CENA 1: Suzanne tenta se
justificar com Vicente.
-Sabe o que é? Te achei
sempre tão bonito, tão atraente, desde quando eu só te conhecia
pela TV...
Vicente perde a paciência.
-Corta esse papo, Suzanne!
Você não entende a gravidade do que você acabou de tentar fazer?
Eu sou comprometido, com uma amiga sua ainda por cima!
-Mas ainda não é casado, né?
-Garota, você me dá nojo!
-Você tá vendo uma garota
aqui, Vicente? Eu sou uma mulher, de trinta e cinco anos, no auge da
minha beleza. Não sou nenhuma garota! - impacienta-se Suzanne.
-Mas age feito uma adolescente
fura-olho! Você é ou não é amiga da Riva?
-Claro que sou!
-Não parece. Não parece que
você tenha um pingo de respeito por ninguém. Ética... já ouviu
falar de ética? Pelo visto não. Você só pensa em você mesma, nas
vantagens que pode tirar das pessoas. O que não entendo ainda é
como uma mulher rica como você pode querer se aproveitar da gente. A
Riva pode ser milionária, mas está longe de ser a pessoa mais rica
do país. Qual é o seu interesse nisso tudo? Fala!
-Não tem interesse nenhum! Eu
sou amiga dela, entende isso!
-Você pode enganar a Riva,
mas a mim não engana. Você não é amiga de ninguém.
-Quem você pensa que é pra
me apontar o dedo desse jeito? Um atorzinho que vive querendo
inventar história pra ser diretor, roteirista, qualquer bosta. Você
devia agradecer por uma mulher como eu te querer. Eu sou muito melhor
que a Riva, em todos os sentidos.
Vicente dá um tapa na cara de
Suzanne.
-Lave a sua boca antes de
falar da mulher que eu amo! Tá vendo como não é amiga coisa
nenhuma?
-Eu podia te denunciar por
agressão, sabia?
-Ah é, podia? Vá em frente!
Eu aproveito também pra falar pra todo mundo a bela traidora que
você é, já pensou?
-Eu só falei isso porque você
me...
-Dei esse tapa que você
mereceu? Olha aqui Suzanne, eu só não vou na sala agora e conto
tudo o que aconteceu aqui porque a Riva tá completamente cega,
achando que você é a melhor amiga dela. Era capaz de ela achar que
eu dei em cima de você e querer acabar comigo.
-Não seria uma má ideia.
Assim você estaria livre para mim.
-Eu só não te dou outro tapa
porque nem digna de raiva você é, mas sim de pena. Eu nunca vou ser
seu, tá me ouvindo? Nunca! Nem um toque, nem um beijo, nem nada!
-Você ainda vai pagar caro
por me rejeitar, tá me ouvindo Vicente?
-Ah, resolveu deixar a máscara
cair agora? Tá me ameaçando?
-Entenda como quiser. Depois
não diga que não avisei.
-Você é mais que baixa. Você
veio do inferno, garota.
Suzanne olha com raiva para
Vicente. CORTA A CENA.
CENA 2: Com a noite avançada,
Suzanne chega no quarto de hotel bufando de raiva e Raquel percebe.
-O que foi, filha? Que beiço
todo é esse?
-Ah mãe, não enche!
-Olha bem na minha cara,
Suzanne Farina Lopes! Eu sou sua mãe e você já deixou de ser
adolescente há muito tempo pra me tratar desse jeito! Eu posso até
estar de favor aqui, mas exijo respeito! Ainda tenho força pra te
dar uma surra, sabia?
-Pra cima de mim, dona Raquel?
Você é uma fraca, nunca levantou a mão pra mim.
-Talvez devesse ter feito isso
quando você era adolescente. Falhei com você.
-Desculpe, mãe... é que eu
fiquei muito chateada com algo que aconteceu hoje.
-E o que pode ter te chateado
tanto, Suzanne? As coisas não saíram exatamente do jeito que você
queria, sou capaz de apostar. A vida inteira é assim, você faz um
auê se qualquer coisa te contraria...
-Você pensa que me conhece,
mãe. Você não sabe nada de mim.
-E você parece se orgulhar
por isso. Nunca se abre. Eu não sei quase nada da sua vida.
-Vai por mim, mãe... é
melhor não saber.
-Vem cá, Suzanne... cê tá
tramando algo?
-Que ideia, mãe! Por que eu
tramaria?
-Aos outros você pode
enganar, mas não a mim. Essa história toda de você mentir ser de
uma família rica pra justificar essa grana preta que tem hoje, me
esconder dizendo que sou empregada... não fala nem que tá com o
Márcio ainda... ele é ex da Riva, sabia? A sua nova melhor amiga...
-Você sabe coisas demais,
mãe. Deveria aprender a calar a boca.
-Vai fazer o que comigo? Me
eliminar?
-Que ideia absurda, mãe! Eu
amo a senhora.
-Às vezes acho que você não
ama ninguém além de si mesma.
-Mãe, por favor, vai
dormir... a senhora já tá delirando...
-Tá me chamando de velha?
Olha aqui mocinha, eu não tenho nem sessenta anos e minha cabeça
funciona muito bem, obrigada!
-Desculpa.
-“Desculpa, desculpa,
desculpa”. Você fala as merdas e depois só sabe pedir desculpa.
Eu devia ter ficado na minha casa e não ter colocado pra alugar, se
soubesse que ia passar por isso. Olha aqui Suzanne, nunca duvide da
intuição de mãe. Eu sei que você tá tramando algo. Mas pode
deixar que eu não vou atrás de saber o que é. Agora, se por acaso
eu descobrir que você tá prejudicando alguém, principalmente a
Riva, que é uma mulher boa, nós teremos sérios problemas...
-Até você defendendo a ex
merendeira que virou milionária? Tá com pena? Pega pra criar, adota
a grosseirona!
-Você devia ser mais gentil
com alguém que você diz que é sua amiga...
-Chega desse papo mãe, minha
cabeça está me matando, vou dormir. Se a senhora quiser ficar
acordada, a senhora fica aí assistindo Netflix, ok? Agora me deixa
sozinha.
Raquel olha para Suzanne com a
certeza de que ela trama algo. CORTA A CENA.
CENA 3: No dia seguinte, já
se preparando para ensaiar, Laura vai até Mara e Vicente.
-Gente, vocês tem um tempo
pra me esclarecer umas coisas? - pergunta Laura.
-Claro que sim, mas precisamos
ser rápidos que daqui a pouco a Renata, a Eva e o pessoal já
chegam... - fala Mara.
-Sabe o que é? Eu ainda não
tou entendendo muito bem qual é o interesse de vocês em me ajudarem
a descobrir o que o Mateus anda escondendo de mim...
-O interesse é investigativo.
- esclarece Valentim.
-Sim, querido... isso eu já
entendi. O que não entendi é o que um psiquiatra e uma preparadora
de elenco querem se envolvendo numa investigação. É isso que não
faz muito sentido pra mim, mas desculpem se estou perguntando coisas
demais...
-Não... tudo bem. Acho que
chegou a hora de você saber de tudo... - fala Valentim.
-Você tem certeza, Valentim?
Precisamos de discrição... - aflige-se Mara.
-Eu sinto que podemos falar
pra Laura. A verdade é que além de psiquiatra eu sou investigador.
Trabalho pra Polícia Federal. Na verdade, meu ofício de psiquiatra
é importante para que eu trace o perfil psicológico de maníacos,
por exemplo... - esclarece Valentim.
Laura se choca.
-Bem que eu desconfiava
antes... você sempre atento a tudo, o tempo inteiro. O Procópio
sabe disso?
-Claro que sim. Procópio é
meu amigo desde que éramos adolescentes, estudamos juntos.
-Só não entendo onde a Mara
entra nisso... ah, já sei: é por ela ser ex mulher do Procópio,
acertei?
-Em termos, querida. O fato é
que também sou investigadora da Polícia Federal.
Laura fica perplexa.
-Mara, eu jamais desconfiaria
de uma senhora simpática e cozinheira de mão cheia... desculpe, eu
te julguei...
-Eu sou assim. Gosto de
agradar as pessoas, não estou representando papel nenhum. Mas uso
isso a meu favor porque nosso trabalho envolve acima de tudo muita
discrição... coisa que nem sempre o Valentim consegue manter...
-Iiiih, Mara! Vai começar?
Você tá careca de saber o tanto de casos que já resolvemos nesses
últimos trinta anos...
-Mas metade deles não teriam
chegado a um desfecho se não fosse eu mandando você ficar na sua,
tou mentindo, Valentim?
-Você não perde essa mania
de se achar a fodona, né? Impressionante!
Laura interrompe os dois.
-Ei, vocês não vão discutir
por pouca coisa, vão? Que coisa, vira e mexe ficam feito gato e
rato! Mas bem que faz sentido agora...
-Desculpe, Laura. Nos
excedemos um pouco, mas há trinta anos chegamos bem ao final do
dia... - contemporiza Valentim.
-Em resumo, nosso interesse em
te ajudar, Laura, é porque acreditamos que Mateus esteja envolvido
com um esquema que ainda não podemos te revelar qual é. Não
acreditamos que ele esteja envolvido em crimes, mas acreditamos que
ele esteja sendo... coagido, entende? - esclarece Mara.
-Entendo... só nos resta
entender o porque... - fala Laura.
-Justamente. Para isso que
oferecemos ajuda. Estamos entrando nessa investigação, para
avaliarmos se deve ou não ser aberto posteriormente um inquérito
investigativo, entende? - fala Valentim.
Os três seguem conversando.
CORTA A CENA.
CENA 4: Num intervalo de
gravações dos últimos capítulos da novela em que participam,
Mateus observa Rafael sendo abordado por fãs que estão visitando os
estúdios da emissora.
-Não entendo... eu também
tenho talento... eu também tive algum destaque nessa novela... mas
ninguém vem tirar uma selfie comigo, dizer que admira a mim ou ao
meu trabalho... - divaga Mateus, consigo mesmo.
Mateus segue observando Rafael
recebendo gentilmente seus fãs enquanto almoça.
-Se bem que às vezes acho que
ele força simpatia. Gente, não é possível que alguém seja sempre
simpático e receptivo com tantos desconhecidos. Eu não sei se
aguentaria. Mas queria que pelo menos algum fã meu viesse me pedir
uma selfie. Isso é... se eu tiver fãs... que merda! Esse garoto é
insuportável! Eu ainda vou provar pra todo mundo que sou muito mais
ator que ele! Não precisei de mãe famosa e pai playboy pra chegar
onde cheguei!
Mateus segue olhando com
inveja para Rafael a receber com carinho seus fãs. CORTA A CENA.
CENA 5: Valquíria, que
melhorou, chega em casa após receber alta, acompanhada de Riva e
Marion. Marcelo, Mariana e Ivan abraçam Valquíria.
-Que susto a senhora nos deu,
hein, vó? - fala Mariana, aliviada.
-O susto maior foi meu,
queridos... acreditem. Nunca imaginei que ia aparecer um aneurisma na
minha cabeça depois de velha. Mas torço pra que não precise ir pra
faca. Imagina que sofrimento? Isso sem falar no risco, quero nem
pensar nisso...
-Não é hora de pensar nisso,
mamãe. A senhora vai se tratar e vai dar a volta por cima. Ainda
mais agora que tá morando aqui com a gente... - fala Marion.
-Eu tou morando? Digo... eu
posso ficar?
-Claro que sim! Eu ia te falar
que decidi isso, mas daí aconteceu tudo e não tive a oportunidade
de dizer antes. Eu quero muito que você fique. Ainda temos tempo de
refazer nossa relação...
-E eu ainda tenho tempo de ter
uma boa impressão da minha avó... - fala Riva.
-Não vou decepcionar vocês,
minhas queridas. Eu vou fazer o possível pra provar que os anos me
mudaram...
-Ai gente, chega dessa
melação, tá? Eu também quero aproveitar a minha avó e não é
falando esse monte de melosidade que cês tão me ajudando a
conversar com essa avó que também é minha, viu Riva? - provoca
marotamente Mariana.
-Será possível que mal
coloco o meu pé nessa casa de novo e já tenho que mandar minhas
netas se comportarem? Olha que o castigo de vocês chega a cavalo.
Valquíria faz cócegas em
Riva e Mariana. Todos abraçam Valquíria, aliviados por sua melhora.
CORTA A CENA.
CENA 6: Cláudio, a caminho de
sua casa, desce na parada de ônibus mais próxima e vai andando
normalmente até se sentir subitamente observado e seguido.
-Eita! Deve ser só impressão
besta minha. Ninguém ia me seguir do nada, imagina... um pobretão
feito eu! Respira, Cláudio, tira isso da cabeça...
Cláudio se lembra de passar
no mercadinho.
-Putz! Quase esqueço que
tenho que comprar as carnes pro prato que o Bruno quer fazer!
Cláudio vai ao mercadinho,
compra os itens que precisa e sai calmamente com as sacolas.
Novamente ele sente que alguém o observa e o segue, mas quando ele
olha para trás e para os lados, não vê ninguém.
-Eu devo estar ficando
louco...
Cláudio segue andando rápido
e se apavorando, mas consegue chegar em casa seguro.
Bruno olha para Cláudio
ofegante e o questiona.
-O que houve, amor?
-Sou capaz de jurar que tinha
alguém me seguindo, Bruno... só não faço ideia de quem.
Bruno encara Cláudio
preocupado.
-Me conta isso direito,
Cláudio. Tou preocupado com isso...
-Não sei como isso foi
possível, mas tive a sensação de que alguém seguia meus passos,
mas ao mesmo tempo quando eu olhava pros lados e pra trás, não via
ninguém. Tenho medo de estar ficando maluco, mas nunca fui de
alimentar paranoia de nada, isso que acho estranho...
-Será que de repente não era
uma pessoa pegando o mesmo rumo que você e você acabou confundindo
as sensações?
-Prefiro imaginar que seja,
Bruno... me assustei demais...
Bruno abraça Cláudio para
acalmá-lo. CORTA A CENA.
CENA 7: Vicente aproveita que
Riva e Marion estão envolvidas com o preparo do jantar e vai
conversar com Marcelo e Rafael.
-Oi meninos... espero não
estar atrapalhando o momento de vocês a sós...
-Que isso, Vicente! Você é
praticamente meu padrasto e posso ver que tá precisando conversar
algo com a gente... - fala Marcelo.
-Sabe o que é, meninos?
Aquela Suzanne, de novo.
-Já não gostei do tom...
qual foi a bomba dessa vez, Vicente? - pergunta Rafael.
-Essa garota é uma maluca!
Cês acreditam que ela teve a cara de pau de dar em cima de mim ontem
quando fui lavar a louça?
Marcelo se espanta e se
revolta. Rafael fica perplexo.
-Taí a “grande amiga” da
minha mãe! Como é que ela não vê? Pior que se qualquer um de nós
falar, ela vai dizer que a gente tá exagerando...
-Não é? Eu me sinto de mãos
atadas, meninos... não sei como manter essa doida longe de mim e da
Riva. Essa mulher não tem respeito por ninguém. Se age assim pelas
costas de uma amiga...
-Amiga? Uma pessoa que age
desse jeito não é amiga de ninguém! - exclama Rafael.
-Foi o que concluí sobre
isso. Mas essa mulher pode ser perigosa, meninos... mesmo. Ela disse
que eu vou pagar caro por ter rejeitado ela.
-Relaxa, Vicente. Isso aí
deve ser despeito porque você não caiu no joguinho barato de
sedução dela, vai por mim... - fala Marcelo.
-Pode até ser. Mas ainda não
consigo entender como é que uma mulher que diz ser tão amiga da sua
mãe simplesmente vai na maior cara-dura e dá em cima do namorado
dela! Não faz o mínimo sentido isso... - complementa Rafael.
-Será que ela não é
ninfomaníaca? - questiona Marcelo.
-Não seja ingênuo, amor...
mesmo uma ninfomaníaca não faria o que ela fez. - pondera Rafael.
-Rafael tem razão, Marcelo.
Se ela fosse só ninfomaníaca ela não tinha sabotado minha bebida
no dia que eu conheci a sua mãe e você. Nem tinha jurado que ia se
vingar de mim só porque rejeitei a tentativa tosca dela de me
seduzir... - fala Vicente.
-Só continuo tentando
entender o que tá por trás de tudo isso... - fala Marcelo.
-Isso também é algo que eu
adoraria saber. Bem, meninos, vou deixar vocês aproveitando o
momento de vocês e vou ajudar a Riva e a Marion com o jantar.
Vicente desce. CORTA A CENA.
CENA 8: Durante o jantar,
Bruno percebe que Cláudio permanece com expressão preocupada.
-Ainda pensando naquilo,
Cláudio?
-Sei que não devia, Bruno...
mas a sensação de ser seguido é muito ruim...
-Deixa disso, amor... já
falamos sobre isso. Deve ter sido uma infeliz coincidência.
-Ou não. Vai que alguém
pense que tem motivos pra me seguir?
-Mas não faz sentido,
Cláudio...
-Mas o que não faz sentido
pra nós pode fazer sentido pra alguém, amor...
-Mesmo assim, né... uma
pessoa deixar de fazer suas coisas num dia útil não me parece ter
muita lógica.
-É exatamente aí que eu
quero chegar.
-Chegar onde, mais
especificamente, amor?
-Pensa, Bruno: se a coisa toda
não tem muita lógica, qual é a coisa mais próxima da falta de
lógica que se relaciona comigo?
-Ainda não peguei... espera
aí, você tá achando que pode ter participação do... não!
-Exatamente. Eu acho que o
Rodrigo tá me seguindo.
FIM DO CAPÍTULO 21.
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