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quinta-feira, 30 de junho de 2016

CAPÍTULO 40

CENA 1: Guilherme tenta se explicar com Cláudio.
-Olha, Cláudio... desculpa. Você sabe que eu gosto de você. Mas somos acima de tudo amigos, não somos?
-Somos... mas eu não posso admitir que você venha com ceninha de ciúme pra cima de mim, sendo que a gente mal começou a ficar. Isso é tudo o que a gente tem, além da amizade: a gente fica! Começa e termina por aí.
-Não precisa jogar isso na minha cara, Cláudio...
-Como que não precisa? Em questão de dia você dá um piti completamente sem sentido diante de mim e do Bruno e eu não preciso deixar as coisas claras pra ver se você entende? Claro que eu preciso dizer! Você acha que o Bruno não notou nada? Claro que notou... ele ficou tão constrangido quanto eu fiquei. A diferença é que ele foi elegante e não me disse nada. Não deu uma palavra. Porque não quis se meter. Assim é como uma pessoa madura age.
-Você não é a pessoa mais indicada pra falar de maturidade depois do que fez covardemente com o Marcelo.
-Guilherme, na boa... vai embora. Vai embora da minha casa antes que a gente acabe discutindo e brigando sem necessidade.
-Desculpe, Cláudio... eu não quis te aborrecer.
-Você nunca quer, né? Não queria causar climão, mas foi o responsável pelo climão lá na sala. Não queria me aborrecer mas tocou numa ferida aberta minha.
-Não foi minha intenção... eu juro.
-Pode não ter sido. Mas sabe como é aquele ditado clichê, né? De bem intencionado, o inferno tá cheio. Por favor, Guilherme... eu gosto de você. Tou gostando de ficar contigo. Não estraga esse lance legal que tá pintando entre a gente... é melhor você não ficar aqui em casa hoje. Ainda dá tempo de sair daqui até Copacabana sem susto. Por favor... faça isso por você, faça isso por mim... por nós.
-Tá certo. A gente se vê amanhã?
-Eu não sei. Eu te ligo qualquer coisa. Preciso esfriar minha cabeça desse climão de hoje. Respeite meu tempo.
Cláudio acompanha Guilherme até seu carro e Bruno observa. Cláudio volta rapidamente pra dentro de casa.
-Gente... vocês discutiram?
-Bruno... não precisa se manter nessa postura defensiva. Você sabe o motivo pelo qual eu mandei ele embora. Aquele climão que ele criou foi muito sem noção. Desrespeitoso com você acima de tudo, muito antes de ser comigo. Foi cena de ciúme besta.
-Concordo. Não tem o mínimo cabimento. Vocês só ficam. Mesmo que fosse seu namorado, né... pra que aquela cena?
-Pois é. Achei melhor ele voltar pra casa dele, pra colocar a mão na consciência e pensar melhor nas atitudes que toma. Você pode pegar suas coisas que hoje você dorme no quarto.
Bruno fica feliz e recolhe suas coisas. CORTA A CENA.

CENA 2: Na manhã do dia seguinte, Marion desperta e após tomar uma xícara de café, vai ao quarto de sua mãe.
-Te acordei, mãe?
-Nada, querida. Tava aproveitando pra ler um livro. Você sabe que me acordo com os primeiros raios do dia.
-Eu queria conversar com a senhora... na verdade, te fazer um pedido.
-Fale, minha filha. Que pedido é esse?
-Antes de te fazer o pedido, eu queria te dizer que andei pensando melhor em tudo o que a senhora me disse ontem. Depois de resistir um pouco, confesso que passei a admitir pra mim mesma que sempre achei a Suzanne um tanto quanto... bem, artificial.
-Falsa. Não é isso que você queria dizer?
-Não nessas palavras, mas é por aí.
-Certo... eu te avisei, minha filha. Minha intuição não é coisa que falhe, você não lembra das enrascadas que eu tirei sua falecida irmã e vocês?
-Verdade, mãe... a senhora sempre sentia quando o rapa tava pra chegar...
-Mas diga logo... qual é o pedido?
-Não é bem um pedido, é mais uma orientação. Queria que a senhora buscasse não demonstrar nenhum tipo de desconfiança ou animosidade com a Suzanne, nem perto da Riva, muito menos quando a Riva estiver longe...
-Tou entendendo. Você tá com medo que ela note alguma fragilidade em mim e use isso contra mim, não é? Com a intenção de criar intrigas e jogar minha neta contra mim...
-É exatamente isso que pensei, como é que você sabe, mãe?
-Ah, filha... eu sei das coisas. Agradeço a sua preocupação. Você espera que eu tenha cautela e eu vou ter. Não se preocupe. Já vi gente como a Suzanne antes nessa vida.
-Já? Como assim?
-Ou você tem muita sorte de nunca ter cruzado com um tipo feito o dela antes, ou não prestou atenção o suficiente...
-Por que?
-Essa gente tá por toda parte. Gente falsa, gente que atua na vida o tempo todo. Gente sem consideração e sentimento. Te conquistam, ganham sua confiança, pra depois te apunhalarem. Geralmente porque querem grana. Tirar vantagem... se sentirem grandes.
-Não entendo, mãe... você fala como se estivesse se referindo a psicopatas.
-Não sei se é esse o nome que dá. Psicopata não são aquelas pessoas que matam em série?
-Nem sempre, mãe... mas enfim...
-Que seja. Já parou pra pensar que de repente ela não é rica como diz? Vocês conhecem alguém da família dela? Foram atrás de saber dessas coisas?
-Ainda não, mãe. Nem tem como. A gente falou sobre isso ontem... a senhora concordou que não seria bom invadir a vida de uma pessoa sem ter provas e nada além de suposições e desconfianças...
-Verdade. Mas pode ficar tranquila, filha... da minha parte vou ser bem discreta.
-Obrigada, mãe. Quer descer pra tomar café da manhã com a gente?
-Claro! - prontifica-se Valquíria. CORTA A CENA.

CENA 3: Em Melbourne, Rafael percebe que Marcelo continua com uma expressão triste.
-O que foi agora, amor? Não tá gostando da viagem, do país?
-Não, amor... tou adorando tudo. Tou amando a Austrália, tudo me parece realmente bom aqui. Não é isso... é que às vezes bate uma tristeza.
-É por causa do Cláudio, acertei?
-Nem que eu queira eu consigo esconder as coisas de você, né Rafa?
-Não consegue. Seu olhar fala demais por você...
-Eu tou muito triste, chateado e decepcionado com tudo isso. Me corta o coração saber que o Cláudio teve a capacidade de agir do jeito que agiu comigo. Sempre acreditei que nessa vida nunca tinha dado motivos pra ninguém sentir inveja, despeito e recalque de mim. Não é fácil perceber que desperto isso em alguém, muito menos quando esse alguém é quem eu considerava meu melhor amigo.
-Eu sei o quanto tudo isso tá doendo de verdade em você... mas me pergunto se vale a pena você ficar nessa coisa de remoer essa história toda. Enquanto você fica remoendo tudo isso, a gente tá deixando de aproveitar nossos momentos aqui. Viajamos pra isso, não foi? Pra gente poder passar esse tempo vivendo nosso amor sem medo, sem ter que se esconder...
-Claro que foi. Eu quero tirar isso da cabeça. Mas sabe por que não consigo? Você pode até achar que sou ingênuo... mas lá no fundo eu tenho a esperança que a gente ainda volte a ser amigo.
-Você passaria uma borracha em tudo? Ele precisa se responsabilizar pelas merdas que fez, amor...
-Eu sei. Vamos ver como as coisas vão se resolver com o tempo. Se um dia a gente voltar a ser amigo, não vai ser do dia pra noite. Feridas foram deixadas abertas e elas doem um bocado...
-Fica bem, meu amor... não gosto de te ver assim...
Rafael consola Marcelo, que se tranquiliza em seus braços. CORTA A CENA.

CENA 4: Mateus encontra “Chefe” onde ele costuma se encontrar costumeiramente. Aparece a silhueta do “Chefe” e sua voz abafada.
-Surpresa ver você aqui, Mateus. E que ousadia, eu diria. Vir assim... sem nem me ligar antes, sem se anunciar... quem é que podia te garantir que eu já tava aqui? Eu podia estar em casa numa hora dessas... ou em outro lugar.
-Conheço seus hábitos, chefe. Eu vim aqui porque preciso esclarecer algumas coisas. Esclarecer e sugerir.
-Fale logo, Mateus. Não tenho o dia todo e tenho estado meio sobrecarregado ultimamente.
-Dá pra ver pelas suas olheiras, mas enfim... eu tou com medo que a polícia esteja na minha cola, chefe... e por isso eu não sei se quero aceitar ser o novo cobrador. Prefiro me manter mais invisível, caso eu realmente esteja sendo investigado.
-Você é um rato ou um homem, Mateus? Você não tem opção. Ou você assume a posição que eu te impus, ou vai sobrar pra você, pra Laura e pra muito mais gente.
-Isso é uma ameaça, chefe?
-Você sabe que é. Nem sei por que pergunta. Você morre se não fizer o que mandei. Você também sabe que não preciso sujar minhas mãos com o sangue de ninguém, sempre tenho quem faça o serviço por mim.
-Mas chefe... você não podia considerar alguma outra função menos arriscada pra mim dentro da organização?
-Mateus, não tem conversa. Esquece disso. Não tem outra alternativa. Depois, os meus outros homens só servem pra obedecer ordens, mas não tem inteligência o suficiente pra conduzir... você sabe, operações mais complexas. Preciso de você. Você não pode simplesmente abandonar esse barco, senão muita gente afunda com você.
Mateus se dá por vencido e vai embora. CORTA A CENA.

CENA 5: Rodrigo está no apartamento do Rio em que morou, terminando de arrumas suas malas e pegar as coisas que lhe pertencem e olha para o apartamento, pensativo.
-Quem diria! Já tava até me acostumando com essa vidinha mais ou menos aqui... e agora esse ciclo tá se fechando na minha vida. Se fechando pra nunca mais se abrir...
Rodrigo pega sua agenda e começa a escrever seus pensamentos:
Estou num misto de sentimentos, lembranças e sensações. É doido dizer isso agora, mas nunca pensei que sentiria saudade desse apartamentinho que me acolheu quando eu não tinha mais pra onde ir nem por onde me esconder. O ciclo que se fecha hoje também fecha uma página lamentável da minha vida, da minha história, da qual sempre hei de me envergonhar. Por outro lado, deixo pra trás Cláudio... um grande amor que sei que não vou mais poder viver. Errei demais querendo acertar. Fui vítima de mim mesmo ao me deixar envolver pelo “Chefe”. E esse danado desse “Chefe” mesmo tendo a minha vida e a vida de tanta gente nas mãos, nunca mostrou a cara. Nunca soube quem ele é. Talvez nunca saiba. Mas só posso agradecer aos céus por ele ter me libertado. Muitas foram as vezes que pensei que jamais me livraria dessa teia de crimes, intrigas e conspirações. Mas hoje eu posso dizer que depois de muito tempo, eu estou me reencontrando comigo mesmo. Espero me encontrar ainda diante do espelho”.
Rodrigo fecha sua agenda, coloca em uma de suas malas e vai embora definitivamente do apartamento. CORTA A CENA.

CENA 6: Na companhia de teatro, antes de chegarem os atores, Procópio questiona Mara e Valentim.
-Vocês falaram dia desses sobre essa tal organização... facção, sei lá... o que vocês sabem de concreto sobre ela? - pergunta Procópio.
-Até onde eu e Valentim pudemos chegar até o momento, essa facção não age de agora. Está ativa há pelo menos quarenta anos. Só que antes funcionava de uma forma mais discreta, compreende? A situação passou a se tornar insustentável quando o dono da empresa de fachada morreu em 2011, gerando uma série de eventos estranhos nos meses e nos anos seguintes. Cerca de quatro ou cinco meses depois da morte dele, que foi comprovada depois ser assassinato, a empresa, mal administrada por seu substituto, entrou em concordata. Tudo indicava para o caminho da falência, mas foi então que o mais esquisito passou a acontecer: doações anônimas de dinheiro. Quantidades exorbitantes de um dinheiro que não é declarado, cuja procedência só pode ser ilegal. - fala Mara.
-Isso sem mencionar que por trás da empresa foi descoberto que sempre houve tráfico de armas e agiotagem. Há a suspeita, que ainda não confirmamos, de que o falecido dono da empresa era delator na época da ditadura militar. Andei pesquisando e somente na sua turma na época da universidade, pelo menos quatro de seus colegas foram capturados e torturados. Somente um deles sobreviveu pra contar história. Um deles teve a morte confirmada e os outros dois desapareceram e nunca mais deram notícias. - complementa Valentim.
-Vocês não acham que devem ir atrás desse sobrevivente? - pergunta Procópio.
-É o que estamos tentando. Mas antes temos outras coisas a resolver... - fala Mara.
-Acho melhor a gente encerrar o assunto por aqui. Os atores já estão começando a chegar... - alerta Valentim.
Todos fingem que estavam apenas conversando sobre amenidades. CORTA A CENA.

CENA 7: Durante o café da manhã, Bruno resolve falar sobre Guilherme com Cláudio.
-Você parece ainda estar incomodado com aquela cena que o Guilherme aprontou ontem...
-E tou incomodado mesmo, Bruno. Mais que isso... eu diria que fiquei um pouco assustado, talvez decepcionado.
-Por que?
-Vou ser sincero com você. O Guilherme nunca foi uma pessoa fácil nessa vida.
-Como assim?
-Na época que nós estudamos juntos e eu me apaixonei por ele, ele sequer tinha capacidade de admitir que gostava de meninos. Até aí não tem nada demais, mas ele se juntou justamente com a turma dos caras homofóbicos, que ficavam humilhando e perseguindo eu e outros gays e lésbicas no colégio... e eu tinha que ver ele todo dia porque a gente estudava na mesma turma. Ele chegou ao cúmulo de, mais ou menos na metade daquele ano, aparecer com uma colega nossa, de mãos dadas com ela, dizendo que ela era a namorada dele. Aquilo ali terminou de me arrasar por dentro, porque eu já vinha me sentindo um bosta por conta das merdas que ele fazia. A Fernanda, que era essa colega, percebeu que eu fiquei mal. No final da aula, naquele mesmo dia, ela me confessou que não estava com ele coisa nenhuma... que ela havia feito tudo a pedido dele, mas que ao me ver daquele jeito, todo abalado, tinha se arrependido e que não ia mais compactuar com aquela mentira.
Bruno fica perplexo.
-Cláudio... isso que você tá me contando é muito grave. Ele passou por cima dos sentimentos que você tinha por ele. Não mediu as consequências disso! Isso foi, desculpe falar, de uma crueldade absurda.
-Eu sei que foi, Bruno. Quando aquele ano acabou e o outro ano letivo começou, levantei as mãos pros céus que ele havia trocado de colégio. Ajudou a cicatrizar muitas feridas que ele deixou dentro de mim. Anos depois ele surge atrás de mim, na rua. Completamente fora de si. Parecia perturbado. Se ajoelhou diante de mim pedindo perdão, confessou que sempre me amou e que queria uma chance comigo. Respondi que tava namorando na época e isso não era mentira. Eu estava namorando o Fernando, meu primeiro namorado. Ele saiu atordoado dali. Fiquei assustado com o estado dele, sinceramente...
-Não é pra menos. Mas perto do que ele já foi, até que ele já tá bem mais controlado, não?
-Isso é, Bruno... mas não sei. Ainda fico com medo...
Os dois seguem conversando. CORTA A CENA.

CENA 8: Vicente e Riva estão descendo para o café da manhã quando Riva sente uma forte tontura e se apoia em Vicente. Os dois quase caem da escada.
-Viu, Riva? Eu falei que a gente não devia ter dormido tanto. Já é quase meio dia... tá se sentindo melhor? - fala Vicente, preocupado.
-Vou voltar pro quarto. Tou me sentindo muito tonta. Você traz o café da manhã pra mim? Tou com medo de cair... - fala Riva.
Vicente leva Riva ao quarto e vai à cozinha preparar o café da manhã dos dois. Instantes depois, retorna ao quarto com o café da manhã dos dois. Riva come um pouco e começa a se sentir enjoada.
-Ai amor... deve ter sido algo que comemos ontem. Nem a comida tá descendo direito. Acho que vou vomitar...
Riva começa a passar mal e Vicente a leva ao banheiro da suíte. CORTA A CENA.

CENA 9: Valquíria demonstra preocupação com Riva diante de Marion, Ivan e Mariana.
-Ai gente... tou com medo pela Riva... lembro que a mãe dela tinha uma saúde frágil... - desabafa Valquíria.
-Ih mãe, nem se preocupa. Esqueceu que essa daí é taurina? Deve ter passado mal de tanto que comeu de noite. Você não lembra que ela sempre foi de assaltar a geladeira? - fala Marion.
As duas riem.
-Ah, isso é verdade. E vivia passando mal por causa da gula... Não engorda porque tem sorte.
De repente, a campainha toca. Marion estranha.
-Hoje não é dia da Suzanne vir. Quem pode ser uma hora dessas? Pode ir olhar pra gente, Ivan?
Ivan abre a porta e toma um susto.
-Haroldo! É você! - FIM DO CAPÍTULO 40.

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