CENA 1: O motorista da
caminhonete se assusta e desce da caminhonete para verificar como
estão os ocupantes do carro.
-Vocês estão bem, rapazes?
Rafael, se refazendo do susto,
se volta para Marcelo.
-Marcelo, cê tá bem?
-Tou sim... tou inteiro, nem
um arranhão. E você, Rafa?
-Tou tremendo, mas tou bem...
O motorista da caminhonete
oferece ajuda.
-Vocês tem certeza de que não
precisam de ajuda?
-Estamos bem... como você se
chama? - fala Rafael.
-Claudionor.
-Certo, senhor Claudionor. Nós
entraremos em contato para que o senhor possa ter seus prejuízos
pagos, certo?
-Não se preocupe, rapaz...
ei, você não é aquele ator da novela que acaba semana que vem?
Minha filha é sua fã número um!
-Sou eu mesmo!
-Pode dar um autógrafo? Minha
filha não vai acreditar quando eu disser que o Rafael Alves bateu na
minha caminhonete e ainda deixou um autógrafo pra ela...
O motorista da caminhonete
alcança papel e caneta a Rafael.
-Como ela se chama, seu
Claudionor?
-Thaís.
-Certo... aqui está o
autógrafo. Quanto aos danos na sua caminhonete, faço questão de
bancar o conserto. Não aceito objeções... estou de viagem marcada
amanhã para o exterior, mas vou deixar aqui o contato de minha mãe.
- fala Rafael.
-Ah, a Marion Bittencourt.
Minha esposa admira muito o trabalho de sua mãe, viu? Diga a ela que
sentimos falta de vê-la na TV.
-Está certo. Espero que tenha
uma boa noite na medida do possível, senhor Claudionor.
O guincho chega e leva o carro
de Rafael. CORTA A CENA.
CENA 2: A noite passa e o dia
amanhece. Mateus vê na TV a notícia sobre o acidente de Rafael.
“O ator Rafael Alves e
seu primo sofreram um acidente no início da madrugada. De acordo com
o relato do ator e de testemunhas, o veículo perdeu os freios e
acabou colidindo na caminhonete de Claudionor Silvino da Costa, de 47
anos. Nenhum dos ocupantes dos dois veículos se feriu com gravidade.
Mais notícias ao decorrer da nossa programação” - fala a
repórter.
Mateus aproveita que Laura
está tomando banho e liga para “chefe”.
-Fala Mateus. Acabei de ver na
TV a notícia do acidente e imagino o motivo dessa ligação.
-Ainda bem que imagina, né
chefe? Significa que pelo menos um pouco de sanidade existe aí
dentro.
-Olha aqui Mateus, você não
tá podendo falar de sanidade. Seja objetivo, por favor.
-Você pode me explicar que
espécie de incompetentes você contratou pra fazer o serviço? O
Rafael escapou ileso da porcaria do acidente! Ele e o namoradinho
dele, os dois!
-Eu bem que te avisei, Mateus.
Você me pediu pra eu mandar meus homens darem um susto nele. O susto
foi dado, não é isso que você queria?
-Claro que não era só isso,
chefe! Você sabe muito bem que eu queria tirar ele de circulação.
-Ele não vai passar uma
temporada no exterior? Aproveita esse tempo que ele tá fora e corre
atrás do seu lugar na emissora, eu hein. Olha aqui, Mateus, eu já
fiz foi muito por você, eu nem devia ter me metido numa treta que é
sua. Quem dá as ordens aqui sou eu.
-Desculpe, chefe. Mas poxa
vida! Aquele imbecil do Rafael tem o santo forte, mesmo...
-Que seja. Tou cansado de
mimimi. Não foi do jeito que você esperava? Paciência. Mas não me
responsabilize por isso. Eu fiz esse favor e fiz o melhor que pude.
-Como se isso não fosse me
custar nenhum centavo.
-Eu te avisei desde o começo
que isso ia ser descontado da sua grana, isso vai continuar e você
nem pense em tentar me enrolar. Ficou bravinho? Problema é seu. A
minha parte no acordo tá feita. E se feder pros meus homens você
sabe pra quem vai sobrar...
-Eu não sei onde que eu tava
com a minha cabeça quando fui cair nas suas chantagens, chefe...
-Você estava onde sempre
esteve. Nas minhas mãos. Eu sei coisas demais sobre você. E é por
isso que a sua vida me pertence. Agora me deixa em paz, valeu? Tenho
trabalho de verdade pra fazer hoje...
Chefe desliga e Mateus bufa de
raiva. CORTA A CENA.
CENA 3: Durante o café da
manhã, Riva e Marion conversam com Rafael e Marcelo sobre o susto do
dia anterior.
-Como é que seu carro foi
ficar sem freio do nada, filho? - questiona Marion a Rafael.
-Não faço a mínima ideia...
Não faz nem dois meses da última revisão...
-Sabe, eu posso até parecer
paranoico com o que vou dizer, mas desconfio que isso possa ter sido
uma sabotagem, mas felizmente escapamos ilesos... - fala Marcelo.
-Como assim, sabotagem? Quem é
que ia fazer uma coisa dessas? - espanta-se Riva.
-Faz sentido... tem muita
gente que trabalha nos bastidores da TV que fica com inveja de quem
se destaca... - divaga Marion.
-Você acha melhor eu mandar a
perícia pra verificar se teve sabotagem no meu carro, mãe? -
questiona Rafael.
-Acho mais prudente, sim. Mas
queridos, vocês vão hoje pra Austrália, precisam relaxar. Deixem
comigo essas questões de chamar perícia pra examinar. - fala
Marion.
-Não vejo a hora de relaxar
um pouco. Foram meses e meses naquele ritmo louco de gravações e
preciso de um tempo ao lado do meu amor... - fala Rafael.
-E eu tou numa expectativa bem
grande. Nunca saí nem do estado, quanto mais do país... tudo isso
vai ser como um sonho pra mim... - derrete-se Marcelo.
-Justamente por isso, meus
queridos, eu não acho justo que eu incomode vocês durante a viagem
se a perícia apontar qualquer coisa. Vocês hão de convir comigo
que é melhor que vocês só saibam do resultado dela depois de
voltarem ao Brasil, né? - continua Marion.
-Sem querer me meter, mas já
me metendo... a Marion tá certa. Ainda mais que é a sua primeira
viagem, filho... vocês tem todo o direito de aproveitarem esse tempo
juntos... - pondera Riva.
CORTA A CENA.
CENA 4: Laura está tomando
café da manhã com Mateus e ele percebe que ela não para de
encará-lo.
-Iiih, o que foi, amor? Fica
me olhando com essa cara.
-Eu não sei mais quem você
é, Mateus.
-Como que não? Eu sou teu
namorado, poxa! Nunca te escondo nada...
-Será que não me esconde,
mesmo?
-Que papo esquisito, Lau...
nunca te dei motivos pra pensar nada disso de mim...
-Será? E o que significa
aquela conversa que você teve no celular agora pouco?
-Amor, não viaja... você
tava dormindo, deve ter sonhado com alguma coisa.
-Não seja cínico, Mateus.
Posso ver o seu celular, por favor?
-À vontade...
Mateus entrega o celular a
Laura, que verifica que não há registro de chamada feita naquela
manhã.
-Não entendo, Mateus. Tinha
certeza que você falava com alguém enquanto eu acordava... você
não apagou o registro, apagou?
-E por que eu apagaria, Laura?
-Não sei... talvez você
tenha motivos. Mateus, eu não tou ficando doida. Eu tava me
acordando e ouvindo com dificuldade, mas eu pude ouvir quando você
chamava a pessoa do outro lado da linha de “chefe”. Quem é esse
chefe, Mateus?
-Laura... eu não estava
falando com ninguém. Será difícil colocar isso na sua cabeça?
-Você não tá metido com
nada criminoso, tá, Mateus?
-Assim você me ofende, Laura!
Quer saber? Vou dar uma volta pra espairecer. Não posso acreditar
que no meu primeiro dia de férias você me venha com uma dessas...
Mateus deixa o apartamento
furioso e Laura fica pensativa. CORTA A CENA.
CENA 5: Renata chega à casa
de Eva e é recebida por Regina e Geraldo, que abrem para ela.
-A Eva tá acordada? -
pergunta Renata aos dois.
-Sim, querida... está tomando
café da manhã... imagino que você queira conversar com ela... -
fala Regina.
Renata chega à mesa e Eva
fica feliz por vê-la.
-Meu amor! Tava sentindo sua
falta... - fala Eva. Renata permanece fria.
-Regina, Geraldo... vocês se
incomodariam de nos deixar a sós? - pergunta Renata.
-Claro que não, Renata... a
casa é sua. - fala Geraldo, deixando o ambiente com Regina.
-Nós precisamos ter uma
conversa definitiva, Eva.
-Eu sei. Acabou o prazo, não
é? Eu só espero que você lembre o quanto eu amo você...
-Ama mesmo? Ou ama mais a
imagem que pode ostentar pra imprensa e pra mídia?
-Não compare as coisas,
Renata... são completamente diferentes.
-Será mesmo que são? Eva, eu
te dei um prazo pra pensar sobre tudo. E eu preciso de uma resposta.
-Você é tão egoísta de me
pressionar desse jeito...
-E você, tá sendo o que?
Egoísta! Não tente virar o jogo a seu favor. Mesmo porque eu nunca
tive paciência nem disposição pra joguinhos. Quem gosta de
joguinhos e de brincar de se esconder aqui é você. Vamos, eu
preciso da resposta: você vai me assumir diante de todos?
-Eu não posso fazer isso
agora, Renata. Minha carreira ainda não consolidou...
Renata começa a chorar e Eva
também.
-Você sabe o que isso
significa pra nós duas, não sabe?
-Eu sei. Eu não queria que
fosse assim...
-Eu também não queria, Eva.
Mas você escolheu. A nossa história precisa acabar aqui.
-Não tem como eu te pedir uma
chance mais, né?
-Não, Eva. Eu já sofri e me
cansei demais...
Renata beija a testa de Eva e
as duas se abraçam, chorando.
-Eu não vou te abandonar,
Eva. Quando a poeira baixar, vou estar por perto. Eu gosto de você...
só que eu preciso de um amor livre. O seu amor nunca foi livre.
Renata deixa a casa de Eva.
CORTA A CENA.
CENA 6: No consultório de
Valentim, Victor está conversando com ele sobre seus progressos.
-Então, doutor... eu sinto
que estou criando mais consciência das minhas próprias atitudes,
mas não só das atitudes, mas principalmente dos pensamentos,
entende? Só que mesmo assim eu ainda sinto muito medo e muita raiva
dentro de mim... isso é normal?
-Claro que é, Victor. As
medicações não fazem milagre, não tiram com a mão os sentimentos
negativos que possam existir dentro de você.
-Mas eu queria poder me livrar
deles...
-Sabe como você se livra
deles?
-Como, doutor?
-Convivendo com eles...
-Não faz muito sentido pra
mim. Eu pensei que pudesse me livrar de uma vez...
-Victor, esse será um
processo lento e contínuo. Você não vai conseguir avançar nenhum
passo se negar os próprios pensamentos e sentimentos negativos.
Negação nunca foi bom caminho pra nada. Não se iluda, Victor: a
negação finge solucionar um problema, quando na verdade o coloca
para debaixo do tapete e isso em vez de melhorar esse problema,
agrava. Pense nos seus sentimentos como se fossem água: uma vez que
você represa esses sentimentos e pensamentos, essa água vai se
acumulando na represa. Essa represa representa suas negações, sua
recusa em enxergar essa água que corre. Fatalmente vai chegar um
momento que essa represa não vai suportar a pressão de tanta água
e... vai romper. Toda essa água acumulada vai varrer tudo o que
encontrar pelo caminho. Entende melhor agora? É preciso conviver com
suas sombras, aprender a acolher os seus defeitos em vez de negar
esses defeitos. Isso já é meio caminho andado para sua total
melhora...
-Você está certo, mas fico
com medo, doutor Valentim. Medo de que o Diogo se decepcione comigo
se eu fraquejar.
-Quem é que está realmente
com medo de se decepcionar aqui, Victor? O Diogo sabe das suas
dificuldades e é graças a ele que você topou se tratar. Você
percebe que é você o seu próprio algoz? É você quem se cobra em
excesso. O seu medo não é decepcionar seu namorado: o seu medo é
não ser perfeito como gostaria de ser...
-Fico com a impressão de que
a qualquer momento o Diogo vai se cansar das minhas loucuras e me
abandonar, como todos fizeram. Como minha família ainda viva vez: me
deixou pra trás, minimizou minha dor, meus problemas...
-Você vai precisar trabalhar
melhor esses traumas dentro de você. Você vai precisar de terapia,
para poder desabafar melhor. Não me sinto competente para isso
porque sou psiquiatra... é área médica.
-Mas você disse que talvez eu
não necessite de um terapeuta.
-Pode ser que não precise.
Mas você precisa me prometer que se sentir que não tá conseguindo
dar conta de tudo sozinho com o tratamento e com suas visitas a mim,
vem direto me dizer. Assim eu vou poder te indicar bons terapeutas.
-Eu confio na minha força,
doutor. Eu sei que parece idiota dizer isso, mas quase tudo o que
aprendi nessa vida foi sozinho. Tive de amadurecer muito cedo.
-Talvez por isso algumas
partes mais infantis suas tenham ficado represadas, caladas,
escondidas, ocultas. Já parou pra pensar por esse lado?
-Você fala como se eu fosse o
culpado pelo meu transtorno.
-De forma alguma. Não pense
isso de mim nem de você, Victor. Mesmo que você tivesse passado por
experiências diferentes, esse transtorno apareceria cedo ou tarde.
Qualquer coisa serviria de gatilho. Talvez a única coisa que mudasse
fosse a forma como você estaria lidando com os altos e baixos desse
transtorno, mas eles aconteceriam de qualquer forma.
-É que é difícil esquecer
do passado, doutor Valentim... mesmo.
-Ninguém disse que é fácil.
Mas a vida acontece quando, mesmo?
-No presente.
-Exatamente. No presente você
tem uma casa boa e um cara que te ama. Foca nisso, sabe? Se quiser
casar, planeja as coisas pra vocês. Vive pensando em melhorar pra
você mesmo, não para ele. Mas veja Diogo como alguém que vai ficar
feliz a cada sorriso que você der, a cada passo que você conseguir
dar em direção ao equilíbrio...
-Faz sentido...
-Bem, querido. Nosso tempo
acabou. Nos vemos na próxima semana?
-Com certeza!
-Ótimo. Fique tranquilo e me
mantenha informado sobre qualquer coisa.
Victor deixa o consultório.
CORTA A CENA.
CENA 7: Mara, em conversa com
Laura, faz suposições.
-Tudo isso que você me contou
parece bastante suspeito, Laura.
-Eu sei... aliás, peço
desculpa por ter te chamado pra vir justo hoje aqui na minha casa...
-Tudo bem, Laura. Faz parte.
Mas sabe o que eu acho, sinceramente?
-Que o Mateus possa ter algo
com o acidente do Rafa?
-Eu tava buscando um jeito de
dizer isso, Laura... mas já que você desconfia do mesmo...
-Será muito imprudente se a
gente falar isso pro Valentim?
-De jeito nenhum, querida! Eu
estava pensando em ligar pra ele agora mesmo...
Mara liga para Valentim, que
atende prontamente.
-Fala, Mara.
-Então, Valentim... tou aqui
na casa da Laura e ela me contou sobre umas suspeitas que tem em
relação ao Mateus e eu sinceramente acredito que possam ter
fundamento.
-Sobre o que, exatamente? -
questiona Valentim.
-Sobre a possível
participação do Mateus no acidente do Rafael ontem.
-Vocês estão começando a
pensar como se tudo fosse teoria da conspiração. Um acidente às
vezes é só um acidente. Se ninguém levar o carro do Rafael para
perícia, nós sequer podemos investigar sem permissão judicial...
CORTA A CENA.
CENA 8: Com a tarde já
avançada, Rafael e Marcelo embarcam no carro de Marion, acompanhados
da família, em direção ao aeroporto.
-Mal posso acreditar que a
gente vai pra fora do país... às vezes tudo isso parece um sonho,
Rafa... - fala Marcelo.
-Mãe, você não avisou a
Mariana que a hora da gente ir pro aeroporto já tinha chegado? Onde
é que essa garota se enfiou? - pergunta Rafael.
-Deve estar se maquiando,
filho. - fala Marion.
-Gente, isso aqui não é
nenhum evento de gala, que tanto essa garota se maquia? - protesta
Rafael.
Mariana chega ao carro.
-Eu ouvi essa baboseira, viu?
Você não é mulher e nunca vai entender, maninho... - descontrai
Mariana.
-Vamos então, mãe? - fala
Rafael.
-Vamos. Rumo ao aeroporto! -
FIM DO CAPÍTULO 24.
Nenhum comentário:
Postar um comentário