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quinta-feira, 6 de outubro de 2016

CAPÍTULO 124

CENA 1: Suzanne faz expressão de arrependimento e Márcio fica em dúvida, sem nada dizer.
-Vamos, Márcio... eu preciso que você me dê um voto de confiança. Eu mudei.
-Mudou como da outra vez, logo que eu saí da prisão? Lembra que fui preso por sua culpa? E que seis meses depois da minha libertação você já tava me envolvendo de novo nos seus golpes? Qual motivo eu teria pra acreditar em você, Suzanne?
-E qual motivo teria pra não acreditar? A gente se amou tanto! Me deixa entrar, por favor...
-Tá certo. A casa é da sua mãe, não é minha. Mas como é que você tem coragem de falar em nosso amor? Eu fui o único que te amou, desde o primeiro dia. Você nunca amou ninguém nessa vida além do seu pai. E você matou ele... eu já sei de tudo.
-Eu não tenho mais motivos pra te esconder nada. Eu vou provar que estou mudada te contando toda a verdade.
-Vá em frente...
-Sim, a única pessoa que eu amei de todo meu coração foi meu pai. E ele me traiu, me mentiu. Eu era uma criança, Márcio, você tem noção disso? Não deve ter, porque você não estava lá ainda. Eu não admitia mentiras... meu pai sempre me dizia que o único caminho era a verdade, sempre. E ele mentiu pra mim com a cara mais lavada dizendo que eu era a única filha, quando eu já sabia da bastarda. Essa bastarda era a Riva, como você sabe. Eu nunca me senti tã traída na vida como naquele momento... meu herói era uma farsa, uma mentira. Morreu pra mim. Então eu resolvi que ele tinha de morrer, dessa vez de verdade. Não suportei saber que não era mais a única. E é por isso que eu quis tudo o que é da Riva. Ela tem uma vida que deveria ser a minha. Ela roubou de mim o maior tesouro que eu tinha, que era a confiança no meu pai. Mas eu tou cansada de tudo isso... cansada de dar murro em ponta de faca e só me ferrar por isso. Quero deixar a vida de golpes pra trás e não estou mentindo... eu já sou rica e agora minhas contas estão desbloqueadas. Se tudo der certo, logo eu posso deixar o país.
-Muito comovente todo esse discurso, Suzanne... mas algo me diz que você só veio fazer esse discurso cheio de apelo emocional pra me induzir a retirar a queixa contra você. Desiste, Suzanne... mesmo que eu retire a queixa agora, o inquérito contra você já corre independente disso.
-Eu pago pelo que for preciso. Vou presa se for o caso. Mas eu quero aprender a amar de novo... e você sempre me amou, não me amou?
-Amei e amo, Suzanne. Mas nesses mais de vinte anos, quem se fodeu nessa história fui eu. Você sempre cheia de ardis, de truques... escapou todas as vezes de ser pega. Não houve sequer numa queixa contra você. Você permitiu que eu fosse preso por crimes que você cometeu. Eu assumi a culpa pra te proteger, por amor a você. Tenho motivos de sobra pra não acreditar nessa sua súbita mudança. Já vi esse filme antes e sei exatamente como ele termina.
Nesse momento, Raquel chega em casa.
-Suzanne, o que cê tá fazendo aqui? Não te chamei! - fala Raquel, espantada.
-Saudade de você também, mãe... como vai a senhora? - ironiza Suzanne.
-Não venha com suas gracinhas, Suzanne. Estou exausta de mais um dia de trabalho e sem a mínima paciência. Ponha-se daqui pra fora. - fala Raquel.
-Isso mesmo, Suzanne. Você ouviu sua mãe: vá embora. E não volte a nos incomodar. Eu não acredito mais em uma palavra que você diga... - fala Márcio.
Suzanne vai embora.
-Muito bem, querido. Nada de cair no jogo dela outra vez! - fala Raquel.
CORTA A CENA.

CENA 2: Rafael e Marcelo contam a Riva e Marion sobre vídeo gravado por Rafael denunciando as ações arbitrárias do filho do dono da emissora.
-Gente, o negócio foi o seguinte: eu ajudei o Rafa a gravar um vídeo que deve ser colocado no ar ainda hoje. - fala Marcelo.
-Mas até aí não tem nada demais, vocês já fizeram isso antes... - fala Riva.
-Ocorre, prima, que esse vídeo que eu gravei foi denunciando todas as arbitrariedades do João Bernardo Salinas Filho... - esclarece Rafael.
-Ai, meu filho. Pra que comprar essa briga que nem sua é? Essa briga é minha... - fala Marion.
-Não podia ficar parado, não sabendo que essa tentativa de te processar é completamente arbitrária. A intenção é jogar pra todo mundo saber, inclusive o pai dele, que deve estar por fora de tudo isso. - fala Rafael.
-No começo eu fiquei preocupado, porque as coisas que o Rafa disse foram nitroglicerina pura, mas depois que a gente conversou eu compreendi que esse pode ser um bom meio de fazer aquele atirador de ovos podres se colocar no seu devido lugar. - complementa Marcelo.
-Peraí... o que exatamente o Rafael disse nesse vídeo? Não vai dizer que falou de todos os podres dele... - assusta-se Marion.
-Um por um. Enumerei todas as barbaridades que ele faz, de jogar frutas estragadas e ovos podres por “diversão” em mendigos e travestis a dar em cima das atrizes jovens, prometendo destaque na emissora, enquanto a mulher dele, a coitada da Andréa Fagundes, finge que não vê nada disso, mas sofre calada. Falei mesmo porque tenho como provar cada palavra que digo. - fala Rafael.
-Você tem noção que com essas informações jogadas pro Brasil e pro mundo inteiro, você pode acabar sendo processado também? - questiona Marion.
-Não parei pra pensar muito nisso. O que eu não podia era permanecer calado diante dessa arbitrariedade que ele tá fazendo com você, mãe. Usando do nome, da influência e do dinheiro para comprar a justiça. Isso não é coisa que se faça. E eu falei sobre os erros judiciais desse processo no vídeo também porque andei lendo bastante sobre leis e direitos. - fala Rafael.
-Querido, eu entendo que sua intenção seja ótima, mas você não acha que isso pode acabar queimando a imagem da sua mãe e ainda por cima acabar queimando a sua própria imagem? - questiona Riva.
-Imagem por imagem a gente já tá bem distante do joguinho de aparências que um dia foi vivido dentro dessa casa. O que vier, positivo ou negativo, é consequência das nossas próprias escolhas. Somos adultos o suficiente pra saber disso. - fala Marcelo.
-A gente conversa melhor sobre isso depois, tá? Agora eu já tou meio derrotado de cansaço e preciso dormir. - fala Rafael.
Marion e Riva deixam o quarto dos dois. CORTA A CENA.

CENA 3: Na manhã do dia seguinte, Marcelo e Rafael visitam Cláudio.
-Oi, mano! Ansioso esperando a alta do Bruno e da mãe dele? - fala Marcelo.
-Nem me fala, mano... morrendo de ansiedade. Entrem, seus viados lerdos, não vão ficar a vida toda aí parados feito dois entregadores na minha porta, né? - fala Cláudio.
Marcelo e Rafael entram.
-Não era pro seu Setembrino estar aqui? - pergunta Rafael.
-Era sim, mas ele pegou um táxi assim que amanheceu pra visitar o Bruno e a dona Vânia, daí já viu... fiquei eu aqui cuidando da casa, nada que eu já não esteja bem acostumado... - fala Cláudio.
-Mas então quer dizer que a senhora tá se dando super bem com nosso pai agora? Que viada mais ladina, Deus do céu, nem chama a viada irmã pra participar desses momentos... mas tenho meus informantes... - brinca Marcelo.
-Se enxergue, mulher! Tá achando que sou bagunça? Sou toda trabalhada no perdão, segura essa marimba! - segue Cláudio, na brincadeira.
-Mereço! Vocês quando se encontram não conseguem segurar o deboche, mesmo... - fala Rafael, rindo.
-Não mesmo! Viaaaado, se tu soubesse de cada uma que essa viada que casou contigo já causou na vida! A última antes de vocês se apaixonarem foi deixar a dona Riva dar uma surra maravilhosa do Ricardo, o ex dela, que tava traindo ele pra todo mundo ver na praia de Copacabana. Babado, confusão e gritaria até não poder mais! - fala Cláudio.
-Aliás... mano, você já se deu conta que com essa confusão toda sobre a sua mãe biológica, esquecemos de concluir uma coisa meio óbvia? - questiona Marcelo.
-O que, que a Riva é minha tia? Eu já tinha pensado nisso. Mas é tanta coisa acontecendo ao mesmo tempo que eu fico toda Zileide: “me perdi aqui, desculpe, vamos tentar” - fala Cláudio.
Os três seguem conversando. CORTA A CENA.

CENA 4: Poucas horas depois, Mara e Valentim estão no consultório de Valentim.
-Não adianta, Mara. Por mais que eu tenha mandado vários homens, não há nenhum rastro de onde o Guilherme possa estar.
-Pra mim é mais que certo que na cidade ele está. E mais perto do que a gente imagina.
-Eu tenho certeza disso, Mara... mas o grande desafio aqui tá sendo tentar descobrir esconderijos possíveis.
-No apartamento que era dele, será que ele não se esconderia?
-Meio impossível, querida. Está interditado pela polícia.
-Disso eu sei, mas queria saber quando foi a última vez que a perícia esteve lá. Mais de duas semanas, não é? Desde então aquele apartamento ficou fechado, porque já recolheram de lá computadores, anotações, tudo o que seria do nosso interesse investigativo. Enquanto o imóvel não for novamente colocado a venda, poderia perfeitamente servir de esconderijo pra ele, sim.
-Você não acha que está indo um pouco longe demais, Mara? Eu sei que você é bem intuitiva e quase sempre soluciona os casos, mas o Guilherme não seria burro de fazer uma coisa dessas. A não ser que ele esteja debochando da nossa cara, subestimando nossa inteligência.
-Me diga você, Valentim, como psiquiatra: você acha que ele teria esse traço no comportamento?
-Não sei, Mara... isso ainda precisa ser revisto...
Os dois seguem conversando sobre o possível paradeiro de Guilherme. CORTA A CENA.

CENA 5: Procópio chama Laura, Haroldo e Mateus para conversar.
-Queridos, acabei de receber as críticas do pessoal que assistiu vocês aquela noite. - comunica Procópio.
-E então, o que eles disseram? - pergunta Laura.
-Foram só elogios ao texto que nós criamos juntos e sobre a maneira como foi feita a abordagem sobre o tema. Flaviana Maltarolli, a mais conceituada crítica de teatro, disse que o ponto forte da peça foi tratar sobre a poligamia de uma maneira simples e natural, como a coisa deveria ser encarada pelas pessoas, sem as viseiras do conservadorismo influenciando em opiniões sobre a obra, que deve ser encarada como uma inovação artística, mesmo nos dias de hoje. E ela foi mais longe ainda: se rasgou em elogios à interpretação do Haroldo! - afirma Procópio.
-Que? Como é que é? Justo eu que nunca fui ator antes? - espanta-se Haroldo.
-Flaviana disse que sua característica principal é ser orgânico sobre o palco. Enalteceu e elogiou sua entrega na pele de Maurílio. E destacou sua personagem como o grande fiel da balança que media os conflitos entre Sandra e Valter... - continua Procópio.
-Gente... eu sabia que voltar a fazer teatro seria bom, mas isso é maravilhoso! - vibra Mateus.
-E tem mais, gente: vocês, Mateus e Laura, foram elogiadíssimos por todos pela entrega aos papeis de Valter e Sandra. Flaviana destacou que seu personagem, Laura, parecia estar sempre à beira de um ataque de nervos, exatamente como o texto pedia. - fala Procópio.
-Só falta definir a estreia da nossa peça, dessa vez pra valer! Ai gente, eu fico muito feliz de ver que tudo foi tão bem! Espero que também seja um sucesso de público! - fala Laura.
CORTA A CENA.

CENA 6: Riva desabafa com Vicente.
-Riva, pode me falar o que tá se passando pela sua cabeça, amor... eu tou vendo que a preocupação está estampada no seu rosto...
-Fico preocupada com a Suzanne, amor.
-Mas por que? Ela não foi desmascarada?
-Não é por isso, Vicente. É por tudo o que a gente acabou descobrindo antes e depois dela ser desmascarada. A cisma dela comigo é algo que vem desde a infância e eu nem sabia quem ela era... mas ela sabia quem eu sou... e o que eu represento. Na cabeça dela, eu represento a prova da traição do pai dela. Ela matou o pai por causa disso...
-Frederico também era seu pai, amor...
-Não o reconheço como tal, mas enfim. Meu medo é que ela não tenha desistido de me destruir. E que agora queira mais vingança ainda, depois da humilhação que eu fiz ela passar.
-Sossega... ela pode ser qualquer coisa, menos burra. Ela já tá sendo investigada e não pode deixar o país. Não seria o momento mais favorável pra ela tentar nada.
-Tomara que você esteja certo, amor...
-Certo ou errado, não quero te ver assim.
-Prometo que vou tentar tirar isso da cabeça. Essa maluca já fez muita merda com a minha vida e com a vida do Cláudio, que no final das contas, veja você, é meu sobrinho...
-Não podemos esquecer do Márcio, a maior vítima dela.
-Verdade...
-Vem cá, amor... vem cuidar do nosso filho comigo.
CORTA A CENA.

CENA 7: Horas depois, Laura, Mateus e Haroldo se preparam para deixar a companhia de teatro e Procópio novamente os chama.
-Eu sei que vocês devem estar apressados, afinal de contas o Mateus tem o que fazer ainda hoje, mas gostaria de passar pra vocês ainda hoje sobre a estreia da peça: ela vai acontecer depois de amanhã e não vai ser aqui no Rio... - comunica Procópio.
-Como assim não vai ser aqui? A gente vai viajar com a peça logo na estreia? - espanta-se Haroldo.
-Sim, gente. Nossa estreia vai ser no Theatro Municipal de São Paulo. - fala Procópio.
-Gente, que delícia! Eu sempre quis atuar lá! - vibra Laura.
-É o sonho de todo ator! - fala Mateus.
-Mas não é só isso, queridos... a ideia é que depois de uma semana em São Paulo sigamos para outros teatros pelo Brasil, de acordo com o desenrolar das coisas, vai depender de quem vai se interessar pela apresentação da peça... - fala Procópio.
-Eu tou entendendo direito ou na minha estreia como ator a gente já vai sair em turnê pelo Brasil? É isso mesmo? - pergunta Haroldo.
-Exatamente, amor. Agora você nos dê licença, Procópio... estamos muito felizes, mas o Mateus tem pressa pra resolver a questão dele hoje... - fala Laura.
Os três saem empolgados do teatro. CORTA A CENA.

CENA 8: Laura, Mateus e Haroldo estão em casa.
-E aí, querido... conseguiu mandar o e-mail pra emissora? - pergunta Laura.
-Acabei de terminar. Tou mandando. - fala Mateus.
-Você pode ler pra nós, amor? - pergunta Haroldo.
-Claro! Eu escrevi o seguinte: “Boa noite, pessoal da emissora. Hoje eu mando esse e-mail anunciando que estou me desligando da emissora e estou disposto a arcar com toda a multa por rescisão antes do término oficial do vínculo empregatício. Queria deixar aqui meu agradecimento a todos os amigos que fiz ao longo desses anos na emissora, mas esse ciclo na minha vida chegou ao fim. Foi importante para meu crescimento como ser humano e como ator, mas não posso mais permanecer numa emissora que esconde da grande mídia pessoas que, como eu, são LGBT. Acredito que vocês também não queiram mais ter minha imagem associada à empresa de vocês, já que assumi publicamente meu relacionamento com um homem e uma mulher ao mesmo tempo. Mas não é esse o único motivo pelo qual estou me desligando da emissora: estou me desligando porque desde que sofri a tentativa de assassinato, passei a reavaliar muitas coisas na minha vida. Eu amo a arte de atuar, de encantar pessoas. Mas não é a fama que eu busco... durante muito tempo foi o que eu busquei. Tive um ego desmedido, mas hoje não vejo mais necessidade de me reafirmar diante de mim mesmo. Redescobri meu amor ao teatro e é nisso que estou investindo nesse momento. Meus sinceros agradecimentos a todos os autores que me concederam papeis maravilhosos na TV. Desejo uma vida longa e próspera à emissora. Mas hoje, nesse momento da minha vida, minhas prioridades são outras. Assim que possível, comparecerei no RH para acertar meu desligamento.
Boa sorte pra quem fica,
Mateus Viveiros”... enfim, amores... foi isso. O que acharam?
-Você tá de parabéns, Mateus! - fala Laura.
Haroldo e Laura abraçam Mateus, em apoio à sua decisão. CORTA A CENA.

CENA 9: Marion chega à emissora e alguns ex-colegas a cumprimentam.
-Queridos, eu adoraria passar um tempinho conversando com vocês aqui, mas tou com bastante pressa e vim aqui resolver um assunto sério. - fala Marion.
Marion segue pelos corredores da emissora em passos firmes.
-Se aquele filhinho de papai pensa que eu vou deixar ele vencer aquele maldito processo contra mim, é porque ele ainda não conheceu a Marion Bittencourt enfurecida, mas não conheceu mesmo! - diz Marion a si mesma.
Marion bate na porta do dono da emissora.
-Pode abrir! - fala o dono da emissora.
Marion entra.
-Que bom te ver aqui, querida!
-Eu vim aqui falar algumas coisas sobre o seu filho. - sentencia Marion.
FIM DO CAPÍTULO 124.

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