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sexta-feira, 24 de junho de 2016

CAPÍTULO 35

CENA 1: Marcelo tenta acalmar Cláudio.
-Viado, para com isso! Que close errado, mulher! Sou eu, teu melhor amigo, porra! Que merda é essa?
-Será que é tão amigo assim? Um melhor amigo não deixa o outro praticamente falando sozinho quando esse amigo precisa mais que nunca desabafar!
-Cláudio, você só tá olhando pras coisas do seu ponto de vista... será que você não entende que estamos em fusos horários completamente diferentes? Ou será que você prefere ignorar isso e se sentir sempre a eterna vítima do mundo, das pessoas e das circunstâncias?
-Você tá me chamando de vitimista? Eu não acredito nisso, Marcelo!
-Tou falando alguma mentira, Cláudio? Toda vez que acontece alguma merda contigo você fica como se o mundo inteiro tivesse desabado na sua cabeça. Cara, eu sei que não é nada fácil perder os pais do coração de repente, num acidente tão estúpido. Eu sei o quanto te doeu isso naquela época. Eu estive lá pra te ajudar. Eu e a Laura!
-Ah, tou entendendo: então você tá me jogando essas coisas na cara pra que eu tenha eterna gratidão por isso? Quer que eu estenda um tapete vermelho, senhor? Você tá mesmo deslumbrado por essa vida. Ainda se sente brasileiro ou já tá sentindo o sangue australiano bater aí? Ou será que você quer ser europeu? Você diz que sou vitimista, mas você sempre fez questão de jogar seu inglês fluente na minha cara, seu metido!
-Como é que é? Cláudio, você sabe que eu sou a última pessoa nesse mundo a me sentir maior que alguém por causa das coisas que eu sei. Se esqueceu que eu estudei inglês por conta própria desde criança porque eu tinha problema com gagueira e a minha mãe não tinha a porra do dinheiro pra pagar uma fonoaudióloga? Mas fico satisfeito de saber o que você pensa de mim, seu ingrato. É na hora da raiva, da adrenalina correndo que as verdades saem a rodo!
-Não me venha com essas justificativas, Marcelo. Você sempre se sentiu melhor que os outros. Sempre com esse complexo de diferentona! Você não passa de um vira lata! Quer ser europeu? Pois saiba que você é brasileiro. Latino americano. Vai ser sempre isso, seu bosta!
-Eu não sei de onde você tirou que eu não gosto de ser brasileiro. Pro seu governo, Cláudio, eu jamais trocaria meu Brasil por lugar nenhum nesse mundo. É pecado agora ser fluente num segundo idioma? Devo pedir mil desculpas por poder viajar pro exterior? Tenho que omitir minhas vivências das pessoas pra não machucar o pobre coração medíocre de quem vier a se sentir agredido por coisas que eu vivi? Será que eu digo que eu comprei minhas roupas novas numa passagem por São Paulo, onde resolvi visitar a 25 de março, pra não correr o risco das pessoas pensarem que eu tou me exibindo? Me poupe, Cláudio! Eu nunca esperava tanta mediocridade vindo de você.
-Agora eu sou medíocre, né? O dinheiro mudou você, Marcelo. Acho que esse é o fim da linha pra gente. Eu não sirvo mais pra ser o seu melhor amigo. Não preencho o requisito.
-Cláudio... você não está no seu juízo perfeito. Tá fora de si. Outra hora conversamos melhor.
-Não vai ter outra hora, Marcelo. Nossa amizade acaba aqui. - fala Cláudio, desligando a chamada e bloqueando Marcelo. Guilherme e Bruno, que ouviram tudo da cozinha, vão a Cláudio, que começa a chorar. CORTA A CENA.

CENA 2: No quarto de hotel em Melbourne, Rafael tenta acalmar Marcelo, que começa a tremer de raiva da situação.
-Rafa... você viu essa situação toda? Até agora tou tremendo... sem entender como o meu melhor amigo foi capaz de falar essas barbaridades pra mim! Meu Deus do céu! Será que ele não entende que a gente veio passar um mês aqui na Austrália?
-Amor... eu nem sei o que te dizer. Mas tenta não julgar o Cláudio. Ele tá fora de si... eu não ouvi tudo que ele te contou porque tava tentando respeitar a privacidade da conversa de vocês, mas pelo que entendi, ele tá sobrecarregado... também... pudera: ele tá tendo que esconder uma verdade escabrosa da melhor amiga dele, isso não é pouca coisa... e no meio disso, por causa desse maldito segredo, ele acaba terminando com o cara que ele ama. Tem noção da confusão que tá passando pela cabeça dele?
Marcelo começa a chorar.
-Amor, eu entendo que você queira ser imparcial e te admiro por isso... mas não sei se agora consigo ver as coisas desse jeito. Eu sei a barra que ele tá passando, não é fácil. Mas o que eu poderia fazer na prática pra ajudar ele, além de ouvir? Do nada ele começou a me jogar um monte de coisa pesada na cara, no meio da conversa! Ele já pensava tudo aquilo de mim, o que ele fez foi deixar escapar o que ele realmente pensa de mim... isso me dói demais! Era meu melhor amigo! De repente ele se revela uma pessoa recalcada, invejosa, me acusa de ter mudado por causa do dinheiro, critica até os conhecimentos que adquiri ao longo da vida! Olha a que ponto ele chegou, Rafael!
Rafael abraça Marcelo, que chora copiosamente em seus braços. Rafael tenta acalmar o namorado.
-Ainda assim, Marcelo... você acha que uma amizade de uma vida inteira acaba assim, por causa de uma briga, de um desentendimento num momento de ânimos alterados?
-Rafa... eu te juro que nunca vi o Cláudio desse jeito. Ele sempre foi de fato um vitimista. Ele sempre aceitou essa condição, essa posição em que ele mesmo se coloca como vítima do mundo, das pessoas, das circunstâncias. Ele acha que as pessoas precisam sentir peninha dele por todas as barras, que são realmente pesadas, que ele passou. Meu medo é que, distante de mim e brigando com mais gente, ele fique vulnerável à pessoas de má-fé... esse é meu maior medo. O Cláudio é um cara bom... só é imaturo demais!
-Você me permite dizer o que eu acho dele, amor?
-Claro, Rafa...
-Então, Marcelo... eu gosto do Cláudio. Ele realmente é um cara bom... e também imaturo, como você diz. Ele defende a verdade acima de tudo, mas essa defesa é utópica. Ele só enxerga o mundo, a vida e as pessoas pelos olhos dele mesmo, o que faz dele um pouco egoísta além da conta. Ele não percebe que todo mundo mente. Todos nós contamos pequenas mentiras, seja pra escaparmos de situações embaraçosas ou pra proteger pessoas que amamos. Ele nunca parou pra pensar nisso a fundo. Quando ele se viu confrontado diante da verdade sobre o passado do ex dele, que envolve a melhor amiga dele, ele se viu confrontado com esse fato: ele não apenas vai ter de omitir, mas provavelmente vai mentir também pra proteger a amiga. Ele nunca mentiu na vida, por convicção. Um tanto infantil, na verdade... ele não se preparou pro momento que ele fatalmente teria que mentir, como qualquer um... acho que é isso que tá gerando esse turbilhão todo...
-Sabe de uma coisa, amor? Você deveria ser psicólogo. Tirou as conclusões de uma maneira mais lúcida que eu...
Os dois se abraçam, enquanto Marcelo tenta se tranquilizar. CORTA A CENA.

CENA 3: No dia seguinte, Rodrigo recebe novamente uma ligação de número desconhecido e presume ser “Chefe”.
-Fala, chefe. Tá precisando me dizer alguma coisa? Confesso que ainda tou surpreso com essa sua decisão de falar comigo.
-Tolinho. Você acha que essa é a minha voz de verdade? Tenho meus meios de disfarçar... sim, tou precisando te dizer uma coisa. Uma coisa que talvez seja justamente a solução pros seus problemas, suas crises bestas de consciência, você sabe... quem nasceu pra ser bundão, morre bundão...
-Delicado como um coice de cavalo, você. Diga logo qual é a solução dos meus problemas, chefe.
-É a coisa mais simples que pode existir nesse mundo. Eu não preciso mais de você. A organização não precisa mais dos seus serviços. Não é isso que você queria? A sua carta de alforria?
-Não é bem assim, chefe... eu estava disposto a fazer os serviços...
-Pra cima de mim, cara? Não é de hoje que percebo você tentando escapar de fazer as coisas que eu mando. Mas você tem um mérito nisso tudo: mesmo não suportando essa pressão, não bateu de frente comigo. Me respeitou. E por isso eu te respeito. Você está oficialmente fora da organização.
-Isso significa que eu posso voltar pro Rio? Pra minha casa? Pros meus?
-Calma, Rodrigo. Não vá com tanta sede ao pote. Encontre o seu substituto na igreja. Ele vai estar vestindo verde, de cima a baixo, pra você não ter como se confundir. Anote também o meu celular pra me ligar quando você tiver passado todos os instrumentos de trabalho pro substituto aí em São Gonçalo. Depois disso, você está liberado pra ir pra onde você quiser.
-Você me garante?
-Meu querido, minha palavra é uma só. Não sou de voltar atrás. Você terá sua liberdade, sob algumas condições que ainda serão discutidas mais pra frente. Agora preciso desligar. Feliz alforria!
Rodrigo vibra por se livrar das obrigações com “Chefe”. CORTA A CENA.

CENA 4: Horas depois, Cláudio vai à casa de Guilherme depois de sua aula, para agradecer o novo amigo.
-Oi, Guilherme... atrapalho?
-Imagina, querido! Não atrapalha nunca!
-É que eu vim sem avisar... desculpe. Podia ter ligado pro seu celular, pelo menos...
-Para com isso, Cláudio. Você pode vir sempre que quiser, de verdade.
-Obrigado... aliás, eu queria agradecer pelo apoio que você tem me dado. Você e o Bruno, apesar de tudo, não me abandonaram nesse momento difícil. Você tá se mostrando uma pessoa maravilhosa, Guilherme. Agora eu sei que quando a gente estudou junto, era esse seu potencial maravilhoso que eu enxergava.
Guilherme se emociona.
-Cláudio... você não sabe como me faz feliz por me dizer essas coisas.
Guilherme tenta beijar Cláudio, que se assusta e se esquiva.
-Guilherme... você me prometeu...
-Eu sei. Desculpe... é que eu nunca te beijei. Senti vontade de sentir o gosto da sua boca...
-Eu preciso de tempo... pra pensar, pra colar os meus cacos. Me desculpe por não poder te oferecer o que você deseja de mim... eu preciso ir. Mas você é bem vindo na minha casa a qualquer hora. Você está se mostrando um amigo leal. Até mais, amigo...
Cláudio deixa rapidamente o apartamento de Guilherme, visivelmente atordoado. CORTA A CENA.

CENA 5: Raquel está novamente no consultório de Valentim, a relatar o comportamento de Suzanne sem revelar que ela é sua filha.
-Sabe, doutor Valentim... essa menina, melhor dizendo, essa mulher, a filha da minha conhecida, está me dando cada vez mais certeza de que é psicopata. Andei conversando com essa conhecida, claro... sem falar pra ela de minhas suspeitas. Como somos conhecidas de longa data, ela foi me contando algumas coisas de acordo com as perguntas que fiz.
-Sei, Raquel. E que perguntas seriam essas?
-Bem, perguntei como havia sido a infância da filha dela.
-E o que você obteve como resposta?
-Coisas no mínimo perturbadoras, doutor...
-Como o que, por exemplo?
-Minha conhecida relatou que desde pequena, sua filha tinha uns comportamentos não apenas esquisitos, mas acima de tudo, mórbidos. Pra você ter uma ideia do nível disso, ela relatou que a filha dela, quando tinha seis anos, dissecou um gato da vizinhança, que ela mesma, de algum jeito, matou e... bem, depois pendurou a carcaça desse gato morto no varal do quintal de sua casa.
-Interessante você me relatar isso. Quase sempre a infância dos psicopatas é cercada de eventos parecidos com esse. Só acho meio estranho que você, Raquel, parece um tanto abalada ao falar de tudo isso... ou é só impressão minha?
Raquel tenta se esquivar da suspeita de Valentim.
-Que isso, doutor! Não é que eu me abale... mas fico chocada de alguma maneira com o que minha conhecida contou pra mim. Essa frieza, pra interromper uma vida inocente, que nem de longe representava ameaça... ainda mais essa menina sendo uma criança na época... torna isso mais mórbido ainda.
-Será que é só isso, mesmo, Raquel? Eu podia jurar que essa história que você me contou não é nenhuma novidade pra você. Está claro que essas coisas te chocam, mas sua expressão corporal demonstra alguma naturalidade ao falar disso...
-Você está enganado, doutor Valentim... é que já vi e vivi muita coisa nessa vida.
-Sei. Siga falando, essa história está interessante...
Raquel segue relatando lembranças a Valentim. CORTA A CENA.

CENA 6: Rodrigo liga para “Chefe”.
-Fala, Rodrigo. Já entregou tudo pro seu substituto?
-Fiz tudo como combinado.
-Se certificou que ninguém observou ou seguiu vocês?
-Com certeza, chefe. Pode ficar tranquilo.
-Perfeito. Você pode voltar pra sua casa. Digo, para o Rio... o que você vai fazer no Rio não é mais do meu interesse.
-Hoje mesmo?
-Sim. Mas tenho um último pedido a te fazer: encontre com Mateus antes. Você sabe, ele é melhor como estrategista do que em ação. É meio covardão como você, quando se trata de combate. Ele vai te substituir nessa parte estratégica. Passe ele todas as instruções que puder. Procure um lugar neutro, que não desperte suspeitas, certo?
-Acho que essa é a coisa mais simples de se fazer nesses anos todos, ainda mais sabendo que será minha despedida dessa organização. Muito obrigado por me libertar disso tudo...
-Não venha com sentimentalismos. Não estou te fazendo favor nenhum... você apenas deixou de ser útil pra mim, me deu mais prejuízo nesses últimos meses do que qualquer coisa. De qualquer forma, boa sorte.
“Chefe” desliga e Rodrigo começa a arrumar suas malas para voltar ao Rio. CORTA A CENA.

CENA 7: Horas mais tarde, Laura aproveita que Mateus saiu e em vez de seguir o namorado, resolve vasculhar seu notebook.
-Ah... só o que me faltava... tem senha! Mas convenhamos que o Mateus não é a pessoa mais criativa quando se trata de criar senhas... deve ter colocado a data de nascimento...
Laura digita a data de nascimento de Mateus no campo da senha e consegue acessar o notebook do namorado.
-Sabia!
Laura segue tentando descobrir informações pelos arquivos, até que o programa de chamadas em vídeo abre automaticamente no computador. Curiosa, Laura, decide vasculhar a lista de contatos de Mateus e se surpreende ao encontrar ali Bruno.
-Pera... esse não é o namorado ou ex namorado do Cláudio? O que o Bruno tá fazendo aqui?
Laura abre a caixa de conversa entre Mateus e descobre que eles conversavam por texto e não por vídeo. Ao recuar para conversas mais antigas, Laura fica chocada.
-Eles tiveram um caso! Namoraram! Taí as saídas misteriosas do Mateus! Ele me traiu durante esse tempo! Mas faz meses que eles não se falam... bem, devem ter terminado.
Laura fica perplexa e chocada diante do que constata.
-Ele me enganou! Eles me enganaram! Se bem que o coitado do Bruno não tem culpa pela vida dupla que o Mateus resolveu levar. Devem ter se amado... meu Deus do céu! Tá tudo começando a fazer sentido agora... a implicância com o Claudinho não é e nunca foi gratuita... Mateus se sentia insultado, agredido pela liberdade do meu melhor amigo... meu Deus, que covarde!
Laura chora e treme de raiva de Mateus. CORTA A CENA.

CENA 8: Marion finalmente consegue fazer uma chamada para o filho.
-Meu filho... que saudade! As coisas estão indo bem aí na Austrália?
-Melhores impossíveis... a prima e o Vicente chegaram a te contar que falaram comigo e com o Marcelo?
-Não chegaram a dizer... não deve ter dado tempo, ou esqueceram, mesmo...
-Enfim... não tem problema.
-Mas então isso significa que provavelmente você já sabe que eu fui chamada pra próxima novela das nove...
-Sim, mãe. Mas não foi porque eles me contaram. A gente leu na internet, antes deles falarem. Nunca pensei que íamos interpretar na TV o que somos na vida real, mãe e filho...
-Não é ótimo, filho? Pra mim esse tá começando a ser um grande retorno!
-Fico muito feliz, mãe. Mais feliz por você, acima de tudo. Sei o tanto que você sentiu falta de trabalhar.
-Verdade. Mas tem mais coisa nessa sua expressão feliz, não tem?
-Ah, muitas coisas boas tem acontecido nesses dias aqui em Melbourne...
Rafael segue contando as novidades para sua mãe. CORTA A CENA.

CENA 9: Mateus chega em casa de seu encontro secreto com Rodrigo e percebe que Laura não está na sala.
-Ué... será que ela saiu sem me avisar? Estranho...
Mateus caminha pelo corredor e encontra Laura no quarto.
-Oi, amor... resolveu dormir cedo?
-Eu tou com cara de quem tá indo dormir, Mateus?
Mateus estranha a fala ríspida de Laura.
-Ei... que bicho te mordeu?
-Você me responde... o que você fez com o nosso namoro nesses últimos anos? Me enganou! Não adianta negar nada. Olha bem no meu olho e diz que você não teve um caso com Bruno!
Mateus gela. FIM DO CAPÍTULO 35.

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