CENA 1: Mesmo apavorado, Rafael
procura manter a calma para não deixar sua avó mais assustada do
que ela já está.
-A senhora fique aqui e não
se mexa. Eu vou descer e chamar a mãe e a prima.
Valquíria, sofrendo com as
fortes pontadas em sua cabeça, olha para o neto.
-Não. Não quero que preocupe
as meninas. Fica aqui comigo, meu neto. Cuida de mim... eu tenho medo
de médico.
-Vó, a senhora pode estar com
um mal estar simples ou com algo grave, mas precisamos te levar num
médico pra que ele pelo menos nos tranquilize. Não está em
discussão se você tem ou não tem medo aqui. Com saúde não se
brinca. Me desculpe, vó, mas eu vou descer sim. Fique quietinha aqui
que a senhora vai sair dessa. Confia na gente.
Rafael desce e avisa a todos o
que está acontecendo.
-Gente, a vó tá passando
mal. Vamos manter a calma.
Marion e Riva se preocupam.
-Como assim passando mal?
Minha mãe sempre vendeu saúde! - desespera-se Marion.
-Fala melhor o que tá
acontecendo, Rafael... - fala Riva.
-Seguinte, prima: ela tá se
retorcendo de dor na cama, com as mãos na cabeça. Mal consegue
abrir os olhos, mas tá falando.
Marcelo se preocupa.
-Gente, mal ganho uma bisavó
e ela fica doente? Vamos chamar uma ambulância agora!
Ivan fala.
-Sem chance, Marcelo. Do jeito
que as emergências andam demorando a atender, é melhor que a gente
pegue o carro e leve a dona Valquíria pro hospital, vai ser mais
rápido do que chamar pela ambulância.
Marion não concorda.
-E por acaso um carro vai ter
preferencial? Pelo amor de Deus, Ivan. Às vezes você não tem muita
lógica.
Rafael intervém.
-Chega! Vocês dois não me
inventem de discutir agora! Mãe, conhece pisca-alerta? Você usa ele
em caso de emergência e é isso que vamos fazer!
-Justamente, filho... - fala
Ivan.
Todos sobem para buscar
Valquíria que está na cama de seu quarto. Marcelo e Rafael ajudam
Valquíria a descer e vão em direção ao carro.
-Mariana, você fica com o seu
pai em casa, certo? Senão não vai ter espaço pra mamãe respirar
no carro... - fala Marion.
-Tudo bem, mãe. Vão com
Deus. - fala Mariana.
Marion, Riva, Marcelo, Rafael
e Valquíria entram no carro e chegam rapidamente ao hospital. Riva
pensa em ligar para Suzanne.
-Gente do céu, quase
esqueci... vou avisar Suzanne, tenho certeza de que ela vai nos
acalmar...
Marcelo se incomoda.
-Mãe, a Suzanne aqui hoje
não. Por favor. Se quiser avisar, vá ao hotel que ela está.
Riva não quer discutir com o
filho naquele momento e decide procurar Suzanne. CORTA A CENA.
CENA 2: Riva chega e Suzanne
abre para ela.
-Entra, Riva. Que cara é
essa, amiga? Parece que alguém morreu...
-Não morreu ainda, mas pode
ser coisa séria.
-O que? Me conta isso direito,
amiga... ah, essa aqui é Raquel, minha empregada que voltou de
viagem... - fala Suzanne, apontando para sua mãe, que engole a seco
a mentira da filha.
-Muito prazer, dona Riva... -
fala Raquel, timidamente.
-Prazer, dona... Raquel.
Desculpem chegar na hora do jantar aqui pra incomodar, é que preciso
de um suporte. Suzanne, minha avó está no hospital. Foi levada pra
emergência porque tá sentindo dores na cabeça tão fortes que tava
se retorcendo de dor.
Riva começa a chorar e
Suzanne a abraça.
-Ei amiga, se acalma, tá?
Quem sabe isso não foi só uma enxaqueca que apareceu agora? Fica
sossegada, tá? Como é que ela tá agora?
-Tá falando, se comunicando
bem. Foi levada pra fazer exames.
-Você não quer que eu vá
com você até o hospital? Pra dar uma força pra todo mundo...
-Olha Suzanne, eu vou aceitar
sim... apesar de que... deixa pra lá.
-Deixa pra lá? Começou a
falar, termina...
-Meu filho não queria você
lá... mas eu ainda sou mãe dele e você é minha amiga.
-Seu filho não vai mesmo com
minha cara, né? Não sei o que fiz pra ele ter essa implicância
comigo... - fala Suzanne, se fazendo de vítima.
-Você vem comigo.
-Tá certo. Só espere eu me
trocar que a gente já vai. Raquel, você coloca o meu jantar no
micro-ondas que eu esquento quando voltar, tá?
CORTA A CENA.
CENA 3: Laura está arrumando
suas coisas para deixar a companhia de teatro e voltar para sua casa,
quando resolve falar com Mara e Valentim.
-Então, gente... vocês tem
um minutinho pra falar comigo ou estão com pressa?
-Relaxa, Laura. Moramos tão
perto daqui que a última coisa que passa pela cabeça da gente é
ter pressa... - fala Mara.
-Certo. Olha, eu não sei
exatamente qual é o interesse de vocês em me ajudar, mas eu confio
em vocês. Nunca me deram motivos pra pensar o contrário.
-E onde você tá querendo
chegar com isso, Laura? Se puder ser mais objetiva... - fala
Valentim.
-Então, Valentim... eu
resolvi que vou aceitar que vocês me ajudem a entender ou descobrir
o que tá acontecendo com o Mateus... eu sei que isso pode parecer
uma loucura, mas...
-Você bem que tá
desconfiando que ele esconde mais do que você possa imaginar, não é
mesmo? - fala Mara.
-Exatamente. Eu sei que não
devia, porque ele é meu namorado e eu devia confiar nele...
-Você tem razão. Mas será
que ele confia em você? - devolve Valentim.
-Até parece que eu dei motivo
algum dia pra ele não confiar em mim, Valentim... vocês me conhecem
e sabem que sou transparente...
-Sim, mas não se trata de
você dar ou não motivos. Dependendo do que ele possa estar metido,
talvez ele não confie em ninguém... - continua Valentim.
-Isso me faz pensar em tanta
coisa... mas olha, agora preciso ir. Vou aceitar com gosto que vocês
me ajudem. Beijo gente, até amanhã!
Laura pega sua mochila e
parte. CORTA A CENA.
CENA 4: Suzanne e Riva já
estão de volta ao hospital esperando notícias do estado de saúde
de Valquíria e Marcelo está claramente contrariado com a presença
de Suzanne entre seus familiares.
-Parece que a mãe não vê
que essa mulherzinha é falsa. Não tinha que ter chamado essa
desvairada aqui. É muita falta de noção essa sujeita que não é
nada nossa vir se meter num momento familiar, onde todos nós estamos
aflitos.
-Acho que você tá exagerando
um pouco, amor... - fala Rafael.
-Exagerando? Você diz isso
porque não foi a sua mãe que ignorou completamente o pedido do
próprio filho e fez o que ele pediu pra ela não fazer...
-Marcelo, meu amor, minha
vida... procura entender a sua mãe, por favor? Ninguém aqui tá
raciocinando muito bem. Agora você vai ficar bravo com ela
justamente por causa dessa sujeita entrona? Acho que não, né... vai
que o que essa mulher quer é justamente criar climão entre nós,
que somos uma família? Vai deixar ela conseguir o que quer? Menos,
Marcelo... muito menos!
-Você tem razão, Rafa...
O telefone de Suzanne toca.
-Queridos, minha empregada tá
ligando. Vou ver o que ela tá querendo me dizer, cês me deem
licença...
Suzanne se afasta rapidamente
e atende sua mãe.
-Poxa dona Raquel, não podia
escolher hora melhor pra me ligar? O que foi agora?
-Eu queria te fazer uma
pergunta, minha filha.
-Podia ter esperado eu voltar,
não podia?
-Não podia. Tou cansada,
quero dormir e não vou te esperar. Filha, você tem vergonha de mim?
-Claro que não, mãe! Que
ideia foi essa agora?
-Não é o que parece. Você
diz pra qualquer um que sou sua empregada, que não sou nada sua...
-Não posso explicar isso
agora. Tenho meus motivos. Mas tire isso da cabeça, não é
vergonha... agora preciso desligar, pra não dar na cara de ninguém
aqui.
Suzanne desliga antes que
Raquel possa responder e Raquel fica pensativa no quarto de hotel.
CORTA A CENA.
CENA 5: Horas depois, já
durante a madrugada, Riva, Marion, Rafael e Marcelo acompanham
Valquíria, já medicada e sem dores, ao consultório do médico.
-Fala, doutor! O que é que eu
tenho? - fala Valquíria, preocupada.
Riva e Marion se olham
preocupadas. O médico começa a falar.
-Dona Valquíria, antes de
falar o que a senhora tem, quero deixar claro que nesse momento não
é necessária cirurgia nenhuma. Vou receitar uns medicamentos para
que possamos verificar nos próximos meses a evolução do quadro e
aí sim a gente vai poder definir se será preciso uma intervenção
cirúrgica ou não.
Valquíria se impacienta.
-Olha aqui seu doutor, eu já
não gosto de hospital, será que dá pra falar menos difícil e
dizer logo o que eu tenho?
-Mamãe! Não seja indelicada
com o médico! - repreende Marion.
O médico torna a falar.
-Você tem um aneurisma. Por
isso você sentiu essa dor, que é um pouco mais aguda do que uma
enxaqueca. Felizmente é um quadro inicial de aneurisma, ainda
possível de ser revertido sem a necessidade de se fazer uma
cirurgia. Mesmo assim, vou te passar a receita de três medicamentos
e recomendo que a senhora evite alimentos gordurosos durante o
tratamento.
O médico segue passando as
orientações. CORTA A CENA.
CENA 6: No dia seguinte, já
durante a tarde, Vicente está com Riva, Marion, Mariana e Ivan na
mansão dos Bittencourt e Suzanne conversa com eles. Vicente tenta se
manter fisicamente distante de Suzanne, que não para de falar.
-Ainda bem que a dona
Valquíria tá melhor depois de tomar os remédios, né? Se Deus
quiser ela recebe alta amanhã e não vai precisar fazer nenhuma
cirurgia. Deve ser bem horrível ter que abrir a cabeça e...
Vicente interrompe a fala de
Suzanne.
-Olha lá o que você vai
falar. Você deveria ter mais elegância, não acha? Afinal, é tão
rica...
Riva percebe o desagrado do
namorado e procura contemporizar.
-Amor... ela só tá querendo
ajudar. Deixa ela...
-Obrigada, Riva. Fica bravinho
comigo não, viu Vicente? Às vezes eu só quero dar um apoio.
-Sei... mas podia falar um
pouco menos... - continua Vicente.
-Chega! Vicente, a Suzanne só
tá querendo ajudar, eu já disse!
-Desculpe, Riva... só acho
que palavras não ajudam a sua avó. Medicamentos e tratamento, sim.
-Gente... vamos mudar de
assunto, por favor? Que climão bem desnecessário, esse... -
incomoda-se Marion.
Todos seguem conversando sobre
diversos assuntos e Vicente nota que Suzanne não para de olhar para
ele com cobiça e se sente incomodado. Vicente se esquiva dos olhares
de Suzanne e procura disfarçar seu incômodo diante de Riva.
-Amiga, você não quer ficar
pro jantar? Vamos fazer risoto de camarão hoje, que é o prato
preferido da minha avó... - fala Riva.
-Ai, que tudo! Sabia que é
meu prato preferido também? - fala Suzanne.
-Então você vai conhecer os
dotes culinários da merendeira hoje... - brinca Marion.
Vicente revira os olhos. CORTA
A CENA.
CENA 7: Marcelo chega à casa
de Cláudio, que o atende alegremente.
-Que bom te ver aqui, Marcelo!
Achei que tinha esquecido dos amigos pobres! - brinca Cláudio.
-Até parece, viado! Meu
coração sempre vai estar em Santa Tereza. Nasci e me criei aqui...
-Entra, querido. Você não
sabe da maior. Tou de namorado novo!
-Como é que é? A senhora é
destruidora de corações mesmo, viu viado! - brinca Marcelo.
-Outra hora te conto melhor os
bafões todos. No final das contas foi o Rodrigo que terminou comigo
sem dar muita satisfação...
-Ah, o famoso Rodrigo...
aquele que nunca ninguém conheceu.
-Não é? Acho que no fim das
contas foi até melhor assim. Não tenho talento pra viver me
escondendo e acobertando o medo dos outros. Venha conhecer Bruno, ele
é um gatíssimo! Mas segura esse edy, viu? Afinal ele já tem dono!
-Se enxerga, mona! Tou
praticamente casado com o Rafa, tá lesa, bicha?
Os dois riem e Marcelo entra.
Cláudio o apresenta a Bruno.
-Prazer, Bruno. Sou Marcelo,
melhor amigo dessa bicha dramática.
-Dramático, eu? Olha que eu
faço aloka aqui e fico vermelha de raiva!
-Como se uma bicha ruiva
precisasse ficar com raiva pra ficar vermelha! - ri Marcelo.
-Falou a bicha morena. Viado,
a senhora também é ruiva. Mas então, Bruno, o que achou do meu
melhor amigo? - fala Cláudio.
-Tenho que achar alguma coisa?
Ai, você me coloca em cada uma, amor... - descontrai Bruno.
-Iiiih, Bruno! Não tá
sabendo que o Cláudio foi alguma espécie de torturador na vida
passada? Esse daí ama um interrogatório! - descontrai Marcelo.
Os três seguem conversando
animadamente. CORTA A CENA.
CENA 8: Victor conversa com
Diogo.
-Olha, amor... eu queria te
pedir desculpa por ontem... eu sei que não entendi muito o seu lado.
-Não precisa disso, Victor.
Eu te entendo. Sei que não é fácil conviver com tanto medo e
insegurança. Não te julgo... só precisei esfriar a cabeça, mas já
passou.
-Mesmo assim fiquei pensando
em tudo, Diogo. Por isso sinto que devo me desculpar.
-Nesse caso eu aceito suas
desculpas, amor... mas vamos esquecer esse assunto, ok?
-Na verdade eu não queria que
esse assunto ficasse esquecido. Fiquei pensando sobre outra parte do
que você disse e talvez eu tenha encontrado uma alternativa pra
descobrir o que tá sem se encaixar nessa história toda. É sobre o
Rodrigo.
-Qual é a sua ideia?
-Ainda tou pensando. Mas você
disse que tem quase certeza de que esse não é o nome do cara,
certo? Já te passou pela cabeça que pode ter sido ele a ameaçar
você e o Cláudio pra te manter longe?
-Duvido, amor. Posso não
conhecer o cara profundamente, mas não sou de me enganar fácil com
o caráter das pessoas. Ele não me parece alguém que faria nada de
ruim contra ninguém.
-Pode ser, mas você precisa
entender o que tá por trás disso.
-Será que preciso, Victor?
Essa história toda já me custou noites de sono perdidas e muito
sofrimento. Não sei se é uma boa ideia reviver tudo isso agora,
logo agora que a gente tá se acertando cada vez mais...
-Mas Diogo, pensa comigo: tem
muita ponta solta nessa história. Muita coisa mal contada. Você foi
acuado, teve sua família ameaçada. Seu ex foi ameaçado no meio da
porra toda... pra mim é claro que há uma pessoa obsessiva pelo
Cláudio por trás disso, mas quem? Ainda acho que pode ser esse
Rodrigo.
-E o que você sugere, Victor?
Convenhamos que tanto eu quanto você, nesse momento, estamos de mãos
atadas.
-Investigue ele, amor.
-Mas como?
-Não sei... mas a gente pode
ir pensando nisso.
-Não é uma má ideia... mas
me pergunto se tudo isso vai ter algum resultado. Depois, eu acho
melhor que eu continue aqui, cuidando de você, lutando pra que você
supere suas crises emocionais...
-A gente vai descobrir um
jeito, Diogo...
Os dois seguem conversando.
CORTA A CENA.
CENA 9: Depois do jantar na
mansão dos Bittencourt, Vicente se oferece para lavar a louça.
-Deixa que eu lavo a louça de
todo mundo, tá? - fala Vicente, recolhendo todos os pratos e
talheres.
-Eu te ajudo! - prontifica-se
Suzanne. Vicente não se agrada, mas não a impede de ir junto à
cozinha.
-Sabe Vicente, eu queria
desfazer essa má impressão que deixei em você.
-Não precisa se preocupar,
Suzanne. Seja você mesma apenas... assim vai ser melhor pra todos
nós.
-Então eu vou fazer o que
acho certo... - fala Suzanne. Vicente fica sem entender.
Suzanne se aproxima e tenta
beijá-lo, sendo antes detida por Vicente.
-O que é isso, garota? Ficou
maluca?
FIM DO CAPÍTULO 20.
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