CENA 1: Cláudio não acredita
nas palavras de Rodrigo.
-Isso só pode ser uma
brincadeira, né? Não faz sentido... até outro dia cê tava lutando
pra que eu não terminasse com você... óbvio, isso só pode ser uma
brincadeira. Vou ali pegar uma cerveja, tá?
Quando Cláudio se levanta,
Rodrigo o segura firmemente pelo braço, já com lágrimas nos olhos.
-Não é brincadeira nenhuma,
Cláudio. Descobri que não te amo mais. Não sei se um dia realmente
te amei. Acho que você não passou de uma ilusão, uma bela
ilusão...
Cláudio baqueia e se revolta,
começando a gritar.
-Como é que você tem a
capacidade de me dizer uma coisa dessa depois de TUDO o que você me
fez passar? Eu nunca tinha perdoado uma traição na vida, fiz isso
por você! Abri mão do meu orgulho por você! Eu te amo!
Rodrigo respira fundo e,
chorando, continua a falar.
-Mas quem não te ama mais sou
eu. Não posso mais ser teu namorado desse jeito. A última coisa que
eu queria nessa vida era te magoar, mas já te magoei lá atrás. Não
quero te fazer passar mais por isso.
Cláudio se descontrola e
arremessa a mochila de Rodrigo contra a parede. Rodrigo assiste ao
descontrole de Cláudio desconsolado e começa a soluçar de tanto
chorar.
-Cláudio, eu juro por Deus e
por tudo o que há de mais sagrado nessa vida que eu nunca quis que
você passasse por nada disso. Mas não posso mais ficar com você,
nem que eu queira...
Cláudio estranha a fala de
Rodrigo e se emociona junto dele.
-Mas não entendo. Você
acabou de me dizer que não me ama mais e se contradiz...
-Cláudio... eu não posso
mais. É melhor que tudo isso doa na gente agora do que alimentar
dores que poderiam ser piores pra gente...
Cláudio, ainda chorando,
pondera.
-Então está certo. Não tem
remédio, remediado está. Não era isso que você me dizia?
-Não fale assim comigo,
Cláudio... você não sabe o que eu passei. Você não sabe de nada.
Cláudio se revolta.
-É sempre assim. Eu sou
sempre o errado. Eu nunca sei de nada, sou sempre o infantil, o
imaturo, o inexperiente. Eu já tou farto desse jogo que você faz
comigo, Rodrigo. Como é que eu vou saber alguma coisa sobre você se
você nunca me disse nada sobre você mesmo? Se é pra terminar, seja
digno e não me aponte o dedo, ok?
-Você tem razão, Cláudio.
Eu sinto muito por tudo o que te fiz passar. Posso te pedir só uma
coisa? Eu queria um abraço seu. Um abraço de despedida.
Rodrigo tenta abraçar
Cláudio, porém ele se esquiva e recolhe a mochila de Rodrigo do
chão, jogando-a nos braços de Rodrigo.
-Vai embora. Agora.
Rodrigo coloca a mochila nas
costas e parte. Cláudio chora desconsolado. CORTA A CENA.
CENA 2: A noite passa e o dia
amanhece. Rafael e Marcelo despertam no quarto de Rafael e ao saírem
do quarto, são abordados por Mariana.
-Mano... eu queria te pedir
desculpas por ontem...
-Cê quer que eu saia, Mari? -
pergunta Marcelo.
-Não, primo... fica. Eu errei
com o Rafa ontem. Não entendi as razões dele.
Rafael se emociona.
-Não precisa me pedir
desculpa, mana... na sua idade eu pensaria o mesmo.
Os dois se abraçam
emocionados. Marcelo volta a falar.
-Eu também demoro às vezes
pra entender suas razões, meu amor... mas nós fizemos um pacto, uma
promessa de crescermos juntos, não fizemos? Sua luta também é
minha.
Os três se abraçam
emocionados. Rafael volta a falar.
-As suas lutas também são
minhas, amor. Só preciso de tempo. Lá fora já tem dedos apontados
demais, o tempo inteiro. Pelo menos aqui dentro da nossa casa a gente
tem que evitar esse tipo de postura julgadora.
Mariana se arrepende novamente
do que disse no dia anterior.
-Eu sinto muito pelo que eu
disse, mano...
-Já disse que tá tudo bem,
não disse? A gente vai conseguir encontrar um jeito. A única coisa
que não podemos fazer agora é nos desunir... - conclui Rafael.
Os três descem para o café
da manhã. CORTA A CENA.
CENA 3: Horas depois, Riva
resolve ligar para Suzanne.
-Fala, sumida! Onde cê anda?
-Menina, nem deu tempo de
avisar nada. Meu pai sofreu um AVC e tive de vir correndo pro
interior...
-Ele vai ficar bom?
-Vaso ruim não quebra, Riva.
O velho vai sair dessa, tá quase cem por cento já.
-Você volta logo, Suzi? Tou
precisando de umas dicas de etiqueta pra ontem!
-Volto em breve, amiga. Não
sei dizer ao certo quando ainda, tenho que ver se minha mãe vai
ficar bem sozinha.
-Mas eles não tem empregados?
-Tem sim, mas eles já estão
velhos, sabe como é. Chegaram naquele ponto que não confiam em
ninguém... Cê deve imaginar como é a mentalidade dos velhos daqui
do interior de São Paulo, não?
-Também sou do interior, sua
boba. Só que do Rio, mesmo. Lembro muito bem da minha avó até hoje
e imagino que seus pais tenham quase a mesma idade da minha avó.
Suzanne estranha.
-Sua avó ainda é viva?
-Até onde sei, sim. Mas perdi
contato com ela há mais de vinte anos.
-Por que, Riva?
-Quando você voltar eu te
conto essa história melhor, tá? Só liguei pra saber se tava tudo
bem contigo.
-Tá tudo bem sim, Riva. Nos
falamos quando eu voltar. Beijo!
Riva desliga. CORTA A CENA.
CENA 4: Depois de muito chorar
ao desabafar com Bruno, Cláudio sente que novamente está
acontecendo um clima entre eles e tenta se esquivar.
-Desculpa, Bruno... acho que
tou fragilizado por tudo ainda.
-Não precisa pedir desculpa,
Cláudio. Eu quero o que você quer.
-Mas não é certo, Bruno...
ainda nem tem vinte e quatro horas que o Rodrigo terminou comigo.
-Tá certo. Mas você lembra
como ele te tratou tantas vezes? E como esse rompimento veio do nada,
sem nenhuma explicação decente?
-Olha, Bruno... eu entendo que
você se revolte, mas não vai ajudar muito você crucificar o
Rodrigo desse jeito. Ele teve seu valor e eu ainda sinto algo forte
por ele...
-Não tou pedindo pra você
negar o que sente por ele. Mas eu sei que você tá sentindo o que eu
sinto agora. E eu quero ficar com você.
Cláudio não resiste e se
entrega aos beijos de Bruno. Instantes depois, Cláudio recua e
resolve falar.
-Tá certo, Bruno. Nós
estamos ficando, mas nada além disso. Preciso de tempo.
-Eu respeito o seu tempo,
Cláudio. Também terminei um namoro faz pouco tempo.
-É mesmo? E como ele se
chamava? Ou era ela?
-Isso não importa agora,
Cláudio. É passado. E no meu presente eu só vejo você na minha
frente.
Os dois se beijam novamente.
-Bruno... eu gosto de você.
De verdade. Sinto uma coisa linda que vem de dentro de você. Mas
vamos com calma. Isso aqui não é contrato assinado nenhum, certo?
-Já disse que concordo,
Cláudio. Acho prudente da sua parte.
Os dois seguem conversando.
CORTA A CENA.
CENA 5: Em nova consulta,
Victor relata mais acontecimentos de sua vida a Valentim.
-Até onde lembro, comecei a
sentir que algo estava errado comigo num dia que tava dentro do trem,
a caminho do trabalho. Chovia muito naquela manhã. De repente aquela
chuva toda, aquele céu cinzento e aquele trem fechado me deram um
desespero, uma tristeza tão grande! Ali mesmo em pleno trem tive uma
crise de choro. Quando chegou minha vez de descer, não desci. O trem
foi e voltou algumas vezes até alguém me tirar dali. Eu não
conseguia falar, só conseguia chorar e tremer.
-Entendo, Victor. Mas você
sabe me dizer se aconteceu algo nos dias que antecederam essa crise?
-Nada demais. Eu tinha mandado
embora um carinha com quem eu ficava, mas nem apaixonado por ele eu
era de verdade. A única coisa que teve foi o aniversário de cinco
anos de morte dos meus pais umas duas semanas antes daquele dia que
eu tive a crise. Mas já tinha tocado a minha vida com tranquilidade
desde então. Vivi o luto que qualquer pessoa vive quando perde entes
queridos, mas segui em frente.
-Você sente muita falta dos
seus pais?
-Acho que de um jeito
saudável. Sinto mais falta da minha mãe, ela tinha histórias
ótimas. Mas aprendi direitinho a me virar sozinho, do jeito que eles
me ensinaram.
-Você se considera uma pessoa
depressiva?
-Às vezes sim, às vezes não,
por que?
-Só a título de curiosidade,
mesmo, por enquanto. Mas me explica uma coisa: de onde vem essa sua
insegurança com relacionamentos afetivos? Você já foi traído em
algum momento?
-Não que eu saiba. Na verdade
eu às vezes sinto um medo gigante de ficar sozinho. Tem dias que a
ideia de ficar sozinho me apavora. Não gosto da minha própria
companhia, não sou meu amigo. Ficar sozinho me faz ter pensamentos
de morte...
-E você já tentou se matar?
-Algumas vezes. Mas nunca
cheguei a concluir nada. Um lado meu deseja morrer, mas quando chega
a hora eu descubro que aqui dentro tem um fio de amor à vida, sabe?
-Se você tem um fio de amor à
vida, então tem um fio de amor a si mesmo. Sem esse fio, não seria
capaz de amar ninguém, muito menos a Diogo.
-E o que você acha que eu
tenho, doutor Valentim?
-Veja bem, Victor: não sou
psicólogo. Não posso lidar com suposições e lhe garantir nada.
Essa nossa consulta foi para traçar mais os exames que você deve
fazer nos próximos dias.
-E quais são?
-Estão todos anotados aqui.
Valentim destaca uma folha e
entrega a Victor.
-Você vai fazer todos esses
exames de graça. Na próxima consulta me venha com eles, certo?
Victor se despede de Valentim.
CORTA A CENA.
CENA 6: Renata vai à casa de
seus pais desabafar sobre os últimos acontecimentos em relação a
Eva e Adelaide a repreende.
-Ninguém mandou você
escolher essa vida de pecado, Renata! Arque agora com as
consequências. E levante as mãos pro céu por eu ainda abrir a
porta da minha casa ungida pra uma degenerada como você!
Renata se revolta com as
palavras da mãe.
-Quem você pensa que é pra
me apontar o dedo, dona Adelaide? Mulher seca, nunca conseguiu parir
um filho dessa barriga e ainda rejeita a filha que escolheu porque
quis ser mãe! Nessas horas sinto vergonha de ser sua filha, sua
homofóbica!
Adelaide dá um tapa em Renata
e Cleiton se revolta.
-Nunca mais levante a mão
para a nossa filha!
Adelaide se revolta.
-Quer dizer que você concorda
com o comportamento da Renata?
-Eu não tenho que concordar
ou deixar de concordar. A vida é dela, as regras são dela. Ela não
tem que pedir permissão pra gente pra ser quem ela é. Nós adotamos
a nossa filha para amar incondicionalmente, não pra transformar a
pobrezinha numa extensão nossa.
-Engraçado que você não era
todo liberal assim quando a gente se casou. Muito me surpreende você,
Cleiton, sempre defensor da moral e dos bons costumes, concordar com
nossa filha.
-As pessoas mudam conforme
vivem, sabia Adelaide? O que me decepciona é ver você ter se
tornado tão quadrada com o tempo. Em nada lembra a jovem doce que eu
me apaixonei.
Renata percebe que o clima
entre os pais está pesado.
-Eu sinto muito por causar
brigas entre vocês...
Cleiton contemporiza.
-Não tem que sentir culpa
nenhuma, filha. Você está vivendo sua vida como sente que deve. Sua
mãe que ainda não entendeu isso...
-Eu sei, pai. Mas acho melhor
eu ir embora. Outra hora eu vejo vocês e trago mais dinheiro, certo?
Renata deixa a casa dos pais
triste. CORTA A CENA.
CENA 7: “Chefe” liga para
Mateus enquanto ele está de saída do estúdio.
-Fala, chefe. Quais são as
novidades?
-Andei pensando cá com meus
botões e só vejo uma alternativa pro caso do Bruno lá na casa do
Cláudio.
-E qual é a brilhante ideia
de agora?
-Simples: já que Bruno tá
ficando afeiçoado ao Cláudio, o melhor é não impedir que eles
fiquem juntos.
Mateus se revolta.
-Você tá louco? E eu nisso?
-Meu querido, estou cagando
pra você. Supera isso.
-Mas e você? Não é você
que desejava assumir o controle da situação?
-E quem disse que não tou no
controle, cara? Enquanto as coisas acontecem exatamente do jeito que
eu quero, significa que vocês continuam dançando a minha dança,
feito marionetes manipuladas, caso você ainda não tenha percebido a
lógica disso tudo.
-A última coisa que você tem
é lógica, chefe. Agora me deixa ir que o táxi tá me esperando.
Mateus desliga o telefone
enfurecido. CORTA A CENA.
CENA 8: Bruno prepara o jantar
para ele e Cláudio e Cláudio elogia seus dotes culinários.
-Rapaz, como você cozinha
bem! Essa lasanha está divina!
-Fiz com amor, Cláudio...
Cláudio ruboriza.
-E realmente funcionou. Está
uma delícia!
-Cláudio... sei bem do que a
gente conversou mais cedo e quero deixar claro que tou fazendo o que
posso pra te respeitar, mas...
-Mas o que?
-Eu descobri que te amo.
Muito.
Cláudio fica sem resposta.
-Fala alguma coisa, Cláudio!
-Eu não sei o que sinto por
você. Pode ser amor sim, mas é muito cedo pra poder dizer.
-Deixa eu tentar?
-Ora, Bruno! Mas nós já
estamos ficando. A gente já tá tentando.
-Eu quero que você deixe eu
tentar te fazer me amar... namora comigo, Cláudio?
Cláudio se emociona, mas
pensa e pondera.
-Olha, Bruno... eu não posso
aceitar namorar com você agora. Não desse jeito. Respeita meu
tempo, eu te peço que respeite esse tempo...
Bruno aceita as condições de
Cláudio.
-Tudo bem, Cláudio. Eu só
quero muito que a gente dê certo.
Os dois se abraçam. CORTA A
CENA.
CENA 9: Riva está
experimentando roupas e Marion estranha.
-O que deu em você, Riva?
Resolveu se admirar na frente do espelho?
-Ah, Marion... me deu vontade
de ver como é que eu fico com todas as roupas que tenho agora...
-Sei... não é porque você
tá pensando em alguém?
-Ih, Marion... não sei de
onde você tirou essa ideia...
-Pra cima de mim com essas
evasivas, Riva? Você tá namorando o Vicente, é natural que queira
se sentir bonita pra ele...
-Mas Marion, eu penso em ficar
bonita pra mim. Pra fazer bonito nos eventos, não tem nada a ver com
macho. Me virei muito bem por vinte anos sem precisar de homem
nenhum.
-Acho que você tá resistindo
demais, Riva. Tá na cara que ele é o homem da sua vida e você
sabe disso. Você sente!
-Pode até ser, Marion. Mas
até outro dia eu nem conhecia o cara, poxa! Cê não acha que eu ia
parecer uma desesperada me jogando em cima do primeiro que aparece?
-A única pessoa que pensou
isso aqui foi você, boba.
Riva se cansa da conversa.
-Ai, Marion. Vamos descer. Tou
morta de fome e vou fazer uma macarronada, que tal?
-Perfeito.
As duas estão na cozinha
quando a campainha toca.
-Onde estão os meninos? Bem
que um deles podiam abrir pra gente.
-Sem chance, Riva. Rafael e
Marcelo estão trancados no quarto fazendo você sabe o que...
Mariana deve ter dormido e Ivan também. Vou abrir ali pra você não
perder o ponto da comida.
Marion abre a porta e se
depara com Valquíria.
-Mamãe? - fala Marion,
atônita. FIM DO CAPÍTULO 17.
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