CENA 1: Bruno permanece atônito
e Cláudio o encara, desafiador.
-Vamos, Bruno. Explica isso!
Como é que a foto do namorado da minha melhor amiga foi parar nas
suas coisas? Fala de uma vez que eu tou perdendo a paciência!
-Eu posso explicar, amor...
-“Eu posso explicar”...
Sério mesmo que você tá falando isso? Isso é fala de traidor!
-Cláudio, pelo amor de Deus,
você não quer que eu explique? Me deixa falar então, cacete!
-Então fala, Bruno. Mas
explica bem isso daqui, viu?
-Eu encontrei essa foto na
rua. Eu nem sei quem é esse cara, quanto mais que se chama Mateus.
Você é quem tá me falando...
Cláudio ri debochadamente.
-Você quer mesmo que eu
acredite nisso, Bruno? Você acha que eu tenho cara de trouxa? Não
me subestime...
-E você não desconfie de mim
desse jeito. Você não sabe que eu te amo? Te amo mais que tudo
nessa vida! - fala Bruno, começando a chorar.
Cláudio percebe a sinceridade
nos olhos de Bruno e se comove.
-Pior que nem com raiva de
você eu consigo ficar. Eu vejo verdade nos seus olhos... mas vamos,
explica melhor isso aqui, por favor... eu te peço!
-Você sabe que eu gosto de
fotografia, certo? Tanto que eu tou sempre imaginando fotos perfeitas
e tudo mais...
-Sei. Prossiga.
-Eu tinha acabado de chegar
aqui no Rio. Tava numa parada de ônibus quando esse cara da foto foi
assaltado. Na hora que eu vi aquela cena, a poucos metros de mim, eu
paralisei... não sei se de medo ou por outro motivo. Não queria ser
notado. Felizmente o assaltante só levou o celular desse cara e não
o machucou. Fui perguntar pra ele se ele tava bem e precisava de
ajuda. Ele disse que tava assustado mas estava bem... e então seguiu
seu rumo. Quando ele sumiu das minhas vistas notei a foto no chão.
Tentei chamar ele, mas ele não me ouviu. Não sabia nem seu nome.
Fiquei com a foto, porque achei uma foto bem tirada. Mas também
porque queria devolver se encontrasse ele de novo. Você acredita em
mim agora?
Cláudio respira fundo e
começa a falar.
-Eu não sei se acredito,
Bruno. Desculpa. Eu sei que você me ama e quando você me diz isso
eu vejo essa verdade nos teus olhos. Mas essa história toda tá me
parecendo um tanto surreal, quase farsesca.
-Acredita em mim, por favor...
-Eu vou tentar. Mas vou
precisar ficar sozinho, tomar um ar. Volto ainda hoje...
Cláudio deixa a casa e Bruno
fica se sentindo culpado e preocupado. CORTA A CENA.
CENA 2: Pouco depois, Cláudio
chega ao apartamento de Laura.
-Oi, amiga... o Mateus tá aí?
-Sua sorte é que ele não
chegou ainda, mas pode chegar a qualquer momento. Vamos, entre.
-Ai, Lau... eu tou aflito...
com medo de me decepcionar com o Bruno.
-Ué... logo com o Bruno? Você
é só elogios a ele...
-Mas acho que ele me esconde
coisas do passado. Coisas que podem ser graves.
-Em que sentido?
-Não sei dizer, Laura...
tenho medo de que ele tenha enganado muitas pessoas.
-Desculpa, Claudinho, mas não
tou entendendo onde é que você tá querendo chegar...
-Eu vasculhei a mochila dele
procurando algo que ele tinha me pedido. Só que encontrei mais do
que ele pediu.
-Será que você não tá
procurando cabelo em ovo? Eu gosto do Bruno, sabe? Ele me passa uma
energia supertranquila...
-Por isso que eu fico com medo
de estar sendo injusto. Mas você sabe que tou calejado de tanto ser
enganado pelos homens com quem já me envolvi...
-É, mas talvez o teu namorado
não mereça essas desconfianças.
-Eu quero acreditar que ele
não mereça. Mas o que eu achei nas coisas dele pode ser
comprometedor... mais que isso, pode ferir muita gente.
-E do que se trata?
-Acho que não é o momento de
te falar sobre isso, Laura.
-Tou te estranhando. Não é
você o primeiro a dizer que a verdade vem acima de tudo, doa a quem
doer?
-Sim, mas onde é que me
contradigo?
-Cláudio... eu posso estar
muito enganada, mas você está omitindo fatos para não ferir
alguém.
-Omitir? Nunca!
-Será mesmo? Você não
omitiria ou mesmo mentiria pra proteger alguém que você ama?
-Laura, esse papo tá indo
longe demais. Acho melhor eu voltar pra casa antes que o Mateus
chegue e fique muito complicado pra eu voltar em segurança.
-Viu? Cê tá fugindo de
alguma coisa. Quer falar mas não quer falar ao mesmo tempo. Algo te
impede de falar. Você está omitindo fatos pra proteger alguém sim!
-Laura, por favor. Não
insiste. Eu gosto muito de você, mas não insiste. Eu realmente
preciso ir agora. Outro dia conversamos com mais calma. Te amo,
amiga.
Cláudio deixa o apartamento
de Laura e desce as escadas preocupado, quase a chorar.
-O que vai ser dela se tiver
mais coisa nisso? Quero nem pensar... CORTA A CENA.
CENA 3: Antes de fechar o
teatro, Procópio chama Mara e Valentim para falar sobre sua decisão.
-Então, queridos... eu decidi
que vou colaborar com vocês nessa investigação...
-Ótimo. Eu não esperava
outra postura do meu ex marido e grande amigo. Você tá bem ciente
dos procedimentos, não está? - fala Mara.
-É bom que saiba que
discrição é tudo, por mais que você não desperte suspeitas no
alvo dessa investigação. Desconfio que esse “Chefe” tenha algum
quadro paranoico, então nunca é demais manter os velhos cuidados:
distância segura, qualquer coisa você disfarça e segue. - fala
Valentim.
-Isso eu já sei. Afinal de
contas tive anos de casamento com uma investigadora das porretas. Só
fico meio inseguro, vocês sabem como é... nunca fiz nada disso a
sério. Além do mais, acho que sou meio desajeitado, posso dar na
cara.
-Confio em você, Procópio.
Você pode ser desajeitado – e realmente é – mas é muito sutil
e discreto quando quer. Não tenho a mínima dúvida de que vai ser
útil pra gente. Você jamais meteria os pés pelas mãos diante de
uma coisa séria, ainda mais uma investigação... - encoraja Mara.
-Certo. Se eu tinha alguma
dúvida de que deveria aceitar essa investigação pra ajudar vocês,
não tenho mais. Mas tenham paciência comigo... eu vou me abusar de
vocês muitas vezes. Vou ter dúvidas e vou fazer um monte de
perguntas...
-Estamos aqui para te orientar
também, meu amigo. Pergunte o que quiser. Vamos conseguir descobrir
a identidade desse “Chefe” e sua ajuda será fundamental nisso.
Nós, sozinhos, estamos numa situação desfavorável... - divaga
Valentim.
-Certo... e eu posso saber por
onde eu começo? - pergunta Valentim.
-Primeiro, vamos te passar o
endereço do hotel onde o “Chefe” se hospeda. O seu ponto de
partida deve ser por ali... - fala Mara, seguindo com a explicação
enquanto Procópio ouve atentamente. CORTA A CENA.
CENA 4: Na manhã do dia
seguinte, Renata acorda-se em sua casa com o som insistente da
campainha.
-Droga! Se for a Eva, eu vou
cagar essa garota de xingão, onde já se viu? Pedi um tempo e ela me
inventa de me acordar quase de madrugada?
Renata abre a porta e se
depara com Adelaide, emocionada.
-Mãe? O que a senhora
resolveu fazer aqui uma hora dessas? Pensei que a senhora não
quisesse ouvir minhas “lamúrias” por causa da Eva, não é?
-Minha filha... eu me
arrependo disso. Eu sei que deveria ter me acostumado com tudo isso
já, são anos desde que você se assumiu lésbica. Mas não é fácil
pra mim... não foi o que eu sonhei pra sua vida...
-Entra mãe. Só que você não
entendeu uma coisa sobre a vida: os filhos não são fantoches dos
pais. Eu não escolhi ser lésbica, você deveria saber disso. Não
amo quem eu amo pra te afrontar ou agredir. Eu só quero viver a
minha vida... não passo os meus dias pensando “oh, vou fazer tal
coisa pra atingir dona Adelaide”. Será que você não vê, nunca
viu nesses anos todos que eu tenho vida própria? Que eu só busco a
felicidade, como qualquer outra pessoa?
Adelaide começa a chorar.
-Eu tou tentando entender
essas coisas, filha... acredita em mim. Não é fácil... vai contra
tudo o que eu aprendi desde criança.
-Então é isso. Você não
quer ter suas memórias de infância ressignificadas, não quer
experimentar olhar pro passado sob outro ponto de vista, outra
interpretação. Não quer sair do comodismo mental do senso comum
que aprendeu desde pequena. Por isso que me agride... assim como
agride qualquer um que saia dessa “caixa”. Não é porque nós
somos errados ou agressivos. É que você se sente ameaçada,
agredida... forçada a questionar as coisas que aprendeu a vida
inteira. Você não foi ensinada a questionar, mãe... você aprendeu
a obedecer, a aceitar as maiores arbitrariedades calada.
Adelaide chora e começa a
falar.
-Sabe o que mais me dói
nisso, Renata? Você tem razão em tudo o que me disse, filha... eu
quero mudar, quero melhorar. A vida tá aí pra ser vivida... você
me perdoa?
Renata abraça a mãe.
-Claro que perdoo. Vamos lutar
juntas.
-Eu prometo que vou ser uma
boa mãe pra você. Ainda vou te dar muito orgulho, viu Renata?
As duas se abraçam,
emocionadas. CORTA A CENA.
CENA 5: Bruno sai cedo à
procura de emprego e Cláudio se despede dele com um beijo. Resolve
ligar o computador.
-Quem sabe hoje eu consiga
falar com aquele tratante do Marcelo... preciso tanto desabafar tudo
com o meu amigo...
Marcelo tenta fazer uma
chamada de vídeo para Marcelo, mas percebe que seu status está
ausente.
-Deus do céu! Quando é que
essa bicha vai poder me dar a honra de dar minutos da sua preciosa
atenção? Eu aqui precisando conversar com ele mais que nunca e ele
lá, esquecendo dos amigos, achando que o mundo dele inteiro gira em
torno do Rafael... ah, mas essa viada vai me ouvir quando eu
conseguir falar com ele!
Cláudio segue tentando fazer
mais chamadas para Marcelo, até que se cansa.
-Desisto. Deve estar fazendo
algo de muito importante pra ignorar minhas chamadas...
Cláudio fica com raiva de
Marcelo. CORTA A CENA.
CENA 6: Riva e Vicente
resolvem passear no Jardim Botânico.
-Nossa, Vicente... tinha me
esquecido como o Jardim Botânico é lindo. Acho que a última vez
que coloquei os pés aqui foi logo depois que eu e a Marion chegamos
no Rio. Éramos tão garotinhas ainda... e nos achávamos tão
maduras... - divaga Riva.
-Sempre gostei desse lugar. Me
transmite uma paz, mas me transmite mais que isso... me passa uma
sensação de conexão com a natureza... com a minha natureza. Me
sinto mais eu aqui, em contato com esse chão.
-Esse lugar realmente é
fascinante, amor... mas você tá com uma cara meio fechada,
Vicente... está acontecendo alguma coisa?
-Não... não está
acontecendo nada, por enquanto. Mas receio que aconteça.
-E o que é? Tá me
assustando...
-Acho bom que você abra os
olhos pra ver quem é realmente essa sua amiga Suzanne. Ela às vezes
vem com uma conversa mole, esquisita pra cima de mim... tenho até
medo de pensar o que pode se passar pela cabeça dela.
Riva fica visivelmente
contrariada.
-Ah, Vicente, era só o que me
faltava! O meu filho implicar com ela eu entendo, afinal por quase
vinte anos fomos só eu e ele na vida... agora você? A Suzanne é
gentil com todo mundo, será que você não vê?
-Riva, minha querida, procura
me ouvir sem me julgar, eu te peço...
-Então diga...
-Eu gosto de gente gentil.
Valorizo isso. Mas não vejo espontaneidade na gentileza da
Suzanne...
-Muito me surpreende você,
meu amor, um cara tão maduro, ficar fazendo acusações graves desse
jeito... você acha que ela pode não ser o que parece? Ótimo, é um
direito seu, mas me alertar em relação à minha amiga por causa das
suas suposições eu não vou admitir!
-Mas, Riva... eu não estou
querendo te jogar contra ela. Só peço que esteja mais atenta ao que
ela faz e diz. Observe com atenção, eu te peço.
-Vicente, acho melhor a gente
parar esse assunto por aqui. Eu não gosto de brigar com você, eu te
amo. Mas não vou admitir que você questione minha capacidade de
perceber a alma dos meus amigos... vamos aproveitar esse passeio, que
era pra ser romântico, tá?
-Tá certo, meu amor. Eu te
peço desculpas se te incomodei...
-Eu que peço desculpa. A
gente tem que aproveitar melhor esse nosso passeio. É raro a gente
ter esses momentos de paz sem ter a imprensa atrás da gente...
-Você tem razão, Riva. Esse
lugar aqui é pra trazer paz pros nossos corações...
Vicente fica chateado e
percebe que será mais difícil do que ele imaginava conviver com
Suzanne. CORTA A CENA.
CENA 7: Rodrigo é
surpreendido por Mateus ao sair do prédio onde mora.
-O que cê tá fazendo aqui,
cara? Não vai me dizer que...
-Isso mesmo que você tá
pensando.
-Mas o que é que o chefe quer
agora, poxa? Cansei de pedir pra você dizer pra ele que eu precisava
de um tempo, pra organizar melhor as ideias, essas coisas.
-Mas ele tem uma missão pra
você. Afinal de contas ele precisa pagar todo mundo que tabalha pra
ele, inclusive você. Ou você esqueceu que sem o dinheiro que ele
nos paga, nossa situação poderia ser bem pior?
-Chega de enrolação, Mateus.
Não faz sentido você falar isso toda vez que a gente se vê, tá me
tratando feito um desmemoriado...
-Nunca é demais refrescar sua
memória. Afinal de contas, ele pode acabar com a gente se ele
quiser. Nunca esqueça disso.
-Você não deixa que eu
esqueça. É por causa daquele verme que eu tive que deixar toda
minha vida pra trás. Mas anda, fala logo de uma vez o que é que ele
quer que eu faça.
-É bom que você esteja
psicologicamente preparado. Ele quer que você instrua os homens dele
a assaltar um banco.
Rodrigo se choca.
-Como é que é? Isso é
loucura, Mateus! Pode colocar muita gente em risco! Pode nos colocar
em risco! Esse chefe endoidou?
-Viado, raciocina uma vez na
vida! De onde você acha que vem todo o dinheiro que o chefe paga pra
gente? Do trabalho dele? Da herança que o pai dele deixou?
-Você tá querendo me dizer
que o nosso dinheiro é roubado?
-Mas isso não é óbvio,
criatura? Ai Rodrigo, esperava mais da sua capacidade de raciocínio!
Dois anos envolvido com essa organização e não sabendo do óbvio...
ou melhor, fingindo não saber. Não viu antes porque não quis. Você
acha que aqueles homens dele são o que? Excelentes atores que
disfarçam no restante do tempo levando uma vida pacata?
-Não é tão absurdo pensar
isso, Mateus. Nem todo mundo vê maldade nas coisas.
-Acorda, viado! Ninguém aqui
é bonzinho! Todos nós estamos encalacrados até o pescoço com essa
gente! Os homens do chefe são ex apenados, será que você não
raciocina, Rodrigo? Você não vai precisar assaltar o banco, mas
você ficou encarregado de ir nesse banco e analisar as falhas do
sistema de segurança lá, entendeu? Os homens cuidam do restante.
-Mas isso pode ser arriscado
pra eles.
-E você acha mesmo que eles
não tem um pessoal extra pra pagar o pato e ficar de bico calado?
Nossa grana tá segura, ela já é nossa...
-Isso tudo me enoja, Mateus...
sinceramente.
-Acho eu que o chefe tá pouco
se importando se você fica ou não enojado com isso. Você acha que
eu também não fico enojado? Não escolhi me associar a ele, nem
você. Você tá cansado de saber que fomos obrigados a isso, porque
ele tem a gente na palma da mão dele. Ele sabe coisas demais de todo
mundo que trabalha pra ele... é uma forma de garantir que ninguém
vai trair ele.
-Ainda assim, né... poucas
pessoas, praticamente só você sabe da identidade desse cara. Pra
que ameaçar a gente tanto assim?
-Isso você devia perguntar a
ele, não a mim. Olha, meu amigo... eu não concordo com as decisões
dele, mas ganhei a confiança do chefe, tenho a obrigação de passar
as ordens dele. Não me sinto feliz por isso, não é a vida que
sonhei...
-Nem a vida que eu sonhei.
Deixei tanta coisa e tanta gente pra trás... sinto falta da minha
vida. Mas está certo. Não tenho saída, não é? Diga ao chefe que
ele mande os homens dele virem falar comigo depois de eu verificar o
banco. Aliás, qual é o banco?
Os dois seguem conversando.
CORTA A CENA.
CENA 8: Já pela noite, Bruno
chama Cláudio para conversar após o jantar.
-Cláudio... eu preciso te
confessar uma coisa séria.
-Fala logo, Bruno... tá me
deixando curioso e assustado ao mesmo tempo...
-Eu não queria, eu juro que
não queria ter que fazer isso... mas não tinha outra opção
naquele momento. Eu menti pra você.
-Como é que é? Me explica
isso agora!
-Eu conheci o Mateus. Na
verdade, eu e ele estávamos juntos há dois anos. Eu vim de Coroados
pra cá há dois anos e me apaixonei pelo Mateus. Ele sempre me
escondeu da Laura.
Cláudio fica perplexo. FIM DO
CAPÍTULO 30.
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