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sábado, 8 de outubro de 2016

CAPÍTULO 126

CENA 1: Ivan segue lendo o restante da mensagem de Guilherme.
...Você, como velho que é, deve estar acostumado com “textão”, então senta essa sua bunda flácida onde estiver porque eu vou te explicar porque sua dívida não acabou e porque você tem uma dívida comigo. Na realidade, eu poderia até te matar se eu quisesse, mas você não passa de um banana, como o seu filho Haroldo. Cheio de escrúpulos, todo certinho, enfim... um saco! A única fraqueza de vocês foi o vício na jogatina. E é nisso que você se complica: quando meu pai morreu, assassinado por um traidor, você estava devendo setenta mil reais à facção. Como a gestão mudou, eu perdoei algumas dívidas, mas mantive tudo registrado. Agora eu preciso desse dinheiro pra dar o fora desse país. E se você não conseguir esse dinheiro, adivinha o que acontece: você e sua linda família vão pro saco. Eu ainda não estou vencido... e posso ser bem perigoso.
Ivan liga imediatamente para Valentim, mantendo a calma.
-Oi, Valentim? Te atrapalho?
-Nada, meu amigo. Falávamos sobre você ainda agora...
-Espero que não seja falando mal...
-Sempre fanfarrão, mas diga: por que ligou?
-Acabei de receber uma mensagem ameaçadora do Guilherme. Ele sabe da dívida que eu tinha com a facção antes do pai dele ser assassinado por traidores.
-Bem que a Mara me disse. Eu tenho que aprender a ouvir mais a minha mulher, impressionante como ela sempre acerta. Mas o que ele disse na mensagem, exatamente?
-Basicamente disse que eu tenho de conseguir os setenta mil reais pra ele, aquele dinheiro que eu fiquei devendo ainda em 2011. Disse que se eu não descolar essa grana, ele mata a mim e a todos.
-Típico das ameaças dele, Ivan. Nem se abale tanto assim. Ele disse mais alguma coisa sobre prazos ou local que deseja receber essa quantia?
-Nada ainda, Valentim. Acho que ele ainda torna a mandar mensagens, porque não tenho como adivinhar essas coisas se ele não disser.
-Vai por mim, Ivan: não baixe a guarda, mas não se apavore. Quem está apavorado depois da fuga é Guilherme. Completamente desorientado e desnorteado, sem o prestígio que tinha antes. A facção está acabada. É provável que ele tenha blefado pra causar pânico.
-Pensei nisso, meu amigo. Mas considerei prudente te comunicar.
-Fez bem. Eu vou manter os outros investigadores e a polícia devidamente informados. Até mais.
Ivan desliga. CORTA A CENA.

CENA 2: Mara olha triunfante para Valentim.
-O que eu tinha dito ainda agora, mesmo?
-É, Mara... mais uma vez você tem razão. Guilherme foi importunar Ivan... e você “previu” isso.
-Te digo mais, Valentim: não vai parar por aí. Guilherme vai querer cobrar a conta de todo mundo. Sabe o que isso significa? Que ninguém está a salvo. Nem nós.
-Entendo sua cautela, mas acho que aí já é um pouco de exagero.
-Melhor pecar pelo excesso do que pela falta. Sempre digo isso. Mas por que você acha que isso é um exagero, posso saber?
-Falo como psiquiatra, entende? Por mais que você tenha uma inteligência intuitiva ímpar, certos padrões comportamentais só eu percebo, compreende?
-Compreender eu compreendo. Mas diga logo por que você consider a minha teoria exagerada...
-Guilherme está desesperado. Está provavelmente num surto longo, daqueles que deixam o paciente eufórico, manifestando os sintomas positivos, entende? Se sente acima do bem e do mal, maior que tudo. Delírio de grandeza e poder. Não está tendo dimensão do buraco em que está, se recusa a enxergar a realidade que o rodeia. Se acostumou a fugir, mas encara tudo isso como um jogo, como um teste de inteligência e agilidade. Não está conectado com a realidade dita normal, entende?
-Entendo e concordo. Mas em todo caso você não acha que seria mais prudente manter os olhos bem abertos?
-Mas nossos olhos não estão fechados pra nada disso. Cada mínimo movimento dele pode e deve ser observado.
-O que complica nossas vidas é que não temos a mínima ideia de onde ele anda. Que ele está na cidade é evidente, mas onde? E tem mais, se ele chegou ao ponto de mandar uma mensagem para Ivan, ele não está sozinho. Alguém está ajudando ele de alguma forma, fornecendo celulares que ele descarta depois. Afinal de contas, ele não mandaria mensagens que pudessem ser rastreadas. Isso tá virando um jogo de gato e rato...
CORTA A CENA.

CENA 3: O dono da emissora liga para Marion.
-Oi, João Bernardo. Alguma novidade sobre aquele nosso assunto?
-Sim, minha amiga. Conversei com Joãozinho. Brigamos feio, inclusive, como você deve imaginar. Ele veio com todo aquele papo de que não é mais um moleque e eu disse que ele deveria provar que não era mais um moleque agindo como um homem.
-Isso fez ele mudar de ideia?
-Eu obriguei, porque se dependesse dele e daquela desvairada da mãe dele, ele sairia processando todo mundo que fala mal dele. E convenhamos, quem fala mal, fala a verdade... o fato é que ele retirou a queixa. O processo contra você vai ser arquivado e eu queria ser o primeiro a te dizer isso.
-Eu nem tenho palavras pra te agradecer, meu amigo! Sinto muito se acabei causando mais uma briga entre vocês.
-Você fez a coisa certa, Marion... já te disse isso antes. Os erros são dele. Deve assumir as próprias responsabilidades.
-Pelo menos desse problema eu tou livre. Mais uma vez, muito obrigada! Você é um homem correto e eu nunca vou esquecer de tudo de bom que você já fez por mim nesses anos todos...
-Alguém tem que parar aquele garoto com mania de grandeza, né. Enquanto eu viver, eu faço isso. Depois, não sei como vai ser.
-Veremos, meu amigo... veremos como vai ser. Vou precisar desligar agora, querido. Mais uma vez, muito obrigada por tudo. Um beijo!
-Outro!
Marion desliga, aliviada. CORTA A CENA.

CENA 4: Victor decide ligar para Cláudio.
-Oi, Cláudio. Tá tudo bem com você?
-Tudo melhorando, graças a Deus. Passamos por um sufoco com minha sogra, mas está tudo resolvido. E você, Victor, como vai?
-Cada vez melhor. E queria te contar uma novidade.
-Conta.
-Eu e o Diogo vamos nos casar, acredita?
-Que coisa bem boa! Vocês merecem toda a felicidade do mundo!
-E esse é o motivo pelo qual tou te ligando... eu e o Diogo conversamos e chegamos na mesma conclusão: a gente quer que você e o Bruno sejam testemunhas do nosso casamento. Vocês topam?
-Por mim eu topo, acho que pelo Bruno também. Mas ele tá se recuperando da cirurgia, doou um rim pra mãe... quando vocês pretendem se casar?
-Daqui duas semanas mais ou menos. Falta acertar isso no cartório.
-Perfeito! É bem o período que ele e a mãe dele precisam ficar de repouso. Vamos poder ser testemunhas sim e com todo o prazer!
-Muito obrigado por aceitar, querido. Você não faz ideia do quanto isso significa pra mim.
-Faço sim... eu sei da sua luta. E te admiro por isso.
-Preciso desligar agora. A gente vai se falando. Beijão!
-Beijo.
CORTA A CENA.

CENA 5: Horas depois, Marcelo e Rafael visitam Cláudio e Bruno.
-Achei que ia encontrar sua mãe aqui na sala... - observa Marcelo.
-Nada! O pai não sai do quarto e não desgruda dela. Tá cheio de precauções, evitando que ela faça qualquer esforço nessas duas semanas. Mas é até compreensível, afinal ela passou por anos de insuficiência renal... eu posso repousar fora da cama mais tranquilo... - fala Bruno.
-Falando nisso, não te deu muito medo de entrar na faca? Confesso que eu me cagaria de medo... - fala Rafael.
-Amor! Isso é jeito de falar? Podia ter sido mais sutil, não? - reclama Marcelo.
-Relaxem, meninos! O Bruno não se importa. Mesmo. - fala Cláudio.
-Enfim... sabe o que eu pensei e o Rafa também pensou? Que já que vocês adiaram o casamento de vocês por conta dessa coisa toda e vão ser testemunhas do casamento do Victor com o Diogo daqui duas semanas, vocês poderiam, por exemplo, marcar o casamento de vocês pra daqui mais ou menos um mês. O que vocês acham? - fala Marcelo.
-Eu adorei a ideia, mas o Bruno precisa opinar mais que eu nesse caso... - fala Cláudio.
-Por mim a gente casava amanhã e fazia tudo certinho como tinha sido combinado antes, mas né... com essa função de doar meu rim pra minha mãe, tou aqui, praticamente sem fazer nada por duas semanas. Mas achei bem boa a ideia sim, porque se daqui duas semanas eu já tou liberado pra ser testemunha de um casamento, nada me impede de ser eu o noivo duas semanas depois desse casamento. - fala Bruno.
-Bem, meninos... isso é só uma sugestão. Claro que a gente não quer passar por cima da vontade de vocês próprios. - pondera Rafael.
-Relaxa, cunhadinho... a vontade de vocês também é meio nossa. Vamos ver como é que vai estar a dona Vânia até lá, afinal de contas ela vai querer ver o filho se casando... - fala Cláudio.
CORTA A CENA.

CENA 6: Laura, Haroldo e Mateus chegam à companhia de teatro e apressam Procópio.
-Anda, Procópio! Tá quase na hora da gente chegar na rodoviária! - fala Haroldo.
-Calma, pessoal. Tem três horas ainda pra gente chegar lá. Já chamei o táxi pelo aplicativo. - fala Procópio.
-Mentira deslavada! Quem chamou o táxi fui eu, que esse daí tava numa pilha de nervos que não conseguia somar dois mais dois! - provoca Mara, marotamente.
-Como sempre ele fica mais nervoso que nós, que somos os atores. Já vi esse filme algumas vezes... - diverte-se Laura.
-Vocês só esperam eu ir ali dentro rapidinho? Esqueci de pegar meu calmante... - fala Procópio.
-É, Laura... tou vendo que ele realmente fica nervoso, já tinha até me desacostumado com essa cena toda que ele faz toda vez antes da estreia... - fala Mateus.
O táxi chega.
-Tou falando! O Procópio consegue ser tão azarado que vai tomar o calmante nem na hora que o táxi chega. Procópio, corre aqui que o táxi de vocês já chegou! Vou ajudar os meninos a colocar as malas no carro! - grita Mara.
Procópio chega correndo.
-Desculpa, gente... acho que não vai ter uma vez nessa vida que eu não fique nervoso em dia de estreia, ainda mais em outra cidade... - fala Procópio.
-Tá. Chega de papo, Procópio. Deixa que eu cuido direitinho da sua companhia enquanto vocês estão fora. - fala Mara.
Mateus, Laura, Haroldo e Procópio entram no táxi. CORTA A CENA.

CENA 7: Horas depois, Marcelo e Rafael estão debatendo sobre ideia de Rafael para produção.
-Ainda tou bem inseguro em relação a tudo isso, amor...
-Pois não devia. O argumento é maravilhoso e eu já te disse. A gente só precisa lapidar a sinopse e tá tudo certo.
-Será que o Vicente vai topar entrar nessa quando a produtora começar a se concretizar?
-E por que não haveria de querer? Os começos sempre são assim, Rafa... experimentais. Você deve saber mais sobre a história disso tudo melhor que eu.
-Cê tá falando sobre a história da TV? Mas são plataformas completamente diferentes, amor...
-E daí? Um dia foi a TV desbancando o rádio. Sinal dos tempos...
-Olhando por esse lado... é quase possível afirmar que a TV tá com os dias contados... ainda que isso soe exagerado.
-Não acho exagerado. Mas vamos deixar de papo furado e nos concentrar no que precisamos desenvolver melhor aqui?
-Sim, claro... por exemplo: eu tou achando esse personagem aqui muito desgarrado do restante. Você acha que eu devo criar um núcleo ao redor dele?
-De preferência, porque senão fica uma coisa solta, uma pessoa sem passado, sem história anterior, sem nada pra justificar qualquer coisa. Acho bom criar um background inclusive pra não passar a impressão de que é um personagem decorativo.
-Tem razão...
Os dois seguem debruçados sobre o projeto. CORTA A CENA.

CENA 8: Horas depois, Valentim está preparando um jantar para ele e Mara enquanto Mara vai ao banho. O celular de Valentim toca e ele corre para atender, mas o celular para de tocar antes que ele atenda.
-Ué... número desconhecido? Deve ter sido engano.
Valentim volta a preparar o jantar e se distrai cantando a canção que toca no aparelho de som, quando ouve novamente seu celular tocar.
-Mas que merda! Se for aqueles serviços de call center, eu juro que meto um processo, já passou da dez! - esbraveja Valentim.
Valentim atende o celular.
-Sentiu minha falta, super investigador defensor dos frascos e comprimidos? Parece que você não é tão bom em pegar foragidos, né não?
Valentim percebe que se trata de Guilherme. FIM DO CAPÍTULO 126.

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