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quarta-feira, 29 de junho de 2016

CAPÍTULO 39

CENA 1: Laura tenta entender a situação.
-Mas Valentim... isso ainda é só uma suspeita, não é? Você pode estar concluindo as coisas antecipadamente, não?
-Posso, mas é muito improvável. Todas as pistas indicam para esse envolvimento dele com uma organização criminosa.
Mara chega nesse momento à sala.
-Desculpe Valentim, acabei me enrolando servindo o bolo pros atores... - desculpa-se Mara.
-Sem problemas, Mara. Mal comecei a contar pra Laura sobre onde nossas investigações estão nos levando... - fala Valentim.
-Gente, existe alguma possibilidade concreta de tudo isso ser apenas um engano? Não quero crer que o Mateus tenha envolvimento com criminosos... isso faria dele um criminoso também!
-Querida... procure se acalmar. Não coloque as coisas nesses termos... - contemporiza Mara.
-Tá de brincadeira com a minha cara? Uma investigadora me dizendo isso? Qual foi a parte disso tudo que eu não entendi?
-Suspeitamos que tenha muita coisa por trás, Laura. Muita gente... um número incalculável de pessoas que podem estar envolvidas com essa organização. Pra você ter uma ideia, nós fizemos e ainda estamos fazendo uma lista de suspeitos de ser o chefe dessa organização... melhor dizendo: facção. - fala Mara.
-E quem são os suspeitos? - questiona Laura.
-Ainda não podemos dizer isso pra você, querida. Não leve pro lado pessoal... precisamos investigar sem influências externas, entende? - fala Valentim.
-O Mateus não é parte desses suspeitos, é? - insiste Laura.
-Não é um dos suspeitos, Laura... se tranquilize em relação a isso. Se ele tiver alguma participação nessa facção, ela é de subordinado. Resta saber quem é o superior dele... ou quem são os superiores. Não sabemos nem se ele realmente está nessa organização, muito menos qual posição hierárquica ele ocupa lá. Tudo o que sabemos é que essa facção trabalha há anos. Funcionava antes acima de qualquer suspeita numa empresa de fachada, até que seu dono faleceu e rapidamente a empresa entrou em concordata. Foi salva misteriosamente da falência sem nenhuma empresa ter se incorporado a ela... sobrevive de doações anônimas e esse dinheiro não é sequer declarado. Valentim foi atrás de mais informações e descobriu que há tráfico de armas e agiotagem por trás disso, mas pode haver ainda mais coisas... - esclarece Mara.
-Tudo isso me assusta. Quanto mais eu descubro sobre o Mateus, mais eu percebo que esses anos todos ele sempre foi um desconhecido pra mim... - desabafa Laura.
-Mantenha a calma, menina. Você vai precisar manter o mínimo de sangue frio diante de tudo. Até porque ele mora com você e ao que me consta, ele não tem pra onde ir, já que a família dele tá toda na Bahia.
-Verdade, Valentim... mas como é que vou fingir que nada tá acontecendo?
-Laura... não tem outra opção agora. Você vai precisar fingir que não sabe de nada. Tenta tratar ele bem... - prossegue Valentim. Ele e Mara seguem orientando Laura. CORTA A CENA.

CENA 2: Em Melbourne, Rafael e Marcelo tomam café da manhã no hotel onde estão hospedados e Marcelo nota expressão distante no namorado.
-O que tá pegando, Rafa? Desde que você acordou tá com essa cara de quem tá com o pensamento longe...
-Acertou em cheio, amor... não tou conseguindo me fixar nesse momento.
-Por que?
-Tive um sonho esquisito. Um sonho que eu costumava ter há uns dois anos, mas que com o tempo parou de acontecer.
-E tem a ver com o que?
-Com o Haroldo...
-Puxa... eu nem sei o que te dizer. Posso imaginar o quão dolorido deve ser não saber do paradeiro do próprio irmão, nem se ele tá vivo...
-Meu sonho foi com ele, Marcelo. Eu sonhei que ele voltava... fazia mais de dois anos que eu não tinha esse sonho... foi exatamente igual ao que sonhei nas primeiras semanas que ele sumiu... ele foi embora sem deixar notícias...
-Sim, você me contou. Deixou aquela carta pro seu pai e pediu que todos se acalmassem que ele estaria bem e vivo, não é isso?
-Exatamente. Mas confesso que depois de tanto tempo eu fui ficando cético... perdendo as esperanças que meu irmão estivesse vivo e aparecesse. Claro... nunca tive coragem de falar pro meu pai que achava que o Haroldo tava morto...
-Entendo. Você não falou nada pra evitar um sofrimento maior.
-Exatamente. O pai não diz nada, mas eu vejo que o que mantem ele em pé ainda é essa esperança de que um dia meu irmão volte. Não quero tirar isso dele, entende?
-Claro que entendo.
-Mas agora eu sinto uma ponta de esperança. Pode parecer loucura ou delírio meu... mas eu sinto que esse sonho não aconteceu por acaso. Eu não dormi pensando no Haroldo, faz muito tempo que a gente nem toca no nome dele... de repente esse sonho pode ter algum fundo de verdade...
-Você acha?
-Acho. Eu sinto uma esperança nascer com isso. Talvez meu pai não esteja errado de não desistir de tudo...
-Deus te ouça e diga amém, amor... ninguém merece passar por uma situação dessas e o Ivan é um cara que apesar das fraquezas, é muito bom. Não merece perder um filho.
-Eu sei... o que resta agora é torcer pra que esse sonho não tenha sido só mais uma pegadinha do meu inconsciente...
Os dois seguem tomando o café da manhã. CORTA A CENA.

CENA 3: Depois do jantar em sua casa, novamente na companhia de Guilherme, Cláudio nota que Bruno está com uma expressão tristonha.
-Você tá chateado com alguma coisa, Bruno? Desde cedo tá com essa cara de quem tá sofrendo por alguma coisa...
-E tou... na verdade eu nem sei como te dizer isso, Cláudio. Tenho medo que isso te chateie.
-Fala... nós somos amigos, não somos?
-Eu fico com medo justamente de você não estar sendo meu amigo por completo, sabe? Desculpa dizer, Cláudio, mas desde que você soube de toda a verdade, da qual eu me arrependo e você sabe disso, parece que você tá me tratando com patada, por qualquer razão ou motivo. Olha, eu sei que eu não sou ninguém pra te cobrar uma postura, que essa é a sua casa e tudo mais... mas te senti duro demais comigo nesses últimos dias. E fiquei sinceramente chocado quando você fez o que fez com o Marcelo, que era seu melhor amigo...
-Olha... eu entendo cada um dos seus pontos, Bruno. Confesso a você que me arrependi da cachorrada que aprontei com o Marcelo. Mas tava com raiva, na hora considerei justa a sabotagem que armei. Depois que a raiva passou eu percebi o tamanho da merda que tinha feito, mas acho que é tarde demais pra voltar atrás. Pode acreditar que eu sou seu amigo, Bruno... apesar de tudo o que passou, eu gosto muito de você. Se fui duro contigo, foi porque tinha muita coisa na minha cabeça. Eu te prometo não ser mais duro desse jeito, tá?
Os dois se emocionam e Guilherme se incomoda, mas nada diz.
-Dá cá um abraço de uma vez! - convida Cláudio.
Bruno e Cláudio se abraçam emocionados.
-Não importa o que vai ser daqui pra frente, a gente vai ser sempre amigo, viu?
-Você promete, Cláudio?
-Eu juro.
Guilherme não consegue disfarçar incômodo com a cena.
-Ei, vocês dois... eu ainda tou aqui, viu? Não mereço um abraço também?
Cláudio fica surpreso e constrangido pela atitude de Guilherme, mas para não estender a situação, resolve levar numa boa.
-Vem você pra esse abraço também... - fala Cláudio.
Guilherme abraça Cláudio e Bruno nota que Cláudio ficou incomodado com visível demonstração de ciúme de Guilherme. CORTA A CENA.

CENA 4: Suzanne está novamente na mansão dos Bittencourt a auxiliar Marion nas dicas de postura e etiqueta a Riva.
-Ai gente... eu fico é preocupada às vezes com tanta coisa que tem que pensar e fazer... - desabafa Riva.
-Que isso, Riva... em poucos meses você evoluiu barbaramente, de uma maneira que muita gente não conseguiria! Até parar de falar errado você conseguiu! Não confunde mais a concordância, tá cada vez mais segura de si... não entendo essa insegurança justo agora... - fala Marion.
-Sua tia tem razão... - fala Suzanne.
-Ai, é tão estranho dizer que a Marion é minha tia... pra mim ela sempre foi uma irmã... - fala Riva.
-Enfim... que seja. Vicente, querido... você pode vir aqui para convencer essa teimosa da sua futura esposa de que ela tá mandando super bem na evolução? - fala Suzanne.
Vicente se surpreende positivamente com súbita gentileza de Suzanne.
-Você tá sendo muito gentil com a Riva, Suzanne... e gentil com a gente. Mas de fato, amor... você precisa reconhecer o seu progresso, os seus méritos nesses poucos meses. Você evoluiu de uma maneira que muita gente não consegue nem depois de um ano... - fala Vicente.
-Bem, queridos... acho que minha missão aqui por hoje chegou ao fim. Preciso ir embora porque também preciso de uma boa noite de sono. Você, Riva, lembre-se que está cada vez mais diva e pronta pra brilhar nessa nossa alta sociedade carioca! - fala Suzanne, se levantando e se despedindo de todos.
Vicente resolve levá-la até a porta.
-Você se incomoda se eu te levar até a porta? - propõe Vicente.
-De forma alguma, Vicente! Vou agradecer! - fala Suzanne.
Vicente leva Suzanne até a porta enquanto ela espera a chegada do táxi.
-Olha Suzanne, eu sinceramente não sei que bicho te mordeu, mas gostei de te ver gentil e suave com todos nós hoje.
-Eu te falei que não era esse monstro todo, Vicente... você que estava de má vontade.
-Olha... nem vou entrar no mérito da questão que você sabe muito bem que tá bem longe de ser uma santa. Mas reconheço também as qualidades e os esforços das pessoas. Continue assim... pelo menos assim, todos nós ficamos tranquilos.
-Vicente, seu bobo... somos humanos. Também tenho minhas fraquezas. Perdi a cabeça por alguns momentos, porque desejei você, te achei um tipo interessante. Mas depois me dei conta de tudo. Eu sou amiga da Riva... não poderia correr o risco de colocar nossa amizade fora por causa de um capricho...
Vicente se surpreende com fala de Suzanne. O táxi dela chega.
-Preciso ir. Eu não mordo, tá?
Suzanne embarca no táxi e Vicente ri. CORTA A CENA.

CENA 5: Marion estranha quando sua mãe lhe chama ao escritório, mas a segue mesmo assim.
-Fiquei sem entender nada... tem alguma coisa que faltou você me contar pra me chamar aqui, mãe?
-Na verdade não faltou nada... mas eu preciso falar sobre algo que tá me afligindo... - fala Valquíria.
-Ai, mãe... tá me assustando. É algo com a sua saúde?
-Não, Marion... eu tou seguindo direitinho o tratamento e tou me sentindo ótima. O que tá me deixando encafifada é outra coisa... aliás, alguém.
-Quem?
-A Suzanne.
-Ah, mãe! A senhora também com essa, agora? Poxa vida! Os meninos e o Vicente já implicaram até não poder mais com a Suzanne. Acho que ela é tão querida, tão solícita, tão gentil...
-E é justamente por isso que essazinha não me desce.
-Desculpe, mãe... não entendi.
-Marion, Marion... você tem quarenta anos ou quatro? Você não pode ser tão ingênua assim. Será que você não percebe que ela é gentil demais, solícita demais, simpática demais e agradável demais? Ninguém é só sorriso o tempo inteiro. Ninguém.
-Mas mãe... algumas pessoas podem ser assim, ser o jeito delas. Ela é libriana como eu, sabia?
-Tá, mas o que raios o signo tem a ver com isso? Se for pra discutir librianos, como é que eu nunca fui de fazer média com ninguém na vida, sendo também uma libriana? Me diz!
-Realmente, mãe... não dá pra gente se basear só em signos... mas poxa vida! Será que a senhora não tá sendo injusta com a Suzanne? Ela nunca fez nada que depusesse contra ela...
-Que vocês saibam, né... talvez a coisa não seja tão bonitinha assim se vocês pesquisassem a fundo a vida dela.
-Mãe... invadir a vida de uma pessoa baseado apenas por desconfiança é errado. Não vamos fazer isso com a coitada.
-Não estou dizendo que vocês devem investigar e invadir a vida dela.
-Mas então o que é que a senhora sugere? Confesso que me assusto. Você pode ter sido amarga por muitos anos, mas sua intuição nunca falhou...
-Confia, filha. Intuição de mãe e de avó nunca falha. Temo por você e pela Riva, só não te disse isso antes porque não queria apavorar vocês duas... eu só posso sugerir que pelo menos você abra o olho com a Suzanne. Observe o comportamento dela com mais atenção, sem se deixar levar pelas histórias mirabolantes que ela conta. Já vi que com minha neta não tem muito papo que ela não vai ouvir.
-E não vai mesmo... a Riva quase brigou com o Vicente porque ele andou desconfiado da Suzanne.
-Exatamente por isso, Marion...
-Vou manter meus olhos bem abertos.
-Você me promete, filha?
-Prometo. Vou fazer o que estiver ao meu alcance.
As duas deixam o escritório juntas, em silêncio. CORTA A CENA.

CENA 6: Ivan está na edícula e resolve telefonar para Valentim.
-Fale, Ivan. Estou surpreso por você me ligar numa hora dessas. Precisando desabafar sobre o Haroldo?
-Acho que dessa vez não é tanto um desabafo, meu amigo...
-Veja bem... se você estiver em busca de novas pistas do paradeiro dele, estamos esbarrando em muitas dificuldades. A pista que Mara seguiu foi perdida...
-Eu sei disso, Valentim. Na verdade eu tou entendendo tudo isso como uma espécie de sinal.
-Sinal do que, exatamente? Olha, meu amigo... eu sei que você é espiritualista, mas eu sou cético. Preciso do ceticismo no meu trabalho, você sabe disso.
-Eu entendo tudo isso como um sinal claro de que ele nunca esteve longe da gente. Não tem a ver com espiritualidade, não agora.
-Também suspeitamos disso, Ivan. Mas não vejo muita razão pra gente ficar falando nisso quando as melhores pistas foram perdidas...
-Você não entende, Valentim... eu sou o pai de Haroldo. Sinto que ele está para voltar.
-Sim, mas com base no que? Existe algo de concreto que justifique isso?
-Vá me desculpar, Valentim... mas você não é pai. Pode imaginar como é, mas jamais vai saber como é que se sente um pai que tem o filho desparecido, que não dá notícias há mais de dois anos...
-Essa conversa tá ficando estranha, meu amigo... acho melhor você descansar.
-Concordo. Passar bem.
Ivan desliga. CORTA A CENA.

CENA 7: Mateus percebe que Laura está estranha e distante com ele e a questiona.
-O que foi que te deu, Laura?
-Você ainda me pergunta, Mateus? Você sabe o que fez. E até onde eu posso lembrar, nós estamos dando um tempo.
-Sim... só não entendi que hoje, especialmente, cê tá com uma cara de quem tá pensando em algo escabroso.
-Devo estar cansada. E peço desculpa se em algum momento pareci dura. Não foi minha intenção. Os ensaios de hoje foram exaustivos de verdade. Você não tem nada a ver com isso... é um cansaço físico, não mental...
-Tenta descansar pelo menos, Laura...
-Não tenho sono. É como te falei agora... minha cabeça não tá cansada. Os ensaios de hoje exigiram muito do meu corpo...
-Entendo. Quer um café?
-Vou aceitar.
Mateus vai preparar o café e Laura suspira, aflita. CORTA A CENA.

CENA 8: Cláudio está em seu quarto com Guilherme, que tenta lhe beijar.
-Pode parar aí, Guilherme. Dá pra me explicar que cena ridícula de ciúme foi aquela?
-Não foi ciúme... só não entendi a razão daquela melosidade pra cima do Bruno. Ele já não mora aqui?
-Sei. Se aquilo não foi ciúme, foi o que?
-Ah, quer saber? Fiquei enciumado sim! Você acha que não me sinto inseguro? Ele foi seu namorado.
-Mas eu não sou seu namorado! Não sou nada seu! Quer saber? Acho melhor você voltar pra sua casa hoje. - determina Cláudio. FIM DO CAPÍTULO 39.

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