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sábado, 4 de junho de 2016

CAPÍTULO 18

CENA 1: Marion custa a acreditar que é sua mãe que está na porta de sua casa depois de mais de vinte anos. Valquíria tenta falar.
-Eu vim pedir perdão por tudo, minha filha...
Marion se revolta.
-Perdão? Como é que você tem capacidade de pedir perdão se durante anos tentou me arrancar dinheiro? Como a senhora ousa falar em perdão se até outro dia você me ameaçava por causa dessa porcaria de dinheiro?
Riva vai ver o que está acontecendo, intrigada com os gritos de Marion e se depara com sua avó.
-Não acredito que você teve coragem de vir aqui. Quer uma fatia desse bolo? Por que não procurou a gente antes? Por que não quis saber de mim quando eu era uma pobretona, hein? - confronta Riva, chorando de raiva.
Valquíria começa a chorar.
-Vocês não entendem nada! Eu fui ficando velha, me sentindo sozinha, poxa! Vocês sabem que não tenho mais ninguém na vida.
Marion se enche de raiva, dá um tapa em Valquíria e começa a gritar.
-Pensasse nisso antes! Pensasse nisso antes de agir como uma megera, uma carrasca frustrada com a vida medíocre que sempre levou e que queria todo mundo perto de você tão medíocre quanto. Você matou minha irmã! Ela morreu de desgosto!
Ivan, Mariana, Rafael e Marcelo descem, alarmados pelos gritos de Marion. Rafael, Marcelo e Mariana olham com espanto para Valquíria.
-Quem é essa senhora? - perguntam os três, simultaneamente.
-Eu sou Valquíria, mãe da Marion e avó da Riva. - esclarece Valquíria, chorando.
-Essa senhora é minha avó... - espanta-se Rafael.
-E minha também. - constata Mariana.
-E minha bisavó! Por que vocês nunca disseram pra gente que ela era viva ainda, mãe? - revolta-se Marcelo.
Riva tenta se explicar.
-Vocês não fazem ideia do que a gente passou na mão da minha avó.
Rafael se revolta.
-Não me interessa! Ela é nossa avó, Riva! Sangue do nosso sangue! Estou decepcionado com você, mãe... sempre tão verdadeira, pelo menos aparentemente, mas capaz de negar aos filhos o convívio com a única avó viva!
Ivan defende Marion.
-Vocês precisam entender as razões delas. Marion me contou tudo o que passou nas mãos da dona Valquíria.
Mariana se espanta.
-Pai, você sabia de tudo o tempo todo?
-Sim, meus filhos. Sabia e não apenas respeitei a decisão da Marion como a apoiei incondicionalmente.
Mariana, Rafael e Marcelo partem para seus quartos, revoltados. Riva e Marion tentam conversar com eles.
-Deixa a gente em paz, mãe! - grita Marcelo.
Ivan tenta apaziguar os ânimos.
-Eles precisam de um tempo pra digerir isso tudo. Não se desesperem. Dona Valquíria, por favor, entre.
Marion se revolta.
-Eu não quero essa mulher aqui!
Riva pondera.
-Talvez o Ivan tenha razão. É melhor deixar a velha entrar. CORTA A CENA.

CENA 2: Uma semana depois. Victor aguarda com Diogo ansiosamente ser chamado por Valentim para a consulta. Valentim o chama e Diogo aguarda do lado de fora.
-Então, doutor Valentim... já conseguiu saber o que eu tenho olhando pra esses exames e anotações?
-Sim, Victor. Você está preparado para ouvir?
-E por que não estaria? Doutor, o que não dá pra continuar é nessa dúvida eterna sobre o que se passa na minha cabeça, se tem conserto ou não.
-Eu entendo, Victor. Mas é preciso que você entenda que as soluções não são mágicas, que não existe um “conserto” repentino. Existem tratamentos, remédios que servem como paliativos e, logicamente, a terapia que no seu caso será fundamental para você colocar toda sua raiva pra fora e não deixar acumular.
-Raiva? Acumular? Você tá me deixando confuso, doutor...
-Você foi diagnosticado com transtorno limítrofe de personalidade e humor. Em palavras mais simples, pode ser classificado como transtorno borderline.
-Já ouvi falar sobre. Mas o que significa isso?
-Que você está sempre na fronteira entre a calmaria e o caos absoluto.
-Não seria melhor dizer na fronteira entre o sano e o insano?
-As coisas não são simples assim, Victor. Você não é louco e nem deve se convencer disso. Você pode levar uma vida normal. Inicialmente eu vou te receitar alguns medicamentos paliativos e que você venha pelo menos três vezes ao mês falar comigo. Dependendo de como a coisa andar, te indico um terapeuta, certo?
-Tudo certo, doutor Valentim. Fico aliviado por saber que posso levar uma vida normal. Teria poupado muito sofrimento se soubesse de tudo isso antes.
-Não vale a pena pensar no que poderia ter sido. O foco agora é melhorar pro hoje e pro amanhã. Nos vemos semana que vem?
-Claro!
Victor se despede de Valentim aliviado. CORTA A CENA.

CENA 3: Renata e Eva passam momentos juntas e Renata resolve voltar ao assunto de dias atrás com Eva.
-Então, Eva... eu queria saber se você já tem uma decisão sobre aquela nossa conversa.
-Pensei que você tivesse me dado algumas semanas pra pensar, Renata. Não costumo funcionar sob pressão.
-E eu não costumo funcionar acomodada em stand by. Você vive me pedindo pra eu me colocar no seu lugar, mas me pergunto quantas vezes você consegue se colocar no meu lugar, nem que seja por um segundo, Eva...
-Esse papo tá tomando um rumo esquisito, amor. Não entendo essa pressa, já estamos há tanto tempo juntas!
-É mesmo? E quem sabe disso? Nossos pais? Nossos poucos amigos? Você não percebe o quanto me esconde de todo mundo?
-Nós temos visões de mundo diferentes, querida. Achei que você soubesse desde o começo os meus planos de carreira na televisão...
-Tem razão. Talvez nossos mundos sejam muito diferentes. Só tenho medo que isso crie um abismo entre nós, se é que já não criou. Certos abismos se tornam intransponíveis.
-Confia em mim, Renata! Só me dá mais um tempinho. Eu juro que vou me esforçar pra ver seu lado... por favor!
-Tá certo. Mas uma hora esse tempo acaba.
As duas se abraçam e Eva fica apreensiva. CORTA A CENA.

CENA 4: Já de noite, Laura desconfia do mau humor de Mateus ao chegar em casa.
-Que bicho te mordeu, amor? Tá com essa cara amarrada desde que chegou...
-Laura, hoje não. Tou sem paciência pra explicar qualquer coisa. Quer saber? Vou dar uma volta pra espairecer. Não sei que horas volto.
Mateus deixa o apartamento e Laura pensa um pouco antes de seguí-lo, até que se decide.
-Eu tenho que descobrir o que Mateus anda aprontando... - fala consigo mesma.
Laura, ao descer, vê Mateus entrando em um táxi e corre até sua moto, sem perder de vista o táxi. Laura consegue seguir o táxi por algumas quadras até que o sinal fecha.
-Droga! Era só o que me faltava o sinal fechar justo agora! Anda, sinaleira, anda!
Quando o sinal abre, Laura consegue visualizar novamente o táxi onde Mateus está. Porém, por estar muito focada no táxi, não percebe quando um pedestre distraído tenta atravessar a rua com o sinal fechado para ele. O pedestre se assusta e Laura freia bruscamente, quase caindo de sua moto. Assustada, ela vai acudir o pedestre.
-Você tá bem?
-Tou bem sim, moça. Foi só o susto que me paralisou.
-Porra, cara! Olha bem por onde anda, né! Antes de atravessar a rua, olha a sinaleira, o sinal tava fechado pra você e aberto pra mim.
-Eu sei, moça. Desculpe.
-Não faça isso outra vez. Qualquer hora dessas você pode se machucar feio e gerar incomodação na vida de mais gente ainda. Se cuida aí, rapaz!
Laura tenta seguir o táxi novamente, mas é tarde demais. Laura esbraveja consigo mesma.
-Droga, droga, droga! Esse daí tem o santo forte, não é possível!
Laura parte de volta à sua casa. CORTA A CENA.

CENA 5: Depois de jantar, Bruno olha com encanto para Cláudio, que tenta resistir aos seus olhares.
-Às vezes esse seu olhar me desconcerta, sabia?
-Não vou nem te pedir desculpa por isso, Cláudio, porque eu gosto de olhar pra você... me dá uma paz.
Cláudio começa a ficar menos resistente e devolve um olhar terno para Bruno.
-Essa vida é uma coisa louca mesmo, né? Até outro dia eu nem sabia quem você era, tava naquela montanha russa que foi meu namoro com Rodrigo e de repente você tá aqui, morando na minha casa, com esses olhos pidões... é impossível eu não me...
Cláudio interrompe sua fala, com medo do que vai dizer. Bruno o estimula.
-Você se...? Tá com medo de continuar a falar?
-Acho que sim, de certa forma... pensei em algo que talvez seja melhor deixar pra outra hora.
-Fala, Cláudio. Eu te imploro... tem horas na vida da gente que a gente precisa seguir o coração.
-Mas se eu seguir o coração, talvez eu possa me arrepender depois...
-Essa disputa entre o racional e o emocional só confunde a gente, querido...
-Tá certo, Bruno. Eu me apaixonei por você... perdidamente. Eu sei que parece loucura te dizer isso tão cedo.
-Não acho loucura. Também não acho muito cedo. Eu te amo.
Cláudio se emociona.
-Eu também te amo. Acho que chegou o momento de te perguntar algo: quer namorar comigo?
-Preciso mesmo responder?
Os dois se beijam e selam o namoro. CORTA A CENA.

CENA 6: Já deitado na cama para dormir, Victor percebe Diogo distante e estranha.
-Tá acontecendo alguma coisa, amor? Foi alguma coisa que eu fiz ou disse?
-Não seja tão inseguro, Victor... você não me deu motivos pra nada. Fique tranquilo.
-Mas você tá pensativo... distante. Parece estar buscando alguma coisa que não encontra.
-E é exatamente isso, querido. Tenho certeza que conheço o Rodrigo de algum lugar. Eu bati o olho nele tempos atrás, mas ele não me viu. Tava indo encontrar o … Cláudio.
-Não gosto quando você fala do seu ex. Mas prossiga.
-Tenho certeza que conheço aquele cara de muitos anos atrás... tou tentando lembrar de onde.
-Deixa disso, Diogo. De repente ele só é parecido com alguém que você conheceu, seja no trabalho, balada, qualquer coisa. Será que ele não foi colega teu em algum momento?
Diogo cai em si e lembra de onde conhece Rodrigo.
-É isso, amor! Esse cara foi meu colega! Era da minha turma do terceiro ano! Sabia que conhecia ele! Mas tem algo estranho nisso...
-E o que tem de tão estranho em você ter sido colega do atual do seu ex?
-Não é nada disso, Victor. Eu não lembro o nome dele, mas tenho certeza que quando chegava a vez dele na chamada, não era de Rodrigo que o chamavam.
-Besteira, amor. Já parou pra pensar que o nome dele pode ser composto?
-Não lembro de ser...
-Mas você nem lembra direito dos nomes dos seus ex-colegas! Como é que pode afirmar que o nome do cara não é Rodrigo? Desse jeito eu vou pensar que você tá arranjando desculpa pra ver o Cláudio.
-Pare de ser paranoico, Victor. Você sabe que desde que a gente se acertou da última briga eu te prometi nunca mais tentar nada com ele...
-Espero que lembre disso quando estiver bêbado...
Os dois viram-se para os lados e tentam dormir. CORTA A CENA.

CENA 7: Riva percebe que Marion continua contrariada com a presença de Valquíria.
-Poxa Marion, não entendo por que você insiste em alimentar essa mágoa com a vó... ela é sua mãe, pombas! Será que não dá pra dar um voto de confiança nela?
-Me surpreende você falar disso agora, Riva. Passou anos sem falar comigo e cheia de rancor...
-As pessoas mudam enquanto tem vida pra viver, Marion. Você ainda tem a sua mãe viva, eu não tenho mais...
Marion fica pensativa e Riva torna a falar.
-Ela não precisa vir morar pra sempre aqui com a gente. Mas você não acha que uma semana é pouco tempo pra vocês se acertarem?
-Eu não sei se quero me acertar com ela depois de tudo o que ela fez a gente passar...
-Ela não vai viver pra sempre, Marion. Ela já passou dos sessenta e muitos, tá idosa. Lembra da sua irmã, minha mãe, que morreu jovem daquele jeito! Você não acha que a vó não pode ter mudado depois de vinte e quatro anos que minha mãe se foi? Eu nunca te contei, mas eu via a vó chorando escondida quando pensava que a gente não tava perto...
-A verdade é que eu não sei mais quem é que está diante de mim, Riva. Tudo o que sei é que ela se chama Valquíria, é minha mãe e sua avó e que nos fez passar um inferno há mais de vinte anos.
-Exatamente, Marion: tem mais de vinte anos. Vai ficar remoendo isso?
-Você anda tão mudada, Riva. Até tá falando bonito... queria ter essa sua sabedoria.
-Sabedoria? Besteira, querida. Só decidi que não acho legal carregar mágoas dentro de mim... quando a gente carrega mágoas, quem mais sofre nisso tudo somos nós mesmos. Vai por mim, Marion... dá uma chance pra sua mãe... eu também tenho meus motivos pra ter mágoa dela, mas decidi que não quero mais isso pra mim. Acredito que ela esteja mudada, de verdade.
-Tá certo, Riva. Vou pensar nisso tudo que você disse... só quero que ela possa provar que realmente mudou.
-Ela vai provar. Vamos recuperar esse tempo perdido. Espero que você decida a coisa certa.
As duas se abraçam. CORTA A CENA.

CENA 8: Bruno aproveita que Cláudio foi ao banho e resolve ligar para Mateus, que atende rapidamente.
-Ué, Bruno... pensei que não quisesse mais falar comigo tão cedo depois que terminou comigo. O que foi agora? É informação que você quer que eu passe pro chefe?
-Agradeceria se você fechasse essa matraca e me deixasse falar, Mateus.
-Não precisa ser grosso. Anda, fala logo o que você quer...
-Liguei pra te contar uma novidade e pra você entender de uma vez por todas que nosso caso acabou: estou namorando Cláudio.
Mateus se revolta.
-Como é que é? Justo esse pamonha? O chefe não vai gostar nada de saber disso!
-Você não pode falar por ele nesse momento. Vai lá, corre e conta pra ele, então!
-Pensei que você me amasse, Bruno.
-Amei, Mateus. Mas não foi o suficiente. Você nunca abriu mão de nada por nós dois.
-Olha quem fala! Até hoje seus pais não sabem que você também gosta de meninos...
-Não nos compare. Nossas vidas sempre foram totalmente diferentes. Olha aqui, esse papo já deu o que tinha que dar. Vou dormir com o meu namorado e outra hora você me passa as orientações do chefe, valeu?
Bruno desliga e Mateus fica furioso. CORTA A CENA.

CENA 9: Riva conversa com Marion, Ivan, Rafael, Marcelo e Mariana antes de irem dormir.
-Sabe gente, a Riva me deixou pensativa sobre tudo. Tou me inclinando a dar uma chance pra avó de vocês... - fala Marion.
-Acho que temos esse direito, mãe... A gente imagina que o passado de vocês tenha sido difícil, mas é a primeira vez que a gente tem uma avó viva... - fala Rafael.
-Rafa tem razão, mãe. Depois, olha o tempo que passou sem vocês nem se verem! A gente nem pensava em nascer ainda... - complementa Mariana.
-Mas gente, vamos com calma também. No começo me revoltei, mas pelo que conheço a dona Riva, sei muito bem que pra minha mãe torcer o nariz é porque a pessoa aprontou algo... de qualquer maneira, o que se fez no passado nem sempre vai determinar o presente... - conclui Marcelo.
A campainha toca. Riva se prontifica a atender.
-Vou atender, gente, pode deixar.
Todos se olham tentando entender quem apareceria numa hora daquelas. Riva abre a porta e se depara com Suzanne aos prantos.
-Suzanne! O que houve, amiga? - preocupa-se Riva. FIM DO CAPÍTULO 18.

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