CENA 1: Laura tenta entender a
situação.
-Mas Valentim... isso ainda é
só uma suspeita, não é? Você pode estar concluindo as coisas
antecipadamente, não?
-Posso, mas é muito
improvável. Todas as pistas indicam para esse envolvimento dele com
uma organização criminosa.
Mara chega nesse momento à
sala.
-Desculpe Valentim, acabei me
enrolando servindo o bolo pros atores... - desculpa-se Mara.
-Sem problemas, Mara. Mal
comecei a contar pra Laura sobre onde nossas investigações estão
nos levando... - fala Valentim.
-Gente, existe alguma
possibilidade concreta de tudo isso ser apenas um engano? Não quero
crer que o Mateus tenha envolvimento com criminosos... isso faria
dele um criminoso também!
-Querida... procure se
acalmar. Não coloque as coisas nesses termos... - contemporiza Mara.
-Tá de brincadeira com a
minha cara? Uma investigadora me dizendo isso? Qual foi a parte disso
tudo que eu não entendi?
-Suspeitamos que tenha muita
coisa por trás, Laura. Muita gente... um número incalculável de
pessoas que podem estar envolvidas com essa organização. Pra você
ter uma ideia, nós fizemos e ainda estamos fazendo uma lista de
suspeitos de ser o chefe dessa organização... melhor dizendo:
facção. - fala Mara.
-E quem são os suspeitos? -
questiona Laura.
-Ainda não podemos dizer isso
pra você, querida. Não leve pro lado pessoal... precisamos
investigar sem influências externas, entende? - fala Valentim.
-O Mateus não é parte desses
suspeitos, é? - insiste Laura.
-Não é um dos suspeitos,
Laura... se tranquilize em relação a isso. Se ele tiver alguma
participação nessa facção, ela é de subordinado. Resta saber
quem é o superior dele... ou quem são os superiores. Não sabemos
nem se ele realmente está nessa organização, muito menos qual
posição hierárquica ele ocupa lá. Tudo o que sabemos é que essa
facção trabalha há anos. Funcionava antes acima de qualquer
suspeita numa empresa de fachada, até que seu dono faleceu e
rapidamente a empresa entrou em concordata. Foi salva misteriosamente
da falência sem nenhuma empresa ter se incorporado a ela...
sobrevive de doações anônimas e esse dinheiro não é sequer
declarado. Valentim foi atrás de mais informações e descobriu que
há tráfico de armas e agiotagem por trás disso, mas pode haver
ainda mais coisas... - esclarece Mara.
-Tudo isso me assusta. Quanto
mais eu descubro sobre o Mateus, mais eu percebo que esses anos todos
ele sempre foi um desconhecido pra mim... - desabafa Laura.
-Mantenha a calma, menina.
Você vai precisar manter o mínimo de sangue frio diante de tudo.
Até porque ele mora com você e ao que me consta, ele não tem pra
onde ir, já que a família dele tá toda na Bahia.
-Verdade, Valentim... mas como
é que vou fingir que nada tá acontecendo?
-Laura... não tem outra opção
agora. Você vai precisar fingir que não sabe de nada. Tenta tratar
ele bem... - prossegue Valentim. Ele e Mara seguem orientando Laura.
CORTA A CENA.
CENA 2: Em Melbourne, Rafael e
Marcelo tomam café da manhã no hotel onde estão hospedados e
Marcelo nota expressão distante no namorado.
-O que tá pegando, Rafa?
Desde que você acordou tá com essa cara de quem tá com o
pensamento longe...
-Acertou em cheio, amor... não
tou conseguindo me fixar nesse momento.
-Por que?
-Tive um sonho esquisito. Um
sonho que eu costumava ter há uns dois anos, mas que com o tempo
parou de acontecer.
-E tem a ver com o que?
-Com o Haroldo...
-Puxa... eu nem sei o que te
dizer. Posso imaginar o quão dolorido deve ser não saber do
paradeiro do próprio irmão, nem se ele tá vivo...
-Meu sonho foi com ele,
Marcelo. Eu sonhei que ele voltava... fazia mais de dois anos que eu
não tinha esse sonho... foi exatamente igual ao que sonhei nas
primeiras semanas que ele sumiu... ele foi embora sem deixar
notícias...
-Sim, você me contou. Deixou
aquela carta pro seu pai e pediu que todos se acalmassem que ele
estaria bem e vivo, não é isso?
-Exatamente. Mas confesso que
depois de tanto tempo eu fui ficando cético... perdendo as
esperanças que meu irmão estivesse vivo e aparecesse. Claro...
nunca tive coragem de falar pro meu pai que achava que o Haroldo tava
morto...
-Entendo. Você não falou
nada pra evitar um sofrimento maior.
-Exatamente. O pai não diz
nada, mas eu vejo que o que mantem ele em pé ainda é essa esperança
de que um dia meu irmão volte. Não quero tirar isso dele, entende?
-Claro que entendo.
-Mas agora eu sinto uma ponta
de esperança. Pode parecer loucura ou delírio meu... mas eu sinto
que esse sonho não aconteceu por acaso. Eu não dormi pensando no
Haroldo, faz muito tempo que a gente nem toca no nome dele... de
repente esse sonho pode ter algum fundo de verdade...
-Você acha?
-Acho. Eu sinto uma esperança
nascer com isso. Talvez meu pai não esteja errado de não desistir
de tudo...
-Deus te ouça e diga amém,
amor... ninguém merece passar por uma situação dessas e o Ivan é
um cara que apesar das fraquezas, é muito bom. Não merece perder um
filho.
-Eu sei... o que resta agora é
torcer pra que esse sonho não tenha sido só mais uma pegadinha do
meu inconsciente...
Os dois seguem tomando o café
da manhã. CORTA A CENA.
CENA 3: Depois do jantar em
sua casa, novamente na companhia de Guilherme, Cláudio nota que
Bruno está com uma expressão tristonha.
-Você tá chateado com alguma
coisa, Bruno? Desde cedo tá com essa cara de quem tá sofrendo por
alguma coisa...
-E tou... na verdade eu nem
sei como te dizer isso, Cláudio. Tenho medo que isso te chateie.
-Fala... nós somos amigos,
não somos?
-Eu fico com medo justamente
de você não estar sendo meu amigo por completo, sabe? Desculpa
dizer, Cláudio, mas desde que você soube de toda a verdade, da qual
eu me arrependo e você sabe disso, parece que você tá me tratando
com patada, por qualquer razão ou motivo. Olha, eu sei que eu não
sou ninguém pra te cobrar uma postura, que essa é a sua casa e tudo
mais... mas te senti duro demais comigo nesses últimos dias. E
fiquei sinceramente chocado quando você fez o que fez com o Marcelo,
que era seu melhor amigo...
-Olha... eu entendo cada um
dos seus pontos, Bruno. Confesso a você que me arrependi da
cachorrada que aprontei com o Marcelo. Mas tava com raiva, na hora
considerei justa a sabotagem que armei. Depois que a raiva passou eu
percebi o tamanho da merda que tinha feito, mas acho que é tarde
demais pra voltar atrás. Pode acreditar que eu sou seu amigo,
Bruno... apesar de tudo o que passou, eu gosto muito de você. Se fui
duro contigo, foi porque tinha muita coisa na minha cabeça. Eu te
prometo não ser mais duro desse jeito, tá?
Os dois se emocionam e
Guilherme se incomoda, mas nada diz.
-Dá cá um abraço de uma
vez! - convida Cláudio.
Bruno e Cláudio se abraçam
emocionados.
-Não importa o que vai ser
daqui pra frente, a gente vai ser sempre amigo, viu?
-Você promete, Cláudio?
-Eu juro.
Guilherme não consegue
disfarçar incômodo com a cena.
-Ei, vocês dois... eu ainda
tou aqui, viu? Não mereço um abraço também?
Cláudio fica surpreso e
constrangido pela atitude de Guilherme, mas para não estender a
situação, resolve levar numa boa.
-Vem você pra esse abraço
também... - fala Cláudio.
Guilherme abraça Cláudio e
Bruno nota que Cláudio ficou incomodado com visível demonstração
de ciúme de Guilherme. CORTA A CENA.
CENA 4: Suzanne está
novamente na mansão dos Bittencourt a auxiliar Marion nas dicas de
postura e etiqueta a Riva.
-Ai gente... eu fico é
preocupada às vezes com tanta coisa que tem que pensar e fazer... -
desabafa Riva.
-Que isso, Riva... em poucos
meses você evoluiu barbaramente, de uma maneira que muita gente não
conseguiria! Até parar de falar errado você conseguiu! Não
confunde mais a concordância, tá cada vez mais segura de si... não
entendo essa insegurança justo agora... - fala Marion.
-Sua tia tem razão... - fala
Suzanne.
-Ai, é tão estranho dizer
que a Marion é minha tia... pra mim ela sempre foi uma irmã... -
fala Riva.
-Enfim... que seja. Vicente,
querido... você pode vir aqui para convencer essa teimosa da sua
futura esposa de que ela tá mandando super bem na evolução? - fala
Suzanne.
Vicente se surpreende
positivamente com súbita gentileza de Suzanne.
-Você tá sendo muito gentil
com a Riva, Suzanne... e gentil com a gente. Mas de fato, amor...
você precisa reconhecer o seu progresso, os seus méritos nesses
poucos meses. Você evoluiu de uma maneira que muita gente não
consegue nem depois de um ano... - fala Vicente.
-Bem, queridos... acho que
minha missão aqui por hoje chegou ao fim. Preciso ir embora porque
também preciso de uma boa noite de sono. Você, Riva, lembre-se que
está cada vez mais diva e pronta pra brilhar nessa nossa alta
sociedade carioca! - fala Suzanne, se levantando e se despedindo de
todos.
Vicente resolve levá-la até
a porta.
-Você se incomoda se eu te
levar até a porta? - propõe Vicente.
-De forma alguma, Vicente! Vou
agradecer! - fala Suzanne.
Vicente leva Suzanne até a
porta enquanto ela espera a chegada do táxi.
-Olha Suzanne, eu sinceramente
não sei que bicho te mordeu, mas gostei de te ver gentil e suave com
todos nós hoje.
-Eu te falei que não era esse
monstro todo, Vicente... você que estava de má vontade.
-Olha... nem vou entrar no
mérito da questão que você sabe muito bem que tá bem longe de ser
uma santa. Mas reconheço também as qualidades e os esforços das
pessoas. Continue assim... pelo menos assim, todos nós ficamos
tranquilos.
-Vicente, seu bobo... somos
humanos. Também tenho minhas fraquezas. Perdi a cabeça por alguns
momentos, porque desejei você, te achei um tipo interessante. Mas
depois me dei conta de tudo. Eu sou amiga da Riva... não poderia
correr o risco de colocar nossa amizade fora por causa de um
capricho...
Vicente se surpreende com fala
de Suzanne. O táxi dela chega.
-Preciso ir. Eu não mordo,
tá?
Suzanne embarca no táxi e
Vicente ri. CORTA A CENA.
CENA 5: Marion estranha quando
sua mãe lhe chama ao escritório, mas a segue mesmo assim.
-Fiquei sem entender nada...
tem alguma coisa que faltou você me contar pra me chamar aqui, mãe?
-Na verdade não faltou
nada... mas eu preciso falar sobre algo que tá me afligindo... -
fala Valquíria.
-Ai, mãe... tá me
assustando. É algo com a sua saúde?
-Não, Marion... eu tou
seguindo direitinho o tratamento e tou me sentindo ótima. O que tá
me deixando encafifada é outra coisa... aliás, alguém.
-Quem?
-A Suzanne.
-Ah, mãe! A senhora também
com essa, agora? Poxa vida! Os meninos e o Vicente já implicaram até
não poder mais com a Suzanne. Acho que ela é tão querida, tão
solícita, tão gentil...
-E é justamente por isso que
essazinha não me desce.
-Desculpe, mãe... não
entendi.
-Marion, Marion... você tem
quarenta anos ou quatro? Você não pode ser tão ingênua assim.
Será que você não percebe que ela é gentil demais, solícita
demais, simpática demais e agradável demais? Ninguém é só
sorriso o tempo inteiro. Ninguém.
-Mas mãe... algumas pessoas
podem ser assim, ser o jeito delas. Ela é libriana como eu, sabia?
-Tá, mas o que raios o signo
tem a ver com isso? Se for pra discutir librianos, como é que eu
nunca fui de fazer média com ninguém na vida, sendo também uma
libriana? Me diz!
-Realmente, mãe... não dá
pra gente se basear só em signos... mas poxa vida! Será que a
senhora não tá sendo injusta com a Suzanne? Ela nunca fez nada que
depusesse contra ela...
-Que vocês saibam, né...
talvez a coisa não seja tão bonitinha assim se vocês pesquisassem
a fundo a vida dela.
-Mãe... invadir a vida de uma
pessoa baseado apenas por desconfiança é errado. Não vamos fazer
isso com a coitada.
-Não estou dizendo que vocês
devem investigar e invadir a vida dela.
-Mas então o que é que a
senhora sugere? Confesso que me assusto. Você pode ter sido amarga
por muitos anos, mas sua intuição nunca falhou...
-Confia, filha. Intuição de
mãe e de avó nunca falha. Temo por você e pela Riva, só não te
disse isso antes porque não queria apavorar vocês duas... eu só
posso sugerir que pelo menos você abra o olho com a Suzanne. Observe
o comportamento dela com mais atenção, sem se deixar levar pelas
histórias mirabolantes que ela conta. Já vi que com minha neta não
tem muito papo que ela não vai ouvir.
-E não vai mesmo... a Riva
quase brigou com o Vicente porque ele andou desconfiado da Suzanne.
-Exatamente por isso,
Marion...
-Vou manter meus olhos bem
abertos.
-Você me promete, filha?
-Prometo. Vou fazer o que
estiver ao meu alcance.
As duas deixam o escritório
juntas, em silêncio. CORTA A CENA.
CENA 6: Ivan está na edícula
e resolve telefonar para Valentim.
-Fale, Ivan. Estou surpreso
por você me ligar numa hora dessas. Precisando desabafar sobre o
Haroldo?
-Acho que dessa vez não é
tanto um desabafo, meu amigo...
-Veja bem... se você estiver
em busca de novas pistas do paradeiro dele, estamos esbarrando em
muitas dificuldades. A pista que Mara seguiu foi perdida...
-Eu sei disso, Valentim. Na
verdade eu tou entendendo tudo isso como uma espécie de sinal.
-Sinal do que, exatamente?
Olha, meu amigo... eu sei que você é espiritualista, mas eu sou
cético. Preciso do ceticismo no meu trabalho, você sabe disso.
-Eu entendo tudo isso como um
sinal claro de que ele nunca esteve longe da gente. Não tem a ver
com espiritualidade, não agora.
-Também suspeitamos disso,
Ivan. Mas não vejo muita razão pra gente ficar falando nisso quando
as melhores pistas foram perdidas...
-Você não entende,
Valentim... eu sou o pai de Haroldo. Sinto que ele está para voltar.
-Sim, mas com base no que?
Existe algo de concreto que justifique isso?
-Vá me desculpar, Valentim...
mas você não é pai. Pode imaginar como é, mas jamais vai saber
como é que se sente um pai que tem o filho desparecido, que não dá
notícias há mais de dois anos...
-Essa conversa tá ficando
estranha, meu amigo... acho melhor você descansar.
-Concordo. Passar bem.
Ivan desliga. CORTA A CENA.
CENA 7: Mateus percebe que
Laura está estranha e distante com ele e a questiona.
-O que foi que te deu, Laura?
-Você ainda me pergunta,
Mateus? Você sabe o que fez. E até onde eu posso lembrar, nós
estamos dando um tempo.
-Sim... só não entendi que
hoje, especialmente, cê tá com uma cara de quem tá pensando em
algo escabroso.
-Devo estar cansada. E peço
desculpa se em algum momento pareci dura. Não foi minha intenção.
Os ensaios de hoje foram exaustivos de verdade. Você não tem nada a
ver com isso... é um cansaço físico, não mental...
-Tenta descansar pelo menos,
Laura...
-Não tenho sono. É como te
falei agora... minha cabeça não tá cansada. Os ensaios de hoje
exigiram muito do meu corpo...
-Entendo. Quer um café?
-Vou aceitar.
Mateus vai preparar o café e
Laura suspira, aflita. CORTA A CENA.
CENA 8: Cláudio está em seu
quarto com Guilherme, que tenta lhe beijar.
-Pode parar aí, Guilherme. Dá
pra me explicar que cena ridícula de ciúme foi aquela?
-Não foi ciúme... só não
entendi a razão daquela melosidade pra cima do Bruno. Ele já não
mora aqui?
-Sei. Se aquilo não foi
ciúme, foi o que?
-Ah, quer saber? Fiquei
enciumado sim! Você acha que não me sinto inseguro? Ele foi seu
namorado.
-Mas eu não sou seu namorado!
Não sou nada seu! Quer saber? Acho melhor você voltar pra sua casa
hoje. - determina Cláudio. FIM DO CAPÍTULO 39.
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