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quarta-feira, 22 de junho de 2016

CAPÍTULO 33

CENA 1: Cláudio permanece atônito diante daquele que na sua adolescência foi seu amor platônico.
-Cláudio... o que está acontecendo? Você tava chorando?
Cláudio respira fundo antes de responder Guilherme.
-Não importa mais. Estar aqui diante do mar me acalma. Mas o que você tá fazendo aqui?
-Esqueceu que eu moro em Copacabana? Vamos, Cláudio... não precisa ter medo de mim. Pode falar o que tá acontecendo, se quiser.
-Guilherme, você vá me desculpar, mas não tem muito cabimento eu falar sobre mim pra você. Não depois de toda a humilhação que você me fez passar quando fui apaixonado por você, tudo pra manter a sua imagem de falso hetero. Eu não esqueci disso.
-Me perdoa, Cláudio... éramos tão jovens! Eu não sabia o que fazer diante de tudo aquilo...
-Já perdoei há muito tempo, Guilherme. Não gosto de levar rancores comigo. Só não me perdoei por ter me sujeitado a tanta humilhação, não me perdoo por ter rastejado por você durante um ano da minha vida... um ano que eu joguei fora.
-Assim você me faz sentir culpa pelo que te fiz passar.
-Não se sinta culpado. Eu entrei naquilo porque de alguma forma eu quis. Eu te amei.
-E não ama mais?
-Guilherme, por favor... esse tipo de pergunta agora, não. Me respeite.
-Eu gosto muito de você. Queria poder ser seu amigo, falo isso de coração. Me corta o coração te ver triste desse jeito, sabia disso?
-Pior que apesar de tudo o que vivemos, eu sei que você tá sendo sincero quando me diz isso.
-Pode desbafar comigo, eu prometo que não vou te julgar.
-Eu não sei se devo, Guilherme... mas pensando bem, meu melhor amigo não quis me ouvir quando precisei desabafar...
-E você precisa colocar o que te aflige pra fora... acertei?
-De certa forma, sim... só espero não me arrepender disso depois.
-Eu te dou a minha palavra: você não vai se arrepender. Confia em mim...
-Tá certo... eu descobri que o Bruno, que era meu namorado, mas agora é meu ex, teve um caso com o Mateus. Você lembra quem é o Mateus, certo? Ele estudou com a gente no ensino médio...
-Lembro sim... o que tem ele?
-Daí que ele é namorado há alguns anos da Laura. A Laura, como você já sabe, é minha melhor amiga. Me deu moradia quando perdi meus pais naquele acidente...
-Gente, isso é grave... o que você vai fazer?
-Eu não sei, Guilherme. Tou de mãos atadas. Não posso chegar do nada pra ela com essa verdade horrorosa. Não sei se ela me perdoaria. Mas por outro lado eu temo que ela descubra de outra forma e saiba que eu já sabia... de qualquer forma, eu saio perdendo...
Cláudio segue desabafando com Guilherme. CORTA A CENA.

CENA 2: Márcio tenta conter Suzanne, que está furiosa com o arroubo de sua mãe.
-Suzanne, eu já disse pra se acalmar! Nada que a dona Raquel disse é mentira.
-É, Márcio, mas ela não tinha nada que se meter nos nossos planos!
-Nossos planos? Esses planos quase sempre são seus! Eu só entro neles por amor a você.
-Não venha você se fazer de inocente agora, Márcio. Desde que a gente é garoto você entra em tudo o que eu tramei. Vai querer tirar o corpo fora agora?
-Eu não disse isso, Suzanne.
-Acho bom.
-Só que a gente precisa tomar mais cuidado! Sua mãe tá começando a saber demais...
-Você está certo. Talvez seja a hora de tomar alguma providência drástica pra calar a boca da dona Raquel de uma vez por todas.
Márcio fica perplexo.
-Você tá ficando louca? Suzanne, a dona Raquel é sua mãe!
-E daí? Não importa mais isso... ela pode ser um problema pra gente...
-Você não vai fazer nada contra sua mãe, tá me ouvindo? Eu gosto muito dela. Se não fosse ela me acolhendo ainda garoto quando vim sem eira nem beira aqui pro Rio, eu nem sei onde eu estaria agora. Ela me deu casa, comida, amor... você deveria ter um pouquinho mais de gratidão pelo que a sua mãe sempre fez por nós...
-Não me venha você com esse papinho mole de gratidão. Gratidão coloca comida na mesa? Gratidão se converte em reais, em dólares, em euros? Acho que não! Nosso plano é ficarmos ricos!
-Será mesmo, Suzanne? Você tá rica há um bom tempo e eu aqui, sempre à sua sombra.
-Márcio, você sempre aceitou as regras desse jogo do jeito que eu coloquei. O que foi que te deu agora? Tá com peninha dos patos?
-Eu tenho um filho com a Riva, Suzanne! Você não percebe a dimensão disso?
-Tou pouco ligando pra isso. Até outro dia você não dava a mínima pra nada disso.
-Não dava a mínima porque você me deixou sem saída. Disse que eu nunca mais ia te ver se não deixasse a Riva sozinha quando ela engravidou. Será que eu vou ter que refrescar sua memória justo agora?
-Mas você sabe muito bem que tive meus motivos. Nosso filho nasceu morto seis meses antes. Você acharia justo me abandonar por um outro filho?
-Será mesmo que o menino morreu? Até poucos dias antes dele nascer, você me dizia que não queria ele... pode muito bem ter dado um sumiço nele. Isso se não foi você mesma que matou nosso bebê...
-Eu posso ser qualquer coisa nessa vida, Márcio... mas não sou assassina. Nunca fui e nunca vou ser.
-Desculpe... Suzanne, eu acho mais prudente a gente recuar. Você precisa dar um tempo, parar de alimentar essas intrigas entre o Vicente e a Riva. Sua mãe já tá pra lá de desconfiada...
-Pior que com esse seu súbito moralismo, você tem razão. Tá me saindo melhor estrategista que a encomenda, viu?
Suzanne beija Márcio e eles se amam com vontade. CORTA A CENA.

CENA 3: Ainda na companhia de teatro, Laura pede para conversar a sós com Mara e Valentim.
-Você parece preocupada, Laura... tá sabendo de alguma novidade? - questiona Valentim.
-Ainda não, gente... mas na verdade eu tou começando a desconfiar de outra coisa do Mateus... não sei se isso exclui a possibilidade dele estar envolvido com alguma organização criminosa ou não, mas... em todo caso, acho que é interessante falar a vocês...
-Fala então, querida... você parece aflita. - fala Mara.
-Eu tou começando a achar que o Mateus tem amante. Mesmo depois de ter encerrado os trabalhos da novela, ele continua saindo em determinados dias. Fala que é pra dar uma volta e espairecer... pelo menos trocou a desculpa, já que não podia mais se apoiar no diretor...
-E se não for desculpa? De repente ele realmente tá saindo pra espairecer... - fala Valentim. Mara se surpreende com ingenuidade do parceiro.
-Francamente, Valentim! Eu estou diante de um investigador ou de um leigo? De um psiquiatra ou de um psicanalista? - questiona Mara.
-Mas gente, não dá pra sempre esperar o pior das pessoas també... - tenta se justificar Valentim.
-Isso é ótimo na teoria, meu querido, mas não condiz com nosso trabalho. Precisamos sim esperar o pior de quem estamos na cola, investigando... - continua Mara.
-Gente, por favor, não vão começar a brigar agora por causa disso, né? - fala Laura.
-Fique tranquila, Laura... nós sempre temos essas pequenas discussões e elas não são brigas. Mas você quer que nós investiguemos um pouco mais a fundo essas saídas misteriosas do Mateus? - questiona Mara.
-Eu gostaria, sim... mas se vocês não puderem, também posso fazer minha parte, por conta própria...
-Não, Laura... você não precisa se arriscar, não agora. Vamos dar um jeito de ir mais a fundo nisso... - sentencia Valentim. CORTA A CENA.

CENA 4: Mateus chega em casa e percebe que Laura ainda não chegou do teatro, assim resolvendo ligar para ela.
-Oi amor, o ensaio demorou hoje? Cheguei em casa e não te encontrei aqui...
-Foi um pouquinho mais adiante... mas já tou chegando em casa, tou subindo na moto agora...
-Tá certo... se cuida na direção. Beijo, te amo.
Mateus desliga e pega novamente o celular para tentar ligar para “Chefe”. Porém, depois de várias chamadas, o telefone não é atendido.
-Só o que me faltava. Eu precisando falar com o chefe sobre esse plano dele roubar o banco e ele não me atende... quero nem pensar no que esse louco pode estar aprontando... se bem que ele pode estar no banho, fazendo alguma coisa... ah, quer saber? Vou tentar ligar mais uma vez... quem sabe agora eu dou sorte.
Mateus liga para “Chefe” mais uma vez e após o telefone tocar 8 vezes, cai novamente na caixa de mensagens. Mateus resolve deixar mensagem de voz.
-Pelo amor de Deus, chefe! Estou precisando falar com você o quanto antes! Agora não vai mais dar tempo que a Laura tá pra chegar em casa já, mas me retorne assim que puder falar sobre essa mudança de planos sobre o roubo do banco...
Mateus finaliza a mensagem e olha para os lados aflito com a situação. CORTA A CENA.

CENA 5: Cláudio, acompanhado de Guilherme, percebe o avançado da hora e se apressa.
-Melhor eu ir pra casa de uma vez. Numa hora dessas já fica perigoso andar na rua e ainda tem chão até minha casa...
-Se você quiser eu te dou uma carona, Cláudio. Não me custa nada...
-Você não acha que está indo rápido demais, Guilherme?
-Desculpe. Eu só quero provar que quero ser seu amigo... você aceita a minha amizade?
-Aceito sim. Você parece estar mudado... e pra melhor.
Guilherme se anima.
-Eu agradeço pelo seu voto de confiança. Você não vai se arrepender... agora, vem comigo até meu prédio que eu vou tirar o carro do estacionamento, certo?
Os dois rumam da beira da praia ao prédio onde mora Guilherme. Conversam no meio do caminho.
-Sabe, Guilherme... você realmente parece ter se tornado uma pessoa melhor. Acho possível criar um novo laço de afeto entre nós. Mas espero que você entenda que nossas vidas tomaram rumos diferentes...
-Tranquilo, Cláudio... eu já disse que só de ser seu amigo eu fico muito feliz. É um peso que sai de mim por todo o mal que já te causei sem querer no passado...
Os dois chegam ao prédio de Guilherme. CORTA A CENA.

CENA 6: Rafael e Marcelo estão saindo de um shopping em Melbourne e passeiam alegremente pelas ruas, de mãos dadas, quando uma das transeuntes olha para Rafael fixamente. Rafael finge não perceber o olhar fixo da garota e continua a andar. A garota atravessa a rua e aborda Rafael e Marcelo.
-Rafael Alves? Não posso acreditar! Sou sua fã desde que você tinha feito aquela participação no final da novela das seis...
Rafael se assusta e Marcelo fica sem ação.
-Você... é brasileira?
-Sim! Bem, na verdade, não... sou australiana de pais brasileiros e passei parte da infância e adolescência no Rio de Janeiro... me chamo Adriana. Você se incomoda de dar um autógrafo? A propósito, seu namorado é lindo...
Rafael se espanta.
-Dá pra perceber que ele...
-Seu bobo. Sou fã do seu trabalho e imagino a pressão que a mídia faz pra você esconder isso...
-Prazer, Adriana... sou Marcelo. Sim, somos namorados... mas também somos primos.
-Bem que notei que vocês tinham alguma semelhança. Com a diferença que você é ruivo... Marcelo, o seu nome, né?
-Isso.
-Vocês fazem um casal muito bonito. Eu sinceramente espero que quando vocês voltarem pro Brasil, possam encontrar dias melhores pela frente. Desejo que vocês possam um dia assumir pra todo mundo. Dá pra ver que vocês se completam.
Adriana retira um caderno de sua bolsa enquanto Marcelo e Rafael estão ainda emocionados pela fala dela.
-Você poderia dar o seu autógrafo nesse caderno, Rafael?
-Claro! Vou escrever uma dedicatória especial pra você, viu? Você é uma linda... por dentro e por fora!
Rafael autografa o caderno de Adriana. CORTA A CENA.

CENA 7: Marion chega em casa animada e todos percebem.
-Ué, tem mais coisa boa de onde veio a notícia de que você ia voltar a fazer novela? - pergunta Riva.
-Pois é... tá com um sorriso que nem consegue disfarçar... - constata Mariana.
-Na verdade, se vocês me dão licença, eu gostaria de falar com dona Valquíria, minha mãe... a sós. - sentencia Marion, mal cabendo em si.
Valquíria estranha, mas segue a filha até o escritório.
-Não entendi direito porque você quer falar só comigo.
-Primeiramente, mãe, é melhor a senhora sentar pra não cair pra trás com uma coisa que eu tenho a te dizer...
-Oxe, menina! Fale de uma vez que eu já tou ficando com coceira de tanta curiosidade!
-Mãe, o diretor da novela me disse que a autora quer a minha mãe fazendo a matriarca da família na novela. Isso significa que eu fiquei encarregada de repassar o convite da emissora pra você... você vai finalmente realizar o sonho que sempre teve de ser atriz!
Valquíria se emociona e quase desmaia, sendo acudida pela filha.
-Calma mãe! A senhora tá bem?
-Tou... eu só não esperava por essa notícia depois de quase setenta anos de vida... mal dá pra acreditar! Depois de mais de quarenta anos que eu fui figurante...
-Mas é real, mãe. A senhora vai ter a sua chance de brilhar pela primeira vez na vida! E eu fico muito feliz por de alguma forma poder te proporcionar isso, depois de todos os sufocos que a gente já passou...
As duas se abraçam, emocionadas.
-Mas filha... eu fico com medo. Não só por causa da minha doença, mas porque eu nunca estudei teatro na vida... não tenho experiência. Será que vou saber atuar? Uma coisa é o que eu ensaiava quando garota, outra coisa é ser profissional, ganhar por isso...
-Não se preocupe, mãe... a senhora vai ser bem acompanhada e bem preparada pra esse grande passo na sua vida...
-É tudo tão inacreditável. Passei mais de quarenta anos da minha vida frustrada pelo rumo que minha vida tomou e agora, depois de tanto tempo, me vejo prestes a realizar o sonho que eu acalentei no meu coração desde menina...
As duas se abraçam, felizes. CORTA A CENA.

CENA 8: Ivan está na edícula quando recebe uma ligação de Mara.
-Fala, Mara! Notícias sobre o paradeiro do Haroldo?
-Infelizmente não trago boas notícias.
-Desse jeito você me deixa preocupado, Mara... o que houve?
-Melhor seria dizer o que não houve, Ivan. Falei pela terceira vez com o garçom do barzinho que Haroldo costumava frequentar e descobri que ele possuía o endereço dele, para entregas a domicílio. Só que ao chegar no prédio, fui informada de que o inquilino do apartamento 302 havia ido embora. Me identifiquei como investigadora da polícia federal e tive a permissão de ir ao apartamento. Estava vazio. Não havia mais nada. Não faço ideia de onde procurar Haroldo agora, porque o garçom foi claro ao me dizer que fazia mais de um mês que ele não via mais Haroldo por ali. E tem mais: ele não sabia que ele se chamava Haroldo... suspeito que seu filho esteja se utilizando de uma identidade falsa, o que só dificulta nossas investigações, porque não sabemos ao menos o nome falso usado. No cadastro da tele entrega, estava apenas “cliente do condomínio em frente ao posto de gasolina”. Acho eu que ele fez isso justamente para não ser facilmente encontrado... o que reforça a sua teoria de que ele está fugindo de agiotas...
-Eu fico triste por isso, mas não perco a esperança de que meu filho logo apareça...
-Sinto muito, meu amigo. Queria poder fazer mais nesse momento...
-Eu sei, Mara. Agora preciso desligar. Nos falamos melhor outra hora.
Ivan desliga, frustrado. CORTA A CENA.
CENA 9: Cláudio chega em casa e convida Guilherme a entrar com ele, causando espanto em Bruno.
-Você aqui?
Cláudio se espanta com pergunta de Bruno.
-Vocês se conhecem, Guilherme?
-Nos conhecemos nas boates da vida... sabe como é... é Bruno, o seu nome, não é? - fala Guilherme.
-Boa memória a sua, hein Guilherme? Mas agradeço por você ter trazido o Claudinho em segurança. Já estava preocupado com a demora dele, com esse transporte público do jeito que está. Mas pode ir embora, agora... - fala Bruno, demonstrando ciúme.
-O que é isso? O Guilherme fica pra jantar, a casa é minha! - sentencia Cláudio.
FIM DO CAPÍTULO 33.

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