CENA
1: Vicente fica nervoso e Riva o tranquiliza.
-Calma,
amor... ainda estão mostrando trechos das produções antes de
anunciar o vencedor... - fala Riva.
-É,
Vicente... a gente ainda tem tempo de cruzar os dedos e torcer pra
que “Heróis Reais” seja a vencedora... - fala Rafael.
-Agora
que a coisa tá tão perto, quem tá começando a ficar todo trêmulo
sou eu. Gente, só de me dar conta de onde a gente tá, em pleno
continente europeu, pelo simples fato de termos sido indicados, já
me deixa... nem sei expressar em palavras... mesmerizado, talvez... -
fala Marcelo.
-É
uma emoção que é de todos nós. Nós que estamos fazendo todo esse
nosso trabalho acontecer e ir adiante. Queria que a Marion, a
Valquíria, que todo mundo pudesse ter vindo conosco hoje... - fala
Vicente.
-Gente...
atenção, vão anunciar! - alerta Riva.
A
apresentadora inicia o anúncio da produção estrangeira vencedora.
-The
best foreign production of the year for the internet is... “Heróis
Reais”, written by Rafael Alves and Marcelo Oliveira and directed
by Vicente Fernandes from Brazil! - anuncia a apresentadora.
Todos
aplaudem enquanto os quatro, emocionados, vão receber o prêmio.
Rafael é o primeiro a falar.
-I
still can't believe we've made it! But I'd like to know if I can
speak in portuguese, just to thank my family for everything... - fala
Rafael.
-Sure
you can! Your words will be translated by our portuguese guests. -
esclarece a apresentadora.
-Sendo
assim, com o aval da apresentadora, eu gostaria de agradecer aos meus
pais, principalmente à minha mãe, Marion Bittencourt, que sempre
foi o maior espelho que tive na vida. Exemplo de amor e dedicação à
arte. A pessoa que sempre apostou todas as fichas nos meus sonhos e
acreditou sempre que eu poderia chegar onde quisesse... - fala
Rafael, passando o microfone a Marcelo.
-Bem,
já que meu marido começou falando em português, eu vou tomar a
liberdadede continuar assim. Queria agradecer ao próprio Rafael por
toda a inspiração que ele me dá todos os dias, desde que nos
conhecemos e nos apaixonamos. Mas não posso deixar de agradecer
minha mãe, dona Riva que está aqui também, por ter me ensinado
tudo o que eu sei da vida. Por ter acreditado em mim e pelos
sacrifícios que fez quando a gente ainda vivia na pobreza. Meu maior
exemplo de garra e força nessa vida vai ser sempre minha mãe. Mas
também quero agradecer meu pai Márcio que, apesar dos tropeços da
vida, tem sido alguém muito importante na minha vida e na vida de
meu irmão Cláudio. Mas agradeço, acima de tudo, a todo o público
que prestigia “Heróis Reais” desde a estreia! - fala Marcelo,
entregando o microfone a Vicente.
-Nem
tenho que agradecer muito, porque os meninos já arrebentaram nos
agradecimentos. Mas meu agradecimento especial vai para João
Bernardo Salinas Filho, porque se não fosse a péssima gestão dele
na emissora que trabalhei por anos, jamais eu teria tido a coragem de
me desligar e abrir minha própria produtora. - fala Vicente,
entregando o microfone à Riva.
-Pra
mim, esse momento é especial demais porque eu sempre sonhei em ser
atriz e reconhecida por isso. Estar aqui representando o elenco da
série me alegra demais e me lembra dos tempos difíceis, dos tempos
que eu já tinha desistido de tentar ser atriz porque a vida tinha me
empurrado pra outros caminhos. Nunca deixem de sonhar, nunca! Cedo ou
tarde esses sonhos podem se tornar realidade! - fala Riva.
CORTA
A CENA.
CENA
2: DOIS DIAS DEPOIS.
Vicente,
Marcelo, Riva e Rafael voltam ao Brasil e desembarcam no aeroporto,
sendo recebidos com festa pelos familiares. Porém, assim que todos
se abraçam, Rafael percebe que uma multidão se aproxima deles.
-Parabéns,
Rafael! Sou muito seu fã desde que você teve a coragem de se
assumir! - fala um fã, abraçando Rafael.
Marcelo
observa a tudo surpreso quando outro fã abraça ele.
-Que?
Rapaz, cê não devia estar abraçando o meu marido? - questiona
Marcelo.
-Não,
sou seu fã, mesmo! Você é um ótimo ator! Vai longe! Posso tirar
uma selfie? -fala o fã de Marcelo.
-Gente...
isso é vida real ou fantasia? Eu com fã? Bem, é claro que você
pode tirar uma selfie comigo, mas eu tou bem besta! - fala Marcelo.
-Gente,
que loucura! Quer dizer que sou irmão de um famoso agora? Ai que
tudo, beijos! Ah, não... essa fala é da Nicole Bahls! - brinca
Cláudio.
-Só
você pra fazer graça até pra receber seu irmão de volta... - ri
Bruno.
Aos
poucos, a multidão de fãs se dispersa e todos conseguem rumar ao
estacionamento.
-Fala,
filho: como foi a viagem? Deu pra conhecer a Holanda? - pergunta
Marion.
-Quase
nada, mãe. A gente foi num pé e voltou no outro, praticamente. Mas
levamos o prêmio, é o que mais importa. Valeu a pena! - fala
Rafael.
CORTA
A CENA.
CENA
3: Ao sair do banho, Laura sente uma forte tontura e cai desmaiada,
assustando Haroldo e Mateus que correm para acudí-la.
-Acorda,
Laura! - fala Mateus, dando leves tapas em Laura, que acorda.
-Fala
com a gente, amor... o que foi que aconteceu? E o bebê? -
preocupa-se Haroldo.
-Gente...
não precisa tanta preocupação, sério mesmo. Eu só tive uma baixa
de pressão. Sempre tive pressão baixa e foi só isso. - fala Laura.
-Tem
certeza que foi só isso? Você não invente de nos esconder nada, tá
me ouvindo? - preocupa-se Mateus.
-O
Mateus tá coberto de razão. Se você estiver com algum problema,
nem pense em esconder da gente porque a gente tem direito de saber. -
fala Haroldo.
-Ai,
que saco, vocês dois! Minha pressão sempre baixou no calor, mas que
inferno! - reclama Laura.
-A
gente só fica preocupado com você, amor... não precisa ser grossa
com a gente... - ofende-se Haroldo.
-Desculpem,
meus amores. Mas é que eu fico meio irritada sim, com essa mania que
vocês tem de achar que por eu estar grávida eu estou doente. Antes
mesmo de sonhar em ficar grávida eu sempre tive problemas com o
calor. Você sabe muito bem disso, Mateus... não sei como esqueceu
disso. - fala Laura.
-De
qualquer forma você não pode nos recriminar por nos preocuparmos
com você e com o bebê. Se você sabe que o calor te prejudica, qual
é seu dever nisso? Evitar que fique fraca. Agora você cuida também
dessa vida que tá se formando dentro de você... - fala Haroldo.
CORTA
A CENA.
CENA
4: Raquel procura Suzanne outra vez.
-Ih,
pra quem disse que nunca mais queria me ver, até que você tá
aparecendo com muita frequência, hein dona Raquel?
-Você
sabe que ainda ficou muita ponta solta nessa história, Suzanne. Eu
tenho direito de saber.
-Direito
de saber o que? Aqui você é só minha mãe, a profissional ficou do
lado de fora. Se você acha que a gente tem algo a conversar, tá
perdendo o seu tempo e no fundo, você sabe disso.
-O
meu direito é uma coisa que você não tem como questionar, Suzanne.
Não é justo com você mesma esconder coisas que eu sei que você
quer falar.
-Quem
foi que te disse que eu quero dizer alguma coisa, quanto mais pra
você? Essa sua psicologia de botequim tá bem bosta, hein? Aprendeu
com o Valentim?
-Você
não se cansa de ser irônica?
-Nunca,
mãe. Tomo ironia de café da manhã, tá bom pra você?
-Se
espera por aplausos, esqueça. Suzanne, o que a gente precisa
conversar é sério e você melhor que ninguém sabe disso. Não
adianta negar pra mim, olhando nos meus olhos, que você tá de mãos
limpas em relação ao sumiço do Guilherme.
-E
o que leva você a ter tanta certeza? As suposições do super
Valentim paladino da moral e dos pobres mocinhos idiotizados? Ah,
dona Raquel... esperava mais da sua esperteza...
-Não
tente escapar, Suzanne. De mim você não consegue esconder nada.
-Ah,
é mesmo? Tem certeza? E quando eu fiquei grávida e passei nove
meses debaixo do mesmo teto que você e você nem desconfiou de nada?
Eu escondo o que eu quiser. Você sabe disso.
-Aquela
idiota que não percebia o óbvio não existe mais, Suzanne. Tive
mais de trinta anos pra perceber quem você realmente é.
-Adiantou
de alguma coisa? Você conseguiu o que queria? Ah, deixa eu ver... a
resposta é não. Faça um favor a mim e a você: não se meta em
nada disso, isso não é da sua conta, nem como mãe, nem como
investigadora.
-Eu
me meto sim, Suzanne! Você disse com todas as letras que precisa
evitar uma tragédia e algo me diz que tem a ver com o Guilherme.
-Você
pode provar o que diz?
-Não.
-Então
eu acho que não temos mais o que conversar. Sério, mãe... não se
mete nisso. Não mete a mão num vespeiro. Quanto menos gente estiver
dentro desse vespeiro, melhor pra todo mundo. Tudo o que eu posso
dizer é que não estou aqui no Brasil porque quero. Por mim eu teria
comprado uma passagem pra bem longe daqui assim que me livrei do
processo. Mas eu não posso. Espero que logo eu possa. Não tenho
mais nada a te dizer, mãe... por favor, vai embora.
CORTA
A CENA.
CENA
5: Após almoço em família, Márcio chama os filhos para ter uma
conversa.
-Desculpa
chamar só vocês, meus queridos... mas é que eu queria falar
primeiramente com vocês sobre meus planos... - fala Márcio.
-Eita,
pai. É algo importante? Porque pra você ter esperado o Marcelo
voltar de viagem... - fala Cláudio.
-Meus
filhos, vocês sabem que eu amo vocês dois mais que tudo nessa vida,
não sabem? - fala Márcio.
-Claro
que a gente sabe, pai. Mas por que você tá falando isso? O que cê
tá pensando em fazer? - pergunta Marcelo.
-Eu
quero voltar às origens. Sinto falta de Barra de São João. Eu
penso em voltar pra lá daqui alguns meses... vocês vão me
entender? - fala Márcio.
-Entender
a gente vai... mas justo agora que a gente se encontrou, que tá se
dando bem, que tá sendo uma família... pra que jogar tudo isso
fora? - entristece-se Cláudio.
-O
Cláudio tem razão, pai... qual é o sentido disso? Tem alguém
esperando por você lá na sua cidade? - pergunta Marcelo.
-Não
tem. Mas eu sinto falta de lá... quem sabe assim eu possa
ressignificar minhas memórias de infância. Perdoar meus falecidos
pais por terem me abandonado e me expulso de casa por causa da
religião deles... - desabafa Márcio
-Mas
você não precisa voltar, precisa? Poxa, pai! Eu sei que é louco
dizer isso, porque durante anos nunca senti falta de um pai, mas eu
te amo demais! Você tem sido importante na minha vida, de verdade...
- fala Marcelo.
-O
Marcelo tá coberto de razão. Pai, o seu amor por nós desarmou
qualquer defensiva nossa. A gente quer o seu bem, quer te ver feliz,
mas ao mesmo tempo eu não quero ficar longe de você. Já passamos
muito tempo separados por culpa daquela lá... não faz isso com a
gente, por favor... - pede Cláudio.
-Ai,
meus filhos... eu juro que vou pensar com carinho nisso tudo. Também
não quero ficar muito tempo longe de vocês... - fala Márcio.
-Então
não fica! - fala Marcelo.
Os
três seguem a conversar. CORTA A CENA.
CENA
6: Horas depois, ao final de mais um ensaio na companhia de teatro,
Cláudio é surpreendido pela chegada de misteriosa senhora.
-Dona
Velha! Não esperava ver a senhora por aqui... que bom te ver! - fala
Cláudio, abraçando “Dona Velha”.
-Você
parece estar tão luminoso, Cláudio! Tão cheio de alegria...
-E
tou bem assim mesmo, sabe? Meu monólogo estreia daqui alguns dias e
assim que possível eu vou me casar com o amor da minha vida...
-Nisso
você tá coberto de razão, meu querido. Bruno é o amor da sua vida
mesmo, vocês tem um longo caminho juntos, aprenderam rápido a
desenvolver a parceria e a cumplicidade, coisas fundamentais onde
existe amor...
-Nem
eu pensei que pudesse amar do jeito que amo Bruno. E olhe que eu já
tinha tido grandes amores...
-Se
engana, Cláudio... o que você teve antes foram paixões. Você
precisou passar por elas, era necessário pro seu processo de
amadurecimento emocional, pra entender de fato o que é o amor. Mas
você tem aprendido, meu querido... falta muita coisa pra aprender
nessa vida ainda, que ainda vai longe, mas é preciso que você
conheça mais profundamente toda a força que habita em você.
-Mas
por que está me dizendo isso, dona Velha?
-Você
tem muita força, Cláudio. Vai descobrir isso quando passar por
duros reveses. Não amaldiçoe a vida nem o destino. Tudo acontece
por um motivo...
-Estou
ficando assustado.
-Não
fique. Você ainda vai aprender lições valiosíssimas.
-Mas
sobre o que?
Cláudio
percebe que seu celular cai e o junta do chão. Quando se levanta, a
misteriosa senhora sumiu.
-Gente,
que loucura... - fala Cláudio, intrigado. CORTA A CENA.
CENA
7: Adelaide recebe uma notícia e, ainda na ONG, vai até o quarto
onde está alojada a menina estuprada pelo pastor.
-Juliana,
como você está?
-Melhorando,
dona Adelaide. Espero que um dia eu consiga superar tudo isso e ter
coragem de enfrentar minha família e a igreja desse pastor.
-É
justamente sobre o pastor Etevaldo que eu queria falar.
-O
que tem esse desgraçado?
-Acabei
de receber a notícia de que ele foi preso. Foi parado numa blitz,
estava tentando fugir para São Paulo, mas foi capturado antes disso.
-Finalmente!
Já não era sem tempo. Ele pode ter feito o que fez comigo com
muitas outras meninas...
-E
poderia continuar fazendo, se não tivesse sido preso. Você vai
querer me acompanhar até a delegacia, pra poder prestar uma queixa
contra ele?
-Claro
que sim. Mas eu não sei se quero encarar esse monstro de frente. Não
sei se aguento.
-Não
tem problema, Juliana. Se você não estiver se sentindo em condições
de encarar de frente o seu algoz, eu converso com a delegada. Dessa
forma, eu posso te garantir que você não vai ver nem vulto dele na
delegacia.
-Você
promete?
-Sim,
minha querida... eu prometo. Você nunca mais vai ter que encarar de
frente esse cara que fez essa atrocidade contigo. Confia em mim, tá?
-Sendo
assim, eu vou sim. Mas quando?
-Agora
mesmo.
-Não
está muito tarde?
-Não
se preocupe, querida. Não vai levar tanto tempo assim, pode confiar.
CORTA
A CENA.
CENA
8: Valentim conversa com mara sobre Suzanne.
-Já
estou sinceramente intrigado demais com tudo o que diz respeito à
Suzanne, Mara...
-Não
é pra menos. Tá mais que óbvio que ela esconde muita coisa e eu
tenho certeza quase absoluta que a única pessoa que pode ter
auxiliado Guilherme na fuga é ela.
-O
foda disso vai ser provar, com o inquérito fechado.
-São
os ônus e bônus de estarmos nessa nossa posição. Infelizmente não
temos nada que possa ser feito de efetivo nesse momento.
-É
por isso mesmo que eu tomei uma decisão.
-Ah,
não Valentim! De novo isso?
-Sim.
-Mas
utilizar dos nossos recursos pra investigar por conta própria pode
dar zebra!
-Alguma
vez nesses mais de trinta anos já nos deu zebra?
-Não,
mas a gente sempre corre o risco. Depois, eu não sei se você
lembra, mas por sua culpa a gente tomou seis meses de suspensão em
noventa e três... tá lembrado disso?
-Você
tem uma alternativa melhor, Mara? Porque denúncia nenhuma foi feita
novamente e eu não tenho como denunciar baseado em suposições.
-É...
não tem mesmo outra alternativa, infelizmente...
-Então
o jeito vai ser recorrer aos velhos métodos. Tem que ser assim...
CORTA
A CENA.
CENA
9: Vicente e Riva se preparam para dormir enquanto Riva amamenta
Lúcio.
-Impressionante
como o Lúcio só quer saber de mamar, ainda... - observa Vicente.
-Melhor
assim, né? Com o Marcelo não foi diferente... até os dois anos ele
praticamente não comia nada sólido...
O
celular de Vicente toca e Riva ouve antes dele.
-Amor,
atende seu celular, tá tocando ali no criado mudo...
Vicente
pega o celular.
-Número
privado... que estranho...
Vicente
atende.
-Alô,
quem fala?
-Você
devia se lembrar do seu ex-chefe, não devia? Fiquei sabendo do
sucesso da sua produtora e quero comprar a série do Rafael. - fala
João Bernardo.
Vicente
fica perplexo. FIM DO CAPÍTULO 145.