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quarta-feira, 2 de novembro de 2016

CAPÍTULO 147 - ÚLTIMOS CAPÍTULOS

CENA 1: É Guilherme que está do outro lado da linha.
-Você deveria ser mais gentil comigo, Suzanne.
-Não vejo nenhum motivo pra isso. Você não disse que não voltava tão cedo ao Brasil? Se você pensa que vai fazer alguma coisa contra o meu filho, vai ter que passar por cima do meu cadáver e você sabe que não é fácil me deter, Gui...
-Nem continua. Agora eu sou Henrique, esqueceu desse detalhe? Você pode estar sendo gravada, sua anta.
-Que seja. Veja bem, “Henrique”: eu não vou permitir que nada de mal aconteça nem a ele nem a ninguém, tá registrando bem o que eu tou dizendo?
-Ui, estou morrendo de medo dessa sua versão bravinha. Eu tou te ligando porque tou precisando de grana.
-Mais? Eu não acredito que você torrou tudo o que eu te dei em tão pouco tempo.
-Ah, você sabe como é... eu aproveitei pra dar uma visitada em outros países.
-Você não recebeu esse dinheiro todo pra ficar passeando. Tinha que ter sossegado esse seu cu na Índia! Você não disse que queria começar uma nova vida? Pois que comece, mas longe daqui! Longe do meu menino! Você é o único culpado de eu mesma não ter me mandado dessa republiqueta das bananas. Por sua causa eu ainda tenho que ficar nessa merda de país, nessa merda de continente... se não fosse por você, eu já teria ido embora, porque não tem mais nada que me prenda aqui. Agora, se você fizer qualquer coisa contra Cláudio, você é um homem morto. Morto, tá me ouvindo? A única coisa que me impede de ir embora imediatamente desse país de merda é que eu preciso me certificar que meu filho vai estar a salvo, só isso.
-Não venha com ameaças que você não pode cumprir, Suzanne. Você sabe perfeitamente que não seria capaz de matar ninguém. Só matou seu pai e lentamente... não tem o sangue frio que mente ter.
-Ah, mas você realmente não sabe do que eu sou capaz. Você sabe há muito tempo que eu só permiti que você ficasse perto dele porque eu acreditei que seria melhor pra ele, ter um homem rico por perto. Mas a sua loucura passou dos limites. Sua obsessão é doentia, Gui...
-Henrique, por favor.
-Ah, quer saber? Vá pro inferno!
-Você tá muito esquentadinha, Suzanne. Isso não faz bem pra esse seu coraçãozinho de gelo, sabia? Não vai infartar agora, né? Ainda tem muito pato pra cair no seu charme barato. Outra hora a gente se fala, ainda tenho uma grana aqui guardada. Até mais, queridinha.
-Vá à merda!
Suzanne desliga, enfurecida. CORTA A CENA.

CENA 2: Vicente está checando a iluminação dos estúdios da produtora para iniciar as gravações de mais um episódio da série de Rafael, quando Riva o chama.
-Amor, eu sei que você tá ocupado aqui, mas tem uma pessoa querendo conversar com você na sala.
-Quem, Riva?
-Você vai ver quando a gente chegar à sala.
Riva leva Vicente à sala e Vicente se surpreende.
-Leandro César Martins! Que ventos auspiciosos são esses que te trazem aqui? Faz anos que não te vejo, rapaz! Meu melhor trabalho foi numa novela que você escreveu...
-E você foi um dos atores mais dedicados e que mais compreenderam a essência do meu texto.
-Confesso que estou surpreso que você tenha vindo na minha casa. O que te trouxe aqui?
-Fiquei sabendo do sucesso que Fermata Visual anda fazendo. E vim dizer que me desliguei da emissora.
-Que? Você tá falando sério? Só pode ser uma pegadinha, isso... onde estão as câmeras?
-Nunca falei tão sério. Eu tenho uma sinopse de uma novela... e queria que ela fosse produzida pela Fermata Visual.
-Mas eu nem tenho o aparato necessário pra tudo isso ainda!
-Eu sei disso, Vicente. Estou oferecendo meu trabalho, mas compreendo que está tudo no começo.
-Inclusive que você, caso seja contratado, não receberia salário de imediato?
-Sim. Eu acredito no crescimento desse projeto... de verdade. Agora preciso ir... mas pense na minha proposta... eu posso ajudar no crescimento da Fermata Visual. Fique com meu cartão, assim você me retorna a qualquer momento.
CORTA A CENA.

CENA 3: Eva e Renata mandam notícias em vídeo gravado para seus pais. Regina, Cleiton, Adelaide e Geraldo assistem o vídeo gravado por elas.
-Mãe, pai... nós estamos bem, embora tudo seja bastante cansativo, mas prazeroso. Partimos daqui dois dias para alguns países da África onde precisamos pressionar as autoridades sobre os direitos básicos da mulher que são negados. Nos desejem sorte! - fala Renata.
-Vai ser um momento simbólico pra gente ter a dimensão exata do que significa toda essa nossa militância feminista. Nossa luta pelos direitos das mulheres está só começando. Ainda vamos viajar para vários países antes de encontrar algum tempo pra podermos voltar ao Brasil. Mas assim que a gente voltar, eu quero uma macarronada daquelas que só você sabe fazer, pai... - fala Eva.
-A gente não tem muito tempo pra continuar gravando esse vídeo, mas morremos de saudade de vocês e do Brasil... principalmente da comida. Amamos vocês. - fala Renata.
O vídeo é encerrado e Regina fica encantada.
-É impressionante ver como elas estão cada vez mais maduras. A Renata fez a Eva crescer tudo o que ela precisava... - fala Regina.
-De fato, minha amiga... a Renata ensinou muita coisa a mim também. Fico feliz pelo rumo que nossas vidas estão tomando depois que entendemos o valor dessa luta... - fala Adelaide.
CORTA A CENA.

CENA 4: Laura, Haroldo e Mateus conversam sobre os rumos da peça.
-Eu sei que não devia reclamar, porque o público que nos assiste adora a peça, mas confesso que não vejo a hora da gente voltar a viajar pelo país com a peça sem encontrar problemas com esses conservadores que aparentemente não tem vida própria... - fala Haroldo.
-Nem fale, amor. Eu que passei tanto tempo me escondendo por medo de ter minha carreira prejudicada fico mais frustrado ainda. Justo quando a gente dá esse passo adiante, a gente fica meio refém desses cagadores de regra... - desabafa Mateus.
-Ah, meninos... querendo ou não tudo isso já era previsível. Vocês sabem que esses crentes gostam é de fazer barulho. São mais closeiros do que toda a comunidade LGBT junta. Mas vocês vão ver como logo o foco deles muda... estão sempre à caça de algum assunto que gere “polêmica” pra que assim eles possam falar besteira à vontade, cheios daquele falso moralismo, que prega uma vida não mundana, mas que esconde por debaixo dos panos muito mais sujeira do que a gente possa sequer supor... - fala Laura.
-É frustrante mesmo assim... se bem que com sua gravidez avançando, essa pausa na turnê não chega a ser tão problemática. A gente pode acabar voltando depois que o bebê nascer... - fala Mateus.
Laura percebe que o bebê se mexe.
-E pelo visto ele tá gostando desse papo, viu? Acabou de mexer! - fala Laura, emocionada.
Haroldo coloca a mão na barriga de Laura e se derrete ao perceber a movimentação do filho.
-Gente... é verdade. Meu filho tá se mexendo!
Todos se emocionam. CORTA A CENA.

CENA 5: Marion estranha saída repentina de Ivan e desabafa com Rafael.
-Tou com um pressentimento nada bom em relação a essa demora do seu pai em aparecer...
-Ah, mãe... nem começa! Você sabe que tem mais de três anos que o pai tá controlado, nunca mais foi nesses lugares.
-Mas também nesse tempo todo ele nunca saiu sem dizer pra onde ia. Você lembra do que isso significa.
-Vamos torcer pra que ele só tenha ido espairecer, mãe...
-Não dá pra ser otimista em relação a isso. Se ele tivesse aceitado minha sugestão aquela vez que falei sobre os Jogadores Anônimos, talvez ele não estivesse tendo recaídas.
-Como é que você pode afirmar que ele foi jogar, mãe? Tenta ter um olhar mais generoso com ele, por favor... ele só não disse onde ia. Nem deu hora pra voltar. Às vezes a pessoa só precisa de um tempo de solidão tendo uma família tão grande... não fica assim, mãe. O pai não merece essa sua má vontade.
-Rafael... você sabe que não é má vontade. Nós, só nós e seu irmão Haroldo sabemos o que nós passamos com o vício deles. O Ivan é um caso crônico... diferente do seu irmão, que conseguiu superar pela força de vontade.
-Ainda assim eu não acho justo tirar essas conclusões tão precipitadamente. Vai por mim, mãe...
-Eu queria, meu filho... mas você sabe que minha intuição não é pouca.
-Mãe, existe uma diferença bem grande entre intuição e estar escaldada.
-Deus queira que o certo seja você e não eu...
-E se for o que você tá pensando, a gente sempre encontra um jeito. Relaxa, mãe...
Marion segue preocupada e Rafael afaga a mãe. CORTA A CENA.

CENA 6: Cláudio chega em casa depois de outro ensaio e Márcio percebe que filho está calado demais, seguindo ele até a cozinha.
-Desculpa incomodar, filho, mas... notei que você está caladão... nem parece com você normalmente...
-Ah, pai... não é nada demais.
-Você sabe que pode desabafar qualquer coisa comigo, não sabe?
-Sei. Mas acho que você não pode me ajudar.
-Ajudar eu não sei se posso, mas posso te ouvir... já é alguma coisa...
-Sabe o que é? Quanto mais chega perto do meu retorno aos palcos, mais nervoso eu fico.
-Isso sempre foi assim?
-De certa forma, pai. Só que agora é diferente.
-Mas por que seria tão diferente? Você ainda se chateia por ter que adiar o casamento pela segunda vez?
-Não... isso já foi devidamente conversado com o Bruno... ele entendeu de cara praticamente... sabe o quanto o teatro significa pra mim.
-Então não entendo esse estado de nervos que você está. Chega a estar mais magro, inclusive.
-É que é a primeira vez na vida que vou encarar um monólogo. Eu sempre quis, pai... de coração. Mas agora que esse desafio vai se tornar real, morro de medo de não dar conta.
-Você confia no seu talento?
-Tenho medo de confiar, sinceramente. Sempre tive um medo monstruoso do ego... a vaidade me apavora. Se eu achar que sou sempre bom, eu posso me tornar um daqueles atores que fica cegado pelo ego. Não quero isso pra minha vida...
-Só que você também não pode permitir que o medo te paralise, né...
-É, pai... você tem razão...
Os dois seguem conversando. CORTA A CENA.

CENA 7: Vicente liga para o autor de novelas que se demitiu da emissora.
-Boa noite, Leandro... espero não estar incomodando.
-De forma alguma, Vicente. Já tem um posicionamento sobre minha proposta?
-Tenho sim... a minha resposta final é que eu aceito que você venha para a Fermata Visual.
-Excelente! Quando eu posso ir aí?
-Amanhã mesmo, se quiser. Mas você está ciente de que esse é um contrato temporário ainda, né?
-Sim, Vicente. Eu sei que nos primeiros meses sequer vou receber salário. Eu já imaginava isso mesmo antes mesmo de tomar a decisão de me desligar da emissora. Se eu resolvi entrar nesse projeto, é porque estou disposto a investir meu próprio dinheiro nele. Eu confio muito na qualidade da Fermata Visual. É por isso que decidi contribuir com minha arte.
-Maravilha. Bem, já que você está ciente de tudo, eu gostaria de te convidar a conhecer todo o complexo de estúdios, além de acompanhar as gravações da série que estamos produzindo no momento.
-Vou adorar acompanhar tudo. Bem, meu amigo, agora eu preciso desligar. Vou ver se amanhã mesmo eu já apareço pra fazer esse tour pelos estúdios.
-Perfeito. Até mais, Leandro!
CORTA A CENA.

CENA 8: Horas mais tarde, já pela madrugada, Marion espera pela chegada de Ivan, sozinha na sala.
Ivan surge abrindo a porta e se depara com Marion.
-Posso saber onde você andava até uma hora dessas? Vão ser duas da manhã, Ivan!
-Eu... resolvi andar um pouco pela praia... espairecer.
-Ivan, não me engane. Andar na praia e espairecer embecado desse jeito?
-Você sabe que valorizo o estilo.
-Olha bem nos meus olhos, Ivan... me fala o que você foi fazer.
Ivan percebe que não vai conseguir mentir à esposa e se desespera.
-Eu juro que posso explicar. Foi só dessa vez! Eu juro que foi!
-O que você fez, amor? Eu não acredito!
Ivan explode em choro e Marion o abraça.
-Não deu, Marion... foi mais forte que eu... eu juro que pensei que tava livre de tudo isso, mas eu apostei de novo.
FIM DO CAPÍTULO 147.

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