CENA 1: Bruno permanece
paralisado diante de Cláudio, que o questiona.
-Pode me explicar o que foi
isso que eu acabei de ouvir?
Bruno gagueja, mas começa a
falar.
-M... meu pai. Veio me cobrar
presença e dinheiro. A gente acabou discutindo.
Cláudio desconfia.
-Continua falando, Bruno. Me
explica exatamente o que acabou de acontecer aqui...
-Você não tá acreditando em
mim? Poxa, Claudinho... nunca te dei motivos.
-Então você vai saber
explicar, não vai?
-Se você me deixar falar, com
certeza eu explico.
-Pois bem, prossiga.
-Como você já sabe, meus
pais passam por dificuldades. Meu pai sem poder trabalhar e minha mãe
sempre meio doente.
-Sei... continua.
-Então... ele me ligou
cobrando minha presença, dizendo que faz muito tempo que eu não vou
ver eles e que eles estão precisando de dinheiro. Só que ele
esquece que eu não sou a única família deles. Que não posso
sempre fazer tudo o tempo todo. Exige consideração, mas nunca me
estendeu a mão oferecendo o mínimo de apoio quando eu só pedi por
compreensão. Nunca tive coragem de assumir que também gosto de
caras pros meus pais, simplesmente porque toda vez que tentei falar
sobre sexo eu fui reprimido. Então eu acho meio descabido que ele só
lembre de ligar pra mim quando eles estão precisando de grana. E
ainda vem com esse papinho mole de consideração. Engraçado que ele
só lembra o que é consideração quando o bicho pega, no resto do
tempo esquece...
Cláudio acredita nas palavras
de Bruno.
-Mas por que você não falou
sobre isso antes, meu amor? Às vezes a gente acaba aguentando muita
merda sozinho por não se abrir com ninguém. Eu sou teu amigo, teu
namorado... pode desabafar comigo sempre que quiser, tá me ouvindo?
De quanto ele tá precisando?
-Ai, amor... desculpa não
trer dito antes. Mas é que não queria te ocupar com meus problemas.
-Seus problemas também são
meus... a gente resolve as coisas mais facilmente quando se une...
-Eu sei disso, amor. Mas não
pense que eu vou aceitar que seja você a mandar dinheiro pros meus
pais... esse dinheiro vai fazer falta pra você, vai fazer falta pra
gente.
-Sim, Bruno, mas raciocina
comigo: como é que você vai mandar dinheiro pra eles se ainda não
conseguiu um emprego? A gente dá um jeito... de quanto eles
precisam?
-De quatro mil reais...
-Amanhã eu vou no banco e
resolvo isso, tá? Daí você pode mandar esse dinheiro pra conta
corrente do seu pai. Ele tem conta corrente, não tem?
-Tem...
-Então tá resolvido. E nem
adianta discutir comigo. Amanhã a gente resolve essa questão.
Bruno se frustra por ter de
mentir a Cláudio. CORTA A CENA.
CENA 2: Já pela manhã,
recolhida em seu canto, Raquel relembra a conversa que teve com
Valentim e fala consigo mesma.
-Se o doutor soubesse que essa
mulher que eu conto as histórias é minha filha...
Raquel observa Suzanne e
Márcio, que dormem profundamente.
-O Márcio pode estar sendo
enganado a vida inteira por ela. Faz tudo o que ela pede, sempre
fez... e já se ferrou por isso... meu Deus! Fico me perguntando
quantas vezes minha própria filha me mentiu, me enganou...
Raquel segue observando os
dois dormirem e segue divagando consigo mesma.
-Mas não é possível... ela
foi uma criança afetuosa comigo e com o pai dela... não é
possível, meu Deus... não é possível.
Raquel vai preparar um café
para si e segue pensativa.
-Tenho esperança de que tudo
isso seja apenas um medo bobo meu. Falha de caráter talvez ela
tenha, mas... psicopata? Minha filha psicopata? Ainda me recuso a
crer nisso... se bem que... eles estão por toda parte. Ai, Deus...
essa dúvida ainda vai me botar é doida...
Raquel segue preparando o seu
café, pensativa. CORTA A CENA.
CENA 3: Durante café da
manhã, Vicente resolve falar com todos sobre seus planos de
casamento com Riva.
-Gente, eu tava pensando em já
ir marcando a data do casamento. O que você acha, Riva?
-A gente já vive como casado,
mas acho boa a ideia. Pra quando você tá pensando? Eu pensei que
assim que os meninos voltarem da Austrália, a gente podia fazer uma
cerimônia pequena, só pros familiares...
Vicente se espanta.
-Você acredita que pensei
exatamente a mesma coisa? Tou impressionado com a nossa sintonia...
-Vocês tem certeza que não
querem uma festa? Eu adoro ajudar na organização de eventos... -
fala Marion.
-Dessa vez vou discordar de
você, Marion... entendo o cuidado do Vicente. Vocês são atores
famosos e eu sou famosa por tabela. É quase um milagre que a gente
tenha conseguido manter nosso relacionamento todo esse tempo longe
dos holofotes... - opina Riva.
-Vou ser obrigada a concordar
com vocês... eu queria muito que fosse um evento lindo e cheio de
pompa, mas não tem como isso não chamar a atenção da imprensa...
- constata Marion.
-Vai ser melhor assim,
gente... nunca fui acostumada com luxo, ainda tou me adaptando nessa
vida de rica. Sem mencionar que... né gente, eu nunca tive muita
sorte com os homens, só o fato de ter o amor do Vicente e saber que
ele me ama pelo que sou já é algo que não tem preço na minha
vida. - fala Riva.
-Inclusive porque eu também
sou rico, logo não teria nenhum interesse que não fosse afetivo.
Aliás eu tava pensando numa coisa, Riva... você não quer vir morar
comigo? Eu posso mandar reformar minha casa ou mesmo vender e comprar
uma nova pra gente... - fala Vicente.
-Eu acho muito boa a ideia,
mas acho que não vou querer. Eu gosto de estar perto da família...
depois, acho que já me acostumei a morar nessa mansão. Mas claro
que posso pensar melhor se você se sente desconfortável com essa
situação... - continua Riva.
-De jeito nenhum eu me
sentiria desconfortável. Antes de te conhecer, sempre fui muito
amigo da Marion, não é Marion?
-Com certeza, Vicente. Você é
um dos poucos atores com quem trabalhei junto que fiz amizade pra
vida toda... - confirma Marion.
-Sendo assim não me incomoda
nem um pouco morar aqui. Estou entre amigos, estou em família. Nossa
família...
Riva e Vicente se beijam
apaixonadamente.
-Mas então fica assim: logo
que os meninos chegarem, agilizamos a papelada do casamento... -
sentencia Riva. CORTA A CENA.
CENA 4: Regina e Geraldo
percebem que Eva se acordou com uma expressão triste.
-Filha, não vai comer nada?
Nunca te vi sem apetite desse jeito... - constata Geraldo.
-Pois é, minha filha... isso
sem falar que você tá claramente triste. Quer desabafar com a
gente? - estimula Regina.
Eva resolve desabafar.
-Eu sou uma fraca, gente...
uma fraca. Vocês deviam se envergonhar de ter uma filha fraca como
eu. Sou ingrata, não tenho um pingo de gratidão pela vida
privilegiada que tenho com vocês me aceitando sempre...
Eva começa a chorar e é
abraçada pelos pais. Regina começa a falar.
-Para com isso, Eva. A gente
não faz mais que nossa obrigação de te acolher. Não te aceitamos
porque não temos de aceitar nada. Errados são os pais que só amam
os filhos se eles forem o que eles projetam...
-Sua mãe tá certa, filha.
Pare de se maltratar desse jeito. Você agiu de maneira errada com a
Renata sim, mas quem aqui nunca erra? - completa Geraldo.
-Você quer dizer o que eu não
fiz. Foi a minha falta de ação. Minha covardia... não tive coragem
de assumir pro público meu relacionamento com ela porque sou uma
fraca. Coloquei minha carreira em primeiro lugar e agora nada mais
faz tanto sentido pra mim. Essa coisa toda... fama, dinheiro... tudo
isso passa. Mas e o amor? O que a gente faz quando o amor da gente
vai embora?
Eva permanece a chorar,
inconsolável.
-Filha... por que você não
tenta se acertar com a Renata? Se você tá percebendo que precisa
fazer alguma coisa... - propõe Regina.
-Não sei nem se ela vai
querer me ouvir, mãe. E se não quiser ela vai ter razões de sobra
pra isso. Ela me deu tempo demais e eu não fui capaz de entender que
podia acabar...
-Mas você não tá
reavaliando as coisas, filha? Tenta falar com ela. Pedaço não vai
tirar e é melhor do que morrer na dúvida... - completa Regina.
Geraldo e Regina seguem
conversando com Eva para animá-la. CORTA A CENA.
CENA 5: Ao final de sua
consulta com Valentim, Victor chama Diogo.
-Amor, o doutor quer falar
contigo. Acho que ele quer fazer algumas colocações sobre minha
evolução no tratamento.
-Tá certo. Me espera aqui que
vou tentar ser breve... - fala Diogo, entrando no consultório de
Valentim.
-Então, doutor Valentim... tá
querendo me passar recomendações sobre como lidar com o transtorno
do Victor?
-Isso nós deixamos pra outra
hora, Diogo. O assunto que tenho a tratar contigo é absolutamente
sigiloso.
-Esse papo tá estranho. Tá,
eu entendo que existe a questão da ética profissional... a não ser
que não se trate do tratamento do Victor.
-Diogo, eu sei do seu passado.
Sei que você teve de abandonar quem amava porque foi ameaçado.
Diogo se surpreende.
-Como é que você sabe disso,
doutor?
-Sou investigador na polícia
federal. Claro que meu trabalho de psiquiatra ajuda bastante nisso. O
que eu tenho a fazer pra você hoje é uma proposta.
-Mas proposta do que,
Valentim? Essas coisas estão no passado. Nunca soube quem estava por
trás disso e sinceramente não acho bom remexer nisso... já estou
com o Victor... e eu o amo.
-Diogo, você pode ser útil
nas minhas investigações, acredite.
-Como?
-Suspeito que a pessoa que
está por trás dessas ameaças e intimidações tenha sido
responsável por outras coisas. Outros crimes, para ser mais
específico...
-E você pode me falar sobre
eles?
-Por enquanto não, Diogo. Mas
vou te mantendo informado. Você topa colaborar comigo nas
investigações?
-Topo. Mas como é que vou
fazer isso? Digo... como é que vou poder te ajudar?
-Conversamos mais pra frente
sobre isso. Agora é melhor você ir antes que Victor estranhe sua
demora. Qualquer coisa você diz que eu estava passando recomendações
pra lidar com ele, combinado?
-Combinado. Tamo junto.
-Ótimo!
Os dois apertam as mãos.
CORTA A CENA.
CENA 6: Laura estranha a
expressão de raiva em Mateus.
-Amor, tá acontecendo alguma
coisa? Tá com essa cara de quem comeu e não gostou, parece que tá
bravo com alguma coisa...
-E tou mesmo, Lau. Tem muita
injustiça nesse mundo.
-Posso saber o motivo dessa
cara amarrada, pelo menos?
-A vida não é justa, Laura.
A gente se mata trabalhando, rala feito condenado pra chegar o
primeiro bem nascido e ferrar com a vida de quem se esforça...
-Mateus... eu sinceramente
espero estar entendendo errado isso que você tá falando. Onde cê
tá querendo chegar com isso?
-Exatamente onde cê tá
pensando. Chega de fingir que aguento essas merdas. Rafael roubou o
lugar que era pra ser meu, meu!
-Eu não posso acreditar que
depois de todo esse tempo você ainda veja as coisas dessa maneira,
Mateus... esperava mais de você. Esperava um pingo que fosse de
maturidade, mas pelo visto me enganei. Você vive me decepcionando...
-E eu não me decepciono nisso
tudo, Laura? Você diz que sou eu o egoísta aqui, mas quando é que
você, que é minha namorada, se coloca de verdade no meu lugar? Tudo
o que você sabe fazer quando se trata de mim é julgar, apontar o
dedo, condenar. Você acha justo? Tive minha atuação elogiada por
toda crítica especializada na novela que acabou! Mas quem é que a
emissora chamou pra ser o filho da protagonista na próxima novela
das nove? O Rafael! Tudo porque ele é filho de gente famosa! Só por
isso.
-Não te passa pela cabeça
que o Rafael seja talentoso também, né? Ou você só lê as
críticas que te elogiam? Ele foi tão elogiado quanto você, ou mais
ainda...
-Você sempre defendendo quem
me passa pra trás.
-Chega, Mateus! Chega dessa
infantilidade! Você acha que ele tá preocupado em competir contigo
ou com qualquer outro colega? O cara tá lá na Austrália, do lado
do homem que ele ama e você achando que ele ia perder o tempo dele
planejando uma maneira de te ofuscar? Claro que não! Ele tem uma
vida pra viver! Ser feliz consome muito tempo, sabia?
-E você tá insinuando que eu
não tenho vida?
-Tenho como pensar outra
coisa? Você não passa uma semana sem se queixar de algo ou alguém.
Sempre coloca a culpa nos outros. Assume a responsabilidade por você
mesmo, pelo menos uma vez na vida! Ou então, vai ficar bem difícil
pra nós dois. Eu não nasci pra conviver com gente covarde.
-Você acha que sou covarde,
Laura? É isso mesmo que eu entendi? Você não me conhece mesmo...
-Tem razão, Mateus. Eu
realmente não te conheço. Sabe por que? Porque você não me
permite que eu te conheça de verdade.
-Isso significa que está tudo
acabado entre nós?
-Não coloque palavras na
minha boca, Mateus. Ainda não é pra tanto. Mas não sei,
sinceramente, se vou aguentar por muito tempo essas suas paranoias e
recalques. Agora cê me dá licença que eu vou pro meu quarto
dormir. Hoje você fica no sofá, amanhã a gente conversa.
Laura parte para seu quarto
enquanto Mateus fica inconformado. CORTA A CENA.
CENA 7: Bruno e Cláudio estão
terminando o jantar e lavando a louça, quando Cláudio começa a
conversar com o namorado.
-Sabe, Bruno... você quase
não fala sobre seus pais. Eles estão bem lá em Coroados?
-Devem estar bem. Na verdade
eu fico meio sem jeito de ligar pra eles e dizer que não consegui me
estabelecer por aqui ainda, sabe?
-Mas por que essa vergonha?
-Eu não gosto do que inventei
pra poder sair de lá de Coroados, amor... eles sabem que eu sempre
sonhei em ser médico. Eu sei que não devia, mas disse que ia ser
médico aqui no Rio, que ia fazer a faculdade pra me formar. Eu
passei no vestibular, mas não tenho dinheiro pra pagar uma
universidade. Não quero decepcionar meus pais. Ainda quero dar esse
orgulho pra eles, ser alguém na vida...
-Você mentiu? Sinceramente,
Bruno... eu não esperava isso de você. Você não me parece feliz
com isso.
-E você tem razão,
Cláudio... eu não fico feliz por isso. Mas a gente pode falar sobre
tudo isso outra hora, né? Eles nem sabem que sou bissexual... talvez
jamais me perdoem...
-Você se esconde deles,
amor... acha isso justo?
-Por favor, Cláudio... tou
exausto, quero dormir. A gente fala sobre isso depois...
Bruno vai ao quarto e Cláudio
desconfia de seu namorado. CORTA A CENA.
CENA 8: Renata está na casa
de Eva, chamada por Regina e Geraldo, que deixam as duas conversarem.
-Eu peço desculpas, Renata...
não sabia que meus pais tinham te chamado aqui. Acho que eles querem
nos ver juntas de novo, mas eu juro que não sabia de nada...
-Eu gosto muito deles, sabia?
Você deveria valorizar mais seus pais, a sorte que tem...
-E nós duas, como ficamos?
-Não ficamos, Eva. Você fez
sua escolha. Escolheu sua carreira...
-Eu não sei mais se fiz a
escolha certa. Tá sendo muito difícil sem você, acredita em mim...
-Eu quero acreditar, Eva. Mas
preciso de mais do que palavras... preciso de atitudes. Se você
estiver disposta a me assumir pra todo mundo, quem sabe assim
tenhamos ainda uma chance...
-Eu não sei se tou
preparada...
-Não disse? Acho melhor eu ir
embora agora, antes que perca a condução.
Renata parte e Eva fica
triste. CORTA A CENA.
CENA 9: Vicente se prepara
para dormir ao lado de Riva enquanto ela dorme um sono profundo. Ele
está trocando de roupa quando percebe que Suzanne invade o quarto.
-Que foi dessa vez, Suzanne? O
q ue é que você quer agora?
Suzanne se atira sobre
Vicente, que está sem camisa.
-Você não entendeu ainda? Eu
quero você!
Vicente se impacienta.
-Você tá louca? A Riva tá
aqui! Você não tem respeito? Ela pode acordar... espera aí,
você... dopou a Riva?
Vicente olha enfurecido para
Suzanne. FIM DO CAPÍTULO 28.
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