CENA 1: Laura encara
raivosamente Mateus, que permanece atônito.
-Anda, Mateus! Vai ficar me
encarando com essa cara de quem viu fantasma? Fala a verdade de uma
vez, seu merda!
-Lau... meu amor, eu posso
explicar...
-Que papelão, Mateus! “Eu
posso explicar” é o que todo traidor diz quando vai começar a
mentir!
-Você não quer que eu fale?
Então deixa eu me explicar, Laura...
-É bom que você explique
direitinho.
-Primeiro... como é que você
descobriu isso?
-Eu nem devia te falar, mas já
que você perguntou eu digo... eu entrei no seu notebook... você é
tão previsível que colocou como senha a data de nascimento...
-Você invadiu minha
privacidade! Não acredito que você fez isso! Nunca esperei esse
tipo de invasão vindo de você, que sempre se disse tão desencanada
e respeitadora da liberdade das pessoas...
-Não tenta virar o jogo
agora, Mateus! Segui minha intuição. Você acha que eu desconfio de
você de agora? Isso já tem mais tempo, pode apostar. E o que
importa é que eu li as conversas que você teve com o Bruno antes de
ele namorar com o Cláudio...
-Você entendeu tudo errado,
Laura... Bruno é um grande amigo meu. Ajudei ele quando ele veio lá
de Coroados pra cá pro Rio... daí que a gente se tratava de zoeira
como se fôssemos namorados, você sabe... zoeira entre homens,
normal.
Laura dá um tapa em Mateus.
-Deixa de ser descarado,
Mateus! Você não sabe mentir. Pensa que sabe, mas não sabe!
-Mas eu tou falando a verdade,
Laura!
-Ah, tá mesmo falando a
verdade? E posso saber por que você nunca me falou desse amigo?
Nunca trouxe ele aqui em casa, nunca sequer mencionou o nome dele. Só
fui saber da existência desse Bruno quando ele entrou na vida do
Cláudio. Por falar no Cláudio... agora eu entendo a sua implicância
com ele. Nunca foi gratuita. Você se sente agredido, insultado pela
liberdade que ele tem. Pelo peito e pela coragem que ele sempre teve
de assumir o que ele é, com todos os bônus e ônus disso. Você não
é nem metade do homem que o Cláudio é, saiba disso.
-Isso significa que você tá
terminando comigo, Laura?
-É o que eu devia fazer nesse
momento, Mateus... mas...
-Mas o que?
-De alguma forma eu sei que
você meteu os pés pelas mãos por não saber pra onde correr. Não
me sinto no direito de te julgar baseada só no meu ponto de vista.
Estou sim com muita raiva de você. Mas não consigo odiar. Depois,
eu sei que você não tem a quem recorrer. Não penso em te deixar
só.
-Então nós continuamos,
mesmo depois disso?
-Ainda não, Mateus. Eu
preciso de um tempo. Preciso digerir tudo isso dentro de mim. Apesar
de tudo, comigo você sempre foi bom, nunca foi abusivo nem nada do
tipo...
Mateus tenta abraçar Laura,
que se esquiva.
-Mateus... agora não. Me
deixa no meu canto. Preciso de tempo...
Mateus entende o recado de
Laura. CORTA A CENA.
CENA 2: Rodrigo, depois de se
encontrar com Mateus para lhe passar instruções, está em seu carro
indo para o apartamento que havia deixado no Rio e resolve parar
antes num posto de gasolina para abastecer o carro. Rodrigo desce do
carro para também calibrar os pneus, quando percebe alguém vindo
por trás.
-Fica quietinho... pianinho.
Não dá bandeira. Termina o que tu tá fazendo aí e entra no carro.
Rodrigo olha para trás e
percebe que além do homem, armado, que o domina, há mais dois junto
dele.
-O que é isso?
-Não faça perguntas.
Terminou de encher o pneuzinho?
-Terminei.
-Então entra no carro. Sem
dar um pio. A gente vai te levar prum lugarzinho especial. Vamos,
entra no carro.
Rodrigo entra novamente no
carro e parte com os homens dentro dele.
-Isso é um sequestro? Quem
são vocês?
O homem armado se impacienta.
-Não te falei pra ficar de
bico calado, Rodrigo?
-Você sabe meu nome... pensei
que era pra ficar calado lá no posto, só...
-Pelo menos você tá
calminho, pianinho... exatamente como mandei. Mas você está fazendo
perguntas demais. Deixa isso pra depois, rapaz. Se você se
comportar, a gente não vai te machucar.
-Mas se for dinheiro que vocês
querem, eu não tenho nada na conta. Juro a vocês. Tudo o que tenho
é esse carro, quitado. Se vocês quiserem levar, levem, desde que me
deixem inteiro.
-Você tá concluindo coisas
demais antes da hora. Nem sabe porque a gente te pegou. Confia na
gente, rapaz. Vamos passar essa noite tendo uma conversinha sobre
muita coisa.
-Acho que tou começando a
entender...
-Acha? Não importa o que você
acha, Rodrigo. Ande, vire à direita.
O sequestrador armado orienta
Rodrigo a seguir até um galpão vazio no fim da rua.
-A gente desce aqui. Você vem
com a gente. Nem pense em tentar fugir, senão a gente atira. -
ordena o sequestrador.
Rodrigo obedece as ordens e os
quatro entram no galpão.
-Vocês podem pelo menos dizer
o que querem de mim? Eu já disse que só tenho esse carro de bem
valioso. Se quiserem levar o carro, levem. Só me deixem inteiro.
-Relaxa, amiguinho. A gente
não vai te machucar. A gente só quer esclarecer algumas coisas com
você.
-Como é que é? - espanta-se
Rodrigo.
-Sei que você tá confuso, se
perguntando de onde a gente vem. Calma que a gente explica... -
continua o sequestrador. CORTA A CENA.
CENA 3: Na manhã do dia
seguinte, Suzanne surge cedo na mansão dos Bittencourt para auxiliar
Riva e Marion nos preparativos da festa de casamento de Riva e
Vicente. Vicente, apesar de contrariado, tenta tolerar a presença de
Suzanne na casa.
-Bem, queridas... espero ter
chegado numa boa hora. - fala Suzanne.
-Melhor impossível. Como
sempre pontual, Suzanne. - fala Marion.
-Mas me fala, Riva... o que
vocês estão pensando pra festa do casamento?
-Olha, Suzi... eu pensei numa
festa relativamente simples. Afinal de contas, apesar de não ser pra
muitos convidados, é certo que vai ter presença da imprensa. Então
eu tava pensando numa coisa que não chame muito a atenção... -
fala Riva.
-O que ela tá querendo dizer,
Suzanne, é que ela não quer exagerar no evento. Nem na decoração,
nem nas roupas, entende? Essa daí tá pegando rápido nossas
orientações sobre etiqueta e elegância. Então a Riva não quer
nada que seja nem próximo de over, entende?
-Claro que entendo. E vocês
querem essa festa no salção de festas aqui da mansão, mesmo? -
questiona Suzanne.
-Sim. Confesso que as melhores
festas da minha vida foram aqui. Acho que Riva pensa parecido... -
fala Marion.
-Com a diferença que não
tenho lembranças daqui... não ainda! - descontrai Riva.
-Mas então... eu tava
pensando em tons pastel, cores mais suaves, puxando pro claro. Acho
que combina com o clima de casamento. Cores vivas demais podem ficar
over, vocês não acham? - fala Suzanne.
-Acho excelente essa ideia,
Suzanne. Tons escuros também devem ser evitados, afinal de contas,
lembrariam o oposto do que representa o casamento... - continua
Marion.
-Exatamente. Vicente, você
tem alguma ideia para dar sobre a festa? Afinal o noivo é você... -
fala Suzanne. Vicente domina seu asco diante de Suzanne.
-Então... eu acho que vocês
estão escolhendo as coisas certas pra festa. Só tava pensando no
que vamos servir... de comes e bebes, sabem? - fala Vicente.
-Ah, nisso eu já pensei,
amor... faço questão de eu mesma fazer a comida. Afinal, foram
tantos anos trabalhando com isso, vendendo as quentinhas, que eu
adoro estar na cozinha. - fala Riva.
-E se tem uma coisa que a Riva
faz de divino nessa vida, é comida. Tenho até que me controlar pra
não ficar acima do peso! - fala Marion.
-Ótimo. Uma despesa a
menos... - fala Suzanne.
-Como se a gente precisasse se
preocupar com nossas contas... - divaga Vicente, sendo
instantaneamente repreendido pelo olhar de Riva.
Todos continuam a acertar os
detalhes do evento. CORTA A CENA.
CENA 4: Rodrigo dialoga com os
sequestradores tranquilamente.
-Eu não sabia que o chefe
tinha mais homens. Sinceramente, sempre pensei que isso fosse um
blefe dele, você sabe... pra nos manter na mão dele.
-Olha, Rodrigo... todos nós
estamos na mão dele. Nunca vamos deixar de estar.
-Eu sei... Flávio... é esse
o seu nome, né?
-Sim. Eu sei que você sabe.
Afinal de contas, você foi um dos que mais teve a vida prejudicada a
favor dessa organização. Você está livre da organização... mas
não das obrigações que tem com ela.
-Isso sinceramente me deixa
triste, Flávio. Você e seus companheiros aqui me parecem boas
pessoas.
-Cada um de nós tem rabo
preso com o chefe. Ou trabalhamos pra ele, ou morremos. Você tem
sorte de ter sido liberado por ele.
-É, mas tou livre até a
página 2... afinal de contas tenho a obrigação de manter o bico
calado pro resto da vida.
-Vai ser melhor pra você e
pra sua família...
-E tudo isso é culpa minha.
Se eu não tivesse sido fraco, jamais teria sido obrigado a entrar
nessa organização... - lamenta Rodrigo.
-Não fica assim, cara...
pensa que você vai voltar a ter uma vida quase normal. Nós não
sabemos se um dia vamos ter essa sorte.
-Eu espero de coração que
você, Flávio, tenha essa sorte. Não só você, mas vocês todos
aqui. Vocês sabem exatamente o que é entrar nessa vida por não ter
outra saída. Por estar nas mãos de um escroque feito esse chefe. O
pior disso é que ele esconde a identidade de todos nós! Ele
manipula nossas vidas como bem entende e nem sabemos quem ele é! -
revolta-se Rodrigo.
-Deixa isso pra lá, cara...
agora chegou a hora de começar uma nova vida. Vá viver a sua vida
com o mínimo de paz que talvez a gente nunca tenha. Espero que um
dia possamos ser amigos... - fala Flávio.
-Eu também espero, Flávio.
Vou indo nessa. Se cuidem!
Rodrigo deixa o galpão e
parte em seu carro. CORTA A CENA.
CENA 5: Guilherme está na
casa de Cláudio enquanto Bruno vai às compras do dia.
-Espero não ter chegado numa
má hora...
-Que isso, Guilherme... hoje
eu só tenho aula mais pro final da manhã. A gente vai ter tempo de
conversar.
-Bem... já que você falou em
conversar... queria saber se a gente pode falar sobre qualquer
assunto.
-Claro! Por que não? Do que
você quer falar?
-Não sei ao certo... mas me
ocorrem algumas perguntas que eu queria te fazer.
-Faça.
-Cláudio... eu sei que talvez
você não queira falar nisso, mas... você ainda me acha bonito?
Cláudio fica sem jeito.
-Olha... eu sempre te achei um
tipo muito atraente... tanto que, você sabe...
-Você foi apaixonado por mim.
Mas me diga... ainda sou atraente?
Guilherme olha sedutoramente
para Cláudio.
-Eu posso me arrepender de
dizer isso... mas é, sim.
Cláudio não resiste à
investida de Guilherme e se entrega ao beijo dele. Instantes depois,
Cláudio recua.
-Guilherme... eu não sei o
que pensar desse beijo. Durante um ano da minha adolescência eu
esperei por esse beijo... mas agora não sei o que pensar disso tudo.
-Que tal a gente ir vendo onde
isso tudo pode ir? Sabe, Cláudio... o gosto da sua boca é
exatamente como eu pensei.
Os dois se beijam novamente e
Cláudio novamente recua.
-Vamos com calma. Eu te peço,
Guilherme. Vamos ver onde isso vai dar, mas por enquanto a gente só
dá uns beijos, pode ser?
Guilherme assente com a cabeça
e abraça Cláudio. CORTA A CENA.
CENA 6: Em Melbourne, Rafael
está saindo do banho quando Marcelo o chama.
-Amor, vem cá ver isso daqui!
-O que foi, Marcelo? Você
parece estar aflito!
-E estou. Olha só a
quantidade de avaliação negativa que meus vídeos sobre psicologia,
postados há meses, receberam de ontem pra hoje! Olha aqui...
Rafael verifica e fica
perplexo.
-Gente... isso tá fora do
normal... até ontem seus vídeos tinham de dez a vinte dislikes...
agora cada um deles tá com mais de cem!
-Você tá pensando o que eu
tou pensando, Rafa?
-Não sei o que cê tá
pensando, amor... mas fala o que é...
-Eu acho que tem alguém
sabotando meus vídeos.
-Sim... isso pra mim ficou bem
claro. Mas não faz sentido tudo isso... você é um cara da paz, do
bem, nunca na vida teve inimigos. Se for sabotagem, isso daí só
pode estar partindo de algum hater desocupado.
-Você acha, amor?
-Claro que acho, Marcelo. Não
se abata por tão pouco. Você tá cansado de saber que o que mais
tem aí pela internet é hater e que haters não precisam de motivo
especial nenhum pra semear discórdia. São pessoas frustradas...
pessoas que não teriam a mesma coragem de produzir conteúdo próprio
por conta própria que ficam tentando desestabilizar quem faz o que
eles jamais teriam capacidade de fazer...
-Desse jeito eu fico pensando
até besteira, Rafa...
-Que besteira, amor? Tenta
esquecer um pouco disso... o que não tem remédio, remediado está.
-Por um momento pensei que...
bem, deixa pra lá. Deve ser paranoia besta da minha mente. Vamos no
restaurante? Tou morrendo de fome.
Os dois partem. CORTA A CENA.
CENA 7: Marion e Riva partem
para o closet de Riva para decidir qual roupa utilizar no casamento
de Riva e Suzanne fica na sala, na companhia de Vicente.
-Você tá bem empolgado com
esse casamento, não está, Vicente? - pergunta Suzanne.
-Olha Suzanne, na frente das
meninas eu ainda posso me conter, mas na sua frente não lhe devo o
mínimo respeito, muito menos satisfações. Não tome tanta
liberdade comigo, tá me ouvindo?
-Eeeei! Pare com isso, rapaz!
Estou desarmada, não percebe? Quero desfazer a má impressão que
deixei em você sobre mim.
-Por que será que eu acho tão
difícil de acreditar nisso?
-De repente porque você tá
de má vontade comigo... aliás, má vontade não... péssima
vontade, isso sim.
-Ah tá... então agora a
culpa é minha.
-Não disse nessas palavras,
mas se você entende assim, já deve ter percebido. A Riva não gosta
nem um pouco quando você me olha torto, quando fala alguma coisa em
tom irônico ou sarcástico comigo. Se eu fosse você, eu me
segurava. Você não acha melhor?
-Pelo menos numa coisa você
tem razão: eu tenho que me segurar pra não voar no seu pescoço,
garota. Mas só me seguro em respeito à mulher que eu amo, que é a
Riva.
-Tão romântico, você.
Decorou o texto do Manoel Carlos, foi?
-Deixe de gracinha, Suzanne.
-Acho bom você se conter,
Vicente. Afinal de contas, você quer que o casamento aconteça, não
quer?
-O que você está insinuando,
Suzanne?
-Eu sei que vocês andaram
discutindo por minha causa... que quase brigaram. Seria uma pena se
esse casamento não acontecesse porque você não soube me tratar
como um gentleman, não seria?
-Você está me ameaçando,
Suzanne?
-Entenda como quiser. O recado
pelo menos eu dei. Se você vai ser obediente, já não é mais
responsabilidade minha. Você não ama a merendeira? Então prove que
ama ela e me deixe fazer o que eu quiser.
Vicente sai da sala, ignorando
Suzanne, que sorri triunfante. CORTA A CENA.
CENA 8: Horas depois, já
durante a noite, Cláudio e Bruno preparam o jantar, quando toca a
campainha.
-Ih Cláudio... você não
disse que o Guilherme não vinha mais hoje?
-Disse sim. Ele tá me
respeitando. Pedi calma pra ele, pra ele não avançar o sinal antes
do tempo...
-Me corta o coração ver o
rumo que isso tá tomando, mas deixa pra lá... se não é ele, quem
haveria de ser uma hora dessas?
-Abre pra mim, Bruno? Eu tou
meio complicado aqui com as batatas fritas, elas podem queimar.
Bruno vai abrir a porta.
-Oi... você deve ser Bruno.
Eu sou a Laura, melhor amiga do Cláudio.
-Sou eu mesmo. Entre, Laura.
Laura entra.
-Não vai dar um abraço na
sua melhor amiga? - fala Laura.
Cláudio dá um abraço frio e
Laura nota que ele está estranho. FIM DO CAPÍTULO 36.
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