fala Setembrino.
-Escute seu pai, meu filho. Eu já sou infinitamente grata por essa oportunidade que você e nosso genro deram de nos chamar pra vir aqui pro Rio morar com vocês. Eu sei que eu sou teimosa e cabeça dura, mas reconheço que se a gente não tivesse aceitado e tivesse ficado lá em Coroados, numa hora dessas eu estaria numa péssima situação, sem perspectivas... não quero nem pensar no que minha teimosia poderia ter acarretado. Mas o fato é que a gente tá aqui, bem assistido, com tudo encaminhado. Eu tenho muita sorte de ter você, Bruno... um filho que vale ouro e que resolveu fazer esse gesto por mim. Isso não cabe nas minhas palavras, porque minha gratidão vai ser eterna. Sua atitude não tem preço, meu filho. Eu te amo mais ainda por ver que você se tornou esse homem tão maravilhoso... - derrete-se Vânia.
Bruno se emociona.
-Vocês tão mesmo querendo me fazer chorar... - fala Bruno.
Bruno e Vânia são encaminhados ao bloco cirúrgico e Cláudio fica na expectativa, ao lado de Setembrino. CORTA A CENA.

CENA 7: Eva e Renata conferem o resultado final da enquete com as sugestões de nome para a ONG.
-É, Eva... parece que o nome mais votado para a nossa futura ONG foi mesmo “Roxo é o Poder”.
-Quem diria, Renata... justo o nome que eu fiquei mais reticente em colocar. Como é que pode?
-Isso eu não sei, amor... mas posso imaginar que foi pelo impacto que esse nome possa causar. É um nome aparentemente simples, mas cheio de personalidade e de identidade. Deixa subentendido que se trata de uma causa feminista, mas não deixa óbvio.
-Ih, Renata... você saiu daquela empresa de naming há anos e pelo visto não perdeu os cacoetes profissionais de lá....
-Não mesmo, amor! E modéstia a parte, quem é que deu a ideia de todos os nomes que foram colocados na enquete?
-Foi você...
-Tá vendo?
-E por mais que eu tenha ficado reticente quanto ao vencedor, o fato é que nenhuma das demais sugestões, bem como o nome vencedor, eram óbvias.
-Viu só como faz diferença? Querendo ou não a gente vai acabar cedo ou tarde sendo associada a essa marca. É como se fosse um produto e, de certa forma, é.
-Falando em questões práticas, amor... a gente ainda precisa fazer o levantamento de quanto dinheiro a gente vai ter de investir nisso e pegar uma estimativa de quando a gente vai conseguir de fato colocar nossa ONG pra funcionar a todo vapor e ajudar as mulheres que precisarem de auxílio e orientação.
-Eita que a gente vai acabar perdendo é noites de sono nisso tudo, mas vai ser maravilhoso...
As duas seguem conversando. CORTA A CENA.

CENA 8: Cleiton percebe que Adelaide está apreensiva.
-Não tou entendendo, amor... até agora você tava super empolgada com todos os projetos que causas com que anda se envolvendo... pra que essa cara de preocupação?
-Ai, amor... não é bem preocupação. Quer dizer... até é, mas é mais medo que qualquer outra coisa.
-Medo do que, Adelaide?
-Não consigo esquecer das ameaças daquele pastor corrupto da igreja que frequentei. Eu sei muito bem que ele é bom de lábia, persuasivo... pode muito bem manupular e induzir todo um grupo de pessoas a nos perseguir.
-Mas será que vale a pena pensar nisso agora, querida? A gente já tá conseguindo avançar em tantos sentidos...
-Eu sei, Cleiton... eu realmente sei. Só que isso não vai diminuir o poder destrutivo que esse sujeito tem nas mãos. O negócio dele é dinheiro e poder. E pra se manter na posição que ele mesmo tratou de se colocar, ele é bem capaz de passar por cima de qualquer um.
-Ainda acho que não há razão pra tanto medo assim. Aquela igreja dele pode ter centenas de fieis, mas ainda assim, é pequena comparada com os grandes impérios neopentecostais.
-Eu espero que você esteja certo, Cleiton. Mas eu conheço aquele sujeito... sei que ele seria bem capaz de vender a própria alma ao diabo pra ter mais influência, dinheiro e poder. Essas igrejas estão cheias de vigaristas, golpistas e aproveitadores. Não tenho a mínima dúvida de que ele é mais um desses...
-Não acho saudável ficar alimentando esses pensamentos, Adelaide. Ele até pode fazer o que quiser fazer, mas nem por isso vamos deixar de lutar pelo que é justo. Não é por isso que você vai deixar de lutar e entregar os pontos, né?
-Isso nunca! De jeito nenhum que eu volto a me curvar a qualquer pessoa que venha me meter medo. Nessa armadilha eu não caio mais. Deus está em qualquer lugar desse universo, menos nas igrejas. O lance dessas igrejas não tem nada a ver com o sagrado... tem a ver com influência, com poder.
-A bancada evangélica que o diga...
-Justamente...
-Vamos deixar esse papo pra lá, querida... temos coisas melhores pra pensar, falar e fazer...
CORTA A CENA.

CENA 9: Rafael vai conversar com Marion.
-Cê tá bem, mãe? Quase não saiu do quarto hoje...
-Tou ótima, filho... só precisei desse tempo comigo mesma.
-É por causa do processo, não é?
-Nem tanto, mas em parte é sim...
-Você tá com medo?
-Não tem razão ou motivo pra eu sentir medo, Rafael. Eu tou sendo processada por ter dito a verdade. E não retiro uma palavra do que eu disse. Não tenho medo da cara feia e das atitudes baixas do atirador de ovos podres.
-Mas então por que tá se isolando desse jeito, mãe?
-Porque apesar de não ter medo, essa situação toda me enoja, me dá um embrulho no estômago. Tenho que me preparar psicologicamente pra encarar aquele fanfarrão do João Bernardo de frente. E me manter firme, na minha postura.
-Entendo... bem, qualquer coisa que você precisar, chama a gente, viu? Sempre...
CORTA A CENA.

CENA 10: Horas depois, Cláudio e Setembrino estão apreensivos esperando por notícias sobre a cirurgia de transplante de rim.
-E essa demora, seu Setembrino? Já não era pra gente ter alguma notícia?
-Não sei, Cláudio... também estou nervoso e achando tudo isso demorado.
-Quero nem falar o que tá passando pela minha cabeça. Dá medo de tanta coisa!
-Nem fala nada, querido. Melhor não falar pra não atrair energia negativa.
-Ai, mas essa espera tá me botando doido, seu Setembrino. Pela dona Vânia e pelo seu filho... ninguém até agora disse nada!
O médico se aproxima.
-Pois eu acho que chegaram pra falar com a gente agora... - alerta Setembrino.
-E então, doutor Rogério... como foi tudo? - pergunta Cláudio.
-Eles estão bem? - pergunta Setembrino.
O médico encara os dois com expressão enigmática.
FIM DO CAPÍTULO 122.

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