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sábado, 11 de junho de 2016

CAPÍTULO 24

CENA 1: O motorista da caminhonete se assusta e desce da caminhonete para verificar como estão os ocupantes do carro.
-Vocês estão bem, rapazes?
Rafael, se refazendo do susto, se volta para Marcelo.
-Marcelo, cê tá bem?
-Tou sim... tou inteiro, nem um arranhão. E você, Rafa?
-Tou tremendo, mas tou bem...
O motorista da caminhonete oferece ajuda.
-Vocês tem certeza de que não precisam de ajuda?
-Estamos bem... como você se chama? - fala Rafael.
-Claudionor.
-Certo, senhor Claudionor. Nós entraremos em contato para que o senhor possa ter seus prejuízos pagos, certo?
-Não se preocupe, rapaz... ei, você não é aquele ator da novela que acaba semana que vem? Minha filha é sua fã número um!
-Sou eu mesmo!
-Pode dar um autógrafo? Minha filha não vai acreditar quando eu disser que o Rafael Alves bateu na minha caminhonete e ainda deixou um autógrafo pra ela...
O motorista da caminhonete alcança papel e caneta a Rafael.
-Como ela se chama, seu Claudionor?
-Thaís.
-Certo... aqui está o autógrafo. Quanto aos danos na sua caminhonete, faço questão de bancar o conserto. Não aceito objeções... estou de viagem marcada amanhã para o exterior, mas vou deixar aqui o contato de minha mãe. - fala Rafael.
-Ah, a Marion Bittencourt. Minha esposa admira muito o trabalho de sua mãe, viu? Diga a ela que sentimos falta de vê-la na TV.
-Está certo. Espero que tenha uma boa noite na medida do possível, senhor Claudionor.
O guincho chega e leva o carro de Rafael. CORTA A CENA.

CENA 2: A noite passa e o dia amanhece. Mateus vê na TV a notícia sobre o acidente de Rafael.
O ator Rafael Alves e seu primo sofreram um acidente no início da madrugada. De acordo com o relato do ator e de testemunhas, o veículo perdeu os freios e acabou colidindo na caminhonete de Claudionor Silvino da Costa, de 47 anos. Nenhum dos ocupantes dos dois veículos se feriu com gravidade. Mais notícias ao decorrer da nossa programação” - fala a repórter.
Mateus aproveita que Laura está tomando banho e liga para “chefe”.
-Fala Mateus. Acabei de ver na TV a notícia do acidente e imagino o motivo dessa ligação.
-Ainda bem que imagina, né chefe? Significa que pelo menos um pouco de sanidade existe aí dentro.
-Olha aqui Mateus, você não tá podendo falar de sanidade. Seja objetivo, por favor.
-Você pode me explicar que espécie de incompetentes você contratou pra fazer o serviço? O Rafael escapou ileso da porcaria do acidente! Ele e o namoradinho dele, os dois!
-Eu bem que te avisei, Mateus. Você me pediu pra eu mandar meus homens darem um susto nele. O susto foi dado, não é isso que você queria?
-Claro que não era só isso, chefe! Você sabe muito bem que eu queria tirar ele de circulação.
-Ele não vai passar uma temporada no exterior? Aproveita esse tempo que ele tá fora e corre atrás do seu lugar na emissora, eu hein. Olha aqui, Mateus, eu já fiz foi muito por você, eu nem devia ter me metido numa treta que é sua. Quem dá as ordens aqui sou eu.
-Desculpe, chefe. Mas poxa vida! Aquele imbecil do Rafael tem o santo forte, mesmo...
-Que seja. Tou cansado de mimimi. Não foi do jeito que você esperava? Paciência. Mas não me responsabilize por isso. Eu fiz esse favor e fiz o melhor que pude.
-Como se isso não fosse me custar nenhum centavo.
-Eu te avisei desde o começo que isso ia ser descontado da sua grana, isso vai continuar e você nem pense em tentar me enrolar. Ficou bravinho? Problema é seu. A minha parte no acordo tá feita. E se feder pros meus homens você sabe pra quem vai sobrar...
-Eu não sei onde que eu tava com a minha cabeça quando fui cair nas suas chantagens, chefe...
-Você estava onde sempre esteve. Nas minhas mãos. Eu sei coisas demais sobre você. E é por isso que a sua vida me pertence. Agora me deixa em paz, valeu? Tenho trabalho de verdade pra fazer hoje...
Chefe desliga e Mateus bufa de raiva. CORTA A CENA.

CENA 3: Durante o café da manhã, Riva e Marion conversam com Rafael e Marcelo sobre o susto do dia anterior.
-Como é que seu carro foi ficar sem freio do nada, filho? - questiona Marion a Rafael.
-Não faço a mínima ideia... Não faz nem dois meses da última revisão...
-Sabe, eu posso até parecer paranoico com o que vou dizer, mas desconfio que isso possa ter sido uma sabotagem, mas felizmente escapamos ilesos... - fala Marcelo.
-Como assim, sabotagem? Quem é que ia fazer uma coisa dessas? - espanta-se Riva.
-Faz sentido... tem muita gente que trabalha nos bastidores da TV que fica com inveja de quem se destaca... - divaga Marion.
-Você acha melhor eu mandar a perícia pra verificar se teve sabotagem no meu carro, mãe? - questiona Rafael.
-Acho mais prudente, sim. Mas queridos, vocês vão hoje pra Austrália, precisam relaxar. Deixem comigo essas questões de chamar perícia pra examinar. - fala Marion.
-Não vejo a hora de relaxar um pouco. Foram meses e meses naquele ritmo louco de gravações e preciso de um tempo ao lado do meu amor... - fala Rafael.
-E eu tou numa expectativa bem grande. Nunca saí nem do estado, quanto mais do país... tudo isso vai ser como um sonho pra mim... - derrete-se Marcelo.
-Justamente por isso, meus queridos, eu não acho justo que eu incomode vocês durante a viagem se a perícia apontar qualquer coisa. Vocês hão de convir comigo que é melhor que vocês só saibam do resultado dela depois de voltarem ao Brasil, né? - continua Marion.
-Sem querer me meter, mas já me metendo... a Marion tá certa. Ainda mais que é a sua primeira viagem, filho... vocês tem todo o direito de aproveitarem esse tempo juntos... - pondera Riva.
CORTA A CENA.

CENA 4: Laura está tomando café da manhã com Mateus e ele percebe que ela não para de encará-lo.
-Iiih, o que foi, amor? Fica me olhando com essa cara.
-Eu não sei mais quem você é, Mateus.
-Como que não? Eu sou teu namorado, poxa! Nunca te escondo nada...
-Será que não me esconde, mesmo?
-Que papo esquisito, Lau... nunca te dei motivos pra pensar nada disso de mim...
-Será? E o que significa aquela conversa que você teve no celular agora pouco?
-Amor, não viaja... você tava dormindo, deve ter sonhado com alguma coisa.
-Não seja cínico, Mateus. Posso ver o seu celular, por favor?
-À vontade...
Mateus entrega o celular a Laura, que verifica que não há registro de chamada feita naquela manhã.
-Não entendo, Mateus. Tinha certeza que você falava com alguém enquanto eu acordava... você não apagou o registro, apagou?
-E por que eu apagaria, Laura?
-Não sei... talvez você tenha motivos. Mateus, eu não tou ficando doida. Eu tava me acordando e ouvindo com dificuldade, mas eu pude ouvir quando você chamava a pessoa do outro lado da linha de “chefe”. Quem é esse chefe, Mateus?
-Laura... eu não estava falando com ninguém. Será difícil colocar isso na sua cabeça?
-Você não tá metido com nada criminoso, tá, Mateus?
-Assim você me ofende, Laura! Quer saber? Vou dar uma volta pra espairecer. Não posso acreditar que no meu primeiro dia de férias você me venha com uma dessas...
Mateus deixa o apartamento furioso e Laura fica pensativa. CORTA A CENA.

CENA 5: Renata chega à casa de Eva e é recebida por Regina e Geraldo, que abrem para ela.
-A Eva tá acordada? - pergunta Renata aos dois.
-Sim, querida... está tomando café da manhã... imagino que você queira conversar com ela... - fala Regina.
Renata chega à mesa e Eva fica feliz por vê-la.
-Meu amor! Tava sentindo sua falta... - fala Eva. Renata permanece fria.
-Regina, Geraldo... vocês se incomodariam de nos deixar a sós? - pergunta Renata.
-Claro que não, Renata... a casa é sua. - fala Geraldo, deixando o ambiente com Regina.
-Nós precisamos ter uma conversa definitiva, Eva.
-Eu sei. Acabou o prazo, não é? Eu só espero que você lembre o quanto eu amo você...
-Ama mesmo? Ou ama mais a imagem que pode ostentar pra imprensa e pra mídia?
-Não compare as coisas, Renata... são completamente diferentes.
-Será mesmo que são? Eva, eu te dei um prazo pra pensar sobre tudo. E eu preciso de uma resposta.
-Você é tão egoísta de me pressionar desse jeito...
-E você, tá sendo o que? Egoísta! Não tente virar o jogo a seu favor. Mesmo porque eu nunca tive paciência nem disposição pra joguinhos. Quem gosta de joguinhos e de brincar de se esconder aqui é você. Vamos, eu preciso da resposta: você vai me assumir diante de todos?
-Eu não posso fazer isso agora, Renata. Minha carreira ainda não consolidou...
Renata começa a chorar e Eva também.
-Você sabe o que isso significa pra nós duas, não sabe?
-Eu sei. Eu não queria que fosse assim...
-Eu também não queria, Eva. Mas você escolheu. A nossa história precisa acabar aqui.
-Não tem como eu te pedir uma chance mais, né?
-Não, Eva. Eu já sofri e me cansei demais...
Renata beija a testa de Eva e as duas se abraçam, chorando.
-Eu não vou te abandonar, Eva. Quando a poeira baixar, vou estar por perto. Eu gosto de você... só que eu preciso de um amor livre. O seu amor nunca foi livre.
Renata deixa a casa de Eva. CORTA A CENA.

CENA 6: No consultório de Valentim, Victor está conversando com ele sobre seus progressos.
-Então, doutor... eu sinto que estou criando mais consciência das minhas próprias atitudes, mas não só das atitudes, mas principalmente dos pensamentos, entende? Só que mesmo assim eu ainda sinto muito medo e muita raiva dentro de mim... isso é normal?
-Claro que é, Victor. As medicações não fazem milagre, não tiram com a mão os sentimentos negativos que possam existir dentro de você.
-Mas eu queria poder me livrar deles...
-Sabe como você se livra deles?
-Como, doutor?
-Convivendo com eles...
-Não faz muito sentido pra mim. Eu pensei que pudesse me livrar de uma vez...
-Victor, esse será um processo lento e contínuo. Você não vai conseguir avançar nenhum passo se negar os próprios pensamentos e sentimentos negativos. Negação nunca foi bom caminho pra nada. Não se iluda, Victor: a negação finge solucionar um problema, quando na verdade o coloca para debaixo do tapete e isso em vez de melhorar esse problema, agrava. Pense nos seus sentimentos como se fossem água: uma vez que você represa esses sentimentos e pensamentos, essa água vai se acumulando na represa. Essa represa representa suas negações, sua recusa em enxergar essa água que corre. Fatalmente vai chegar um momento que essa represa não vai suportar a pressão de tanta água e... vai romper. Toda essa água acumulada vai varrer tudo o que encontrar pelo caminho. Entende melhor agora? É preciso conviver com suas sombras, aprender a acolher os seus defeitos em vez de negar esses defeitos. Isso já é meio caminho andado para sua total melhora...
-Você está certo, mas fico com medo, doutor Valentim. Medo de que o Diogo se decepcione comigo se eu fraquejar.
-Quem é que está realmente com medo de se decepcionar aqui, Victor? O Diogo sabe das suas dificuldades e é graças a ele que você topou se tratar. Você percebe que é você o seu próprio algoz? É você quem se cobra em excesso. O seu medo não é decepcionar seu namorado: o seu medo é não ser perfeito como gostaria de ser...
-Fico com a impressão de que a qualquer momento o Diogo vai se cansar das minhas loucuras e me abandonar, como todos fizeram. Como minha família ainda viva vez: me deixou pra trás, minimizou minha dor, meus problemas...
-Você vai precisar trabalhar melhor esses traumas dentro de você. Você vai precisar de terapia, para poder desabafar melhor. Não me sinto competente para isso porque sou psiquiatra... é área médica.
-Mas você disse que talvez eu não necessite de um terapeuta.
-Pode ser que não precise. Mas você precisa me prometer que se sentir que não tá conseguindo dar conta de tudo sozinho com o tratamento e com suas visitas a mim, vem direto me dizer. Assim eu vou poder te indicar bons terapeutas.
-Eu confio na minha força, doutor. Eu sei que parece idiota dizer isso, mas quase tudo o que aprendi nessa vida foi sozinho. Tive de amadurecer muito cedo.
-Talvez por isso algumas partes mais infantis suas tenham ficado represadas, caladas, escondidas, ocultas. Já parou pra pensar por esse lado?
-Você fala como se eu fosse o culpado pelo meu transtorno.
-De forma alguma. Não pense isso de mim nem de você, Victor. Mesmo que você tivesse passado por experiências diferentes, esse transtorno apareceria cedo ou tarde. Qualquer coisa serviria de gatilho. Talvez a única coisa que mudasse fosse a forma como você estaria lidando com os altos e baixos desse transtorno, mas eles aconteceriam de qualquer forma.
-É que é difícil esquecer do passado, doutor Valentim... mesmo.
-Ninguém disse que é fácil. Mas a vida acontece quando, mesmo?
-No presente.
-Exatamente. No presente você tem uma casa boa e um cara que te ama. Foca nisso, sabe? Se quiser casar, planeja as coisas pra vocês. Vive pensando em melhorar pra você mesmo, não para ele. Mas veja Diogo como alguém que vai ficar feliz a cada sorriso que você der, a cada passo que você conseguir dar em direção ao equilíbrio...
-Faz sentido...
-Bem, querido. Nosso tempo acabou. Nos vemos na próxima semana?
-Com certeza!
-Ótimo. Fique tranquilo e me mantenha informado sobre qualquer coisa.
Victor deixa o consultório. CORTA A CENA.

CENA 7: Mara, em conversa com Laura, faz suposições.
-Tudo isso que você me contou parece bastante suspeito, Laura.
-Eu sei... aliás, peço desculpa por ter te chamado pra vir justo hoje aqui na minha casa...
-Tudo bem, Laura. Faz parte. Mas sabe o que eu acho, sinceramente?
-Que o Mateus possa ter algo com o acidente do Rafa?
-Eu tava buscando um jeito de dizer isso, Laura... mas já que você desconfia do mesmo...
-Será muito imprudente se a gente falar isso pro Valentim?
-De jeito nenhum, querida! Eu estava pensando em ligar pra ele agora mesmo...
Mara liga para Valentim, que atende prontamente.
-Fala, Mara.
-Então, Valentim... tou aqui na casa da Laura e ela me contou sobre umas suspeitas que tem em relação ao Mateus e eu sinceramente acredito que possam ter fundamento.
-Sobre o que, exatamente? - questiona Valentim.
-Sobre a possível participação do Mateus no acidente do Rafael ontem.
-Vocês estão começando a pensar como se tudo fosse teoria da conspiração. Um acidente às vezes é só um acidente. Se ninguém levar o carro do Rafael para perícia, nós sequer podemos investigar sem permissão judicial...
CORTA A CENA.

CENA 8: Com a tarde já avançada, Rafael e Marcelo embarcam no carro de Marion, acompanhados da família, em direção ao aeroporto.
-Mal posso acreditar que a gente vai pra fora do país... às vezes tudo isso parece um sonho, Rafa... - fala Marcelo.
-Mãe, você não avisou a Mariana que a hora da gente ir pro aeroporto já tinha chegado? Onde é que essa garota se enfiou? - pergunta Rafael.
-Deve estar se maquiando, filho. - fala Marion.
-Gente, isso aqui não é nenhum evento de gala, que tanto essa garota se maquia? - protesta Rafael.
Mariana chega ao carro.
-Eu ouvi essa baboseira, viu? Você não é mulher e nunca vai entender, maninho... - descontrai Mariana.
-Vamos então, mãe? - fala Rafael.
-Vamos. Rumo ao aeroporto! - FIM DO CAPÍTULO 24.

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