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quinta-feira, 30 de junho de 2016

CAPÍTULO 40

CENA 1: Guilherme tenta se explicar com Cláudio.
-Olha, Cláudio... desculpa. Você sabe que eu gosto de você. Mas somos acima de tudo amigos, não somos?
-Somos... mas eu não posso admitir que você venha com ceninha de ciúme pra cima de mim, sendo que a gente mal começou a ficar. Isso é tudo o que a gente tem, além da amizade: a gente fica! Começa e termina por aí.
-Não precisa jogar isso na minha cara, Cláudio...
-Como que não precisa? Em questão de dia você dá um piti completamente sem sentido diante de mim e do Bruno e eu não preciso deixar as coisas claras pra ver se você entende? Claro que eu preciso dizer! Você acha que o Bruno não notou nada? Claro que notou... ele ficou tão constrangido quanto eu fiquei. A diferença é que ele foi elegante e não me disse nada. Não deu uma palavra. Porque não quis se meter. Assim é como uma pessoa madura age.
-Você não é a pessoa mais indicada pra falar de maturidade depois do que fez covardemente com o Marcelo.
-Guilherme, na boa... vai embora. Vai embora da minha casa antes que a gente acabe discutindo e brigando sem necessidade.
-Desculpe, Cláudio... eu não quis te aborrecer.
-Você nunca quer, né? Não queria causar climão, mas foi o responsável pelo climão lá na sala. Não queria me aborrecer mas tocou numa ferida aberta minha.
-Não foi minha intenção... eu juro.
-Pode não ter sido. Mas sabe como é aquele ditado clichê, né? De bem intencionado, o inferno tá cheio. Por favor, Guilherme... eu gosto de você. Tou gostando de ficar contigo. Não estraga esse lance legal que tá pintando entre a gente... é melhor você não ficar aqui em casa hoje. Ainda dá tempo de sair daqui até Copacabana sem susto. Por favor... faça isso por você, faça isso por mim... por nós.
-Tá certo. A gente se vê amanhã?
-Eu não sei. Eu te ligo qualquer coisa. Preciso esfriar minha cabeça desse climão de hoje. Respeite meu tempo.
Cláudio acompanha Guilherme até seu carro e Bruno observa. Cláudio volta rapidamente pra dentro de casa.
-Gente... vocês discutiram?
-Bruno... não precisa se manter nessa postura defensiva. Você sabe o motivo pelo qual eu mandei ele embora. Aquele climão que ele criou foi muito sem noção. Desrespeitoso com você acima de tudo, muito antes de ser comigo. Foi cena de ciúme besta.
-Concordo. Não tem o mínimo cabimento. Vocês só ficam. Mesmo que fosse seu namorado, né... pra que aquela cena?
-Pois é. Achei melhor ele voltar pra casa dele, pra colocar a mão na consciência e pensar melhor nas atitudes que toma. Você pode pegar suas coisas que hoje você dorme no quarto.
Bruno fica feliz e recolhe suas coisas. CORTA A CENA.

CENA 2: Na manhã do dia seguinte, Marion desperta e após tomar uma xícara de café, vai ao quarto de sua mãe.
-Te acordei, mãe?
-Nada, querida. Tava aproveitando pra ler um livro. Você sabe que me acordo com os primeiros raios do dia.
-Eu queria conversar com a senhora... na verdade, te fazer um pedido.
-Fale, minha filha. Que pedido é esse?
-Antes de te fazer o pedido, eu queria te dizer que andei pensando melhor em tudo o que a senhora me disse ontem. Depois de resistir um pouco, confesso que passei a admitir pra mim mesma que sempre achei a Suzanne um tanto quanto... bem, artificial.
-Falsa. Não é isso que você queria dizer?
-Não nessas palavras, mas é por aí.
-Certo... eu te avisei, minha filha. Minha intuição não é coisa que falhe, você não lembra das enrascadas que eu tirei sua falecida irmã e vocês?
-Verdade, mãe... a senhora sempre sentia quando o rapa tava pra chegar...
-Mas diga logo... qual é o pedido?
-Não é bem um pedido, é mais uma orientação. Queria que a senhora buscasse não demonstrar nenhum tipo de desconfiança ou animosidade com a Suzanne, nem perto da Riva, muito menos quando a Riva estiver longe...
-Tou entendendo. Você tá com medo que ela note alguma fragilidade em mim e use isso contra mim, não é? Com a intenção de criar intrigas e jogar minha neta contra mim...
-É exatamente isso que pensei, como é que você sabe, mãe?
-Ah, filha... eu sei das coisas. Agradeço a sua preocupação. Você espera que eu tenha cautela e eu vou ter. Não se preocupe. Já vi gente como a Suzanne antes nessa vida.
-Já? Como assim?
-Ou você tem muita sorte de nunca ter cruzado com um tipo feito o dela antes, ou não prestou atenção o suficiente...
-Por que?
-Essa gente tá por toda parte. Gente falsa, gente que atua na vida o tempo todo. Gente sem consideração e sentimento. Te conquistam, ganham sua confiança, pra depois te apunhalarem. Geralmente porque querem grana. Tirar vantagem... se sentirem grandes.
-Não entendo, mãe... você fala como se estivesse se referindo a psicopatas.
-Não sei se é esse o nome que dá. Psicopata não são aquelas pessoas que matam em série?
-Nem sempre, mãe... mas enfim...
-Que seja. Já parou pra pensar que de repente ela não é rica como diz? Vocês conhecem alguém da família dela? Foram atrás de saber dessas coisas?
-Ainda não, mãe. Nem tem como. A gente falou sobre isso ontem... a senhora concordou que não seria bom invadir a vida de uma pessoa sem ter provas e nada além de suposições e desconfianças...
-Verdade. Mas pode ficar tranquila, filha... da minha parte vou ser bem discreta.
-Obrigada, mãe. Quer descer pra tomar café da manhã com a gente?
-Claro! - prontifica-se Valquíria. CORTA A CENA.

CENA 3: Em Melbourne, Rafael percebe que Marcelo continua com uma expressão triste.
-O que foi agora, amor? Não tá gostando da viagem, do país?
-Não, amor... tou adorando tudo. Tou amando a Austrália, tudo me parece realmente bom aqui. Não é isso... é que às vezes bate uma tristeza.
-É por causa do Cláudio, acertei?
-Nem que eu queira eu consigo esconder as coisas de você, né Rafa?
-Não consegue. Seu olhar fala demais por você...
-Eu tou muito triste, chateado e decepcionado com tudo isso. Me corta o coração saber que o Cláudio teve a capacidade de agir do jeito que agiu comigo. Sempre acreditei que nessa vida nunca tinha dado motivos pra ninguém sentir inveja, despeito e recalque de mim. Não é fácil perceber que desperto isso em alguém, muito menos quando esse alguém é quem eu considerava meu melhor amigo.
-Eu sei o quanto tudo isso tá doendo de verdade em você... mas me pergunto se vale a pena você ficar nessa coisa de remoer essa história toda. Enquanto você fica remoendo tudo isso, a gente tá deixando de aproveitar nossos momentos aqui. Viajamos pra isso, não foi? Pra gente poder passar esse tempo vivendo nosso amor sem medo, sem ter que se esconder...
-Claro que foi. Eu quero tirar isso da cabeça. Mas sabe por que não consigo? Você pode até achar que sou ingênuo... mas lá no fundo eu tenho a esperança que a gente ainda volte a ser amigo.
-Você passaria uma borracha em tudo? Ele precisa se responsabilizar pelas merdas que fez, amor...
-Eu sei. Vamos ver como as coisas vão se resolver com o tempo. Se um dia a gente voltar a ser amigo, não vai ser do dia pra noite. Feridas foram deixadas abertas e elas doem um bocado...
-Fica bem, meu amor... não gosto de te ver assim...
Rafael consola Marcelo, que se tranquiliza em seus braços. CORTA A CENA.

CENA 4: Mateus encontra “Chefe” onde ele costuma se encontrar costumeiramente. Aparece a silhueta do “Chefe” e sua voz abafada.
-Surpresa ver você aqui, Mateus. E que ousadia, eu diria. Vir assim... sem nem me ligar antes, sem se anunciar... quem é que podia te garantir que eu já tava aqui? Eu podia estar em casa numa hora dessas... ou em outro lugar.
-Conheço seus hábitos, chefe. Eu vim aqui porque preciso esclarecer algumas coisas. Esclarecer e sugerir.
-Fale logo, Mateus. Não tenho o dia todo e tenho estado meio sobrecarregado ultimamente.
-Dá pra ver pelas suas olheiras, mas enfim... eu tou com medo que a polícia esteja na minha cola, chefe... e por isso eu não sei se quero aceitar ser o novo cobrador. Prefiro me manter mais invisível, caso eu realmente esteja sendo investigado.
-Você é um rato ou um homem, Mateus? Você não tem opção. Ou você assume a posição que eu te impus, ou vai sobrar pra você, pra Laura e pra muito mais gente.
-Isso é uma ameaça, chefe?
-Você sabe que é. Nem sei por que pergunta. Você morre se não fizer o que mandei. Você também sabe que não preciso sujar minhas mãos com o sangue de ninguém, sempre tenho quem faça o serviço por mim.
-Mas chefe... você não podia considerar alguma outra função menos arriscada pra mim dentro da organização?
-Mateus, não tem conversa. Esquece disso. Não tem outra alternativa. Depois, os meus outros homens só servem pra obedecer ordens, mas não tem inteligência o suficiente pra conduzir... você sabe, operações mais complexas. Preciso de você. Você não pode simplesmente abandonar esse barco, senão muita gente afunda com você.
Mateus se dá por vencido e vai embora. CORTA A CENA.

CENA 5: Rodrigo está no apartamento do Rio em que morou, terminando de arrumas suas malas e pegar as coisas que lhe pertencem e olha para o apartamento, pensativo.
-Quem diria! Já tava até me acostumando com essa vidinha mais ou menos aqui... e agora esse ciclo tá se fechando na minha vida. Se fechando pra nunca mais se abrir...
Rodrigo pega sua agenda e começa a escrever seus pensamentos:
Estou num misto de sentimentos, lembranças e sensações. É doido dizer isso agora, mas nunca pensei que sentiria saudade desse apartamentinho que me acolheu quando eu não tinha mais pra onde ir nem por onde me esconder. O ciclo que se fecha hoje também fecha uma página lamentável da minha vida, da minha história, da qual sempre hei de me envergonhar. Por outro lado, deixo pra trás Cláudio... um grande amor que sei que não vou mais poder viver. Errei demais querendo acertar. Fui vítima de mim mesmo ao me deixar envolver pelo “Chefe”. E esse danado desse “Chefe” mesmo tendo a minha vida e a vida de tanta gente nas mãos, nunca mostrou a cara. Nunca soube quem ele é. Talvez nunca saiba. Mas só posso agradecer aos céus por ele ter me libertado. Muitas foram as vezes que pensei que jamais me livraria dessa teia de crimes, intrigas e conspirações. Mas hoje eu posso dizer que depois de muito tempo, eu estou me reencontrando comigo mesmo. Espero me encontrar ainda diante do espelho”.
Rodrigo fecha sua agenda, coloca em uma de suas malas e vai embora definitivamente do apartamento. CORTA A CENA.

CENA 6: Na companhia de teatro, antes de chegarem os atores, Procópio questiona Mara e Valentim.
-Vocês falaram dia desses sobre essa tal organização... facção, sei lá... o que vocês sabem de concreto sobre ela? - pergunta Procópio.
-Até onde eu e Valentim pudemos chegar até o momento, essa facção não age de agora. Está ativa há pelo menos quarenta anos. Só que antes funcionava de uma forma mais discreta, compreende? A situação passou a se tornar insustentável quando o dono da empresa de fachada morreu em 2011, gerando uma série de eventos estranhos nos meses e nos anos seguintes. Cerca de quatro ou cinco meses depois da morte dele, que foi comprovada depois ser assassinato, a empresa, mal administrada por seu substituto, entrou em concordata. Tudo indicava para o caminho da falência, mas foi então que o mais esquisito passou a acontecer: doações anônimas de dinheiro. Quantidades exorbitantes de um dinheiro que não é declarado, cuja procedência só pode ser ilegal. - fala Mara.
-Isso sem mencionar que por trás da empresa foi descoberto que sempre houve tráfico de armas e agiotagem. Há a suspeita, que ainda não confirmamos, de que o falecido dono da empresa era delator na época da ditadura militar. Andei pesquisando e somente na sua turma na época da universidade, pelo menos quatro de seus colegas foram capturados e torturados. Somente um deles sobreviveu pra contar história. Um deles teve a morte confirmada e os outros dois desapareceram e nunca mais deram notícias. - complementa Valentim.
-Vocês não acham que devem ir atrás desse sobrevivente? - pergunta Procópio.
-É o que estamos tentando. Mas antes temos outras coisas a resolver... - fala Mara.
-Acho melhor a gente encerrar o assunto por aqui. Os atores já estão começando a chegar... - alerta Valentim.
Todos fingem que estavam apenas conversando sobre amenidades. CORTA A CENA.

CENA 7: Durante o café da manhã, Bruno resolve falar sobre Guilherme com Cláudio.
-Você parece ainda estar incomodado com aquela cena que o Guilherme aprontou ontem...
-E tou incomodado mesmo, Bruno. Mais que isso... eu diria que fiquei um pouco assustado, talvez decepcionado.
-Por que?
-Vou ser sincero com você. O Guilherme nunca foi uma pessoa fácil nessa vida.
-Como assim?
-Na época que nós estudamos juntos e eu me apaixonei por ele, ele sequer tinha capacidade de admitir que gostava de meninos. Até aí não tem nada demais, mas ele se juntou justamente com a turma dos caras homofóbicos, que ficavam humilhando e perseguindo eu e outros gays e lésbicas no colégio... e eu tinha que ver ele todo dia porque a gente estudava na mesma turma. Ele chegou ao cúmulo de, mais ou menos na metade daquele ano, aparecer com uma colega nossa, de mãos dadas com ela, dizendo que ela era a namorada dele. Aquilo ali terminou de me arrasar por dentro, porque eu já vinha me sentindo um bosta por conta das merdas que ele fazia. A Fernanda, que era essa colega, percebeu que eu fiquei mal. No final da aula, naquele mesmo dia, ela me confessou que não estava com ele coisa nenhuma... que ela havia feito tudo a pedido dele, mas que ao me ver daquele jeito, todo abalado, tinha se arrependido e que não ia mais compactuar com aquela mentira.
Bruno fica perplexo.
-Cláudio... isso que você tá me contando é muito grave. Ele passou por cima dos sentimentos que você tinha por ele. Não mediu as consequências disso! Isso foi, desculpe falar, de uma crueldade absurda.
-Eu sei que foi, Bruno. Quando aquele ano acabou e o outro ano letivo começou, levantei as mãos pros céus que ele havia trocado de colégio. Ajudou a cicatrizar muitas feridas que ele deixou dentro de mim. Anos depois ele surge atrás de mim, na rua. Completamente fora de si. Parecia perturbado. Se ajoelhou diante de mim pedindo perdão, confessou que sempre me amou e que queria uma chance comigo. Respondi que tava namorando na época e isso não era mentira. Eu estava namorando o Fernando, meu primeiro namorado. Ele saiu atordoado dali. Fiquei assustado com o estado dele, sinceramente...
-Não é pra menos. Mas perto do que ele já foi, até que ele já tá bem mais controlado, não?
-Isso é, Bruno... mas não sei. Ainda fico com medo...
Os dois seguem conversando. CORTA A CENA.

CENA 8: Vicente e Riva estão descendo para o café da manhã quando Riva sente uma forte tontura e se apoia em Vicente. Os dois quase caem da escada.
-Viu, Riva? Eu falei que a gente não devia ter dormido tanto. Já é quase meio dia... tá se sentindo melhor? - fala Vicente, preocupado.
-Vou voltar pro quarto. Tou me sentindo muito tonta. Você traz o café da manhã pra mim? Tou com medo de cair... - fala Riva.
Vicente leva Riva ao quarto e vai à cozinha preparar o café da manhã dos dois. Instantes depois, retorna ao quarto com o café da manhã dos dois. Riva come um pouco e começa a se sentir enjoada.
-Ai amor... deve ter sido algo que comemos ontem. Nem a comida tá descendo direito. Acho que vou vomitar...
Riva começa a passar mal e Vicente a leva ao banheiro da suíte. CORTA A CENA.

CENA 9: Valquíria demonstra preocupação com Riva diante de Marion, Ivan e Mariana.
-Ai gente... tou com medo pela Riva... lembro que a mãe dela tinha uma saúde frágil... - desabafa Valquíria.
-Ih mãe, nem se preocupa. Esqueceu que essa daí é taurina? Deve ter passado mal de tanto que comeu de noite. Você não lembra que ela sempre foi de assaltar a geladeira? - fala Marion.
As duas riem.
-Ah, isso é verdade. E vivia passando mal por causa da gula... Não engorda porque tem sorte.
De repente, a campainha toca. Marion estranha.
-Hoje não é dia da Suzanne vir. Quem pode ser uma hora dessas? Pode ir olhar pra gente, Ivan?
Ivan abre a porta e toma um susto.
-Haroldo! É você! - FIM DO CAPÍTULO 40.

quarta-feira, 29 de junho de 2016

CAPÍTULO 39

CENA 1: Laura tenta entender a situação.
-Mas Valentim... isso ainda é só uma suspeita, não é? Você pode estar concluindo as coisas antecipadamente, não?
-Posso, mas é muito improvável. Todas as pistas indicam para esse envolvimento dele com uma organização criminosa.
Mara chega nesse momento à sala.
-Desculpe Valentim, acabei me enrolando servindo o bolo pros atores... - desculpa-se Mara.
-Sem problemas, Mara. Mal comecei a contar pra Laura sobre onde nossas investigações estão nos levando... - fala Valentim.
-Gente, existe alguma possibilidade concreta de tudo isso ser apenas um engano? Não quero crer que o Mateus tenha envolvimento com criminosos... isso faria dele um criminoso também!
-Querida... procure se acalmar. Não coloque as coisas nesses termos... - contemporiza Mara.
-Tá de brincadeira com a minha cara? Uma investigadora me dizendo isso? Qual foi a parte disso tudo que eu não entendi?
-Suspeitamos que tenha muita coisa por trás, Laura. Muita gente... um número incalculável de pessoas que podem estar envolvidas com essa organização. Pra você ter uma ideia, nós fizemos e ainda estamos fazendo uma lista de suspeitos de ser o chefe dessa organização... melhor dizendo: facção. - fala Mara.
-E quem são os suspeitos? - questiona Laura.
-Ainda não podemos dizer isso pra você, querida. Não leve pro lado pessoal... precisamos investigar sem influências externas, entende? - fala Valentim.
-O Mateus não é parte desses suspeitos, é? - insiste Laura.
-Não é um dos suspeitos, Laura... se tranquilize em relação a isso. Se ele tiver alguma participação nessa facção, ela é de subordinado. Resta saber quem é o superior dele... ou quem são os superiores. Não sabemos nem se ele realmente está nessa organização, muito menos qual posição hierárquica ele ocupa lá. Tudo o que sabemos é que essa facção trabalha há anos. Funcionava antes acima de qualquer suspeita numa empresa de fachada, até que seu dono faleceu e rapidamente a empresa entrou em concordata. Foi salva misteriosamente da falência sem nenhuma empresa ter se incorporado a ela... sobrevive de doações anônimas e esse dinheiro não é sequer declarado. Valentim foi atrás de mais informações e descobriu que há tráfico de armas e agiotagem por trás disso, mas pode haver ainda mais coisas... - esclarece Mara.
-Tudo isso me assusta. Quanto mais eu descubro sobre o Mateus, mais eu percebo que esses anos todos ele sempre foi um desconhecido pra mim... - desabafa Laura.
-Mantenha a calma, menina. Você vai precisar manter o mínimo de sangue frio diante de tudo. Até porque ele mora com você e ao que me consta, ele não tem pra onde ir, já que a família dele tá toda na Bahia.
-Verdade, Valentim... mas como é que vou fingir que nada tá acontecendo?
-Laura... não tem outra opção agora. Você vai precisar fingir que não sabe de nada. Tenta tratar ele bem... - prossegue Valentim. Ele e Mara seguem orientando Laura. CORTA A CENA.

CENA 2: Em Melbourne, Rafael e Marcelo tomam café da manhã no hotel onde estão hospedados e Marcelo nota expressão distante no namorado.
-O que tá pegando, Rafa? Desde que você acordou tá com essa cara de quem tá com o pensamento longe...
-Acertou em cheio, amor... não tou conseguindo me fixar nesse momento.
-Por que?
-Tive um sonho esquisito. Um sonho que eu costumava ter há uns dois anos, mas que com o tempo parou de acontecer.
-E tem a ver com o que?
-Com o Haroldo...
-Puxa... eu nem sei o que te dizer. Posso imaginar o quão dolorido deve ser não saber do paradeiro do próprio irmão, nem se ele tá vivo...
-Meu sonho foi com ele, Marcelo. Eu sonhei que ele voltava... fazia mais de dois anos que eu não tinha esse sonho... foi exatamente igual ao que sonhei nas primeiras semanas que ele sumiu... ele foi embora sem deixar notícias...
-Sim, você me contou. Deixou aquela carta pro seu pai e pediu que todos se acalmassem que ele estaria bem e vivo, não é isso?
-Exatamente. Mas confesso que depois de tanto tempo eu fui ficando cético... perdendo as esperanças que meu irmão estivesse vivo e aparecesse. Claro... nunca tive coragem de falar pro meu pai que achava que o Haroldo tava morto...
-Entendo. Você não falou nada pra evitar um sofrimento maior.
-Exatamente. O pai não diz nada, mas eu vejo que o que mantem ele em pé ainda é essa esperança de que um dia meu irmão volte. Não quero tirar isso dele, entende?
-Claro que entendo.
-Mas agora eu sinto uma ponta de esperança. Pode parecer loucura ou delírio meu... mas eu sinto que esse sonho não aconteceu por acaso. Eu não dormi pensando no Haroldo, faz muito tempo que a gente nem toca no nome dele... de repente esse sonho pode ter algum fundo de verdade...
-Você acha?
-Acho. Eu sinto uma esperança nascer com isso. Talvez meu pai não esteja errado de não desistir de tudo...
-Deus te ouça e diga amém, amor... ninguém merece passar por uma situação dessas e o Ivan é um cara que apesar das fraquezas, é muito bom. Não merece perder um filho.
-Eu sei... o que resta agora é torcer pra que esse sonho não tenha sido só mais uma pegadinha do meu inconsciente...
Os dois seguem tomando o café da manhã. CORTA A CENA.

CENA 3: Depois do jantar em sua casa, novamente na companhia de Guilherme, Cláudio nota que Bruno está com uma expressão tristonha.
-Você tá chateado com alguma coisa, Bruno? Desde cedo tá com essa cara de quem tá sofrendo por alguma coisa...
-E tou... na verdade eu nem sei como te dizer isso, Cláudio. Tenho medo que isso te chateie.
-Fala... nós somos amigos, não somos?
-Eu fico com medo justamente de você não estar sendo meu amigo por completo, sabe? Desculpa dizer, Cláudio, mas desde que você soube de toda a verdade, da qual eu me arrependo e você sabe disso, parece que você tá me tratando com patada, por qualquer razão ou motivo. Olha, eu sei que eu não sou ninguém pra te cobrar uma postura, que essa é a sua casa e tudo mais... mas te senti duro demais comigo nesses últimos dias. E fiquei sinceramente chocado quando você fez o que fez com o Marcelo, que era seu melhor amigo...
-Olha... eu entendo cada um dos seus pontos, Bruno. Confesso a você que me arrependi da cachorrada que aprontei com o Marcelo. Mas tava com raiva, na hora considerei justa a sabotagem que armei. Depois que a raiva passou eu percebi o tamanho da merda que tinha feito, mas acho que é tarde demais pra voltar atrás. Pode acreditar que eu sou seu amigo, Bruno... apesar de tudo o que passou, eu gosto muito de você. Se fui duro contigo, foi porque tinha muita coisa na minha cabeça. Eu te prometo não ser mais duro desse jeito, tá?
Os dois se emocionam e Guilherme se incomoda, mas nada diz.
-Dá cá um abraço de uma vez! - convida Cláudio.
Bruno e Cláudio se abraçam emocionados.
-Não importa o que vai ser daqui pra frente, a gente vai ser sempre amigo, viu?
-Você promete, Cláudio?
-Eu juro.
Guilherme não consegue disfarçar incômodo com a cena.
-Ei, vocês dois... eu ainda tou aqui, viu? Não mereço um abraço também?
Cláudio fica surpreso e constrangido pela atitude de Guilherme, mas para não estender a situação, resolve levar numa boa.
-Vem você pra esse abraço também... - fala Cláudio.
Guilherme abraça Cláudio e Bruno nota que Cláudio ficou incomodado com visível demonstração de ciúme de Guilherme. CORTA A CENA.

CENA 4: Suzanne está novamente na mansão dos Bittencourt a auxiliar Marion nas dicas de postura e etiqueta a Riva.
-Ai gente... eu fico é preocupada às vezes com tanta coisa que tem que pensar e fazer... - desabafa Riva.
-Que isso, Riva... em poucos meses você evoluiu barbaramente, de uma maneira que muita gente não conseguiria! Até parar de falar errado você conseguiu! Não confunde mais a concordância, tá cada vez mais segura de si... não entendo essa insegurança justo agora... - fala Marion.
-Sua tia tem razão... - fala Suzanne.
-Ai, é tão estranho dizer que a Marion é minha tia... pra mim ela sempre foi uma irmã... - fala Riva.
-Enfim... que seja. Vicente, querido... você pode vir aqui para convencer essa teimosa da sua futura esposa de que ela tá mandando super bem na evolução? - fala Suzanne.
Vicente se surpreende positivamente com súbita gentileza de Suzanne.
-Você tá sendo muito gentil com a Riva, Suzanne... e gentil com a gente. Mas de fato, amor... você precisa reconhecer o seu progresso, os seus méritos nesses poucos meses. Você evoluiu de uma maneira que muita gente não consegue nem depois de um ano... - fala Vicente.
-Bem, queridos... acho que minha missão aqui por hoje chegou ao fim. Preciso ir embora porque também preciso de uma boa noite de sono. Você, Riva, lembre-se que está cada vez mais diva e pronta pra brilhar nessa nossa alta sociedade carioca! - fala Suzanne, se levantando e se despedindo de todos.
Vicente resolve levá-la até a porta.
-Você se incomoda se eu te levar até a porta? - propõe Vicente.
-De forma alguma, Vicente! Vou agradecer! - fala Suzanne.
Vicente leva Suzanne até a porta enquanto ela espera a chegada do táxi.
-Olha Suzanne, eu sinceramente não sei que bicho te mordeu, mas gostei de te ver gentil e suave com todos nós hoje.
-Eu te falei que não era esse monstro todo, Vicente... você que estava de má vontade.
-Olha... nem vou entrar no mérito da questão que você sabe muito bem que tá bem longe de ser uma santa. Mas reconheço também as qualidades e os esforços das pessoas. Continue assim... pelo menos assim, todos nós ficamos tranquilos.
-Vicente, seu bobo... somos humanos. Também tenho minhas fraquezas. Perdi a cabeça por alguns momentos, porque desejei você, te achei um tipo interessante. Mas depois me dei conta de tudo. Eu sou amiga da Riva... não poderia correr o risco de colocar nossa amizade fora por causa de um capricho...
Vicente se surpreende com fala de Suzanne. O táxi dela chega.
-Preciso ir. Eu não mordo, tá?
Suzanne embarca no táxi e Vicente ri. CORTA A CENA.

CENA 5: Marion estranha quando sua mãe lhe chama ao escritório, mas a segue mesmo assim.
-Fiquei sem entender nada... tem alguma coisa que faltou você me contar pra me chamar aqui, mãe?
-Na verdade não faltou nada... mas eu preciso falar sobre algo que tá me afligindo... - fala Valquíria.
-Ai, mãe... tá me assustando. É algo com a sua saúde?
-Não, Marion... eu tou seguindo direitinho o tratamento e tou me sentindo ótima. O que tá me deixando encafifada é outra coisa... aliás, alguém.
-Quem?
-A Suzanne.
-Ah, mãe! A senhora também com essa, agora? Poxa vida! Os meninos e o Vicente já implicaram até não poder mais com a Suzanne. Acho que ela é tão querida, tão solícita, tão gentil...
-E é justamente por isso que essazinha não me desce.
-Desculpe, mãe... não entendi.
-Marion, Marion... você tem quarenta anos ou quatro? Você não pode ser tão ingênua assim. Será que você não percebe que ela é gentil demais, solícita demais, simpática demais e agradável demais? Ninguém é só sorriso o tempo inteiro. Ninguém.
-Mas mãe... algumas pessoas podem ser assim, ser o jeito delas. Ela é libriana como eu, sabia?
-Tá, mas o que raios o signo tem a ver com isso? Se for pra discutir librianos, como é que eu nunca fui de fazer média com ninguém na vida, sendo também uma libriana? Me diz!
-Realmente, mãe... não dá pra gente se basear só em signos... mas poxa vida! Será que a senhora não tá sendo injusta com a Suzanne? Ela nunca fez nada que depusesse contra ela...
-Que vocês saibam, né... talvez a coisa não seja tão bonitinha assim se vocês pesquisassem a fundo a vida dela.
-Mãe... invadir a vida de uma pessoa baseado apenas por desconfiança é errado. Não vamos fazer isso com a coitada.
-Não estou dizendo que vocês devem investigar e invadir a vida dela.
-Mas então o que é que a senhora sugere? Confesso que me assusto. Você pode ter sido amarga por muitos anos, mas sua intuição nunca falhou...
-Confia, filha. Intuição de mãe e de avó nunca falha. Temo por você e pela Riva, só não te disse isso antes porque não queria apavorar vocês duas... eu só posso sugerir que pelo menos você abra o olho com a Suzanne. Observe o comportamento dela com mais atenção, sem se deixar levar pelas histórias mirabolantes que ela conta. Já vi que com minha neta não tem muito papo que ela não vai ouvir.
-E não vai mesmo... a Riva quase brigou com o Vicente porque ele andou desconfiado da Suzanne.
-Exatamente por isso, Marion...
-Vou manter meus olhos bem abertos.
-Você me promete, filha?
-Prometo. Vou fazer o que estiver ao meu alcance.
As duas deixam o escritório juntas, em silêncio. CORTA A CENA.

CENA 6: Ivan está na edícula e resolve telefonar para Valentim.
-Fale, Ivan. Estou surpreso por você me ligar numa hora dessas. Precisando desabafar sobre o Haroldo?
-Acho que dessa vez não é tanto um desabafo, meu amigo...
-Veja bem... se você estiver em busca de novas pistas do paradeiro dele, estamos esbarrando em muitas dificuldades. A pista que Mara seguiu foi perdida...
-Eu sei disso, Valentim. Na verdade eu tou entendendo tudo isso como uma espécie de sinal.
-Sinal do que, exatamente? Olha, meu amigo... eu sei que você é espiritualista, mas eu sou cético. Preciso do ceticismo no meu trabalho, você sabe disso.
-Eu entendo tudo isso como um sinal claro de que ele nunca esteve longe da gente. Não tem a ver com espiritualidade, não agora.
-Também suspeitamos disso, Ivan. Mas não vejo muita razão pra gente ficar falando nisso quando as melhores pistas foram perdidas...
-Você não entende, Valentim... eu sou o pai de Haroldo. Sinto que ele está para voltar.
-Sim, mas com base no que? Existe algo de concreto que justifique isso?
-Vá me desculpar, Valentim... mas você não é pai. Pode imaginar como é, mas jamais vai saber como é que se sente um pai que tem o filho desparecido, que não dá notícias há mais de dois anos...
-Essa conversa tá ficando estranha, meu amigo... acho melhor você descansar.
-Concordo. Passar bem.
Ivan desliga. CORTA A CENA.

CENA 7: Mateus percebe que Laura está estranha e distante com ele e a questiona.
-O que foi que te deu, Laura?
-Você ainda me pergunta, Mateus? Você sabe o que fez. E até onde eu posso lembrar, nós estamos dando um tempo.
-Sim... só não entendi que hoje, especialmente, cê tá com uma cara de quem tá pensando em algo escabroso.
-Devo estar cansada. E peço desculpa se em algum momento pareci dura. Não foi minha intenção. Os ensaios de hoje foram exaustivos de verdade. Você não tem nada a ver com isso... é um cansaço físico, não mental...
-Tenta descansar pelo menos, Laura...
-Não tenho sono. É como te falei agora... minha cabeça não tá cansada. Os ensaios de hoje exigiram muito do meu corpo...
-Entendo. Quer um café?
-Vou aceitar.
Mateus vai preparar o café e Laura suspira, aflita. CORTA A CENA.

CENA 8: Cláudio está em seu quarto com Guilherme, que tenta lhe beijar.
-Pode parar aí, Guilherme. Dá pra me explicar que cena ridícula de ciúme foi aquela?
-Não foi ciúme... só não entendi a razão daquela melosidade pra cima do Bruno. Ele já não mora aqui?
-Sei. Se aquilo não foi ciúme, foi o que?
-Ah, quer saber? Fiquei enciumado sim! Você acha que não me sinto inseguro? Ele foi seu namorado.
-Mas eu não sou seu namorado! Não sou nada seu! Quer saber? Acho melhor você voltar pra sua casa hoje. - determina Cláudio. FIM DO CAPÍTULO 39.

terça-feira, 28 de junho de 2016

CAPÍTULO 38

CENA 1: Rafael tenta tranquilizar o namorado, que começa a tremer e chorar de raiva.
-Por favor, Marcelo... tenta se acalmar!
-Não me peça calma agora, Rafael... desculpa, mas não vou conseguir me acalmar! A gente praticamente se criou junto, se conhece desde pequeno... e ele me apronta isso! Por despeito? Inveja? Recalque? Eu não quero acreditar nisso! Dói demais aqui dentro... nunca pensei que alguém ia ter inveja e recalque de mim, agora vejo aquele que eu chamava de melhor amigo sendo recalcado e invejoso comigo!
Rafael abraça Marcelo e chora junto do namorado, mas procura tranquilizá-lo.
-Amor... desesperar agora não vai resolver nada. Isso tudo é triste demais, eu sei. Sinto sua tristeza, pode acreditar. Mas isso tudo ainda pode ser esclarecido, não pode?
-Não sei se pode, Rafael... o Cláudio tá mostrando uma face cruel e covarde que eu jamais esperei que viesse dele. Isso pode significar o fim definitivo da nossa amizade... mas quer saber de uma coisa? É bom que eu esteja com raiva dele nesse exato momento.
-O que você tá pensando em fazer, Marcelo?
-Não te parece óbvio? Eu vou agora na rede social chamar ele na inbox e vou tirar satisfações com ele. Vou jogar todas as verdades na cara, provar que sei que foi ele e que você provou que foi ele que sabotou meus vídeos, na maior desonestidade, pra me atingir!
-Amor... você não vê que tá reagindo exatamenete do jeito que ele espera, se ele realmente agiu pra te afetar, pra atingir, pra abalar? Você tá aí, abalado...
-Eu sei, amor... mas é bom que eu esteja de cabeça quente agora. Confia em mim.
-Tá certo... você venceu, Marcelo. Mas pega leve nas palavras.
-Pegar leve com alguém que me aprontou o que ele me fez? Não mesmo...
Marcelo abre sua conta na rede social e procura pelo perfil de Cláudio e não encontra.
-Não tou acreditando... acho que esse imbecil já me excluiu!
-Você digitou certo na busca, Marcelo?
-Claro que sim, Rafael! Ele não apareceu nas buscas...
-Procura direto na sua lista de amigos, então. Clica na sua timeline e vai na ferramenta de busca em amigos... talvez ele apenas tenha excluído o perfil e nada mais. Se ele tiver excluído o próprio perfil, ele ainda vai aparecer na sua lista de amigos, se você digitar o nome na busca...
Marcelo segue as instruções de Rafael e fica perplexo.
-Ele me bloqueou! Não tem nem rastro dele aqui!
Marcelo se revolta.
-Era previsível que ele fosse fazer isso, amor...
-Mas não deixa de ser revoltante. Isso é mais uma prova da covardia dele!
-Vamos dormir, Marcelo... já tivemos muitas emoções por hoje.
Marcelo deita-se com Rafael, que o afaga. CORTA A CENA.

CENA 2: Guilherme está novamente na casa de Cláudio, esperando pela chegada dele, enquanto Bruno faz sala pra ele.
-Você sabe se Cláudio ainda demora?
-Nada! Tá bem na hora dele chegar do trabalho... ele sempre chega cedo.
Bruno mal termina de falar e Cláudio chega em casa, ficando feliz por ver Guilherme ali.
-Que bom te ver aqui, Guilherme!
-Você disse que eu podia vir sempre que quisesse, então eu vim...
-Já está pra escurecer. Se você quiser ficar pra jantar... aliás, Bruno, você já fez as compras pro jantar de hoje?
-Não. Quer que eu vá?
-Por favor!
Bruno parte ao mercado e Guilherme aproveita o momento a sós com Cláudio, que percebe as intenções de Guilherme e não resiste ao seu charme.
-Você quer um café, Guilherme.
-Quero. Mas antes do café, quero sentir o seu gosto...
Os dois se beijam com vontade e Cláudio não resiste. Guilherme tenta ir além e nesse momento, Cláudio recua.
-Ei... vai com calma! Se você quiser ficar aqui essa noite, a gente pode fazer isso mais tarde. Vou precisar conversar com o Bruno.
-Com o Bruno? Por que?
-Não é óbvio? Minha casa pode não ser pequena, mas também não é grande. Você deve ter percebido naquele outro dia que veio dormir aqui... mesmo eu não tendo mais nada com o Bruno além da amizade, nós dormimos na mesma cama... tanto é que você dormiu no sofá.
-Ele sabe que a gente tá ficando?
-Não sei se sabe com certeza. Mas conversando com ele, dei a entender isso.
-Você não acha que ele pode ficar chateado de dormir no sofá?
-Não seja bobo, Guilherme... o dono dessa casa ainda sou eu. Comprei com meu dinheiro. Depois, dormir no sofá não vai ser novidade nenhuma pra ele. Foi assim que tudo começou lá atrás...
-Eu realmente espero que ele não fique chateado.
-Também espero que ele não fique, de verdade. Mas se ele ficar, ele tem dois trabalhos: ficar chateado e deixar de ficar chateado, a responsabilidade é total dele.
Nesse momento, Bruno chega e escuta a conversa dos dois.
-Você vai dormir aqui, Guilherme?
-Vou... tem algum problema?
-Não... nenhum...
Cláudio chama Bruno para conversar a sós.
-Bruno, vem aqui comigo... preciso te explicar mais um detalhe...
Bruno acompanha Cláudio à cozinha.
-Tem um detalhe... não sei se tinha ficado claro nas nossas conversas de antes, mas eu tou ficando com o Guilherme...
-Eu já tinha imaginado isso... mas pera, isso significa que vocês vão dormir no quarto? Eu durmo onde?
-No sofá... nada que você não tenha feito antes, lá no começo de tudo...
Bruno fica com a expressão contrariada.
-Vai ser só por hoje, Bruno... não fica chateado, tá?
-O que não tem remédio, remediado está, não é? - fala Bruno, se dando por vencido. CORTA A CENA.

CENA 3: Mesmo com o horário já avançado, Suzanne ainda está na mansão dos Bittencourt a dar dicas para Riva de como se comportar na festa de casamento.
-Suzi, você me dá um instante? O dia foi puxado hoje... - fala Riva.
-Claro... o que você vai fazer? - pergunta Suzanne.
-Você já vai saber... - fala Riva, pegando Vicente pela mão e ele entende o que ela quer anunciar.
-Marion, Ivan... a gente precisa dum segundinho da atenção de vocês. - fala Vicente.
Marion e Ivan vão até Riva e Vicente, enquanto Valquíria e Mariana se olham tentando entender o que eles conversam.
-Tou ficando é curioso já... - fala Ivan.
-Não fique, cunhado... na verdade a gente já vinha pensando nisso antes, foi até bobeira nossa a gente não ter oficializado o pedido antes. Vocês querem ser nossos padrinhos de casamento? - fala Riva.
-Claro que a gente aceita, querida! Ficamos muito honrados pelo convite! - vibra Marion.
Os quatro se abraçam. Suzanne fica visivelmente incomodada por não ter sido convidada, mas disfarça. Riva segue a falar.
-Acho que era meio óbvio que a gente ia convidar vocês... mas a gente precisava oficializar o convite...
Valquíria percebe o olhar raivoso de Suzanne e se faz de desentendida.
-Está tudo bem com você, Suzanne? - pergunta Valquíria.
-Está sim... - fala Suzanne, olhando para o relógioe e fingindo se espantar com o avançado da hora.
-Oh! Já está muito tarde. Queridos, preciso ir. Nos vemos na próxima aula de etiqueta! - fala Suzanne, partindo rapidamente.
Todos se olham sem entender nada e seguem falando dos preparativos para o casamento de Riva e Vicente. CORTA A CENA.

CENA 4: Instantes depois, Márcio e Raquel percebem que Suzanne chega furiosa ao hotel.
-Vish, Márcio... vou nem me meter nisso. Alguma coisa deu errado nos planos da minha filha e eu sinceramente não quero saber o que é.
-Você viu isso, dona Raquel? Chegou soltando fogo pelas ventas, troteando feito cavalo e batendo a porta. Sei lá o que houve, mas o que é que a gente tem a ver com isso? - indigna-se Márcio.
-Vai lá falar com ela, querido. Mas abre o olho. Não entra em todas as coisas que ela disser. Você é um cara bom... eu vejo isso desde que você era um garoto. Tenta não se deixar envolver por ela de novo...
-Ah, dona Raquel... eu amo sua filha! Você sabe disso...
-Tá... mas toma cuidado.
Márcio vai até Suzanne.
-Que cena exagerada foi essa agora, Suzanne?
-Aquela merendeira de bosta e o galã de quase meia idade... de novo esses merdas...
-O que foi agora? Eles não fariam nada pra te atingir. Fariam?
-Os imbecis convidaram a Marion e o Ivan pra serem padrinhos do casamento. Nem pensaram em me convidar.
-E você esperava o que, Suzanne? Francamente! Você tem algum relacionamento oficial com um cara? Não! O teu homem sou eu. E você me esconde! Nem eles iriam querer me ver por perto, ou tou falando alguma mentira?
-Que seja. Mas assim eu perco uma oportunidade de estar mais por perto. Uma oportunidade a menos de tirar vantagem.
-Existem outros meios. Depois a gente pensa nisso. Essa raiva toda não faz sentido nenhum...
Márcio desconfia que haja mais coisas por trás da raiva de Suzanne. CORTA A CENA.

CENA 5: O dia amanhece e Bruno se acorda no sofá da casa de Cláudio, pensativo.
-Por que, meu Deus... por que? Eu fui fraco! Não podia ter deixado as coisas chegarem ao ponto que chegaram!
Bruno começa a chorar.
-Agora o Cláudio tá lá... deve ter transado com o Guilherme. E a culpa é minha... minha!
Bruno relembra os momentos vividos com Cláudio desde o começo, desde o dia que surgiu na frente da casa de Cláudio, orientado por “Chefe”.
-Eu desisti ali... naquele momento! Não podia fazer o que o cara tava mandando... eu amei esse homem desde a primeira vez que o vi...
Bruno relembra os momentos felizes que passou junto de Cláudio, como namorado dele.
-E agora tou eu aqui... sem ter pra onde ir, com mais da metade dos meus sonhos frustrados... morando de favor na casa do cara que eu amo e tendo de aceitar as migalhas da amizade dele...
Bruno chora, desconsolado.
-Mas tudo isso é culpa minha. Eu comecei tudo errado lá atrás... se não tivesse sido fraco e tivesse lutado contra o “Chefe”... mas não! Eu sou um covarde! Eu tenho medo! Agora o Cláudio está lá... se entregando a alguém que ele nem faz ideia de quem realmente é...
Bruno se preocupa em relação ao futuro. CORTA A CENA.

CENA 6: Horas mais tarde, Valquíria volta para a mansão dos Bittencourt depois de fazer um teste de elenco para confirmar sua participação na próxima novela. Mariana, Riva, Marion, Ivan e Vicente encaram aflitos Valquíria, que faz uma misteriosa expressão de seriedade, quase de pesar.
-Fala alguma coisa, mãe! Essa sua cara tá me deixando é nervosa... - fala Marion.
-Não vai me dizer que não deu certo, vó... - fala Riva, aflita.
Valquíria começa a falar.
-Então, meus queridos e minhas queridas... tenho uma notícia para dar a todos vocês... eu estou na novela!
Valquíria finalmente sorri e todos a abraçam!
-Ora, onde já se viu pregar uma peça dessas na gente? - fala Marion, aliviada.
-Por um momento pensei que não tivesse dado certo... - desabafa Riva.
-Vocês deviam estar preparadas... afinal de contas, depois de quase setenta anos, eu sou oficialmente uma atriz! - fala Valquíria, não cabendo em si de felicidade.
-Será que hoje a senhora vai poder beber? - questiona Vicente.
-Acho melhor não, amor... faz pouco tempo que a vó começou a se medicar e o médico não deu ordens para diminuir a dosagem diária do medicamento... - fala Riva.
-Ah, então vamos dar um jeito de descolar cerveja sem álcool! Faz tanto tempo que tou sem a minha loira que eu aceito até cerveja sem álcool... - sugere Valquíria.
-Mariana, querida... você pode ir no mercado ali da esquina comprar as cervejas sem álcool? - fala Ivan.
-Claro que posso, pai!
Todos comemoram o começo da carreira de atriz de Valquíria. CORTA A CENA.

CENA 7: Mateus acompanha Laura e o pessoal nos ensaios do grupo de teatro quando seu celular toca. Vendo o número desconhecido a lhe ligar, conclui que é “Chefe” quem liga.
-Fala, chefe... precisando me dizer alguma coisa?
-Sim, Mateus. Na verdade, como você já está careca de saber, muitas coisas estão em curso de mudança com a dispensa do Rodrigo da nossa organização.
-“Nossa”? Você quer dizer “sua”, não?
-Não me corrija. Você e os demais fazem parte dela. Ela também é de vocês, só que quem manda nela sou eu.
-Que seja. Pode me falar pelo menos o motivo dessa divagação toda sobre as mudanças que a dispensa do Rodrigo tá causando?
-Sim. Melhor ir direto ao ponto, mesmo porque não tenho tempo e não posso despertar nenhuma suspeita: você não apenas vai assumir a posição maior de estratégia e inteligência dentro da organização. Você também vai acumular a função de cobrador das dívidas das pessoas que estiverem nos devendo grana.
-Mas isso não era função do Almir?
-Almir foi preso num assalto a banco. Desobedeceu minhas ordens e resolveu participar ativamente do serviço que os homens dele deveriam ter feito. Acabou preso. E você sabe como é... se ele abrir a boca, já era. Ele está pra ser julgado e pode ser condenado a mais de dois anos de prisão, senão mais. Vou precisar de alguém da minha confiança nesse meio tempo.
-Não tenho outra saída, ou tenho?
-Claro que não tem. As duas opções que você tem são: obedecer ou obedecer. Senão você já sabe...
-Não precisa repetir, chefe. Eu sei bem que a sua loucura não tem limites.
-Mas também sustenta vocês. Não fale assim comigo, você é meu subordinado.
-Tá, tá... vamos pular essa parte. Quando é que eu começo?
-Hoje mesmo. Lembra do caso daquela mãe que recorreu a nós porque precisava de uma grana pra pagar a cirurgia do filho? Ela ainda está nos devendo. Vá na casa dela hoje, eu vou te passar o endereço por sms. Agora preciso desligar. Boa sorte no seu primeiro dia.
“Chefe” desliga e Mateus fica aflito. CORTA A CENA.

CENA 8: Márcio acorda Suzanne.
-Você tá pelo menos mais calma hoje, amor?
-Tou... não tenho pra onde correr. O jeito é jogar com as peças que disponho nesse tabuleiro.
-Talvez você devesse ver as pessoas como seres humanos, não como peças de um jogo...
-Que seja. Mas vou precisar encontrar um jeito de garantir que essa grana toda não me escape simplesmente. Não depois de todo esforço...
-Suzi, minha querida... você já parou pra pensar que existem outras maneiras de conseguir essa grana que você quer?
-Você fala como não quisesse essa grana também, Márcio. Tá querendo se enganar ou resolveu ser tomado por um súbito prazer em se sentir bom depois dos quarenta? Você nem chegou lá ainda...
-Você às vezes me parece fria demais. Olha, a gente precisa encontrar um jeito de fazer tudo sem que ninguém saia prejudicado nisso, entende?
-Não tou te reconhecendo, Márcio. Você não era cheio de cuidados assim, antes... mas você tem razão. Cautela nunca é demais... o que você sugere?
-Bem, pra começo de história...
Márcio passa orientações a Suzanne, que o ouve atentamente. CORTA A CENA.

CENA 9: Valentim chama Laura para conversar ao fim de seu ensaio.
-Precisando falar sobre alguma novidade nas investigações? Porque olha, depois que eu soube que Mateus teve um caso com o ex do Cláudio, nada mais me surpreende.
-Será mesmo que não vai te surpreender, Laura? Tenho minhas dúvidas...
-Desse jeito eu tou começando a ficar preocupada, até meio assustada, Valentim... o que você descobriu?
-Descobrir eu não descobri nada ainda. Mas existe uma possibilidade real e concreta de que o Mateus esteja envolvido num esquema de agiotagem.
Laura fica chocada. FIM DO CAPÍTULO 38.