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quarta-feira, 15 de junho de 2016

CAPÍTULO 27

CENA 1: Suzanne afasta Márcio.
-Calma, Márcio. Minha mãe está aqui.
Márcio então percebe a presença de Raquel e a cumprimenta alegremente.
-Bom te ver aqui, dona Raquel. Gosto muito da senhora, apesar de tudo.
-Também gosto de você, Márcio. Você é um homem bom, dá pra ver na retina. Você é a esperança que eu tenho pra que a Suzanne pelo menos consiga tomar um pouco de juízo nessa vida... - fala Raquel.
-Mãe, dá pra parar? Você fala como se eu fosse uma delinquente, uma criminosa. Não sei qual é a cisma que você tem comigo. Desde pequena é assim que você me trata, não entendo...
-Não se faça de desentendida, Suzanne. Em respeito ao Márcio, que é um bom amigo meu, prefiro encerrar o assunto por aqui. Vocês me dão licença que eu vou me arrumar pra dar uma volta, tá? - fala Raquel.
Raquel segue para se arrumar e Márcio encara Suzanne.
-Não entendo essa sua implicância com sua mãe, sinceramente, Su. Ela provavelmente deixou a casa dela lá pra alugar pra te fazer companhia e você fica escondendo ela de todo mundo que eu sei! E nem adianta me dizer que não porque foi você mesma que me falou desses seus novos planos. Posso pelo menos ter a honra de saber quais são esses seus planos de agora?
-Depois, querido. Depois. Prefiro que minha mãe não escute nada demais. Vamos esperar ela sair, certo?
Márcio começa a falar baixo.
-Olha aqui, Suzanne: você sabe muito bem que eu te amo mais que tudo nessa vida, desde garoto. Mas não tou gostando muito dessa sua ideia de seduzir o namorado famoso da Riva. Aliás, eu sinceramente acho que você podia ter largado ela de mão há muito tempo...
-Que que foi agora, Márcio? Deu pra discordar de mim? Você nunca foi disso esses anos todos...
-Eu faço o que posso pra te agradar sempre, pra te fazer feliz. Mas sabe, Su... eu tou cansando. Eu quero uma vida tranquila. Ao seu lado, envelhecer, sabe?
-Ai Márcio, me poupe desse papo meloso. Você se juntou comigo lá atrás porque quis. Nunca te prometi amor incondicional ou fidelidade, não viaja.
Raquel surge novamente.
-Estou saindo, queridos. Devo voltar bem mais tarde. Fica com Deus, Márcio... - fala Raquel.
-Não vai dar um beijo na sua filha, mãe? - questiona Suzanne.
Raquel abraça Suzanne e parte.
-Suzanne, aproveitando que a dona Raquel já foi, me fala qual é a moral de seduzir o cara lá...
-Você não entendeu que podemos ficar ainda mais ricos com isso?
-Sei. Você quer dizer que você vai ficar ainda mais rica, não é? Porque a minha parte é sempre a menor...
-A gente combinou que ia ser assim desde que éramos garotos, Márcio. O que foi agora?
Márcio permanece a ouvir Suzanne. CORTA A CENA.

CENA 2: Raquel chega ao consultório de Valentim e ele a chama.
-Bom dia, dona... Raquel Farina, certo?
-Isso mesmo.
-O que te trouxe aqui hoje? Você sente que alguma coisa possa estar acontecendo com você e não sabe dizer o que é?
-Não, doutor. Na verdade eu me sinto ótima. Vim aqui hoje pra esclarecer umas dúvidas sobre algo que vem me intrigando. Tem uma mulher, filha de uma amiga minha, que parece demonstrar sinais de psicopatia. Tudo bem se eu não citar nomes?
-Tudo bem. Mas o que te leva a crer que essa mulher possa ter traços de psicopatia?
-Então, doutor Valentim... minha amiga me conta que essa filha dela, desde criança, tem uns comportamentos esquisitos. Sabe matar pequenos animais e dissecar cada um deles? Essa mulher, quando menina, fazia isso...
-Até aí não é nada tão terrível assim, por mais grotesco e monstruoso que seja matar animais... algumas crianças tem muita curiosidade e podem fazer isso, mas sem maldade...
-Sei. Mas é que minha amiga conta que a filha dela, quando começou a crescer, passou a fugir frequentemente e quando voltava, nunca dizia exatamente o que havia feito. Pelo contrário: colocava sempre a responsabilidade em outras pessoas e se fazia de vítima, sabe?
-Agora essa conversa está ficando interessante. Essa mulher apresenta no mínimo traços, senão psicopatas, sociopatas. Me conte mais sobre ela...
Raquel segue falando. CORTA A CENA.

CENA 3: Cláudio e Bruno terminam de tomar café da manhã e Cláudio decide tentar abrir a caixa.
-Amor, tem certeza que precisa disso? A gente tem a manhã e o começo da tarde inteiros hoje que você não tem aula pra tentar abrir essa caixa. Precisa ser agora?
-Bruno, meu amor... eu sei que você tenta me manter calmo, mas já são meses tentando descobrir o que essa caixa esconde de tão precioso aqui dentro. Porque pra ser lacrada desse jeito...
-Mas Cláudio, cê já parou pra pensar que você pode descobrir coisas que destruam as lembranças boas que você tem do namoro com o Rodrigo? Que isso pode significar que você talvez nunca mais consiga olhar pro que vocês viveram de bom lá atrás?
-Me surpreende você, Bruno, falando essas coisas... aliás, me admira, pra ser sincero. Mas prefiro saber da verdade de uma vez, por mais dolorida que seja.
-Isso é lindo na teoria, mas já te ocorreu que às vezes as pessoas mentem para proteger outras pessoas?
-Mentira é mentira, Bruno. É errado.
-Desculpa te dizer isso, amor, mas... você tem quantos anos? Vinte ou dez? Não seja imaturo desse jeito. Você nunca mentiu na vida, nem que fosse uma mentirinha pequena?
-Por incrível que pareça, não...
-Mas você acha justo que todo mundo tenha de agir rigorosamente de acordo com seus valores? Sério, amor... acho que pelo seu bem, o melhor que a gente tem a fazer é destruir essa caixa. Acabar com essa dúvida que te atormenta, eliminando o que causa tudo isso...
-Como é que é? E como você sugere que a gente faça isso?
-Queimando a caixa. Não tem aquela churrasqueira imensa no pátio de trás? A gente pega uns jornais e coloca a caixa lá, pra queimar toda.
-Eu não sei se quero fazer isso. Preciso de um tempo pra pensar...
Bruno permanece aflito com a indecisão de Cláudio. CORTA A CENA.

CENA 4: Mateus liga para Rodrigo.
-Conseguiu dar a volta no chefe, Mateus?
-O que você acha? Quase coloco o meu na reta por sua causa, sabia? Consegui outro cara que topou fazer o serviço que você recusou, mas o chefe não gostou nada disso.
-E o que isso significa, na prática?
-Que ele tá de olho em você. E que espera que você não o decepcione mais.
-Isso tudo é muito vago, Mateus. Dá pra ser mais claro?
-Rodrigo, ele disse que tá meio indeciso sobre o que vai fazer com você. Não decidiou ainda. Mas pode ficar tranquilo que ele não pensa em te apagar não, viu?
-Tá, então por que você me ligou?
-Pra te avisar que em breve vou te passar novas ordens do chefe. É bom que você vá se preparando psicologicamente pro que vier.
-E você faz alguma ideia do que pode ser a próxima?
-Claro que não. O chefe só fala o necessário. Mas quando chegar a hora, você vai saber.
-Certo. Mais alguma coisa que você queira me passar de recado do chefe ou eu posso voltar a descansar?
-Pode voltar a descansar. Mas esteja sempre à disposição. Até outra hora, Rodrigo.
Mateus desliga o telefone. CORTA A CENA.

CENA 5: Depois de uma longa conversa com Suzanne, Márcio ainda demonstra apreensão diante dos planos dela.
-Eu ainda não entendi de verdade o que é que você pretende com tudo isso, Suzi... devia ter deixado isso pra trás no primeiro momento.
-Márcio, meu querido... você não entende que essa é a chance da gente levar uma bolada?
-Essa parte eu entendi. Só não entendi essa sua fixação em ter que tirar a grana da Riva. Ela não é a pessoa mais rica do Brasil, não... aliás, tá cheio de gente que tem mais grana. A gente já teve mais grana que ela.
-Você realmente acredita nisso que tá falando? Assim fica difícil, Márcio...
-E tou mentindo, Suzanne? Você que acaba torrando o dinheiro com suas extravagâncias...
-Não é sobre o dinheiro só, tolinho... é sobre a fama que eu posso conseguir, o prestígio, o badalo...
-Sim, que seja, mas a alta sociedade tá cheia de gente que facilitaria isso mais...
-Você não pegou o espírito da coisa. O Vicente é o ator mais lembrado pelas donas de casa há quase vinte anos. Estando ao lado dele eu tou garantindo de certa forma nossa independência.
-Você está querendo dizer que quer largar essa vida de aplicar golpes? Se for isso, Suzanne, você sabe que tem todo meu apoio... eu queria ter largado essa vida há muito tempo. Eu aceitei até ser fichado na polícia por sua causa...
-Nem começa esse assunto de novo, Márcio. Você fez porque quis, não te obriguei a nada.
-Não precisa repetir. Você sempre diz isso. Então faça o que tem que ser feito. Seduza o Vicente.
-Você não vai ficar com ciúme?
-Claro que vou, Suzi. Você é e sempre foi o amor da minha vida. Mas são negócios, não são?
CORTA A CENA.

CENA 6: Ivan vai à companhia de teatro e chama Mara e Valentim para uma conversa particular.
-Espero que não esteja atrapalhando vocês. Vocês não tem nenhum trabalho pra hoje, certo? - questiona Ivan.
-Temos tempo, Ivan. Fale o que você quer conversar com a gente... - fala Valentim.
-Eu quero ver o meu filho.
Mara se impacienta.
-Ivan, você tem noção do que acabou de falar? Não é assim que as coisas funcionam!
-Mara tem razão, Ivan. Não é um simples “quero ver Haroldo” que vai facilitar nosso trabalho feito um passe de mágica. Não nos superestime... - fala Valentim.
-Mas vocês sabem que ele está vivo, não sabem? Será tão difícil pra vocês descobrir onde o Haroldo tá se escondendo ou morando? Vocês fazem alguma ideia do que é prum pai ficar mais de dois anos sem ver o filho mais velho, sem sequer ter uma notícia decente sobre ele? - fala Ivan, se emocionando.
-Nós entendemos a sua aflição, meu amigo. Mas pedimos que você mantenha a cautela, a discrição e a calma. Nenhum passo em falso pode ser dado enquanto não soubermos o mínimo pra poder agir... - fala Mara.
-Ivan... nós estamos fazendo o melhor que podemos. Confia na gente... - sentencia Valentim.
-Desculpe por exigir tanto de vocês. Só quero poder ver meu filho logo... - desabafa Ivan.
-Vamos fazer o possível pra que isso se realize o quanto antes... - finaliza Mara. CORTA A CENA.

CENA 7: Cláudio e Bruno terminam de almoçar e Bruno questiona Cláudio sobre a caixa.
-Decidiu o que vai fazer em relação à caixa?
-Ainda não, Bruno... tou bastante dividido.
-Cláudio, pensa comigo: a gente tá vivendo um momento tão calmo agora, pra que colocar tudo isso em risco em nome de verdades que talvez nem sejam boas de descobrir?
-Verdades nunca são demais, meu querido...
-Mas nem sempre são convenientes, Cláudio... poxa, meu amor! Você realmente pensa que vale a pena colocar nossa tranquilidade em risco por causa de uma coisa do passado?
-Você tem razão. Detesto admitir isso, mas você tem razão. Só que ainda assim esse passado me assombra.
-Cláudio, às vezes eu não te entendo. Como você pode falar que um passadinho desses te assombra quando você superou tanta coisa? Perdeu seus pais adotivos ainda jovem naquele acidente horroroso, nunca descobriu sua família biológica e aprendeu a tocar a vida independente desde muito cedo. Por acaso em algum momento você foi revirar esse passado? Quis descobrir de onde veio ou pra onde vai sua família biológica? Não! Porque você sabe que seus pais que te escolheram te deram todo o amor possível e é grato por tudo isso. Sentiu falta dos que te deixaram pra trás ainda bebê? Não! Como é que você tem tanta maturidade pra deixar um passado desses pra trás e fica se atormentando por causa do que nunca descobriu de um ex namorado? Percebe como isso não tem lógica nem faz sentido?
Cláudio se dá por vencido.
-Tou sendo meio infantil querendo revirar essas coisas, não é? O Rodrigo nunca me fez mal nenhum de verdade... o único mal presente entre nós foi o que eu nunca soube sobre ele...
-Meio infantil, amor? Desculpa falar, mas é totalmente. Por favor, amor... o melhor que a gente tem a fazer é se livrar de uma vez dessa caixa.
Cláudio vai ao quarto e pega a caixa na escrivaninha.
-Pegue os jornais e o isqueiro. A gente vai queimar essa caixa. Chega de sofrer com suposições que não vão nos levar a lugar nenhum... - sentencia Cláudio.
Bruno se alivia. CORTA A CENA.

CENA 8: Horas mais tarde, Marcelo e Rafael conseguem fazer chamada de vídeo para Mariana.
-Oi mana! - fala Rafael.
-Que saudade, Rafa... como vocês estão? Aproveitando muito essa quase lua-de-mel? - pergunta Mariana.
-Tá tudo ótimo aqui, Mari... você pode chamar todo mundo? - pergunta Rafael.
-Claro. Segura aí!
Mariana desce e chama todos.
-Gente, os meninos estão fazendo uma chamada de vídeo e querem ver todo mundo! - avisa Mariana.
Riva, Marion, Ivan, Valquíria e Vicente sobem ao quarto de Mariana.
-Que saudade de você, mãe... você tá linda! O Vicente tá te fazendo muito bem... - admira-se Marcelo.
-Não olha pra mim, garoto! Não sou esse santo milagreiro todo não, viu? A Riva sempre foi linda, só não sabia disso... - fala Vicente.
-Mas me conta, mãe... alguma novidade sobre o defeito que deu no meu carro? - questiona Rafael a Marion.
-Filho, a gente combinou que só entrava nesse assunto depois que vocês voltarem pro Brasil, lembra? - esquiva-se sutilmente Marion.
-Verdade. Melhor esquecer desses problemas por enquanto... - constata Rafael.
-Contem mais como estão sendo esses dias por aí, queridos... - fala Ivan.
-Estão sendo ótimos, Ivan. O seu filho realmente faz tudo o que pode pra me fazer feliz. Esses dias estão sendo maravilhosos... desculpa falar, mas tou tendo cada vez mais certeza de que ele é o amor da minha vida... - derrete-se Marcelo.
-Pedir desculpa por isso, Marcelo? Deixe de bobeira, menino... realmente acho que vocês foram feitos um pro outro... - fala Ivan.
-Pode até ser, pai... mas bem que o Marcelo podia ser menos teimoso... - descontrai Rafael.
-Como se você fosse a pessoa mais fácil do mundo, né Rafa? Quem não te conhece que te compre... - descontrai Mariana.
Todos riem e se divertem com a conversa. CORTA A CENA.

CENA 9: Bruno está preparando o jantar enquanto Cláudio toma banho e seu celular toca. É Mateus.
-É bom que essa ligação seja só pra passar as instruções do cara, porque a gente não tem mais o que falar...
-Calma, Bruno! Não posso ligar pra saber como você tá, não?
-Sinceramente, Mateus? Não! Eu não tenho mágoas de você, mas você precisa entender de uma vez por todas que entre nós não tem mais chance de acontecer nada. Eu amo o Cláudio.
-É duro pra mim ouvir você dizer isso. Mas compreendo. Só liguei pra saber como você tá, se tá bem...
-Quer dizer que o chefe não mandou nada? Olha aqui, cara... sério. Dá um tempo pra mim. Esquece um pouco do que a gente viveu, pode ser?
-Não pode não. Eu sei que você não me ama mais, mas tivemos uma história. Eu ainda sou seu amigo.
-Amigo? Que amigo é esse que nunca realmente fez nada por mim? Que nunca me estendeu a mão se não fosse se beneficiar por isso? O que você pensa que é amizade? O que você acha que é consideração? Você nunca fez nada por mim! - brada Bruno, desligando. Cláudio chega na cozinha e escuta o fim da ligação.
-O que significa isso, Bruno?
Bruno fica atônito. FIM DO CAPÍTULO 27.

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