CENA 1: Riva fica perplexa
diante de misteriosa senhora e a reconhece de quando foi orientada a
jogar na loteria.
-Eu sei que prometi que vocês
nunca mais iam me ver. E eu estava dizendo a verdade, Riva. Mas se
você deixar eu entrar na sua casa, eu vou explicar porque eu tive de
voltar. - explica a misteriosa senhora.
-Claro que pode entrar, mas eu
nem sei seu nome... - fala Riva.
-Me chame de “dona velha”,
mesmo. Por mais inusitado que isso possa parecer, eu sei que você
diz isso de coração, pois é uma alma boa... - fala a misteriosa
senhora.
-Então entre, por favor,
“Dona Velha”. A casa é sua e... eu sou muito grata por você ter
sugerido que eu jogasse na loteria...
-Eu sabia que você ganharia,
boba. Eu sei das coisas... sempre soube. - fala “Dona Velha”.
Riva chama misteriosa para
apresentar a todos.
-Queridos, é com muita
alegria que apresento a vocês “Dona Velha” - fala Riva.
-Eu tou reconhecendo essa
senhora, mãe... foi ela que apareceu do nada no nosso apê ano
passado, dizendo pra você jogar na loteria. E ela sabia também das
coisas que eu ia passar... sabia que eu ia encontrar o verdadeiro
amor e agora eu tou casado com o Rafael... - espanta-se Marcelo.
-Qual é seu nome, minha
senhora? - pergunta Rafael.
-Me chamem de Dona Velha,
adorei esse apelido que a Riva arranjou pra mim. - afirma a senhora.
-Você parece uma pessoa tão
boa, nem parece desse mundo... - constata Vicente.
-Eu não estou aqui? Então eu
sou desse mundo, Vicente... - fala “Dona Velha”.
-Mas ele tem razão... você
tem um brilho, uma coisa especial. Uma luz, algo que nem sei como
explicar... - fala Vânia.
-Ah, Vânia... obrigada pela
generosidade de seu olhar sobre mim... - fala “Dona Velha”.
-Como é que você sabe meu
nome? - espanta-se Vânia.
-Gente, não se assustem... eu
sei das coisas. Vocês chamam isso de mediunidade, não chamam? Pois
que seja... eu sei do nome de todo mundo aqui. E da história de cada
um... sei, por exemplo, que você acaba de renascer graças ao seu
filho Bruno... - fala “Dona Velha”.
Todos olham impressionados
para misteriosa senhora, que segue a falar.
-E você vai viver muito
ainda, Vânia... vai passar dos noventa com tranquilidade. Vai ver
seus dois netos, que Cláudio e Bruno vão adotar, crescerem e ter
seus próprios filhos. E ah, dona Valquíria: não perca tempo
temendo a morte... o seu aneurisma está desaparecendo e quando você
for ao médico outra vez, não vai ter mais nada. Ninguém vai saber
explicar o que houve, mas é que sua vida começou agora, desde o
momento que seus sonhos se tornaram realidade. Vai passar dos cem
anos e ainda vai fazer sucesso na carreira... você, Mariana, vai se
tornar uma médica que vai viajar o mundo ajudando pessoas
necessitadas...
Todos ouvem atentamente
misteriosa senhora.
CENA 2: Riva pede um momento
para conversar a sós com “Dona Velha”.
-Eu sei que tava todo mundo
empolgado com as coisas que você tava falando sobre eles... e você
é boa mesmo, dona velha... sabe coisas do passado de todo mundo
aqui, impressionante! - fala Riva.
-Eu sei que você precisa
conversar comigo. Fique tranquila. Suzanne não vai mais ser uma
ameaça pra você. Não se espante se, de uma forma torta, ela acabar
se redimindo futuramente.
-Redenção pra uma psicopata?
Me desculpe, dona velha, mas acho que dessa vez sua anteninha
falhou...
-No fundo, você sabe que ela
não é isso. Ela escolheu não amar. Mas existe algo de bom dentro
dela. Um dia isso vai ficar provado... mas nesse dia, ela vai pra
longe e vocês nunca mais vão saber dela.
-Ai, cheguei a me arrepiar
aqui, dona velha. Mas fico tranquila de saber que ela não representa
ameaça.
-Lá no fundo ela tem uma
luz... falta a ela mesma enxergar essa luz. Mas não vamos mais falar
de Suzanne. Chame Márcio para jantar aqui com vocês. Eu preciso ter
uma conversa séria e definitiva com ele.
-Sobre o que?
-Não se assuste e nem duvide
do caráter dele. Ele é repleto de bondade e luz e se insistiu na
Suzanne por tantos anos, foi por ver o potencial dela. Chame Márcio,
eu realmente preciso falar com ele.
-Está certo... eu chamo agora
mesmo.
CORTA A CENA.
CENA 3: Poucos instantes
depois, misteriosa senhora conversa com Cláudio.
-Você é um menino de coração
incrivelmente generoso. Se importa de me dar suas mãos? Quero sentir
um pouco mais da sua essência, se isso não for te assustar... -
fala “Dona Velha”.
-Eu posso mesmo te chamar de
“Dona Velha”? - pergunta Cláudio, estendendo suas mãos.
-Me sinto bem sendo chamada
assim, menino... você realmente passou por muita coisa difícil
nessa vida. Foi abandonado pela mãe biológica e seu pai lutou por
anos pra saber onde você estava. Ele realmente sempre te amou e fez
o possível pra te encontrar, mas a visão estava prejudicada. Vejo
que você teve a sorte de ter pais adotivos que lhe amaram mais que
tudo nessa vida e que ainda muito jovem teve de aprender a viver sem
eles... o desencarne deles foi traumático pra você, mas você
cresceu demais através dessa dor. Passou por muitas dificuldades e
desilusões, quase caiu nas garras de um amor obsessivo, mas ainda
tem um lado seu que precisa melhorar... você precisa aprender a ser
menos exigente com as pessoas, meu querido. As pessoas sempre mentem
e não fazem por mal. Você já amadureceu muito nesses últimos
anos, só falta aprender a não exigir dos outros o que você mesmo
não pode fazer.
-Nossa... isso tudo é
realmente verdade, dona velha... você sabe mesmo das coisas.
-E vou mais longe, meu
querido: aproveite que você tem o seu verdadeiro pai de volta agora.
Ele tem muito amor a te oferecer. A você e a seu irmão Marcelo.
Vocês são as verdadeiras razões de ele ainda estar nesse mundo.
Aproveite enquanto houver tempo de aproveitar. A gente nunca sabe
quando uma encarnação pode acabar...
Cláudio se assusta. CORTA A
CENA.
CENA 4: Procópio vai à casa
de Laura, que o recebe.
-Que surpresa, Procópio!
Podia ter ligado avisando que vinha. Quer falar sobre nossos novos
ensaios? Entre, por favor... - fala Laura.
-Na verdade eu queria
conversar com vocês três, é sobre a peça, mas não é uma coisa
muito boa... - fala Procópio.
-Fala logo, cara! Já tou
ficando nervoso... - fala Haroldo.
-Então, gente... devido ao
incidente ocorrido em São Paulo, houve um cancelamento temporário
da nossa turnê pelos teatros do Brasil... isso significa que até
segunda ordem, nós não viajamos mais com nossa peça. “Segredos
de Travesseiro” vai ficar nesse período restrita ao Rio, mesmo...
à nossa companhia de teatro. Mas a agenda continua a mesma: daqui
alguns dias as apresentações retornam normalmente. Só que sem
turnê. - fala Procópio.
-Triste saber disso,
Procópio... justo agora que a gente tá num ótimo momento das
carreiras... - lamenta Mateus.
-O pior é dar esse gostinho
de vitória pra esses parasitas sociais que são esses
conservadores... mas a batalha está perdida, não a guerra! - afirma
Laura.
-É assim que vocês devem se
manter: firmes. Eu lamento que tenha vindo só pra dar essa notícia
chata a vocês, mas também estou triste com tudo isso. Vamos fazer
nossa peça acontecer de qualquer maneira. - fala Procópio.
CORTA A CENA.
CENA 5: Horas depois, Márcio
chega à mansão dos Bittencourt e se depara com misteriosa senhora.
-Quem é essa senhora? -
pergunta Márcio à Riva.
-Uma amiga. Ela disse que
precisa conversar com você. - esclarece Riva.
-Comigo? Mas o que eu tenho a
conversar com essa senhora que não conheço? - estranha Márcio.
-Eu te conheço, Márcio. Sei
das coisas erradas que Suzanne te obrigou a fazer. Sei que você
sempre acreditou na redenção dela e agora tá desiludido. Venha
comigo à edícula, eu sei que você não quer ninguém ouvindo... -
fala “Dona Velha”, segurando Márcio pela mão.
-Senti confiança em você,
senhora... não sei por que. Qual seu nome?
-Me chame de “Dona Velha”,
é assim que Riva sempre me chamou.
-Tá certo. Mas o que você
precisa conversar comigo?
-Você é médium e sabe
disso, não sabe, Márcio? Eu vou colocar minhas mãos sobre sua
testa e você vai ver... e enquanto você vê eu vou lhe dizendo as
coisas, certo?
-Certo... sou meio médium,
mesmo.
“Dona Velha” coloca as
mãos sobre a testa de Márcio e começa a falar.
-Você está vendo o que vai
acontecer em pouco tempo. Você sabe que tem uma escolha vital a ser
feita, não sabe?
-Eu sei. Mas tenho medo de
falhar. Vejo meu filho correndo risco.
-Por favor, Márcio... não
diga nada. Deixa que eu falo... você vai se ver diante de uma
situação extrema. Vai ter que agir rápido se quiser salvar as
vidas que correm risco. Você sabe que isso pode ter um preço alto.
Agora eu pergunto: você se dispõe a pagar esse preço?
-Eu pago qualquer preço por
amor, dona velha.
-Faça o que o seu coração
mandar e não tema as consequências disso.
-Eu não tenho medo. Eu sei
que a vida não é só isso aqui.
-É bom que saiba disso.
Cláudio, sem ser notado,
escuta a conversa dos dois e se assusta. CORTA A CENA.
CENA 6: Eva e Renata recebem
entregas em sua casa.
-Gente, quantas doações!
Nunca imaginei que iriam haver tantas doações para nossa ONG em tão
pouco tempo!
-Nem eu, Renata. Confesso que
ainda tou surpresa!
-Mas tou achando isso ótimo.
Quem não tá podendo doar dinheiro, tá doando o principal para a
ONG: roupas, cobertores, enfim... coisas básicas para garantir pelo
menos moradia transitória pra quem estiver em situação de risco e
estiver buscando abrigo.
-Isso é verdade. Me empolga
saber que tem tanta generosidade nesse mundo, tanta gente disposta a
garantir não somente segurança pra quem precisa de proteção, mas
também o mínimo de conforto e dignidade.
-Às vezes fico pensando,
Eva... em como a vida é louca e dá voltas. Nunca pensei que ajudar
as pessoas pudesse ser tão gratificante... e olha que a coisa mal
começou!
-Verdade, amor... daqui em
diante, vai ser mais coisa boa ainda. Fazer o bem faz bem!
-É bom demais sentir essa
positividade, esse amor no meio de tanta coisa que ainda tá errada
nesse mundo.
-São esses fachos de
esperança, de luz e de amor que me dão a certeza de que de uma
forma ou de outra, a gente sempre pode fazer limonada dos limões que
a vida nos dá...
-Ih, não fala isso muito alto
pra não chegar aos ouvidos da Beyoncé!
-Boba... me ajuda a colocar as
caixas ali naquele canto pra gente levar pra ONG quando der?
-Claro!
CORTA A CENA.
CENA 7: Guilherme, com
identidade e passaporte falsos, consegue dar check-in no aeroporto e
tão logo sai do guichê em que foi atendido e ruma em direção à
fila que se forma para seu voo, liga para Suzanne.
-Tá podendo falar ou tá
muito ocupada pensando na próxima estratégia de enrolar algum
banana?
-Pelo nível do seu sarcasmo,
presumo que tá tudo certo, Guilherme.
-E está mesmo. Saiu tudo como
combinado. O dinheiro que você mandou foi fundamental pra eu
conseguir um bom resultado com esses documentos. Agora me chamo
Henrique, é mole?
-Que bom pra você. Conseguiu
dar check-in já?
-Acabei de conseguir. Os
trouxas nem desconfiaram de nada. Agora é só esperar alguns minutos
e partir para Nova Delhi.
-E vê se fica um bom tempo lá
pela Índia, viu? Assim a poeira toda abaixa. Aliás, nem precisa
voltar pro Brasil se não quiser.
-Quem você pensa que é pra
dizer o que eu devo fazer, mulher? Eu já disse que quero começar
uma vida nova. Mas quem decide se fica ou se muda de ideia sou eu.
Não se meta nisso.
-Me meto a partir do momento
que eu te paguei muito bem pra você dar no pé. Não quero saber de
você chegando perto do Cláudio.
-Que seja. Liguei pra dizer
que tá tudo certo e não deu nada errado.
-Se era só isso, então
estamos conversados. O resto você já sabe muito bem. Boa viagem e
não volte tão cedo.
Suzanne desliga e Guilherme
aguarda o voo. CORTA A CENA.
CENA 8: Misteriosa senhora
apelidada de “Dona Velha” deixa mansão dos Bittencourt e deixa
todos maravilhados por sua visita.
-Gente, que mulher
maravilhosa! Por fora uma senhorinha, por dentro uma sábia que nunca
vi igual! - exclama Rafael, mesmerizado.
-Maravilhosa, mesmo. Um ser de
luz... logo eu que nunca fui de botar muita fé na espiritualidade,
me deparei com a certeza de que ela é bem real na vida da gente
hoje... mas fiquei encucado com uma coisa. Não sei se devia,
gente... mas eu ouvi o que ela conversou com o pai... - fala Cláudio.
-Ai, Cláudio... você não
toma jeito com essa curiosidade. O que foi dito? - pergunta Marcelo.
-Coisas sérias. E eu estou
com medo que nosso pai vá morrer. - fala Cláudio.
FIM DO CAPÍTULO 132.
Nenhum comentário:
Postar um comentário