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terça-feira, 8 de novembro de 2016

CAPÍTULO 152 - ÚLTIMA SEMANA

CENA 1: Suzanne arranca seu celular da mão de Raquel.
-Isso é invasão de privacidade! Melhor dizendo: é invasão de domicílio!
-Cê tá louca, Suzanne? Esse apartamento não é seu! Isso aqui é um hotel, criatura! Sem falar que todo mundo aqui sabe que sou sua mãe.
-Você não tinha que ter vindo aqui sem me avisar, muito menos na hora que eu faço a minha caminhada! Você não tinha que estar no seu trabalho? Ou será que agora que passou no concurso, não teme a exoneração? É por isso que essa merda de país não vai pra frente... olha isso aí: a funcionária pública dando voltinha em pleno expediente!
-Não fale desse jeito comigo, mocinha! Ainda sou sua mãe e tenho direito de saber o que você esconde.
-Que direito o que, dona Raquel? Você não tem direito a nada se eu não quiser. Deixa que a minha vida eu resolvo!
-Eu sei que o meu neto, seu filho, corre risco. É ele que você quer proteger, não é?
-Cala a boca, mãe. Você não vai arrancar nada de mim. Sabia que eu podia te denunciar por estar fazendo uma investigação por conta própria, sem permissão judicial? Quero ver se sua promissora carreira na polícia continua intacta depois dessa...
-Você não seria capaz.
-Seria capaz disso e muito mais. Eu falei pra senhora não se meter no meu caminho. Não foi uma ou duas vezes: eu avisei, dona Raquel. Não atravesse o meu caminho, senão eu não vou pensar duas vezes em te derrubar feito uma peça de dominó.
-Chega, Suzanne! Você não vai fazer nada disso! Nos outros você até pode meter medo, mas não mete medo em mim! Eu vou dar um jeito de descobrir quem é que você tá acobertando. Eu tenho certeza que é Guilherme!
-E daí? Você pode provar alguma coisa? Me deixa em paz!
-Não posso provar. Mas alguma ponta há de ficar solta.
-Se eu fosse você, não contava com isso.
-Você se acha muito esperta, não é? Muito superior, sempre sagaz, sempre cheia de si, uma vaidade sem limites... sempre foi assim, desde menininha... eu que demorei a perceber. Cuidado, viu? Vaidade não é virtude, é fraqueza.
-Me poupe desse seu papo piegas de autoajuda. Você não tem que estar aqui, vai embora.
-Eu não vou enquanto eu não quiser e você não pode me impedir, Suzanne. Se você pensa que vai ficar impune, tá muito enganada.
-Querida... eu não penso que vou ficar impune. Eu tenho certeza, sabe por que? Porque eu sou rica! Rica! Sabe quando que uma pessoa rica nesse país vai mofar na cadeia? Nunca! Então é melhor se acostumar com o fato, minha doce mamãezinha: eu não vou acabar presa. Eu sempre compro quem tem preço.
-Você é doente, Suzanne. Mas não cante vitória antes do tempo... muita coisa ainda pode acontecer.
-Não seja ingênua, dona Raquel. Eu sei como dar as cartas nesse jogo. Você é quem não sabe.
-Vá se achando esperta assim...
-Não acho, mamãezinha querida... eu sou.
-É impressionante como você consegue mesmo quebrar o clima de qualquer tentativa de diálogo civilizado que eu tente ter com você.
-Ui! Devo treinar boas maneiras? Mudou o nome pra Raquel Kalil agora, mãe? Me poupe do seu pieguismo. Você não tem mais nada pra fazer aqui na minha casa.
-Esse apartamento não é seu...
-Ai, meu Deus, que chata que você é!
-Fique aí, cantando vitória. Você sabe que tem gente na sua cola.
-Esperava mais da sua inteligência, mãe. Eu sei que o Valentim tá grudado no meu rastro. Mas também sei que ele tá contra a lei. Vocês não tem chance comigo, desiste.
CORTA A CENA.

CENA 2: Eva e Renata fazem chamada de vídeo para Adelaide, que está na ONG e chama Regina, Geraldo e Cleiton.
-Gente! Venham cá correndo! As meninas estão fazendo uma chamada em vídeo! - fala Adelaide.
Os três chegam.
-Queridas! Que saudade de vocês! - fala Regina.
-Coração chega a estar apertadinho... como vocês estão? - fala Cleiton.
-Parecem tão cansadas... - observa Geraldo.
-Morrendo de saudade de vocês, do Brasil, de tudo! Mas estamos bem, sim... cansadas, é verdade. Estamos agora na Espanha! - fala Eva.
-Que maravilha... como estão as coisas? - pergunta Adelaide.
-Nada fáceis, mãe... mas a gente já esperava por isso. Só que testemunhar ao vivo e a cores, diante dos nossos próprios olhos, todas as situações absurdas de sofrimento, abuso, injustiça que as mulheres sofrem, mexe de verdade com a gente. Só que ao mesmo tempo que isso mexe com a gente a ponto de abalar, a gente faz com que essa comoção sirva de combustível pra gente poder fazer algo pra melhorar a vida de todas essas mulheres que muitas vezes são negligenciadas pelos próprios estados! - fala Renata.
-Tudo isso que a Renata disse é a mais pura verdade. Dói no coração ver tanta coisa horrorosa. Há países da África onde as mulheres lésbicas são estupradas e mutiladas apenas pelo fato de serem homossexuais. Tudo muito triste, muito doído de ver. Muitas delas contraíram o vírus HIV através dos estupros que sofreram. A taxa de suicídios e feminicídios em alguns lugares é assustadora. De acordo com uns levantamentos que a gente fez, em alguns países a expectativa de vida média da mulher mal passa dos trinta e cinco anos. É tudo muito assustador, quando a gente sai da nossa bolha de proteção, da cultura que a gente se habituou a crer que era a única do mundo. Mas tudo isso serve de combustível pra gente poder fazer alguma coisa por essas mulheres tão sofridas... muitas delas, em vários países, nunca ouviram falar que tinham direitos. Acreditavam que nasceram para sofrer e serem submissas aos homens, sempre dominantes. A quantidade de culturas que punem as mulheres que engravidam de meninas é absurda... é como se nascer mulher fosse uma maldição e muitas vezes, há até crenças religiosas envolvidas nisso. Todos os dias, desde que a gente começou essa viagem pelo mundo, são um choque tremendo de realidade... - fala Eva.
Adelaide, Cleiton, Geraldo e Regina seguem conversando em vídeo com as filhas. CORTA A CENA.

CENA 3: Valentim conversa com Raquel sobre Suzanne.
-Não sei como você foi dar esse mole, Raquel... você sabia perfeitamente que ela poderia voltar a qualquer momento, ainda mais pela manhã.
-Precisava descobrir algo de concreto pra te ajudar, Valentim.
-Desiste, Raquel... precisamos dar outros jeitos de ficar no rastro dela. Ela já sabe que eu estou no encalço dela e nem é pelo que você acabou de me contar que afirmo isso.
-É por que, então?
-Ela se percebeu seguida quando fui atrás dela. Desceu num restaurante e ficou lá por horas. Eu não podia ficar esperando por ela muito tempo... e ela sabia disso. Claramente ela me percebeu, ela está alerta.
-Isso só dificulta mais ainda as coisas, Valentim... precisamos encontrar uma maneira de resolver isso.
-Não vai ser fácil. Ela está jogando com todos.
-Como é que é? Como você afirma isso? Baseado no que?
-Simples, cara Raquel: ela pode simplesmente estar blefando pra ganhar tempo.
-Sim, mas... ganhar tempo pra que? Que sentido isso faz? Ainda não peguei o espírito da coisa...
-Nenhum crime cometido por ela foi provado por nenhum de nós para que ela pudesse ser presa. Nenhum crime recente, eu digo... o único crime comprovado já prescreveu e ela sabe muito bem disso.
-Sim, mas onde você quer chegar?
-Na parte que ela pode estar falando as coisas sem nexo, jogando uma cortina de fumaça em tudo.
-Isso significa que ela pode estar associada com outras pessoas e não exatamente com o Guilherme?
-Também. Mas de qualquer forma, precisamos provar o que suspeitamos. O problema passa a ser fazer isso por fora, sem amparo judicial nenhum.
-Isso é o que me preocupa ainda, Valentim. Você não pode arriscar sua carreira tanto assim em nome da verdade sobre minha filha. Claro que é importante pra gente descobrir, mas você não pode se prejudicar...
Mara, nesse instante chega.
-Mas eu posso ter a solução pra esse caso. - afirma Mara.
Raquel e Valentim encaram Mara, intrigados. CORTA A CENA.

CENA 4: Cláudio e Bruno conversam com Vânia e Setembrino sobre planos para casamento.
-Basicamente a gente tá pensando em marcar o casamento pro primeiro fim de semana livre do Cláudio, assim que terminar a primeira temporada do monólogo dele... - fala Bruno.
-Mas quanto tempo isso ainda leva, meu filho? Queria ver vocês casados logo, tá na cara que vocês são o amor da vida um do outro... - fala Vânia.
-Então, sogrinha... a primeira temporada é sempre a mais curta. Não dura nem um mês... geralmente é para testar a receptividade do público, essas coisas. Inclusive é o que define indiretamente quando que começa a segunda temporada. - esclarece Cláudio.
-Menos mal, queridos. Afinal de contas, eu penso que a gente poderia fazer uma daquelas festas que encham o salão de festas... - anima-se Setembrino.
-Ah, pai... eu sei que você adora festas e já sei que você vai provavelmente querer escolher um repertório daqueles que seja bem matador, mas daí a querer um festão... acho que não precisa de tudo isso... - fala Bruno.
-Deixe seu pai, Bruno... ele é mesmo exagerado de vez em quando, mas de qualquer maneira a gente quer ajudar na organização, pra poder proporcionar uma festa pelo menos bonita, com tudo o que vocês tem direito, sabe? - fala Vânia.
Os quatro seguem planejando detalhes sobre a organização do casamento. CORTA A CENA.

CENA 5: Mara se explica a Raquel e Valentim.
-Queridos, eu sinceramente não sei como nenhum dos dois pensou na melhor solução pra tudo isso... - fala Mara.
-E eu posso saber qual seria? - questiona Valentim.
-A mesma que a gente já utilizou diversas vezes ao longo dos anos: solicitar permissão oficial para escuta, validando o grampo, de forma que ele possa ser utilizado para fins investigativos sem necessidade da reabertura de um inquérito arquivado. Me surpreende você, Valentim, não ter pensado nisso antes. Tava praticamente dançando ragatanga na nossa cara o tempo todo e a gente parecia mais preocupado em fazer tudo escondido... aliás, a gente não, você, porque sempre é possível encontrar uma precha pelo caminho da verdade... - explica Mara.
-Verdade... bem, eu particularmente ainda tou me acostumando com essas brechas, mas de fato eu já tinha conhecimento dessa possibilidade, só não lembrei... - fala Raquel.
-Mas querida, isso pode levar dias! A gente não tem tanto tempo pra ficar parado. - protesta Valentim.
-Amor, você sabe que eu tenho meus contatos e posso solicitar prioridade em determinados casos. Foi o que fiz. Ainda hoje vamos ter a resposta se a permissão foi ou não concedida. - esclarece Mara.
-O jeito é esperar que a permissão seja concedida... - fala Valentim.
-Tá comigo, tá com Deus, Valentim... você sabe disso. Se você pedisse essa permissão, talvez não surtisse o mesmo efeito e você sabe bem o motivo... - fala Mara.
-Sim, eu sei que já fui suspenso, não precisa lembrar desse detalhe... - incomoda-se Valentim.
CORTA A CENA.

CENA 6: Valquíria chama Marion para lhe fazer um convite especial.
-Filha, eu pensei muito desde que Leandro resolveu desenvolver e me ajudar a atualizar a trama que escrevi há mais de trinta anos...
-Pensou no que, exatamente?
-Marion, você é uma grande atriz e eu não digo isso por você ser minha filha.
-Obrigada, mãe... mas onde a senhora quer chegar com isso?
-Simples, minha querida: eu já conversei com Leandro e Vicente e eles acharam excelente minha proposta.
-Que proposta?
-Pra que seja você a protagonista dessa possível novela que vai acabar se transformando o meu roteiro. Você gostaria de estar no papel principal?
-Claro que eu adoraria! Mas tudo isso ainda pode levar algum tempo, né?
-Isso é o melhor, querida. Tempo de preparação, pra você e pra todo mundo que vier a trabalhar na equipe, não vai faltar.
-Bem, nesse caso eu tou mais que dentro disso. Tou mergulhada de cabeça! Obrigada, mãe... eu fico feliz demais por isso.
-Eu que fico feliz, minha querida... é até estranho pensar nas voltas malucas que esse mundo dá...
-Né não? Quem diria que um dia as coisas chegariam nesse ponto! Eu acho lindo tudo isso... cada uma de nós realizou nossos sonhos, cada uma à sua maneira...
-Exatamente, Marion... então já sabe: vamos ter muito trabalho pela frente. Estamos diante de um grande desconhecido.
-Que a gente pode e vai fazer dar certo, a senhora vai ver!
Marion abraça Valquíria, agradecida. CORTA A CENA.

CENA 7: Marcelo conversa com Rafael sobre suas preocupações.
-Sei que não devia pensar besteira, mas às vezes fico com umas coisas na cabeça...
-O que, amor?
-Nem sei se vale a pena dizer.
-Ah, Marcelo... agora que começou, faça o favor de terminar. Você sabe que não gosto de meias palavras...
-Ando com medo do Guilherme.
-Mas o que? De onde você tirou isso?
-Não é tão absurdo assim, se você parar pra pensar.
-Tá, absurdo não é, mas o que um sujeito marcado feito ele poderia fazer contra a gente?
-A questão não é o que ele pode fazer contra mim ou você. É sobre o que ele pode fazer contra o meu irmão.
-Mas amor, por mais que a obsessão maior da vida do Guilherme seja o Cláudio, você acha que um sujeito vaidoso feito ele arriscaria perder a liberdade por causa disso?
-Rafael... certas coisas não tem lógica. Certas pessoas também nunca terão... Guilherme é uma delas.
-De qualquer forma, você acha que vai resolver alguma coisa se preocupar desse jeito?
-Resolver não vai, amor... mas pelo menos ajuda.
-Posso saber como?
-Pelo menos assim a gente não baixa a guarda. Pelo menos eu, no caso... ficar alerta é importante.
-Querido, existe toda uma distância entre estar alerta e estar paranoico... tenta não pensar nisso, vai ser melhor pra todos nós, principalmente pro Cláudio...
CORTA A CENA.

CENA 8: Horas depois, Mara conversa com Valentim.
-É, Valentim... a sagitariana pode ser eu, mas quem nasceu com a bunda virada pra lua foi você...
-É o que eu tou pensando?
-Sim. Foi concedida a autorização para efetuar escuta na linha da Suzanne. Só falta a operadora deixar de classificar a operação como falha no sistema de segurança deles.
-Excelente. Agora eu vou ficando com mais certeza de que isso tudo vai se resolver logo.
-Assim espero, Valentim. O tempo está contra nós, não a favor. Por mais otimista que eu sempre tenha sido, é preciso reconhecer os fatos.
-Mais uma vez, você tem razão, querida... só de imaginar que muita gente pode estar correndo risco...
-Verdade. Nós precisamos ter uma prova o mais rápido possível, pra que essa maldita presunção de inocência possa cair por terra. Ainda que eu acredite que Suzanne seja safa o suficiente pra se livrar da cadeia...
-De qualquer maneira, precisamos tentar.
-Sem dúvida. De qualquer forma, ainda vamos ter de aguardar o aval da operadora. Qualquer escuta que for feita agora não vai ter valor ainda.
-Isso é o que me quebra as pernas.
-Paciência, meu querido... isso tudo tá chegando ao fim...
CORTA A CENA.

CENA 9: Horas depois, Cláudio adormece ao lado de Bruno e em seu sonho, aparece misteriosa senhora.
-Dona Velha! Que bom te ver... gosto tanto de você e nem sei porque...
-Também gosto de você, querido.
-Mas você parece preocupada, parece que tá querendo me dizer alguma coisa...
-Venha comigo, Cláudio... você precisa caminhar um pouco, relaxar... não precisa?
-Ando muito precisado, Dona Velha... mais do que você possa imaginar.
-Eu sei de tudo.
-Sabe?
-Eu sempre disse que eu sei das coisas. Não tenha tanto medo: o terror que aquele cara colocou na sua vida tá prestes a acabar. Você vai se livrar da obsessão dele... só que você precisa ser forte pro que vai acontecer...

Cláudio se assusta. FIM DO CAPÍTULO 152.

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