CENA 1: Marion custa a
acreditar que é sua mãe que está na porta de sua casa depois de
mais de vinte anos. Valquíria tenta falar.
-Eu vim pedir perdão por
tudo, minha filha...
Marion se revolta.
-Perdão? Como é que você
tem capacidade de pedir perdão se durante anos tentou me arrancar
dinheiro? Como a senhora ousa falar em perdão se até outro dia você
me ameaçava por causa dessa porcaria de dinheiro?
Riva vai ver o que está
acontecendo, intrigada com os gritos de Marion e se depara com sua
avó.
-Não acredito que você teve
coragem de vir aqui. Quer uma fatia desse bolo? Por que não procurou
a gente antes? Por que não quis saber de mim quando eu era uma
pobretona, hein? - confronta Riva, chorando de raiva.
Valquíria começa a chorar.
-Vocês não entendem nada! Eu
fui ficando velha, me sentindo sozinha, poxa! Vocês sabem que não
tenho mais ninguém na vida.
Marion se enche de raiva, dá
um tapa em Valquíria e começa a gritar.
-Pensasse nisso antes!
Pensasse nisso antes de agir como uma megera, uma carrasca frustrada
com a vida medíocre que sempre levou e que queria todo mundo perto
de você tão medíocre quanto. Você matou minha irmã! Ela morreu
de desgosto!
Ivan, Mariana, Rafael e
Marcelo descem, alarmados pelos gritos de Marion. Rafael, Marcelo e
Mariana olham com espanto para Valquíria.
-Quem é essa senhora? -
perguntam os três, simultaneamente.
-Eu sou Valquíria, mãe da
Marion e avó da Riva. - esclarece Valquíria, chorando.
-Essa senhora é minha avó...
- espanta-se Rafael.
-E minha também. - constata
Mariana.
-E minha bisavó! Por que
vocês nunca disseram pra gente que ela era viva ainda, mãe? -
revolta-se Marcelo.
Riva tenta se explicar.
-Vocês não fazem ideia do
que a gente passou na mão da minha avó.
Rafael se revolta.
-Não me interessa! Ela é
nossa avó, Riva! Sangue do nosso sangue! Estou decepcionado com
você, mãe... sempre tão verdadeira, pelo menos aparentemente, mas
capaz de negar aos filhos o convívio com a única avó viva!
Ivan defende Marion.
-Vocês precisam entender as
razões delas. Marion me contou tudo o que passou nas mãos da dona
Valquíria.
Mariana se espanta.
-Pai, você sabia de tudo o
tempo todo?
-Sim, meus filhos. Sabia e não
apenas respeitei a decisão da Marion como a apoiei
incondicionalmente.
Mariana, Rafael e Marcelo
partem para seus quartos, revoltados. Riva e Marion tentam conversar
com eles.
-Deixa a gente em paz, mãe! -
grita Marcelo.
Ivan tenta apaziguar os
ânimos.
-Eles precisam de um tempo pra
digerir isso tudo. Não se desesperem. Dona Valquíria, por favor,
entre.
Marion se revolta.
-Eu não quero essa mulher
aqui!
Riva pondera.
-Talvez o Ivan tenha razão. É
melhor deixar a velha entrar. CORTA A CENA.
CENA 2: Uma semana depois.
Victor aguarda com Diogo ansiosamente ser chamado por Valentim para a
consulta. Valentim o chama e Diogo aguarda do lado de fora.
-Então, doutor Valentim... já
conseguiu saber o que eu tenho olhando pra esses exames e anotações?
-Sim, Victor. Você está
preparado para ouvir?
-E por que não estaria?
Doutor, o que não dá pra continuar é nessa dúvida eterna sobre o
que se passa na minha cabeça, se tem conserto ou não.
-Eu entendo, Victor. Mas é
preciso que você entenda que as soluções não são mágicas, que
não existe um “conserto” repentino. Existem tratamentos,
remédios que servem como paliativos e, logicamente, a terapia que no
seu caso será fundamental para você colocar toda sua raiva pra fora
e não deixar acumular.
-Raiva? Acumular? Você tá me
deixando confuso, doutor...
-Você foi diagnosticado com
transtorno limítrofe de personalidade e humor. Em palavras mais
simples, pode ser classificado como transtorno borderline.
-Já ouvi falar sobre. Mas o
que significa isso?
-Que você está sempre na
fronteira entre a calmaria e o caos absoluto.
-Não seria melhor dizer na
fronteira entre o sano e o insano?
-As coisas não são simples
assim, Victor. Você não é louco e nem deve se convencer disso.
Você pode levar uma vida normal. Inicialmente eu vou te receitar
alguns medicamentos paliativos e que você venha pelo menos três
vezes ao mês falar comigo. Dependendo de como a coisa andar, te
indico um terapeuta, certo?
-Tudo certo, doutor Valentim.
Fico aliviado por saber que posso levar uma vida normal. Teria
poupado muito sofrimento se soubesse de tudo isso antes.
-Não vale a pena pensar no
que poderia ter sido. O foco agora é melhorar pro hoje e pro amanhã.
Nos vemos semana que vem?
-Claro!
Victor se despede de Valentim
aliviado. CORTA A CENA.
CENA 3: Renata e Eva passam
momentos juntas e Renata resolve voltar ao assunto de dias atrás com
Eva.
-Então, Eva... eu queria
saber se você já tem uma decisão sobre aquela nossa conversa.
-Pensei que você tivesse me
dado algumas semanas pra pensar, Renata. Não costumo funcionar sob
pressão.
-E eu não costumo funcionar
acomodada em stand by. Você vive me pedindo pra eu me colocar
no seu lugar, mas me pergunto quantas vezes você consegue se colocar
no meu lugar, nem que seja por um segundo, Eva...
-Esse papo tá tomando um rumo
esquisito, amor. Não entendo essa pressa, já estamos há tanto
tempo juntas!
-É mesmo? E quem sabe disso?
Nossos pais? Nossos poucos amigos? Você não percebe o quanto me
esconde de todo mundo?
-Nós temos visões de mundo
diferentes, querida. Achei que você soubesse desde o começo os meus
planos de carreira na televisão...
-Tem razão. Talvez nossos
mundos sejam muito diferentes. Só tenho medo que isso crie um abismo
entre nós, se é que já não criou. Certos abismos se tornam
intransponíveis.
-Confia em mim, Renata! Só me
dá mais um tempinho. Eu juro que vou me esforçar pra ver seu
lado... por favor!
-Tá certo. Mas uma hora esse
tempo acaba.
As duas se abraçam e Eva fica
apreensiva. CORTA A CENA.
CENA 4: Já de noite, Laura
desconfia do mau humor de Mateus ao chegar em casa.
-Que bicho te mordeu, amor? Tá
com essa cara amarrada desde que chegou...
-Laura, hoje não. Tou sem
paciência pra explicar qualquer coisa. Quer saber? Vou dar uma volta
pra espairecer. Não sei que horas volto.
Mateus deixa o apartamento e
Laura pensa um pouco antes de seguí-lo, até que se decide.
-Eu tenho que descobrir o que
Mateus anda aprontando... - fala consigo mesma.
Laura, ao descer, vê Mateus
entrando em um táxi e corre até sua moto, sem perder de vista o
táxi. Laura consegue seguir o táxi por algumas quadras até que o
sinal fecha.
-Droga! Era só o que me
faltava o sinal fechar justo agora! Anda, sinaleira, anda!
Quando o sinal abre, Laura
consegue visualizar novamente o táxi onde Mateus está. Porém, por
estar muito focada no táxi, não percebe quando um pedestre
distraído tenta atravessar a rua com o sinal fechado para ele. O
pedestre se assusta e Laura freia bruscamente, quase caindo de sua
moto. Assustada, ela vai acudir o pedestre.
-Você tá bem?
-Tou bem sim, moça. Foi só o
susto que me paralisou.
-Porra, cara! Olha bem por
onde anda, né! Antes de atravessar a rua, olha a sinaleira, o sinal
tava fechado pra você e aberto pra mim.
-Eu sei, moça. Desculpe.
-Não faça isso outra vez.
Qualquer hora dessas você pode se machucar feio e gerar incomodação
na vida de mais gente ainda. Se cuida aí, rapaz!
Laura tenta seguir o táxi
novamente, mas é tarde demais. Laura esbraveja consigo mesma.
-Droga, droga, droga! Esse daí
tem o santo forte, não é possível!
Laura parte de volta à sua
casa. CORTA A CENA.
CENA 5: Depois de jantar,
Bruno olha com encanto para Cláudio, que tenta resistir aos seus
olhares.
-Às vezes esse seu olhar me
desconcerta, sabia?
-Não vou nem te pedir
desculpa por isso, Cláudio, porque eu gosto de olhar pra você... me
dá uma paz.
Cláudio começa a ficar menos
resistente e devolve um olhar terno para Bruno.
-Essa vida é uma coisa louca
mesmo, né? Até outro dia eu nem sabia quem você era, tava naquela
montanha russa que foi meu namoro com Rodrigo e de repente você tá
aqui, morando na minha casa, com esses olhos pidões... é impossível
eu não me...
Cláudio interrompe sua fala,
com medo do que vai dizer. Bruno o estimula.
-Você se...? Tá com medo de
continuar a falar?
-Acho que sim, de certa
forma... pensei em algo que talvez seja melhor deixar pra outra hora.
-Fala, Cláudio. Eu te
imploro... tem horas na vida da gente que a gente precisa seguir o
coração.
-Mas se eu seguir o coração,
talvez eu possa me arrepender depois...
-Essa disputa entre o racional
e o emocional só confunde a gente, querido...
-Tá certo, Bruno. Eu me
apaixonei por você... perdidamente. Eu sei que parece loucura te
dizer isso tão cedo.
-Não acho loucura. Também
não acho muito cedo. Eu te amo.
Cláudio se emociona.
-Eu também te amo. Acho que
chegou o momento de te perguntar algo: quer namorar comigo?
-Preciso mesmo responder?
Os dois se beijam e selam o
namoro. CORTA A CENA.
CENA 6: Já deitado na cama
para dormir, Victor percebe Diogo distante e estranha.
-Tá acontecendo alguma coisa,
amor? Foi alguma coisa que eu fiz ou disse?
-Não seja tão inseguro,
Victor... você não me deu motivos pra nada. Fique tranquilo.
-Mas você tá pensativo...
distante. Parece estar buscando alguma coisa que não encontra.
-E é exatamente isso,
querido. Tenho certeza que conheço o Rodrigo de algum lugar. Eu bati
o olho nele tempos atrás, mas ele não me viu. Tava indo encontrar o
… Cláudio.
-Não gosto quando você fala
do seu ex. Mas prossiga.
-Tenho certeza que conheço
aquele cara de muitos anos atrás... tou tentando lembrar de onde.
-Deixa disso, Diogo. De
repente ele só é parecido com alguém que você conheceu, seja no
trabalho, balada, qualquer coisa. Será que ele não foi colega teu
em algum momento?
Diogo cai em si e lembra de
onde conhece Rodrigo.
-É isso, amor! Esse cara foi
meu colega! Era da minha turma do terceiro ano! Sabia que conhecia
ele! Mas tem algo estranho nisso...
-E o que tem de tão estranho
em você ter sido colega do atual do seu ex?
-Não é nada disso, Victor.
Eu não lembro o nome dele, mas tenho certeza que quando chegava a
vez dele na chamada, não era de Rodrigo que o chamavam.
-Besteira, amor. Já parou pra
pensar que o nome dele pode ser composto?
-Não lembro de ser...
-Mas você nem lembra direito
dos nomes dos seus ex-colegas! Como é que pode afirmar que o nome do
cara não é Rodrigo? Desse jeito eu vou pensar que você tá
arranjando desculpa pra ver o Cláudio.
-Pare de ser paranoico,
Victor. Você sabe que desde que a gente se acertou da última briga
eu te prometi nunca mais tentar nada com ele...
-Espero que lembre disso
quando estiver bêbado...
Os dois viram-se para os lados
e tentam dormir. CORTA A CENA.
CENA 7: Riva percebe que
Marion continua contrariada com a presença de Valquíria.
-Poxa Marion, não entendo por
que você insiste em alimentar essa mágoa com a vó... ela é sua
mãe, pombas! Será que não dá pra dar um voto de confiança nela?
-Me surpreende você falar
disso agora, Riva. Passou anos sem falar comigo e cheia de rancor...
-As pessoas mudam enquanto tem
vida pra viver, Marion. Você ainda tem a sua mãe viva, eu não
tenho mais...
Marion fica pensativa e Riva
torna a falar.
-Ela não precisa vir morar
pra sempre aqui com a gente. Mas você não acha que uma semana é
pouco tempo pra vocês se acertarem?
-Eu não sei se quero me
acertar com ela depois de tudo o que ela fez a gente passar...
-Ela não vai viver pra
sempre, Marion. Ela já passou dos sessenta e muitos, tá idosa.
Lembra da sua irmã, minha mãe, que morreu jovem daquele jeito! Você
não acha que a vó não pode ter mudado depois de vinte e quatro
anos que minha mãe se foi? Eu nunca te contei, mas eu via a vó
chorando escondida quando pensava que a gente não tava perto...
-A verdade é que eu não sei
mais quem é que está diante de mim, Riva. Tudo o que sei é que ela
se chama Valquíria, é minha mãe e sua avó e que nos fez passar um
inferno há mais de vinte anos.
-Exatamente, Marion: tem mais
de vinte anos. Vai ficar remoendo isso?
-Você anda tão mudada, Riva.
Até tá falando bonito... queria ter essa sua sabedoria.
-Sabedoria? Besteira, querida.
Só decidi que não acho legal carregar mágoas dentro de mim...
quando a gente carrega mágoas, quem mais sofre nisso tudo somos nós
mesmos. Vai por mim, Marion... dá uma chance pra sua mãe... eu
também tenho meus motivos pra ter mágoa dela, mas decidi que não
quero mais isso pra mim. Acredito que ela esteja mudada, de verdade.
-Tá certo, Riva. Vou pensar
nisso tudo que você disse... só quero que ela possa provar que
realmente mudou.
-Ela vai provar. Vamos
recuperar esse tempo perdido. Espero que você decida a coisa certa.
As duas se abraçam. CORTA A
CENA.
CENA 8: Bruno aproveita que
Cláudio foi ao banho e resolve ligar para Mateus, que atende
rapidamente.
-Ué, Bruno... pensei que não
quisesse mais falar comigo tão cedo depois que terminou comigo. O
que foi agora? É informação que você quer que eu passe pro chefe?
-Agradeceria se você fechasse
essa matraca e me deixasse falar, Mateus.
-Não precisa ser grosso.
Anda, fala logo o que você quer...
-Liguei pra te contar uma
novidade e pra você entender de uma vez por todas que nosso caso
acabou: estou namorando Cláudio.
Mateus se revolta.
-Como é que é? Justo esse
pamonha? O chefe não vai gostar nada de saber disso!
-Você não pode falar por ele
nesse momento. Vai lá, corre e conta pra ele, então!
-Pensei que você me amasse,
Bruno.
-Amei, Mateus. Mas não foi o
suficiente. Você nunca abriu mão de nada por nós dois.
-Olha quem fala! Até hoje
seus pais não sabem que você também gosta de meninos...
-Não nos compare. Nossas
vidas sempre foram totalmente diferentes. Olha aqui, esse papo já
deu o que tinha que dar. Vou dormir com o meu namorado e outra hora
você me passa as orientações do chefe, valeu?
Bruno desliga e Mateus fica
furioso. CORTA A CENA.
CENA 9: Riva conversa com
Marion, Ivan, Rafael, Marcelo e Mariana antes de irem dormir.
-Sabe gente, a Riva me deixou
pensativa sobre tudo. Tou me inclinando a dar uma chance pra avó de
vocês... - fala Marion.
-Acho que temos esse direito,
mãe... A gente imagina que o passado de vocês tenha sido difícil,
mas é a primeira vez que a gente tem uma avó viva... - fala Rafael.
-Rafa tem razão, mãe.
Depois, olha o tempo que passou sem vocês nem se verem! A gente nem
pensava em nascer ainda... - complementa Mariana.
-Mas gente, vamos com calma
também. No começo me revoltei, mas pelo que conheço a dona Riva,
sei muito bem que pra minha mãe torcer o nariz é porque a pessoa
aprontou algo... de qualquer maneira, o que se fez no passado nem
sempre vai determinar o presente... - conclui Marcelo.
A campainha toca. Riva se
prontifica a atender.
-Vou atender, gente, pode
deixar.
Todos se olham tentando
entender quem apareceria numa hora daquelas. Riva abre a porta e se
depara com Suzanne aos prantos.
-Suzanne! O que houve, amiga?
- preocupa-se Riva. FIM DO CAPÍTULO 18.
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