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segunda-feira, 27 de junho de 2016

CAPÍTULO 37

CENA 1: Laura finge que não percebeu frieza de Cláudio e continua a falar.
-Como você tá, Claudinho?
-Ah... na correria, Laura... o de sempre.
-Cláudio... você tá estranho. Parece estar reticente comigo...
-Impressão sua, Laura. O que te trouxe aqui?
-Precisava desabafar umas coisas que descobri sobre o Mateus...
Cláudio gela e Bruno também.
-Vocês acham melhor eu deixar vocês dois conversando a sós? - pergunta Bruno.
-Não, Bruno... você fica. Não tem nada que eu diga ao Cláudio que você também não possa ouvir. Eu sei de tudo... mas não te julgo, Bruno. Não sinto raiva. Você foi tão vítima quanto eu nessa história toda.
-Como é que você soube de tudo? - pergunta Cláudio, perplexo.
-Eu entrei no notebook do Mateus. Eu vi as conversas que ele tinha meses atrás com o Bruno. Mas... espera aí... você sabia de tudo e não me contou nada, Cláudio? Você falou de um jeito agora que parece que sabia.
-Eu soube de tudo tem alguns dias. Foi o motivo pelo qual eu terminei meu namoro com o Bruno.
-Você não devia ter terminado com ele. Isso faz parte do passado dele, foi antes de você.
-Não importa mais. Muito me surpreende você posando de magnânima agora, Laura! Defendendo quem te traiu.
Laura se indigna.
-Se for pra gente falar em traição, que tal começar pelo fato de que você já sabia do caso que eles tiveram e não teve a coragem de me dizer? Não é você, Cláudio, o eterno defensor da verdade doa a quem doer, acima de qualquer coisa? Cadê a sua defesa pela verdade e pela transparência quando você soube do caso que o meu namorado e o seu ex tiveram? Sumiu? Desapareceu?
-Você não tem o direito de me tomar desse jeito, Laura! Quem você pensa que é? Dona da verdade, agora?
-Se tem alguém aqui que se sente dono da verdade e só vê as coisas pelo próprio ponto de vista, esse alguém é você!
-Eu não acredito que você me disse isso, Laura!
-Desculpe. Mas você precisa amadurecer. Na verdade eu não me importo por você não ter me dito. Acho até bonito que de algum jeito você tenha tido vontade de me proteger dessa verdade. É o que os amigos fazem, às vezes. Mas será que você não vê uma contradição entre essa sua atitude e o que você prega e impõe às pessoas? Você me faltou com a verdade... logo você, que sempre defendeu ela!
-E quem você pensa que é pra me questionar desse jeito?
-Cláudio, será que pelo menos uma vez na vida você vai compreender que críticas não são ataques pessoais? Para de se defender atacando!
-Vai embora daqui, Laura. Vai embora...
Bruno tenta acalmar os dois.
-Gente, pelo amor de Deus... se acalmem! Os dois estão exaltados!
-Não tem conversa, Laura, vai embora da minha casa. Agora!
Laura parte, furiosa e Cláudio chora nos braços de Bruno. CORTA A CENA.

CENA 2: Em Melbourne, já de manhã por lá, Rafael percebe que Marcelo já não está mais ao seu lado na cama.
-O que foi, amor? Pulou da cama, hoje?
-Mal consegui dormir, Rafa...
-Por que?
-Eu sei que não devia alimentar certos pensamentos, amor... mas às vezes certas coisas são mais fortes que eu.
-Você ainda não conseguiu parar de pensar naquele incidente lamentável com o seu canal, não é?
-É exatamente isso. Desculpa, Rafa... eu sei que não devia ficar insistindo em pensar nisso, mas eu não consegui parar... tentei pensar em outras coisas, ouvir música... mas não deu.
-Acho que você suspeita de alguém... estou certo?
-Suspeito sim. Mas tenho até medo de dizer, porque tem um lado meu que suspeita, mas outro que prefere acreditar que essa pessoa não seria capaz disso...
-É do Cláudio que você tá desconfiado, acertei?
-Em cheio. Eu não queria suspeitar dele, te juro. Ainda me considero melhor amigo dele... mas acho que ele não me quer mais como amigo. Só não entendo uma coisa...
-O que?
-Se ele foi meu amigo por uma vida inteira e sempre mostrou ser uma pessoa super correta, super do bem, por que ele faria essas coisas todas?
-Primeiro, a gente não tem certeza de nada. Talvez seja só esses haters, como eu já te falei, amor... mas se for ele, é compreensível. A cabeça dele tá cheia de coisa. É muita coisa em pouco tempo... e você me disse que ele vive se vitimizando, não disse?
-Sim... e isso é fato. Ele sempre aceitou a condição de vítima...
-Pois então. Na cabeça dele é como se ele estivesse dentro de uma eterna novela, saca? Sendo ele o mocinho e quem vai contra ele, os vilões terríveis a serem combatidos e eliminados... atacados, se for o caso.
-Nessa sua teoria... eu seria o vilão da vez pra ele, é isso?
-Exatamente. Mas é cedo demais pra gente concluir qualquer coisa.
-Você tem razão, amor... é grave demais a gente acusar qualquer pessoa sem ter provas de nada.
-Viu? Então relaxa...
-Vou tentar relaxar, Rafa... eu prometo.
-Tenta tirar um pouco essas coisas da sua cabeça. Apesar do bom alcance que seus vídeos tem, você não depende deles pra sobreviver.
-Sim... mas isso abala a credibilidade do meu canal, entende? Eu gosto de transmitir os conhecimentos sobre psicologia para as pessoas mais leigas, para que elas possam ser melhor informadas no dia a dia...
-Tudo bem, Marcelo... mas a gente vai dar um jeito de resolver essa questão. Confia em mim.
-Como?
-Ainda não pensei nisso. Mas a gente vai encontrar uma solução...
Os dois se abraçam e vão tomar café da manhã. CORTA A CENA.

CENA 3: Depois do jantar, Riva pede licença para falar a sós com Marion e Valquíria.
-Queridos... vocês me desculpem a indelicadeza, mas vocês me dão licença e me emprestam a Marion e a vovó por um instante? Preciso conversar com elas no escritório... - fala Riva.
Ivan, Mariana e Vicente assentem e seguem a conversar. Riva segue com Marion e Valquíria para o escritório.
-Por que chamou a gente, querida? É algum assunto importante? - questiona Valquíria...
-Ai, vó... tá chegando perto o casamento... e é a primeira vez na vida que vou casar, entende?
-Riva... eu sei o quanto você deve estar nervosa. Eu fiquei uma pilha de nervos nas vésperas do casamento com o Ivan... - fala Marion.
-Você pelo menos me entende... mas sério gente, não sei o que fazer. Fico com medo de cometer alguma gafe na hora do casamento ou depois, na festa... - desabafa Riva.
-Eu não sei se posso ajudar você a se acalmar, minha neta... também nunca casei... - fala Valquíria.
-Procura pensar que vai dar tudo certo, Riva... no final as coisas acabam saindo do jeito certo... - continua Marion.
-Ainda custo pra acreditar nisso tudo... quem diria... eu casando! E com um homem maravilhoso como o Vicente... - derrete-se Riva.
-Relaxa, querida. Tudo vai dar certo. - encoraja Valquíria.
As três voltam à sala. CORTA A CENA.

CENA 4: Na manhã do dia seguinte, Mateus vai ao encontro de Rodrigo no apartamento de Santa Tereza que ele voltou a morar.
-Fiquei surpreso por você me chamar tão cedo, Rodrigo. Você nem quis entrar em maiores detalhes...
-É o seguinte: lembra de quando eu te passei aquelas instruções pra você ficar no meu lugar, pra definir as estratégias de distribuição de ação dos homens do chefe?
-Sim, lembro. O que é que tem nisso? Faltou alguma coisa?
-De certa forma, sim. Pouco depois que você foi embora eu parei num posto de gasolina e fui sequestrado. Pensei que era sequestro relâmpago, cê sabe como anda essa cidade... mas não era. Eram homens do chefe. Caras que eu nunca vi antes na vida. Você tinha razão quando me repassava o que o chefe dizia... ele realmente tem mais homens que a gente pensava.
-Sim, mas isso é motivo pra me chamar até aqui?
-Claro que não, seu tonto! Presta atenção, Mateus. O Flávio, que é o líder do grupo que me sequestrou, vai ficar encarregado de algumas tarefas e para isso ele vai precisar de fundos de investimento, entende?
-Tou começando a entender.
-Eles me pegaram apenas para conversar, acertar os detalhes da minha saída da organização. Fomos madrugada adentro nisso, até o amanhecer. E pouco antes de eu voltar pra casa, Flávio me entregou uma mala de dinheiro. Ordens expressas do chefe. Esse dinheiro é de sua responsabilidade, Mateus. Você deve distribuir o pagamento entre os homens, exatamente do jeito que eu fazia, através de depósito em banco naquelas contas fantasmas.
Rodrigo entrega a mala de dinheiro para Mateus, que fica tenso.
-Como é que eu faço pra não ter esse trambolho visto na rua? E pra guardar em casa? A Laura pode ver alguma coisa...
-Relaxa, cara. Eu te dou uma carona até a esquina de sua rua. E te empresto uma mochila minha que não uso mais. Dá pra disfarçar da Laura, basta esconder essa mala num lugar que ela não tenha o hábito de mexer.
-Está certo...
Rodrigo e Mateus organizam as coisas. CORTA A CENA.

CENA 5: Em Melbourne, Rafael e Marcelo voltam ao quarto do hotel em que estão hospedados depois de um passeio.
-Sabe, Marcelo... andei pensando durante o passeio sobre aquela nossa conversa de antes.
-Sim... mas por que ficou pensando?
-Eu tenho uma maneira de descobrir quem é a pessoa que anda sabotando os seus vídeos.
-Como?
-Simples... quer dizer... não tão simples assim. Vou explicar: o processo em si é simples, mas demorado. Iríamos noite adentro.
-Como funciona?
-Eu tenho algumas noções de codificação. Em outras palavras, eu conheço alguns truques que basicamente só hackers conhecem. Claro... nunca usei isso pro mal ou pra prejudicar ninguém, mas...
-Me fala mais sobre isso, tá ficando interessante isso, amor...
-Então, Marcelo... chegando no IP do computador responsável por essa ação, eu tenho como chegar ao endereço exato da pessoa... com direito a tudo: logradouro, cep... tudinho!
-Isso demora?
-Não vou mentir. Vamos perder algumas horas nisso. Você quer descobrir mesmo assim?
-Claro que quero, amor!
-Está certo... a gente começa a fazer isso mais tarde, tá?
-Combinado.
CORTA A CENA.

CENA 6: Cleiton está com uma expressão contrariada e Adelaide nota.
-Não tou te entendendo, amor... faz horas, dias que você tá com essa cara emburrada...
-Você tem a coragem de me perguntar, ainda?
-Se tou te perguntando é porque não sei, né... e vou continuar sem saber se você não me disser.
-Não engoli aquelas caras de espanto e quase nojo que você fez umas quatro ou cinco vezes quando as meninas estiveram aqui.
-Eu não acredito que você vai começar a implicar até com minhas caras! Não vê o esforço que tou fazendo pra aceitar tudo numa boa? Não é fácil...
-Em primeiro lugar você não tem que aceitar nada, porque Renata não tá pedindo licença a ninguém pra ser quem ela é. Em segundo lugar, você deveria pelo menos ter mais boa vontade.
-E eu não tou tendo boa vontade? Cleiton, você tá sendo tão, mas tão injusto! Você acha que a gente perde nossos preconceitos do dia pra noite? As coisas precisam de tempo, meu amor! Para de me tomar desse jeito, caramba! Você quer que eu mude, mas não respeita o meu tempo!
Cleiton cai em si que implicou desnecessariamente com a esposa.
-Olha... desculpa, Adelaide. Eu sei que você tá fazendo seu melhor. É que às vezes tenho pressa...
-Às vezes? Você quer dizer quase sempre, né...
Os dois riem e se abraçam com cumplicidade. CORTA A CENA.

CENA 7: Raquel vai novamente ao consultório de doutor Valentim.
-Bom dia, doutor. Como vai?
-Vou bem, dona Raquel. O que me conta de novo sobre o caso da filha da sua amiga?
-Nada muito novo. Na verdade eu gostaria de entender tudo isso de uma maneira mais clara, mesmo. Saber se essa filha dela é realmente uma psicopata.
-Não há dúvidas que restem em relação a tudo isso.
-Desculpe... você poderia dizer isso de uma maneira mais clara? Você tem certeza do que tá me falando?
Raquel tenta disfarçar sua dor diante de Valentim.
-Absoluta, Raquel. Eu sei que é difícil pra você ouvir tudo isso. Imagina pra mãe dessa mulher, que conviveu com uma... bem, uma psicopata, durante toda a vida. Não tem a mínima chance dessa mulher, filha da sua conhecida, não ser uma psicopata. E ela ainda é psicopata das clássicas: apresenta todo o histórico que se enquadra nas definições do psicopata comum, desde os eventos sinistros na infância até mesmo às pessoas que ela enganou e tem enganado por todo esse tempo.
-Eu sinceramente esperava por isso, doutor Valentim. Mas não deixa de ser chocante ter a certeza absoluta de tudo isso. É triste saber que os psicopatas estão sempre tão próximos de nós...
-Disso, Raquel, você não deve duvidar nunca. Eles estão por toda parte. Principalmente nas empresas e entre políticos...
-Não deixa de ser aterrador, pensar nisso tudo... sob esse ponto de vista, sabe?
-Talvez você ainda precise desfazer aquela visão romantizada sobre psicopatas, Raquel... eles quase nunca são como são pintados na ficção. Não são assassinos em série, nem maníacos. São “apenas” golpistas. Pessoas sem princípios e sem respeito ao semelhante. Mentem na cara-dura. Inventam histórias dramáticas de vida para nos despertar a empatia, para sensibilizar seus alvos. Quando conseguem o que querem, geralmente altas quantias de dinheiro, partem pra outra, procuram outro alvo, outro “pato” para usurparem e enganarem...
Os dois seguem conversando sobre psicopatas. CORTA A CENA.

CENA 8: Rodrigo resolve caminhar pela beira da praia, para poder sentir um pouco de sua liberdade. Seus pensamentos tomam forma enquanto ele senta-se contemplativo à beira-mar:
-“É muito louco sentir essa liberdade começando a entrar dentro dos meus pulmões depois de tanto tempo... poder respirar aliviado por saber que não devo mais tanto pra essa gente... minha vida simplesmente parou há dois anos... já não sei direito mais nem quem sou. Fui fraco, tive medo. Vivo com medo... mas não quero mais esse medo pra mim... esse mar, essa praia, essa vida que me rodeia... tudo isso me dá certeza de que eu preciso resistir. A vida mal começou... espero ter tempo e condições de resgatar tudo aquilo que eu deixei pra trás... mas principalmente, aqueles que deixei pra trás. Tanta coisa pela metade, tanta coisa interrompida! Eu não sei mais a vida que me espera quando eu voltar. Não sei nem se ainda vai haver espaço pra mim... mas nunca vou saber se eu não tentar... preciso de coragem, preciso de força pra encarar esses fantasmas de frente. Preciso encarar o fantasma da minha própria fraqueza, da minha própria covardia, por ter deixado as coisas tomarem as proporções que tomaram... ah, se eu soubesse de tudo isso quando era mais jovem! Talvez tivesse evitado tanta coisa, tanta dor e tanto sofrimento a mim e a quem amo...”
Rodrigo segue a caminhar à beira-mar. CORTA A CENA.
CENA 9: Em Melbourne, Marcelo está exausto de cansaço com a demora para Rafael descobrir a origem dos ataques ao seu canal de vídeos.
-Ai, amor... isso ainda vai demorar muito? Tou quase pegando no sono aqui... já é de madrugada!
-Tá quase no fim... já cheguei à cidade onde o IP se encontra... agora é questão de segundos pra chegar ao endereço.
Rafael termina de falar e fica perplexo com o resultado que vê.
-Amor, vem cá olhar o endereço! Você vai cair pra trás!
Marcelo se levanta da cama e vai até o notebook, constatando que é o endereço de Cláudio.
-Foi o Cláudio mesmo! - fala Marcelo, perplexo. FIM DO CAPÍTULO 37.

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