CENA 1: Todos ficam
extremamente contentes por Marion. Ivan começa a falar.
-Você aceitou, certo?
-Claro que aceitei! Não podia
recusar o convite quando me disseram que a protagonista será mãe da
personagem do Rafa! Nunca imaginei que ia fazer a mãe do meu próprio
filho na vida real na televisão!
-Mas você ia aceitar de
qualquer jeito, não ia, minha filha? - questiona Valquíria.
-Olha, mãe... eu sinceramente
não sei. Já são oito anos sem fazer uma novela inteira, a Mariana
ainda era pequena antes de eu cair nesse ostracismo todo...
-Verdade, mãe. Acho que o
Rafa tem uma memória mais viva de você sendo parada todos os dias
na rua, trabalhando de domingo a domingo, essas coisas...
-Tem sim, filha. Quando você
começou a ter uma noção mais real das coisas, eu já não andava
tão famosa como antes. Mas sabe, acho que isso foi bom, pude
acompanhar melhor o teu crescimento do que o crescimento do seu
irmão... eu trabalhava muito. Saía às vezes de casa antes das
cinco da manhã pra chegar muitas vezes quando era quase meia-noite.
O trabalho todo, apesar de ser muito cansativo, vale muito a pena,
porque é algo que amo fazer. Mas pensando bem, foi bom que eu tenha
passado esses oito anos afastada da TV... pude me dedicar mais à
família. Só lamento que provavelmente o Haroldo não volta antes de
eu começar a gravar de novo...
-Eu não teria certeza disso,
amor... - fala Ivan.
-Você tá sabendo de alguma
coisa, Ivan? - questiona Riva.
-É, pai... cê tá sabendo de
algo do meu irmão? - questiona Mariana.
-Não, gente... só tou com
uma intuição forte de que ele pode voltar a qualquer momento...
Marion estranha.
-Ivan, você nunca foi dessas
coisas. Nunca acreditou em intuição... o que mudou em você do dia
pra noite, que eu não consegui acompanhar?
-Marion... depois que a gente
passa de uma idade a gente começa a ver a vida com outros olhos. Eu
sinto que posso acreditar mais na minha intuição. Mas vamos voltar
ao seu assunto, porque não é todo dia que você recebe convite da
emissora pra voltar pra TV...
-Verdade. Mas sabe gente, eu
acho melhor contar pros meninos só quando eles voltarem pro
Brasil... - pondera Marion.
-Marion, cê tá maluca?
Primeiro, hoje tem internet em qualquer canto do mundo. Segundo:
mesmo sem a internet, eles tem acesso ao sinal internacional da
emissora. Acho melhor você ligar pro seu filho e contar antes que
ele saiba por um desses meios, mesmo estando lá na Austrália... -
pondera Vicente.
-O Vicente tem razão,
Marion... - constata Riva.
Todos seguem conversando.
CORTA A CENA.
CENA 2: Mateus está navegando
pela internet quando se depara com a notícia da confirmação de
Marion como a protagonista da novela onde Rafael será filho dela.
-Laura, você não vai
acreditar no que eu acabei de ler!
-Olha, se for papo daqueles
golpistas de novo, pode esquecer que eu já me estressei o suficiente
com reacionários por um bom tempo...
-Não é isso, amor... é
sobre a próxima novela das nove... de novo.
-Ai, o que foi agora?
-A Marion foi confirmada como
protagonista. Você sabe o que isso significa? Que ela vai ser mãe
da personagem do Rafael! Fazendo a mãe do próprio filho na vida
real.
-Tá, mas e daí? Essa não é
nem de longe a primeira vez que isso acontece. Também não vai ser a
última. Regina Duarte já fez a mãe da Gabriela naquela novela do
Manoel Carlos, dentre outros exemplos que eu nem preciso citar pra
você.
-Mas isso é uma panelinha!
Tudo sempre favorecendo aquele tonto do Rafael!
-Mateus, chega! De novo esse
papo pra cima de mim não! Quer dizer que com os outros atores e
atrizes que atuam com seus pais e filhos na TV pode, não é
panelinha? Mas quando tem a ver com o Rafael, a quem você chama de
amigo, se torna panelinha?
-Não... não é bem assim. Eu
sou amigo do Rafael...
-Será que é mesmo, Mateus?
Que belo amigo você se mostra pelas costas dele, hein?
-Não seja dura comigo, Laura.
Você mal deixa eu falar!
-Deve ser porque eu fico com o
péssimo pressentimento de que sei exatamente onde todo esse seu
discursinho vai acabar... olha, Mateus, ninguém está contra você.
Será que você não percebe que é você que se coloca contra si
mesmo e por isso projeta isso nas pessoas? Poxa vida! A gente tá há
tanto tempo junto e você não mudou quase nada!
-Eu só queria ser mais
reconhecido pelo meu talento na emissora. Você sabe que eu me
esforço.
-Esforço é bom, mas não é
tudo nessa vida. Talento é o principal. Olha, amor, você é
talentoso, mas será possível que não dá pra ter um pouco de
paciência? Nenhum monstro sagrado da TV começou por cima, sabia
disso? Cuidado pra sua ambição não te cegar, viu? Não vai querer
terminar como o Guilherme de Pádua, vai?
-Ai, que horror, amor! Não
acredito que você fez essa comparação!
-Exagerei de propósito, pra
ver se você cai na real. Se você quiser comer ainda, eu deixei no
forno o seu pedaço da pizza. Agora eu vou dormir. Tira essas coisas
da cabeça, tá?
-Vou tentar, Laura... eu juro
que vou.
-Tente por você, não por mim
ou qualquer pessoa. Você não me deve explicações, precisa
resolver isso dentro de você. Eu te amo... não quero ver você se
perdendo...
Laura beija a testa de Mateus
e vai dormir. CORTA A CENA.
CENA 3: Na manhã do dia
seguinte, Bruno percebe no café da manhã que ainda há um clima
pesado entre ele e Cláudio.
-Olha, Cláudio... eu sei que
fiz burrada, mas precisa desse climão todo aqui?
-Que climão, Bruno? Eu só
não quero falar muito. Tem dias que eu curto ficar assim, em
silêncio, ouvindo os meus próprios pensamentos...
-Será que é só isso?
-É só isso, sim. Mas se não
fosse? Razões pra isso eu teria.
-Eu só queria que você me
perdoasse de coração, Cláudio...
-E quem disse que eu não
perdoei? Quem tá pensando nisso é você, Bruno.
-Você fica me olhando com
essa cara de decepção...
-Não é pra menos. Você
esperava que eu ficasse indiferente a tudo o que eu soube? Meio
impossível, isso. Só que mesmo te perdoando eu preciso de um tempo
pra digerir tudo isso. Já te falei que quem eu não perdoei
totalmente foi a mim mesmo, por ter permitido que as coisas chegassem
onde chegaram. A responsabilidade não é sua, é minha.
-Mas você acha certo se
violentar desse jeito? Se culpar assim?
-Ninguém aqui tá falando em
culpa, Bruno. Mas como é que você espera que eu me sinta? Me vejo
obrigado a esconder uma verdade dolorosa da minha melhor amiga, tento
desabafar com meu melhor amigo e aquele ingrato egoísta não dá a
mínima pra mim e meus problemas, ainda tem a capacidade de dizer que
tava cansado e precisava dormir...
-Você tá julgando o Marcelo
por antecipação. Será que não percebe que ele está em outro
continente? Será que ignora que os fusos são completamente
diferentes?
-Até você vai defender ele
agora? Olha, Bruno, melhor parar por aí, viu? Você não tá em
condições de criticar meu ponto de vista sobre meu melhor amigo.
-Depois diz que não tá
diferente comigo...
-Bruno... dá um tempo pra
mim, valeu? É muita coisa acontecendo ao mesmo tempo. Eu preciso
desse silêncio dentro de mim pra colocar as ideias no lugar, então
faça o favor de me respeitar, afinal você mora debaixo do meu teto.
-Isso é uma ameaça, Cláudio?
Não tou te reconhecendo...
-Entenda como quiser. Quer
saber? Eu vou dar é uma volta.
-Mas você não tem faculdade
hoje?
-E daí? Quase nunca falto.
Hoje não quero saber nem de faculdade nem de trabalho. Vou tirar um
tempo pra mim. Depois eu penso como vou resolver essas questões.
-Onde você vai?
-Não te interessa, Bruno.
Cláudio deixa sua casa e
Bruno se preocupa com ele. CORTA A CENA.
CENA 4: Mateus se encontra com
“Chefe” no quarto de hotel que ele usa para se esconder. Aparece
apenas a silhueta de “Chefe” e sua voz abafada.
-Me chamou pra saber se eu já
passei todas as informações pro Rodrigo e se ele topou, certo?
-Claro, Mateus. Mas não só
por isso... mas antes de seguir com o que quero dizer, queria saber
se aquele bundão não afinou dessa vez.
-Eu fiz o que você pediu,
chefe. Meti medo pra ele não dar pra trás. Funcionou.
-Ótimo. Vou mandar meus
homens falarem com ele e eles decidem melhor como vão fazer pra
roubar o banco.
-Certo. Mas você disse que
tinha mais algo pra me dizer, chefe.
-Tenho mesmo. E é bom você
me ouvir quietinho porque você sabe como a coisa funciona aqui: você
pode pensar o que quiser, mas não estou pedindo sua opinião, então
contenha-se.
-Lá vem bomba... fala então
o que você tá tramando.
-Tou pensando em agir mais
diretamente com o nosso velho alvo.
-Do que você tá falando? Ah,
não vai me dizer que...
-Exatamente. Fiquei sabendo
que o pato tá passando por um momento difícil.
-Como é que você soube
disso? Nem eu tinha certeza de nada, ainda...
-Você parece achar que eu tou
de brincadeira quando digo que tenho meus informantes e eles estão
por toda parte. Sei também que tem gente na cola de um dos nossos
homens.
-E quem é que é esse homem
que estão na cola?
-Se eu te disser eu vou estar
quebrando o sigilo que eu mesmo imponho, imbecil.
-Ok... desculpe, chefe.
-Desculpas aceitas. O que
importa é que esse é um momento oportuno para ganhar a confiança
do pato.
-Iih, chefe... não olha pra
mim! Eu não vou fazer isso!
-E quem disse que eu pensei em
você? Mateus, não se superestime. Você só é da minha confiança
porque eu tive o azar de te conhecer há muitos anos. Se fosse por
merecimento, tem muitos dos meus homens que seriam mais dignos da
minha confiança do que você.
-Também não precisa
esculachar, pô. Você pode ser mais objetivo? Ainda não entendi
direito o que você tá tramando.
-Não é pra entender. É só
pra saber: novas medidas serão tomadas daqui em diante. Independente
do que vier depois, você deve ficar de bico calado, senão já
sabe...
-Eu imagino o que você tá
tramando... mas não tenho nem coragem de dizer isso.
-Ainda bem que você sabe que
quem manda aqui sou eu, não é mesmo? Pode ir pra sua namoradinha
corna. Tudo o que eu tinha pra te dizer já foi dito.
-Mas... e o plano?
-Só te chamei pra dizer que
tenho novos planos. Não te chamei pra explicar quais são esses
novos planos.
-Então tá certo.
-Lembre-se: não importa o que
aconteça, a ordem é sempre se manter de bico fechado.
-Tá, tá, tá! Não precisa
repetir isso, chefe. Não sou burro.
-Tenho minhas dúvidas. Agora
vá. Discretamente pra ninguém te ver.
Mateus vai embora. CORTA A
CENA.
CENA 5: Ao deixar uma consulta
com Valentim, Victor conversa com Diogo ainda na recepção do local.
-Sabe, amor... eu conversei
hoje com o doutor Valentim e ele me estimulou numa ideia que eu andei
tendo dia desses.
-E que ideia é essa, Victor?
-Eu quero conhecer o Cláudio.
Quem sabe assim, conhecendo ele frente a frente, eu pare de alimentar
paranóias e medos desnecessários... ele concordou comigo, disse que
pode ser um grande passo no meu tratamento. Concordou com o que foi
dito antes na minha terapia.
-Eu nem sabia que você andava
pensando nisso, amor... mas acho uma ótima ideia. Vai ser melhor pra
todos nós. Quando você quer conhecer ele? Porque assim eu vou ter
tempo de avisar ele direitinho, né...
-Ainda não sei. Acho que
preciso ainda de um tempo antes de tomar coragem por completo. Você
me apoia quando eu tomar essa decisão?
-Claro que apoio, meu amor! Eu
estou com muito orgulho de você, de verdade.
-Pare com isso, Diogo... estou
fazendo isso não só por mim, mas por nós. Também, porque sinto
falta de ter amigos e talvez o Cláudio seja uma boa pessoa...
-Fico feliz por você pensar
assim...
Os dois deixam o consultório
abraçados. CORTA A CENA.
CENA 6: Horas mais tarde, Mara
retorna ao barzinho onde teve uma pista sobre Haroldo e fala
novamente com o garçom.
-Olá... é Juliano o seu
nome, estou certa?
-Sim. Você é a investigadora
Mara que veio aqui dia desses, não é?
-Justamente. Queria saber se
você poderia me passar mais informações sobre aquele homem da
foto, que você disse que já frequentou aqui algumas vezes...
-Sim. O que você deseja
saber?
-Se você lembra o nome dele.
-Olha... eu não lembro ao
certo... sei que começa com R, mas não sei te dizer.
-Estranho...
-Estranho por que?
-Porque o nome desse cara que
eu estou à procura é Haroldo.
-Não, Mara... não foi com
esse nome que esse cara se apresentou aqui, disso eu tenho certeza.
-Ele está usando uma
identidade falsa, provavelmente. Isso complica um pouco a situação
dele.
O garçom se assusta.
-Você tá me dizendo que ele
pode ser um criminoso?
-Não ainda... se tranquilize,
rapaz. É mais possível que ele esteja sendo vítima de criminosos
perigosos... olha, eu preciso ir. Se precisar de mais informações,
volto a te procurar...
Mara deixa o barzinho
intrigada.
-Tem algo de podre nessa
história... - fala consigo mesma. CORTA A CENA.
CENA 7: Raquel está novamente
no quarto de hotel onde está morando com Suzanne e resolve chamar a
filha pra uma conversa.
-Filha, você teria cinco
minutos pra conversar comigo?
Márcio resolve se retirar.
-Acho que vou pegar alguma
coisa pra comer pra não atrapalhar vocês...
-Não, Márcio... fica. Não
tem nada que você não possa ouvir, querido... - fala Raquel.
-Ih, mãe... se for pra
sermão, me poupe... - fala Suzanne.
-Na verdade eu queria
perguntar pra você umas coisas. Por que você insiste em arrancar
dinheiro da Riva? Não é a primeira vez que você faz isso...
-Porque dinheiro nunca é
demais e meu forte nunca foi gostar de trabalhar, ué.
-Mas precisa passar por cima
das pessoas, filha?
-As pessoas pedem pra ser
enganadas e agora sou eu a culpada da burrice e ingenuidade delas?
Ah, mãe... dá um tempo!
-Não dou tempo nenhum! Você
não percebe que você brinca com a boa fé das pessoas?
-E daí? O mundo é dos vivos.
-Você me envergonha, Suzanne!
-Se eu fosse a senhora, eu
ficava bem quietinha porque quem tá te dando moradia agora sou eu!
-Você é cruel, minha filha.
Raquel sai enojada. CORTA A
CENA.
CENA 8: Rodrigo está lendo um
livro em seu apartamento quando uma mensagem no seu celular apita.
-Deus do céu, o chefe não
cansa de me repassar essas merdas?
Rodrigo abre a mensagem de má
vontade e se espanta com o que lê.
“Rodrigo... mudança de
planos: você vai acompanhar o trabalho dos homens à distância,
fale com o Augusto pra ele analisar as falhas de segurança do banco,
aquele ali é bom observador. Estou transferindo essa tarefa porque
você precisa deixar a cidade urgentemente. Não me faça perguntas,
apenas obedeça. Pelo seu bem e pelo bem da organização, você deve
deixar a cidade imediatamente, sem questionamentos.
Chefe.”
Rodrigo fica frustrado e
assustado, indo ao quarto e começando a arrumar suas coisas.
-Era só o que me faltava. Não
bastam esses anos me escondendo, ainda tenho que fazer o que esse
infeliz manda! Logo agora!
Rodrigo chora por ter de
deixar a cidade. CORTA A CENA.
CENA 9: Cláudio está
caminhando na beira da praia, pensando na vida e nos últimos
acontecimentos. Sofre ao relembrar que não tem como contar toda a
verdade à Laura sem que ela sofra imensamente por isso.
-Não é justo, meu Deus! Não
é justo fazer isso com a minha melhor amiga...
Cláudio caminha por mais
alguns instantes e resolve sentar-se na areia, à beira-mar.
-Se essas águas pudessem me
ouvir... entenderiam que não tenho opção...
Cláudio começa a chorar e se
encolhe. De repente, alguém se aproxima sem que ele perceba. Cláudio
só percebe a presença da pessoa quando sua mão lhe toca o ombro.
Cláudio se vira, em lágrimas, para ver quem é.
-Guilherme? O que você tá
fazendo aqui?
Cláudio fica sem reação
diante de Guilherme. FIM DO CAPÍTULO 32.
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