CENA 1: Suzanne afasta Márcio.
-Calma, Márcio. Minha mãe
está aqui.
Márcio então percebe a
presença de Raquel e a cumprimenta alegremente.
-Bom te ver aqui, dona Raquel.
Gosto muito da senhora, apesar de tudo.
-Também gosto de você,
Márcio. Você é um homem bom, dá pra ver na retina. Você é a
esperança que eu tenho pra que a Suzanne pelo menos consiga tomar um
pouco de juízo nessa vida... - fala Raquel.
-Mãe, dá pra parar? Você
fala como se eu fosse uma delinquente, uma criminosa. Não sei qual é
a cisma que você tem comigo. Desde pequena é assim que você me
trata, não entendo...
-Não se faça de
desentendida, Suzanne. Em respeito ao Márcio, que é um bom amigo
meu, prefiro encerrar o assunto por aqui. Vocês me dão licença que
eu vou me arrumar pra dar uma volta, tá? - fala Raquel.
Raquel segue para se arrumar e
Márcio encara Suzanne.
-Não entendo essa sua
implicância com sua mãe, sinceramente, Su. Ela provavelmente deixou
a casa dela lá pra alugar pra te fazer companhia e você fica
escondendo ela de todo mundo que eu sei! E nem adianta me dizer que
não porque foi você mesma que me falou desses seus novos planos.
Posso pelo menos ter a honra de saber quais são esses seus planos de
agora?
-Depois, querido. Depois.
Prefiro que minha mãe não escute nada demais. Vamos esperar ela
sair, certo?
Márcio começa a falar baixo.
-Olha aqui, Suzanne: você
sabe muito bem que eu te amo mais que tudo nessa vida, desde garoto.
Mas não tou gostando muito dessa sua ideia de seduzir o namorado
famoso da Riva. Aliás, eu sinceramente acho que você podia ter
largado ela de mão há muito tempo...
-Que que foi agora, Márcio?
Deu pra discordar de mim? Você nunca foi disso esses anos todos...
-Eu faço o que posso pra te
agradar sempre, pra te fazer feliz. Mas sabe, Su... eu tou cansando.
Eu quero uma vida tranquila. Ao seu lado, envelhecer, sabe?
-Ai Márcio, me poupe desse
papo meloso. Você se juntou comigo lá atrás porque quis. Nunca te
prometi amor incondicional ou fidelidade, não viaja.
Raquel surge novamente.
-Estou saindo, queridos. Devo
voltar bem mais tarde. Fica com Deus, Márcio... - fala Raquel.
-Não vai dar um beijo na sua
filha, mãe? - questiona Suzanne.
Raquel abraça Suzanne e
parte.
-Suzanne, aproveitando que a
dona Raquel já foi, me fala qual é a moral de seduzir o cara lá...
-Você não entendeu que
podemos ficar ainda mais ricos com isso?
-Sei. Você quer dizer que
você vai ficar ainda mais rica, não é? Porque a minha parte é
sempre a menor...
-A gente combinou que ia ser
assim desde que éramos garotos, Márcio. O que foi agora?
Márcio permanece a ouvir
Suzanne. CORTA A CENA.
CENA 2: Raquel chega ao
consultório de Valentim e ele a chama.
-Bom dia, dona... Raquel
Farina, certo?
-Isso mesmo.
-O que te trouxe aqui hoje?
Você sente que alguma coisa possa estar acontecendo com você e não
sabe dizer o que é?
-Não, doutor. Na verdade eu
me sinto ótima. Vim aqui hoje pra esclarecer umas dúvidas sobre
algo que vem me intrigando. Tem uma mulher, filha de uma amiga minha,
que parece demonstrar sinais de psicopatia. Tudo bem se eu não citar
nomes?
-Tudo bem. Mas o que te leva a
crer que essa mulher possa ter traços de psicopatia?
-Então, doutor Valentim...
minha amiga me conta que essa filha dela, desde criança, tem uns
comportamentos esquisitos. Sabe matar pequenos animais e dissecar
cada um deles? Essa mulher, quando menina, fazia isso...
-Até aí não é nada tão
terrível assim, por mais grotesco e monstruoso que seja matar
animais... algumas crianças tem muita curiosidade e podem fazer
isso, mas sem maldade...
-Sei. Mas é que minha amiga
conta que a filha dela, quando começou a crescer, passou a fugir
frequentemente e quando voltava, nunca dizia exatamente o que havia
feito. Pelo contrário: colocava sempre a responsabilidade em outras
pessoas e se fazia de vítima, sabe?
-Agora essa conversa está
ficando interessante. Essa mulher apresenta no mínimo traços, senão
psicopatas, sociopatas. Me conte mais sobre ela...
Raquel segue falando. CORTA A
CENA.
CENA 3: Cláudio e Bruno
terminam de tomar café da manhã e Cláudio decide tentar abrir a
caixa.
-Amor, tem certeza que precisa
disso? A gente tem a manhã e o começo da tarde inteiros hoje que
você não tem aula pra tentar abrir essa caixa. Precisa ser agora?
-Bruno, meu amor... eu sei que
você tenta me manter calmo, mas já são meses tentando descobrir o
que essa caixa esconde de tão precioso aqui dentro. Porque pra ser
lacrada desse jeito...
-Mas Cláudio, cê já parou
pra pensar que você pode descobrir coisas que destruam as lembranças
boas que você tem do namoro com o Rodrigo? Que isso pode significar
que você talvez nunca mais consiga olhar pro que vocês viveram de
bom lá atrás?
-Me surpreende você, Bruno,
falando essas coisas... aliás, me admira, pra ser sincero. Mas
prefiro saber da verdade de uma vez, por mais dolorida que seja.
-Isso é lindo na teoria, mas
já te ocorreu que às vezes as pessoas mentem para proteger outras
pessoas?
-Mentira é mentira, Bruno. É
errado.
-Desculpa te dizer isso, amor,
mas... você tem quantos anos? Vinte ou dez? Não seja imaturo desse
jeito. Você nunca mentiu na vida, nem que fosse uma mentirinha
pequena?
-Por incrível que pareça,
não...
-Mas você acha justo que todo
mundo tenha de agir rigorosamente de acordo com seus valores? Sério,
amor... acho que pelo seu bem, o melhor que a gente tem a fazer é
destruir essa caixa. Acabar com essa dúvida que te atormenta,
eliminando o que causa tudo isso...
-Como é que é? E como você
sugere que a gente faça isso?
-Queimando a caixa. Não tem
aquela churrasqueira imensa no pátio de trás? A gente pega uns
jornais e coloca a caixa lá, pra queimar toda.
-Eu não sei se quero fazer
isso. Preciso de um tempo pra pensar...
Bruno permanece aflito com a
indecisão de Cláudio. CORTA A CENA.
CENA 4: Mateus liga para
Rodrigo.
-Conseguiu dar a volta no
chefe, Mateus?
-O que você acha? Quase
coloco o meu na reta por sua causa, sabia? Consegui outro cara que
topou fazer o serviço que você recusou, mas o chefe não gostou
nada disso.
-E o que isso significa, na
prática?
-Que ele tá de olho em você.
E que espera que você não o decepcione mais.
-Isso tudo é muito vago,
Mateus. Dá pra ser mais claro?
-Rodrigo, ele disse que tá
meio indeciso sobre o que vai fazer com você. Não decidiou ainda.
Mas pode ficar tranquilo que ele não pensa em te apagar não, viu?
-Tá, então por que você me
ligou?
-Pra te avisar que em breve
vou te passar novas ordens do chefe. É bom que você vá se
preparando psicologicamente pro que vier.
-E você faz alguma ideia do
que pode ser a próxima?
-Claro que não. O chefe só
fala o necessário. Mas quando chegar a hora, você vai saber.
-Certo. Mais alguma coisa que
você queira me passar de recado do chefe ou eu posso voltar a
descansar?
-Pode voltar a descansar. Mas
esteja sempre à disposição. Até outra hora, Rodrigo.
Mateus desliga o telefone.
CORTA A CENA.
CENA 5: Depois de uma longa
conversa com Suzanne, Márcio ainda demonstra apreensão diante dos
planos dela.
-Eu ainda não entendi de
verdade o que é que você pretende com tudo isso, Suzi... devia ter
deixado isso pra trás no primeiro momento.
-Márcio, meu querido... você
não entende que essa é a chance da gente levar uma bolada?
-Essa parte eu entendi. Só
não entendi essa sua fixação em ter que tirar a grana da Riva. Ela
não é a pessoa mais rica do Brasil, não... aliás, tá cheio de
gente que tem mais grana. A gente já teve mais grana que ela.
-Você realmente acredita
nisso que tá falando? Assim fica difícil, Márcio...
-E tou mentindo, Suzanne? Você
que acaba torrando o dinheiro com suas extravagâncias...
-Não é sobre o dinheiro só,
tolinho... é sobre a fama que eu posso conseguir, o prestígio, o
badalo...
-Sim, que seja, mas a alta
sociedade tá cheia de gente que facilitaria isso mais...
-Você não pegou o espírito
da coisa. O Vicente é o ator mais lembrado pelas donas de casa há
quase vinte anos. Estando ao lado dele eu tou garantindo de certa
forma nossa independência.
-Você está querendo dizer
que quer largar essa vida de aplicar golpes? Se for isso, Suzanne,
você sabe que tem todo meu apoio... eu queria ter largado essa vida
há muito tempo. Eu aceitei até ser fichado na polícia por sua
causa...
-Nem começa esse assunto de
novo, Márcio. Você fez porque quis, não te obriguei a nada.
-Não precisa repetir. Você
sempre diz isso. Então faça o que tem que ser feito. Seduza o
Vicente.
-Você não vai ficar com
ciúme?
-Claro que vou, Suzi. Você é
e sempre foi o amor da minha vida. Mas são negócios, não são?
CORTA A CENA.
CENA 6: Ivan vai à companhia
de teatro e chama Mara e Valentim para uma conversa particular.
-Espero que não esteja
atrapalhando vocês. Vocês não tem nenhum trabalho pra hoje, certo?
- questiona Ivan.
-Temos tempo, Ivan. Fale o que
você quer conversar com a gente... - fala Valentim.
-Eu quero ver o meu filho.
Mara se impacienta.
-Ivan, você tem noção do
que acabou de falar? Não é assim que as coisas funcionam!
-Mara tem razão, Ivan. Não é
um simples “quero ver Haroldo” que vai facilitar nosso trabalho
feito um passe de mágica. Não nos superestime... - fala Valentim.
-Mas vocês sabem que ele está
vivo, não sabem? Será tão difícil pra vocês descobrir onde o
Haroldo tá se escondendo ou morando? Vocês fazem alguma ideia do
que é prum pai ficar mais de dois anos sem ver o filho mais velho,
sem sequer ter uma notícia decente sobre ele? - fala Ivan, se
emocionando.
-Nós entendemos a sua
aflição, meu amigo. Mas pedimos que você mantenha a cautela, a
discrição e a calma. Nenhum passo em falso pode ser dado enquanto
não soubermos o mínimo pra poder agir... - fala Mara.
-Ivan... nós estamos fazendo
o melhor que podemos. Confia na gente... - sentencia Valentim.
-Desculpe por exigir tanto de
vocês. Só quero poder ver meu filho logo... - desabafa Ivan.
-Vamos fazer o possível pra
que isso se realize o quanto antes... - finaliza Mara. CORTA A CENA.
CENA 7: Cláudio e Bruno
terminam de almoçar e Bruno questiona Cláudio sobre a caixa.
-Decidiu o que vai fazer em
relação à caixa?
-Ainda não, Bruno... tou
bastante dividido.
-Cláudio, pensa comigo: a
gente tá vivendo um momento tão calmo agora, pra que colocar tudo
isso em risco em nome de verdades que talvez nem sejam boas de
descobrir?
-Verdades nunca são demais,
meu querido...
-Mas nem sempre são
convenientes, Cláudio... poxa, meu amor! Você realmente pensa que
vale a pena colocar nossa tranquilidade em risco por causa de uma
coisa do passado?
-Você tem razão. Detesto
admitir isso, mas você tem razão. Só que ainda assim esse passado
me assombra.
-Cláudio, às vezes eu não
te entendo. Como você pode falar que um passadinho desses te
assombra quando você superou tanta coisa? Perdeu seus pais adotivos
ainda jovem naquele acidente horroroso, nunca descobriu sua família
biológica e aprendeu a tocar a vida independente desde muito cedo.
Por acaso em algum momento você foi revirar esse passado? Quis
descobrir de onde veio ou pra onde vai sua família biológica? Não!
Porque você sabe que seus pais que te escolheram te deram todo o
amor possível e é grato por tudo isso. Sentiu falta dos que te
deixaram pra trás ainda bebê? Não! Como é que você tem tanta
maturidade pra deixar um passado desses pra trás e fica se
atormentando por causa do que nunca descobriu de um ex namorado?
Percebe como isso não tem lógica nem faz sentido?
Cláudio se dá por vencido.
-Tou sendo meio infantil
querendo revirar essas coisas, não é? O Rodrigo nunca me fez mal
nenhum de verdade... o único mal presente entre nós foi o que eu
nunca soube sobre ele...
-Meio infantil, amor? Desculpa
falar, mas é totalmente. Por favor, amor... o melhor que a gente tem
a fazer é se livrar de uma vez dessa caixa.
Cláudio vai ao quarto e pega
a caixa na escrivaninha.
-Pegue os jornais e o
isqueiro. A gente vai queimar essa caixa. Chega de sofrer com
suposições que não vão nos levar a lugar nenhum... - sentencia
Cláudio.
Bruno se alivia. CORTA A CENA.
CENA 8: Horas mais tarde,
Marcelo e Rafael conseguem fazer chamada de vídeo para Mariana.
-Oi mana! - fala Rafael.
-Que saudade, Rafa... como
vocês estão? Aproveitando muito essa quase lua-de-mel? - pergunta
Mariana.
-Tá tudo ótimo aqui, Mari...
você pode chamar todo mundo? - pergunta Rafael.
-Claro. Segura aí!
Mariana desce e chama todos.
-Gente, os meninos estão
fazendo uma chamada de vídeo e querem ver todo mundo! - avisa
Mariana.
Riva, Marion, Ivan, Valquíria
e Vicente sobem ao quarto de Mariana.
-Que saudade de você, mãe...
você tá linda! O Vicente tá te fazendo muito bem... - admira-se
Marcelo.
-Não olha pra mim, garoto!
Não sou esse santo milagreiro todo não, viu? A Riva sempre foi
linda, só não sabia disso... - fala Vicente.
-Mas me conta, mãe... alguma
novidade sobre o defeito que deu no meu carro? - questiona Rafael a
Marion.
-Filho, a gente combinou que
só entrava nesse assunto depois que vocês voltarem pro Brasil,
lembra? - esquiva-se sutilmente Marion.
-Verdade. Melhor esquecer
desses problemas por enquanto... - constata Rafael.
-Contem mais como estão sendo
esses dias por aí, queridos... - fala Ivan.
-Estão sendo ótimos, Ivan. O
seu filho realmente faz tudo o que pode pra me fazer feliz. Esses
dias estão sendo maravilhosos... desculpa falar, mas tou tendo cada
vez mais certeza de que ele é o amor da minha vida... - derrete-se
Marcelo.
-Pedir desculpa por isso,
Marcelo? Deixe de bobeira, menino... realmente acho que vocês foram
feitos um pro outro... - fala Ivan.
-Pode até ser, pai... mas bem
que o Marcelo podia ser menos teimoso... - descontrai Rafael.
-Como se você fosse a pessoa
mais fácil do mundo, né Rafa? Quem não te conhece que te compre...
- descontrai Mariana.
Todos riem e se divertem com a
conversa. CORTA A CENA.
CENA 9: Bruno está preparando
o jantar enquanto Cláudio toma banho e seu celular toca. É Mateus.
-É bom que essa ligação
seja só pra passar as instruções do cara, porque a gente não tem
mais o que falar...
-Calma, Bruno! Não posso
ligar pra saber como você tá, não?
-Sinceramente, Mateus? Não!
Eu não tenho mágoas de você, mas você precisa entender de uma vez
por todas que entre nós não tem mais chance de acontecer nada. Eu
amo o Cláudio.
-É duro pra mim ouvir você
dizer isso. Mas compreendo. Só liguei pra saber como você tá, se
tá bem...
-Quer dizer que o chefe não
mandou nada? Olha aqui, cara... sério. Dá um tempo pra mim. Esquece
um pouco do que a gente viveu, pode ser?
-Não pode não. Eu sei que
você não me ama mais, mas tivemos uma história. Eu ainda sou seu
amigo.
-Amigo? Que amigo é esse que
nunca realmente fez nada por mim? Que nunca me estendeu a mão se não
fosse se beneficiar por isso? O que você pensa que é amizade? O que
você acha que é consideração? Você nunca fez nada por mim! -
brada Bruno, desligando. Cláudio chega na cozinha e escuta o fim da
ligação.
-O que significa isso, Bruno?
Bruno fica atônito. FIM DO
CAPÍTULO 27.
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