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quinta-feira, 16 de junho de 2016

CAPÍTULO 28

CENA 1: Bruno permanece paralisado diante de Cláudio, que o questiona.
-Pode me explicar o que foi isso que eu acabei de ouvir?
Bruno gagueja, mas começa a falar.
-M... meu pai. Veio me cobrar presença e dinheiro. A gente acabou discutindo.
Cláudio desconfia.
-Continua falando, Bruno. Me explica exatamente o que acabou de acontecer aqui...
-Você não tá acreditando em mim? Poxa, Claudinho... nunca te dei motivos.
-Então você vai saber explicar, não vai?
-Se você me deixar falar, com certeza eu explico.
-Pois bem, prossiga.
-Como você já sabe, meus pais passam por dificuldades. Meu pai sem poder trabalhar e minha mãe sempre meio doente.
-Sei... continua.
-Então... ele me ligou cobrando minha presença, dizendo que faz muito tempo que eu não vou ver eles e que eles estão precisando de dinheiro. Só que ele esquece que eu não sou a única família deles. Que não posso sempre fazer tudo o tempo todo. Exige consideração, mas nunca me estendeu a mão oferecendo o mínimo de apoio quando eu só pedi por compreensão. Nunca tive coragem de assumir que também gosto de caras pros meus pais, simplesmente porque toda vez que tentei falar sobre sexo eu fui reprimido. Então eu acho meio descabido que ele só lembre de ligar pra mim quando eles estão precisando de grana. E ainda vem com esse papinho mole de consideração. Engraçado que ele só lembra o que é consideração quando o bicho pega, no resto do tempo esquece...
Cláudio acredita nas palavras de Bruno.
-Mas por que você não falou sobre isso antes, meu amor? Às vezes a gente acaba aguentando muita merda sozinho por não se abrir com ninguém. Eu sou teu amigo, teu namorado... pode desabafar comigo sempre que quiser, tá me ouvindo? De quanto ele tá precisando?
-Ai, amor... desculpa não trer dito antes. Mas é que não queria te ocupar com meus problemas.
-Seus problemas também são meus... a gente resolve as coisas mais facilmente quando se une...
-Eu sei disso, amor. Mas não pense que eu vou aceitar que seja você a mandar dinheiro pros meus pais... esse dinheiro vai fazer falta pra você, vai fazer falta pra gente.
-Sim, Bruno, mas raciocina comigo: como é que você vai mandar dinheiro pra eles se ainda não conseguiu um emprego? A gente dá um jeito... de quanto eles precisam?
-De quatro mil reais...
-Amanhã eu vou no banco e resolvo isso, tá? Daí você pode mandar esse dinheiro pra conta corrente do seu pai. Ele tem conta corrente, não tem?
-Tem...
-Então tá resolvido. E nem adianta discutir comigo. Amanhã a gente resolve essa questão.
Bruno se frustra por ter de mentir a Cláudio. CORTA A CENA.

CENA 2: Já pela manhã, recolhida em seu canto, Raquel relembra a conversa que teve com Valentim e fala consigo mesma.
-Se o doutor soubesse que essa mulher que eu conto as histórias é minha filha...
Raquel observa Suzanne e Márcio, que dormem profundamente.
-O Márcio pode estar sendo enganado a vida inteira por ela. Faz tudo o que ela pede, sempre fez... e já se ferrou por isso... meu Deus! Fico me perguntando quantas vezes minha própria filha me mentiu, me enganou...
Raquel segue observando os dois dormirem e segue divagando consigo mesma.
-Mas não é possível... ela foi uma criança afetuosa comigo e com o pai dela... não é possível, meu Deus... não é possível.
Raquel vai preparar um café para si e segue pensativa.
-Tenho esperança de que tudo isso seja apenas um medo bobo meu. Falha de caráter talvez ela tenha, mas... psicopata? Minha filha psicopata? Ainda me recuso a crer nisso... se bem que... eles estão por toda parte. Ai, Deus... essa dúvida ainda vai me botar é doida...
Raquel segue preparando o seu café, pensativa. CORTA A CENA.

CENA 3: Durante café da manhã, Vicente resolve falar com todos sobre seus planos de casamento com Riva.
-Gente, eu tava pensando em já ir marcando a data do casamento. O que você acha, Riva?
-A gente já vive como casado, mas acho boa a ideia. Pra quando você tá pensando? Eu pensei que assim que os meninos voltarem da Austrália, a gente podia fazer uma cerimônia pequena, só pros familiares...
Vicente se espanta.
-Você acredita que pensei exatamente a mesma coisa? Tou impressionado com a nossa sintonia...
-Vocês tem certeza que não querem uma festa? Eu adoro ajudar na organização de eventos... - fala Marion.
-Dessa vez vou discordar de você, Marion... entendo o cuidado do Vicente. Vocês são atores famosos e eu sou famosa por tabela. É quase um milagre que a gente tenha conseguido manter nosso relacionamento todo esse tempo longe dos holofotes... - opina Riva.
-Vou ser obrigada a concordar com vocês... eu queria muito que fosse um evento lindo e cheio de pompa, mas não tem como isso não chamar a atenção da imprensa... - constata Marion.
-Vai ser melhor assim, gente... nunca fui acostumada com luxo, ainda tou me adaptando nessa vida de rica. Sem mencionar que... né gente, eu nunca tive muita sorte com os homens, só o fato de ter o amor do Vicente e saber que ele me ama pelo que sou já é algo que não tem preço na minha vida. - fala Riva.
-Inclusive porque eu também sou rico, logo não teria nenhum interesse que não fosse afetivo. Aliás eu tava pensando numa coisa, Riva... você não quer vir morar comigo? Eu posso mandar reformar minha casa ou mesmo vender e comprar uma nova pra gente... - fala Vicente.
-Eu acho muito boa a ideia, mas acho que não vou querer. Eu gosto de estar perto da família... depois, acho que já me acostumei a morar nessa mansão. Mas claro que posso pensar melhor se você se sente desconfortável com essa situação... - continua Riva.
-De jeito nenhum eu me sentiria desconfortável. Antes de te conhecer, sempre fui muito amigo da Marion, não é Marion?
-Com certeza, Vicente. Você é um dos poucos atores com quem trabalhei junto que fiz amizade pra vida toda... - confirma Marion.
-Sendo assim não me incomoda nem um pouco morar aqui. Estou entre amigos, estou em família. Nossa família...
Riva e Vicente se beijam apaixonadamente.
-Mas então fica assim: logo que os meninos chegarem, agilizamos a papelada do casamento... - sentencia Riva. CORTA A CENA.

CENA 4: Regina e Geraldo percebem que Eva se acordou com uma expressão triste.
-Filha, não vai comer nada? Nunca te vi sem apetite desse jeito... - constata Geraldo.
-Pois é, minha filha... isso sem falar que você tá claramente triste. Quer desabafar com a gente? - estimula Regina.
Eva resolve desabafar.
-Eu sou uma fraca, gente... uma fraca. Vocês deviam se envergonhar de ter uma filha fraca como eu. Sou ingrata, não tenho um pingo de gratidão pela vida privilegiada que tenho com vocês me aceitando sempre...
Eva começa a chorar e é abraçada pelos pais. Regina começa a falar.
-Para com isso, Eva. A gente não faz mais que nossa obrigação de te acolher. Não te aceitamos porque não temos de aceitar nada. Errados são os pais que só amam os filhos se eles forem o que eles projetam...
-Sua mãe tá certa, filha. Pare de se maltratar desse jeito. Você agiu de maneira errada com a Renata sim, mas quem aqui nunca erra? - completa Geraldo.
-Você quer dizer o que eu não fiz. Foi a minha falta de ação. Minha covardia... não tive coragem de assumir pro público meu relacionamento com ela porque sou uma fraca. Coloquei minha carreira em primeiro lugar e agora nada mais faz tanto sentido pra mim. Essa coisa toda... fama, dinheiro... tudo isso passa. Mas e o amor? O que a gente faz quando o amor da gente vai embora?
Eva permanece a chorar, inconsolável.
-Filha... por que você não tenta se acertar com a Renata? Se você tá percebendo que precisa fazer alguma coisa... - propõe Regina.
-Não sei nem se ela vai querer me ouvir, mãe. E se não quiser ela vai ter razões de sobra pra isso. Ela me deu tempo demais e eu não fui capaz de entender que podia acabar...
-Mas você não tá reavaliando as coisas, filha? Tenta falar com ela. Pedaço não vai tirar e é melhor do que morrer na dúvida... - completa Regina.
Geraldo e Regina seguem conversando com Eva para animá-la. CORTA A CENA.

CENA 5: Ao final de sua consulta com Valentim, Victor chama Diogo.
-Amor, o doutor quer falar contigo. Acho que ele quer fazer algumas colocações sobre minha evolução no tratamento.
-Tá certo. Me espera aqui que vou tentar ser breve... - fala Diogo, entrando no consultório de Valentim.
-Então, doutor Valentim... tá querendo me passar recomendações sobre como lidar com o transtorno do Victor?
-Isso nós deixamos pra outra hora, Diogo. O assunto que tenho a tratar contigo é absolutamente sigiloso.
-Esse papo tá estranho. Tá, eu entendo que existe a questão da ética profissional... a não ser que não se trate do tratamento do Victor.
-Diogo, eu sei do seu passado. Sei que você teve de abandonar quem amava porque foi ameaçado.
Diogo se surpreende.
-Como é que você sabe disso, doutor?
-Sou investigador na polícia federal. Claro que meu trabalho de psiquiatra ajuda bastante nisso. O que eu tenho a fazer pra você hoje é uma proposta.
-Mas proposta do que, Valentim? Essas coisas estão no passado. Nunca soube quem estava por trás disso e sinceramente não acho bom remexer nisso... já estou com o Victor... e eu o amo.
-Diogo, você pode ser útil nas minhas investigações, acredite.
-Como?
-Suspeito que a pessoa que está por trás dessas ameaças e intimidações tenha sido responsável por outras coisas. Outros crimes, para ser mais específico...
-E você pode me falar sobre eles?
-Por enquanto não, Diogo. Mas vou te mantendo informado. Você topa colaborar comigo nas investigações?
-Topo. Mas como é que vou fazer isso? Digo... como é que vou poder te ajudar?
-Conversamos mais pra frente sobre isso. Agora é melhor você ir antes que Victor estranhe sua demora. Qualquer coisa você diz que eu estava passando recomendações pra lidar com ele, combinado?
-Combinado. Tamo junto.
-Ótimo!
Os dois apertam as mãos. CORTA A CENA.

CENA 6: Laura estranha a expressão de raiva em Mateus.
-Amor, tá acontecendo alguma coisa? Tá com essa cara de quem comeu e não gostou, parece que tá bravo com alguma coisa...
-E tou mesmo, Lau. Tem muita injustiça nesse mundo.
-Posso saber o motivo dessa cara amarrada, pelo menos?
-A vida não é justa, Laura. A gente se mata trabalhando, rala feito condenado pra chegar o primeiro bem nascido e ferrar com a vida de quem se esforça...
-Mateus... eu sinceramente espero estar entendendo errado isso que você tá falando. Onde cê tá querendo chegar com isso?
-Exatamente onde cê tá pensando. Chega de fingir que aguento essas merdas. Rafael roubou o lugar que era pra ser meu, meu!
-Eu não posso acreditar que depois de todo esse tempo você ainda veja as coisas dessa maneira, Mateus... esperava mais de você. Esperava um pingo que fosse de maturidade, mas pelo visto me enganei. Você vive me decepcionando...
-E eu não me decepciono nisso tudo, Laura? Você diz que sou eu o egoísta aqui, mas quando é que você, que é minha namorada, se coloca de verdade no meu lugar? Tudo o que você sabe fazer quando se trata de mim é julgar, apontar o dedo, condenar. Você acha justo? Tive minha atuação elogiada por toda crítica especializada na novela que acabou! Mas quem é que a emissora chamou pra ser o filho da protagonista na próxima novela das nove? O Rafael! Tudo porque ele é filho de gente famosa! Só por isso.
-Não te passa pela cabeça que o Rafael seja talentoso também, né? Ou você só lê as críticas que te elogiam? Ele foi tão elogiado quanto você, ou mais ainda...
-Você sempre defendendo quem me passa pra trás.
-Chega, Mateus! Chega dessa infantilidade! Você acha que ele tá preocupado em competir contigo ou com qualquer outro colega? O cara tá lá na Austrália, do lado do homem que ele ama e você achando que ele ia perder o tempo dele planejando uma maneira de te ofuscar? Claro que não! Ele tem uma vida pra viver! Ser feliz consome muito tempo, sabia?
-E você tá insinuando que eu não tenho vida?
-Tenho como pensar outra coisa? Você não passa uma semana sem se queixar de algo ou alguém. Sempre coloca a culpa nos outros. Assume a responsabilidade por você mesmo, pelo menos uma vez na vida! Ou então, vai ficar bem difícil pra nós dois. Eu não nasci pra conviver com gente covarde.
-Você acha que sou covarde, Laura? É isso mesmo que eu entendi? Você não me conhece mesmo...
-Tem razão, Mateus. Eu realmente não te conheço. Sabe por que? Porque você não me permite que eu te conheça de verdade.
-Isso significa que está tudo acabado entre nós?
-Não coloque palavras na minha boca, Mateus. Ainda não é pra tanto. Mas não sei, sinceramente, se vou aguentar por muito tempo essas suas paranoias e recalques. Agora cê me dá licença que eu vou pro meu quarto dormir. Hoje você fica no sofá, amanhã a gente conversa.
Laura parte para seu quarto enquanto Mateus fica inconformado. CORTA A CENA.

CENA 7: Bruno e Cláudio estão terminando o jantar e lavando a louça, quando Cláudio começa a conversar com o namorado.
-Sabe, Bruno... você quase não fala sobre seus pais. Eles estão bem lá em Coroados?
-Devem estar bem. Na verdade eu fico meio sem jeito de ligar pra eles e dizer que não consegui me estabelecer por aqui ainda, sabe?
-Mas por que essa vergonha?
-Eu não gosto do que inventei pra poder sair de lá de Coroados, amor... eles sabem que eu sempre sonhei em ser médico. Eu sei que não devia, mas disse que ia ser médico aqui no Rio, que ia fazer a faculdade pra me formar. Eu passei no vestibular, mas não tenho dinheiro pra pagar uma universidade. Não quero decepcionar meus pais. Ainda quero dar esse orgulho pra eles, ser alguém na vida...
-Você mentiu? Sinceramente, Bruno... eu não esperava isso de você. Você não me parece feliz com isso.
-E você tem razão, Cláudio... eu não fico feliz por isso. Mas a gente pode falar sobre tudo isso outra hora, né? Eles nem sabem que sou bissexual... talvez jamais me perdoem...
-Você se esconde deles, amor... acha isso justo?
-Por favor, Cláudio... tou exausto, quero dormir. A gente fala sobre isso depois...
Bruno vai ao quarto e Cláudio desconfia de seu namorado. CORTA A CENA.

CENA 8: Renata está na casa de Eva, chamada por Regina e Geraldo, que deixam as duas conversarem.
-Eu peço desculpas, Renata... não sabia que meus pais tinham te chamado aqui. Acho que eles querem nos ver juntas de novo, mas eu juro que não sabia de nada...
-Eu gosto muito deles, sabia? Você deveria valorizar mais seus pais, a sorte que tem...
-E nós duas, como ficamos?
-Não ficamos, Eva. Você fez sua escolha. Escolheu sua carreira...
-Eu não sei mais se fiz a escolha certa. Tá sendo muito difícil sem você, acredita em mim...
-Eu quero acreditar, Eva. Mas preciso de mais do que palavras... preciso de atitudes. Se você estiver disposta a me assumir pra todo mundo, quem sabe assim tenhamos ainda uma chance...
-Eu não sei se tou preparada...
-Não disse? Acho melhor eu ir embora agora, antes que perca a condução.
Renata parte e Eva fica triste. CORTA A CENA.

CENA 9: Vicente se prepara para dormir ao lado de Riva enquanto ela dorme um sono profundo. Ele está trocando de roupa quando percebe que Suzanne invade o quarto.
-Que foi dessa vez, Suzanne? O q ue é que você quer agora?
Suzanne se atira sobre Vicente, que está sem camisa.
-Você não entendeu ainda? Eu quero você!
Vicente se impacienta.
-Você tá louca? A Riva tá aqui! Você não tem respeito? Ela pode acordar... espera aí, você... dopou a Riva?
Vicente olha enfurecido para Suzanne. FIM DO CAPÍTULO 28.

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