CENA 1: Laura finge que não
percebeu frieza de Cláudio e continua a falar.
-Como você tá, Claudinho?
-Ah... na correria, Laura... o
de sempre.
-Cláudio... você tá
estranho. Parece estar reticente comigo...
-Impressão sua, Laura. O que
te trouxe aqui?
-Precisava desabafar umas
coisas que descobri sobre o Mateus...
Cláudio gela e Bruno também.
-Vocês acham melhor eu deixar
vocês dois conversando a sós? - pergunta Bruno.
-Não, Bruno... você fica.
Não tem nada que eu diga ao Cláudio que você também não possa
ouvir. Eu sei de tudo... mas não te julgo, Bruno. Não sinto raiva.
Você foi tão vítima quanto eu nessa história toda.
-Como é que você soube de
tudo? - pergunta Cláudio, perplexo.
-Eu entrei no notebook do
Mateus. Eu vi as conversas que ele tinha meses atrás com o Bruno.
Mas... espera aí... você sabia de tudo e não me contou nada,
Cláudio? Você falou de um jeito agora que parece que sabia.
-Eu soube de tudo tem alguns
dias. Foi o motivo pelo qual eu terminei meu namoro com o Bruno.
-Você não devia ter
terminado com ele. Isso faz parte do passado dele, foi antes de você.
-Não importa mais. Muito me
surpreende você posando de magnânima agora, Laura! Defendendo quem
te traiu.
Laura se indigna.
-Se for pra gente falar em
traição, que tal começar pelo fato de que você já sabia do caso
que eles tiveram e não teve a coragem de me dizer? Não é você,
Cláudio, o eterno defensor da verdade doa a quem doer, acima de
qualquer coisa? Cadê a sua defesa pela verdade e pela transparência
quando você soube do caso que o meu namorado e o seu ex tiveram?
Sumiu? Desapareceu?
-Você não tem o direito de
me tomar desse jeito, Laura! Quem você pensa que é? Dona da
verdade, agora?
-Se tem alguém aqui que se
sente dono da verdade e só vê as coisas pelo próprio ponto de
vista, esse alguém é você!
-Eu não acredito que você me
disse isso, Laura!
-Desculpe. Mas você precisa
amadurecer. Na verdade eu não me importo por você não ter me dito.
Acho até bonito que de algum jeito você tenha tido vontade de me
proteger dessa verdade. É o que os amigos fazem, às vezes. Mas será
que você não vê uma contradição entre essa sua atitude e o que
você prega e impõe às pessoas? Você me faltou com a verdade...
logo você, que sempre defendeu ela!
-E quem você pensa que é pra
me questionar desse jeito?
-Cláudio, será que pelo
menos uma vez na vida você vai compreender que críticas não são
ataques pessoais? Para de se defender atacando!
-Vai embora daqui, Laura. Vai
embora...
Bruno tenta acalmar os dois.
-Gente, pelo amor de Deus...
se acalmem! Os dois estão exaltados!
-Não tem conversa, Laura, vai
embora da minha casa. Agora!
Laura parte, furiosa e Cláudio
chora nos braços de Bruno. CORTA A CENA.
CENA 2: Em Melbourne, já de
manhã por lá, Rafael percebe que Marcelo já não está mais ao seu
lado na cama.
-O que foi, amor? Pulou da
cama, hoje?
-Mal consegui dormir, Rafa...
-Por que?
-Eu sei que não devia
alimentar certos pensamentos, amor... mas às vezes certas coisas são
mais fortes que eu.
-Você ainda não conseguiu
parar de pensar naquele incidente lamentável com o seu canal, não
é?
-É exatamente isso. Desculpa,
Rafa... eu sei que não devia ficar insistindo em pensar nisso, mas
eu não consegui parar... tentei pensar em outras coisas, ouvir
música... mas não deu.
-Acho que você suspeita de
alguém... estou certo?
-Suspeito sim. Mas tenho até
medo de dizer, porque tem um lado meu que suspeita, mas outro que
prefere acreditar que essa pessoa não seria capaz disso...
-É do Cláudio que você tá
desconfiado, acertei?
-Em cheio. Eu não queria
suspeitar dele, te juro. Ainda me considero melhor amigo dele... mas
acho que ele não me quer mais como amigo. Só não entendo uma
coisa...
-O que?
-Se ele foi meu amigo por uma
vida inteira e sempre mostrou ser uma pessoa super correta, super do
bem, por que ele faria essas coisas todas?
-Primeiro, a gente não tem
certeza de nada. Talvez seja só esses haters, como eu já te falei,
amor... mas se for ele, é compreensível. A cabeça dele tá cheia
de coisa. É muita coisa em pouco tempo... e você me disse que ele
vive se vitimizando, não disse?
-Sim... e isso é fato. Ele
sempre aceitou a condição de vítima...
-Pois então. Na cabeça dele
é como se ele estivesse dentro de uma eterna novela, saca? Sendo ele
o mocinho e quem vai contra ele, os vilões terríveis a serem
combatidos e eliminados... atacados, se for o caso.
-Nessa sua teoria... eu seria
o vilão da vez pra ele, é isso?
-Exatamente. Mas é cedo
demais pra gente concluir qualquer coisa.
-Você tem razão, amor... é
grave demais a gente acusar qualquer pessoa sem ter provas de nada.
-Viu? Então relaxa...
-Vou tentar relaxar, Rafa...
eu prometo.
-Tenta tirar um pouco essas
coisas da sua cabeça. Apesar do bom alcance que seus vídeos tem,
você não depende deles pra sobreviver.
-Sim... mas isso abala a
credibilidade do meu canal, entende? Eu gosto de transmitir os
conhecimentos sobre psicologia para as pessoas mais leigas, para que
elas possam ser melhor informadas no dia a dia...
-Tudo bem, Marcelo... mas a
gente vai dar um jeito de resolver essa questão. Confia em mim.
-Como?
-Ainda não pensei nisso. Mas
a gente vai encontrar uma solução...
Os dois se abraçam e vão
tomar café da manhã. CORTA A CENA.
CENA 3: Depois do jantar, Riva
pede licença para falar a sós com Marion e Valquíria.
-Queridos... vocês me
desculpem a indelicadeza, mas vocês me dão licença e me emprestam
a Marion e a vovó por um instante? Preciso conversar com elas no
escritório... - fala Riva.
Ivan, Mariana e Vicente
assentem e seguem a conversar. Riva segue com Marion e Valquíria
para o escritório.
-Por que chamou a gente,
querida? É algum assunto importante? - questiona Valquíria...
-Ai, vó... tá chegando perto
o casamento... e é a primeira vez na vida que vou casar, entende?
-Riva... eu sei o quanto você
deve estar nervosa. Eu fiquei uma pilha de nervos nas vésperas do
casamento com o Ivan... - fala Marion.
-Você pelo menos me
entende... mas sério gente, não sei o que fazer. Fico com medo de
cometer alguma gafe na hora do casamento ou depois, na festa... -
desabafa Riva.
-Eu não sei se posso ajudar
você a se acalmar, minha neta... também nunca casei... - fala
Valquíria.
-Procura pensar que vai dar
tudo certo, Riva... no final as coisas acabam saindo do jeito
certo... - continua Marion.
-Ainda custo pra acreditar
nisso tudo... quem diria... eu casando! E com um homem maravilhoso
como o Vicente... - derrete-se Riva.
-Relaxa, querida. Tudo vai dar
certo. - encoraja Valquíria.
As três voltam à sala. CORTA
A CENA.
CENA 4: Na manhã do dia
seguinte, Mateus vai ao encontro de Rodrigo no apartamento de Santa
Tereza que ele voltou a morar.
-Fiquei surpreso por você me
chamar tão cedo, Rodrigo. Você nem quis entrar em maiores
detalhes...
-É o seguinte: lembra de
quando eu te passei aquelas instruções pra você ficar no meu
lugar, pra definir as estratégias de distribuição de ação dos
homens do chefe?
-Sim, lembro. O que é que tem
nisso? Faltou alguma coisa?
-De certa forma, sim. Pouco
depois que você foi embora eu parei num posto de gasolina e fui
sequestrado. Pensei que era sequestro relâmpago, cê sabe como anda
essa cidade... mas não era. Eram homens do chefe. Caras que eu nunca
vi antes na vida. Você tinha razão quando me repassava o que o
chefe dizia... ele realmente tem mais homens que a gente pensava.
-Sim, mas isso é motivo pra
me chamar até aqui?
-Claro que não, seu tonto!
Presta atenção, Mateus. O Flávio, que é o líder do grupo que me
sequestrou, vai ficar encarregado de algumas tarefas e para isso ele
vai precisar de fundos de investimento, entende?
-Tou começando a entender.
-Eles me pegaram apenas para
conversar, acertar os detalhes da minha saída da organização.
Fomos madrugada adentro nisso, até o amanhecer. E pouco antes de eu
voltar pra casa, Flávio me entregou uma mala de dinheiro. Ordens
expressas do chefe. Esse dinheiro é de sua responsabilidade, Mateus.
Você deve distribuir o pagamento entre os homens, exatamente do
jeito que eu fazia, através de depósito em banco naquelas contas
fantasmas.
Rodrigo entrega a mala de
dinheiro para Mateus, que fica tenso.
-Como é que eu faço pra não
ter esse trambolho visto na rua? E pra guardar em casa? A Laura pode
ver alguma coisa...
-Relaxa, cara. Eu te dou uma
carona até a esquina de sua rua. E te empresto uma mochila minha que
não uso mais. Dá pra disfarçar da Laura, basta esconder essa mala
num lugar que ela não tenha o hábito de mexer.
-Está certo...
Rodrigo e Mateus organizam as
coisas. CORTA A CENA.
CENA 5: Em Melbourne, Rafael e
Marcelo voltam ao quarto do hotel em que estão hospedados depois de
um passeio.
-Sabe, Marcelo... andei
pensando durante o passeio sobre aquela nossa conversa de antes.
-Sim... mas por que ficou
pensando?
-Eu tenho uma maneira de
descobrir quem é a pessoa que anda sabotando os seus vídeos.
-Como?
-Simples... quer dizer... não
tão simples assim. Vou explicar: o processo em si é simples, mas
demorado. Iríamos noite adentro.
-Como funciona?
-Eu tenho algumas noções de
codificação. Em outras palavras, eu conheço alguns truques que
basicamente só hackers conhecem. Claro... nunca usei isso pro mal ou
pra prejudicar ninguém, mas...
-Me fala mais sobre isso, tá
ficando interessante isso, amor...
-Então, Marcelo... chegando
no IP do computador responsável por essa ação, eu tenho como
chegar ao endereço exato da pessoa... com direito a tudo:
logradouro, cep... tudinho!
-Isso demora?
-Não vou mentir. Vamos perder
algumas horas nisso. Você quer descobrir mesmo assim?
-Claro que quero, amor!
-Está certo... a gente começa
a fazer isso mais tarde, tá?
-Combinado.
CORTA A CENA.
CENA 6: Cleiton está com uma
expressão contrariada e Adelaide nota.
-Não tou te entendendo,
amor... faz horas, dias que você tá com essa cara emburrada...
-Você tem a coragem de me
perguntar, ainda?
-Se tou te perguntando é
porque não sei, né... e vou continuar sem saber se você não me
disser.
-Não engoli aquelas caras de
espanto e quase nojo que você fez umas quatro ou cinco vezes quando
as meninas estiveram aqui.
-Eu não acredito que você
vai começar a implicar até com minhas caras! Não vê o esforço
que tou fazendo pra aceitar tudo numa boa? Não é fácil...
-Em primeiro lugar você não
tem que aceitar nada, porque Renata não tá pedindo licença a
ninguém pra ser quem ela é. Em segundo lugar, você deveria pelo
menos ter mais boa vontade.
-E eu não tou tendo boa
vontade? Cleiton, você tá sendo tão, mas tão injusto! Você acha
que a gente perde nossos preconceitos do dia pra noite? As coisas
precisam de tempo, meu amor! Para de me tomar desse jeito, caramba!
Você quer que eu mude, mas não respeita o meu tempo!
Cleiton cai em si que implicou
desnecessariamente com a esposa.
-Olha... desculpa, Adelaide.
Eu sei que você tá fazendo seu melhor. É que às vezes tenho
pressa...
-Às vezes? Você quer dizer
quase sempre, né...
Os dois riem e se abraçam com
cumplicidade. CORTA A CENA.
CENA 7: Raquel vai novamente
ao consultório de doutor Valentim.
-Bom dia, doutor. Como vai?
-Vou bem, dona Raquel. O que
me conta de novo sobre o caso da filha da sua amiga?
-Nada muito novo. Na verdade
eu gostaria de entender tudo isso de uma maneira mais clara, mesmo.
Saber se essa filha dela é realmente uma psicopata.
-Não há dúvidas que restem
em relação a tudo isso.
-Desculpe... você poderia
dizer isso de uma maneira mais clara? Você tem certeza do que tá me
falando?
Raquel tenta disfarçar sua
dor diante de Valentim.
-Absoluta, Raquel. Eu sei que
é difícil pra você ouvir tudo isso. Imagina pra mãe dessa mulher,
que conviveu com uma... bem, uma psicopata, durante toda a vida. Não
tem a mínima chance dessa mulher, filha da sua conhecida, não ser
uma psicopata. E ela ainda é psicopata das clássicas: apresenta
todo o histórico que se enquadra nas definições do psicopata
comum, desde os eventos sinistros na infância até mesmo às pessoas
que ela enganou e tem enganado por todo esse tempo.
-Eu sinceramente esperava por
isso, doutor Valentim. Mas não deixa de ser chocante ter a certeza
absoluta de tudo isso. É triste saber que os psicopatas estão
sempre tão próximos de nós...
-Disso, Raquel, você não
deve duvidar nunca. Eles estão por toda parte. Principalmente nas
empresas e entre políticos...
-Não deixa de ser aterrador,
pensar nisso tudo... sob esse ponto de vista, sabe?
-Talvez você ainda precise
desfazer aquela visão romantizada sobre psicopatas, Raquel... eles
quase nunca são como são pintados na ficção. Não são assassinos
em série, nem maníacos. São “apenas” golpistas. Pessoas sem
princípios e sem respeito ao semelhante. Mentem na cara-dura.
Inventam histórias dramáticas de vida para nos despertar a empatia,
para sensibilizar seus alvos. Quando conseguem o que querem,
geralmente altas quantias de dinheiro, partem pra outra, procuram
outro alvo, outro “pato” para usurparem e enganarem...
Os dois seguem conversando
sobre psicopatas. CORTA A CENA.
CENA 8: Rodrigo resolve
caminhar pela beira da praia, para poder sentir um pouco de sua
liberdade. Seus pensamentos tomam forma enquanto ele senta-se
contemplativo à beira-mar:
-“É muito louco sentir essa
liberdade começando a entrar dentro dos meus pulmões depois de
tanto tempo... poder respirar aliviado por saber que não devo mais
tanto pra essa gente... minha vida simplesmente parou há dois
anos... já não sei direito mais nem quem sou. Fui fraco, tive medo.
Vivo com medo... mas não quero mais esse medo pra mim... esse mar,
essa praia, essa vida que me rodeia... tudo isso me dá certeza de
que eu preciso resistir. A vida mal começou... espero ter tempo e
condições de resgatar tudo aquilo que eu deixei pra trás... mas
principalmente, aqueles que deixei pra trás. Tanta coisa pela
metade, tanta coisa interrompida! Eu não sei mais a vida que me
espera quando eu voltar. Não sei nem se ainda vai haver espaço pra
mim... mas nunca vou saber se eu não tentar... preciso de coragem,
preciso de força pra encarar esses fantasmas de frente. Preciso
encarar o fantasma da minha própria fraqueza, da minha própria
covardia, por ter deixado as coisas tomarem as proporções que
tomaram... ah, se eu soubesse de tudo isso quando era mais jovem!
Talvez tivesse evitado tanta coisa, tanta dor e tanto sofrimento a
mim e a quem amo...”
Rodrigo segue a caminhar à
beira-mar. CORTA A CENA.
CENA 9: Em Melbourne, Marcelo
está exausto de cansaço com a demora para Rafael descobrir a origem
dos ataques ao seu canal de vídeos.
-Ai, amor... isso ainda vai
demorar muito? Tou quase pegando no sono aqui... já é de madrugada!
-Tá quase no fim... já
cheguei à cidade onde o IP se encontra... agora é questão de
segundos pra chegar ao endereço.
Rafael termina de falar e fica
perplexo com o resultado que vê.
-Amor, vem cá olhar o
endereço! Você vai cair pra trás!
Marcelo se levanta da cama e
vai até o notebook, constatando que é o endereço de Cláudio.
-Foi o Cláudio mesmo! - fala
Marcelo, perplexo. FIM DO CAPÍTULO 37.
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