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quarta-feira, 9 de novembro de 2016

CAPÍTULO 153 - ÚLTIMA SEMANA

CENA 1: Ainda durante sonho, Cláudio se preocupa com as palavras de misteriosa senhora.
-Forte pra que, Dona Velha? Desculpe, mas eu fiquei assustado.
-Você é forte, Cláudio. Você sabe o quanto... superou a morte dos seus pais adotivos, lutou para se reerguer, aprendeu desde cedo que o que vale nessa vida é o amor, apesar dos tropeços e dos egoísmos.
-Eu sei. Luto pra ser menos egoísta e menos exigente...
-Você tem conseguido grandes progressos, nunca esqueça disso.
-Vou tentar não esquecer, mas estou assustado. A senhora disse que eu preciso ser forte...
-Sim, você precisa, Cláudio. Precisa manter, acima de tudo, a tranquilidade e a força pra encarar o que virá.
-Eu quero me casar com o Bruno. Não vai acontecer nenhum mal a ele, vai?
-Vocês vão se casar, sim... e vão ser muito felizes pelo resto do tempo de vida... vocês realmente nasceram um para o outro, para somar, para um fazer ao outro mais feliz. Vocês não se completam: vocês se somam. Um sempre encontra um jeito de ajudar o outro. Não se preocupe, vocês dois ainda tem um longo e belo caminho pela frente. Vocês ainda vão encontrar muita felicidade pelo caminho, inúmeras razões para sentir gratidão.
-Mas então por que eu preciso ser forte? Desculpe, Dona Velha... mas eu não entendo. Tenho medo de perder as pessoas que eu amo.
-Você nunca vai perder quem você ama. Mesmo que alguém importante pra você desencarne. Não se perde jamais quem se ama. O amor é vida, lembre-se disso quando os tempos difíceis te atrapalharem a visão.
-Mas o que seriam esses tempos difíceis? A senhora pode me falar? Desculpe perguntar tanto, mas é que fico com medo de perder todas as coisas bonitas que tenho na vida, essa família que tenho agora, que é de verdade... meu pai, meu irmão, minha tia, enfim... tudo isso é lindo demais pra mim. Não consigo nem mais me imaginar sem eles.
-Você nunca está só e sabe disso. Seus pais adotivos estão sempre com você em pensamento.
-Mas eles estão mortos, Dona Velha.
-A morte não existe. Os corpos carnais perecem... a alma é imortal.
-Desse jeito que a senhora fala, fico até me sentindo mais confiante e tranquilo.
-Tá vendo, meu querido? Tudo isso está dentro de você. Você apenas percebe o significado de tudo através de mim, mas não sou eu que trago a serenidade que você precisa, porque ela parte do seu interior...
-Eu me sinto grato pela nossa conversa. Queria te ver mais vezes.
-Não posso aparecer sempre, meu querido. Tenho muitas coisas a resolver pra quem precisa e, acredite: tem muita gente nesse mundo precisando de um conforto, mais do que você possa imaginar. Eu preciso ir agora. Você sabe que isso aqui é um sonho. Siga dormindo tranquilo, pois o amanhã a Deus pertence e sempre há um facho luminoso na mais profunda escuridão.
Misteriosa senhora desaparece das vistas de Cláudio. CORTA A CENA.

CENA 2: No dia seguinte, Bruno e Cláudio chegam em casa depois de ir ao cartório.
-É... agora já tá definido.
-Ainda assim, Bruno... você não achava mais prudente esperar acabar a primeira temporada do meu monólogo?
-Pra que? A gente já sabe quando vai acabar, amor.
-Tá certo. Mas é que um mês, diante de tudo o que ainda tenho a fazer, talvez seja um tempo curto demais.
-A gente vai conseguir casar. Não me importa se não houver festança. Isso é mais coisa do meu pai, você sabe.
-De qualquer maneira, fico com receio de isso acabar atrapalhando os planos do seu irmão e do Rafael.
-Besteira. Eles mesmos disseram que só viajam por aí outra vez quando tiverem certeza que não tem mais nenhuma pendência e como eles vão ser as nossas testemunha,s tá super favorável, não?
-Você tá certo. É que por um lado fica difícil de acreditar que depois de tanta coisa, depois de tanto a gente adiar tudo, a gente finalmente vai conseguir oficializar diante da lei o nosso casamento.
-Antes tarde do que nunca. Eu mesmo cheguei a pensar que isso ia demorar um monte pra acontecer ainda.
-Verdade, amor... mas vamos falar de coisa boa? Bruno, a Mara e o Procópio estão se rasgando em elogios a mim. Desse jeito eu até acredito quando me dizem que tou arrasando.
-E vai estar arrasando mesmo, tenho certeza disso.
CORTA A CENA.

CENA 3: Ivan vai a mais uma reunião dos Jogadores Anônimos e dá seu depoimento.
-Bem... pra quem tá chegando hoje e ainda não me conhece, me chamo Ivan e só por hoje eu resisti à tentação de apostar. Não foi fácil admitir a mim mesmo que eu tenho um vício, que precisa de tratamento. Sempre considerei que viciados fossem drogados, pessoas que acabam à margem do que é considerado normal na nossa sociedade. Levei mais de trinta anos para compreender que apostar pra mim é como se fosse uma droga viciante. Comecei a jogar bastante jovem ainda, com meus vinte ou vinte e um anos... não lembro ao certo quando esse vício começou, mas sei dos danos que ele causou a mim e aos meus familiares, que sofreram junto por ver o que eu mesmo não via: que eu estava me afundando, endividado até não poder mais, frequentando bingos quando eles ainda não eram clandestinos e mesmo depois da criminalização, não deixei de apostar. Meu filho mais velho quase caiu no mesmo buraco que eu, mas por alguma razão, encontrou mais força para não viciar por completo. Por minha culpa, eu vi a fortuna da minha família ruir. Minha família quase indo à falência, meu filho mais novo tendo de abrir mão de quem ele realmente é para poder garantir um sustento à vida que a gente sempre levou. Mesmo depois que a sobrinha de minha esposa enriqueceu e foi morar conosco, a vontade de apostar não me deixava em paz. Durante anos eu consegui dominar, mas sem o tratamento, eu acabei tendo a recaída. Me envergonho de não ter buscado ajuda antes, porque nesse exato momento eu poderia estar novamente dilapidando o patrimônio dos meus... e não sei se saberia me perdoar por isso...
Ivan, emocionado, segue o relato. CORTA A CENA.

CENA 4: Raquel avisa a Valentim e Mara sobre liberação de escuta no celular de Suzanne.
-Gente, tá liberado. A operadora confirmou que a escuta pode ser feita sem que isso gere problemas administrativos para a empresa. - fala Raquel.
-Maravilha! Agora é só esperar pra pegar Suzanne no pulo. Espero que não demore. - fala Valentim.
-De qualquer maneira, a gente não pode ficar impaciente agora. A permissão foi concedida por todos os lados agora. Apesar de estarmos correndo contra o tempo, é preciso que tenhamos cautela, para que não façamos nada sem o mínimo de materialidade de provas. Para isso, não é qualquer gravaçãozinha que vai incriminar Suzanne. E mesmo que algo comprometedor se revele, talvez ela ainda possa não ser incriminada por isso. - fala Mara.
-Se pelo menos ela tivesse antecedentes criminais comprovados, a história seria outra... - lamenta Raquel.
-Mas não é assim que as coisas são agora. Eu sei que deveriam, mas... - fala Valentim.
-Mas agora é hora de você baixar a cabeça nisso, Valentim. Tanto eu quanto a Raquel temos outros casos importantes e urgentes a resolver. Contamos com a sua atenção inteiramente voltada pra isso. - fala Mara.
-Pode deixar, essa missão é toda minha. - afirma Valentim.
CORTA A CENA.

CENA 5: DIAS DEPOIS.
Chega o dia da estreia do monólogo de Cláudio e sua reestreia nos palcos da companhia de teatro. Cláudio acorda-se animado, antes de Bruno e, ao preparar seu café, se depara com Márcio já acordado tomando café.
-Eita, pai! Que milagre te ver acordado cedo!
-Mal preguei o olho essa noite, meu filho. No final das contas eu acho que absorvi um pouco do seu nervosismo com a sua estreia, vê se pode!
-Acontece. De alguém eu tinha que puxar esse nervosismo, não é mesmo? Ainda mais sendo filho de um pai ariano sem paciência pra lenga-lenga.
-Naquelas, né Cláudio. Lenga-lenga por lenga-lenga, eu me deixei envolver por uma situação insustentável por mais de vinte anos.
-Ih, nem começa, pai. Hoje é dia de falar só de coisa boa porque tá todo mundo meio pilhado... mas sabe, tou notando que cê tá meio preocupado.
-Deve ser impressão sua, meu filho. Apesar desse nervosismo pela sua reestreia, tou tranquilo.
-Tem certeza disso? Eu vejo um pouco de medo nos seus olhos...
-Mas medo do que, Cláudio? Fica tranquilo, filho... eu estou bem.
-Não é o que parece.
-Esquece isso, meu querido. Lembra daquele velho ditado que diz que o que não tem remédio, remediado está?
-Ah, acho que entendi. Você tá pensando na demônia outra vez...
-Também. Mas não é justo com você falar sobre isso, sabendo que é um assunto que você evita.
-Verdade, pai. Bem, eu vou subir com o café do Bruno, antes que ele se acorde e estranhe eu não estar lá.
Cláudio sobe com as xícaras de café. CORTA A CENA.

CENA 6: Instantes depois, Riva se acorda e se depara com Márcio ainda pensativo na cozinha.
-Pelo visto você tá nervoso pelo seu filho hoje, hein? Bom dia, querido...
-Bom dia, Riva. Dormiu bem?
-Dormi. E você?
-Mal preguei o olho...
-Por que? Não vai me dizer que tudo isso é nervosismo pelo Cláudio.
-De certa forma é. É a primeira vez que vou ver meu filho nos palcos, mesmo que essa não seja a primeira vez dele. Tem um significado especial pra mim, mas... não é só isso. Eu tive um pesadelo assustador essa noite.
-Pesadelo? Olha, melhor nem falar... diz que falar dá azar. Pode ser uma superstição boba, mas a gente nunca sabe...
-Eu preciso desabafar com alguém, pode ser com você?
-Claro que sim, meu amigo... se quiser falar, fale.
-Nesse pesadelo eu me via fora do meu corpo.
-Que? Me explica isso...
-Era como se a minha essência estivesse desgrudada do meu corpo. Fora dele... como se meu corpo já não tivesse mais a mínima importância ou utilidade.
-Impressão minha ou isso é eufemismo pra me dizer que você se viu morto nesse pesadelo?
-Basicamente foi isso. Fiquei preocupado, claro... afinal de contas, apesar de tudo, ainda gosto da vida. Só sigo buscando um sentido, sabe?
-Entendo...
-O Cláudio notou que eu tava com uma cara esquisita. Eu não quis dizer nada a ele... ele puxou o nervosismo natural de mim, sofre por antecedência que chega a doer de ver.
-Você fez bem de não dizer nada. Mas tenta esquecer desse pesadelo, meu amigo. Foi só um sonho ruim, de repente foi pegadinha do seu inconsciente...
-Assim espero, Riva... assim espero.
CORTA A CENA.

CENA 7: Horas depois, Suzanne liga para Guilherme.
-Oi, Suzanne. O que manda dessa vez?
-Oi, “Henrique”... tá tudo bem com você também, querido?
-Não seja falsa, isso não combina com você.
-Se não combinasse eu não teria ficado rica, então você apenas aceite a maneira que eu escolhi te tratar, porque quem te banca sou eu.
-Eita... ligou só pra me jogar isso na cara, foi?
-Claro que não, seu panaca, você sabe o motivo.
-Vai de minha babá lá na estreia do seu querido filhinho de quem você nunca lembrou de ser mãe?
-Olha aqui, Guilherme, chega de me apontar o dedo! Você não sabe de nada! Óbvio que eu vou com você, seu louco. Você está proibido de dar um único passo sem a minha companhia, tá me ouvindo bem?
-Isso, imbecil, fala meu nome, retardada! Esqueceu que sou Henrique agora?
-Que seja. Você quer ver o Cláudio estreando o monólogo?
-Claro que quero. Você sabe que essa é uma das pendências que tenho.
-Então vai ser do meu jeito, porque senão eu tomo o seu dinheiro, você sabe que eu faço isso a hora que eu quiser. Você sequer pode abrir uma conta corrente, então o dinheiro não está seguro. E pode ser meu se você der um único passo em falso.
-Você não tem mesmo noção do perigo, não é mesmo, Suzanne?
-Não tenho medo de um maluco. Tenho mais com o que me preocupar.
-É, mas pelo visto tá se borrando de medo de eu fazer algo com seu filhinho.
-Cale-se! Nos encontramos mais tarde. E vai ser do meu jeito.
-Não tenho outra saída...
CORTA A CENA.

CENA 8: Valentim escuta a gravação da ligação grampeada de Suzanne e chega ao trecho em que Suzanne chama Guilherme pelo nome. Perplexo, escuta o restante da gravação. Ao final da gravação, Valentim olha para os lados.
-Deus do céu! As suspeitas estavam certas o tempo inteiro... e são mais graves do que eu pensava! O Guilherme realmente está no Rio e não parece estar disposto a uma aproximação amigável com o Cláudio... pensa, Valentim, pensa! Alguma coisa precisa ser feita imediatamente!
FIM DO CAPÍTULO 153.

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