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segunda-feira, 6 de junho de 2016

CAPÍTULO 19

CENA 1: Riva segue a tentar entender o motivo do pranto de Suzanne, que parece estar soluçando de tanto chorar.
-Fala, Suzanne, tá me assustando!
-Desculpe, Riva. Está sendo muito difícil pra mim.
-Entra, amiga. Do jeito que você tá, precisa de uma água com açúcar.
Suzanne entra e todos ficam encarando ela com preocupação. Marcelo e Rafael olham para ela e conversam entre si, discretamente.
-Gente... olha o tanto que essa mulher tá chorando, amor... será que a gente andou pegando pesado com os julgamentos antecipados? - questiona Rafael.
-Ai, sinceramente? Tou bem confuso. Olha lá, ela chega a tremer! De repente a gente pode ter sido injusto sim, talvez ela só seja uma oportunista sem noção... - divaga Marcelo.
-De qualquer maneira não custa não baixar a guarda, não é? - continua Rafael.
-Ah, isso sem dúvida. Mal sabemos quem ela é...
Riva chega com o copo de água com açúcar e Suzanne toma tudo num único gole.
-Fala, Suzi. O que tá acontecendo? - questiona Riva.
Suzanne aparenta estar subitamente calma e começa a falar.
-Meu pai, Riva. Ele está morrendo. É questão de dias, semanas... no máximo meses. Acabei saindo às pressas porque minha mãe ligou dizendo que precisava de mim por lá...
As duas seguem conversando e Marcelo nota que Rafael está incomodado com o que Suzanne falou.
-Ih, Rafa, que foi? Eu que sou todo trabalhado na desconfiança não vi nada demais no que ela disse...
-Esperava mais de você, Marcelo... será que você não vê que ela tá usando de novo a família distante dela de desculpa?
-Você acha?
-Eu não acho, amor... eu tenho certeza. Ainda não engoli esse sotaque de carioca da gema legítima dela, sendo que ela diz que vem de São Paulo...
-Você tá parecendo mais comigo do que eu mesmo, Rafael... olha, eu sinceramente não vejo tanto mistério em torno de um simples sotaque. Algumas pessoas aprendem rápido por convivência com as outras, né...
-Pode ser. Mas que não engoli essa historinha dela envolver a família dela de novo pra justificar o sumiço, não engoli mesmo...
-Nisso cê tem razão. Pode até ser verdade, mas não custa abrir o olho.
Suzanne força intimidade com os dois.
-Falando de mim, queridos?
Marcelo engole a seco e tenta ser agradável.
-Estávamos preocupados com o seu pai. Quem sabe ele sai dessa, não é mesmo?
O clima fica claramente tenso. CORTA A CENA.

CENA 2: Na manhã seguinte, Diogo está indignado com Victor.
-Que cena absurda e ridícula de ciúme ainda agora? Poxa vida, Victor! Que espécie de rato você pensa que sou pra dar em cima do padeiro? Tem horas que você passa de todos os limites...
-Tenho motivos, não tenho? Afinal de contas o seu ex terminou contigo por causa de outro.
-Na verdade, não. Eu não queria te falar isso, mas vou te falar pra você parar de uma vez por todas de desconfiar de mim, ok?
Victor olha com desdém para Diogo.
-Fala a sua história mirabolante, quem sabe a emissora não te chama, né?
-Dispenso as suas ironias. O que vou falar é sério, Victor. Se você não quiser acreditar isso não é problema meu. O fato é que nunca traí Cláudio nem ninguém nessa vida.
-E você espera que eu acredite nisso? Você me subestima às vezes, Diogo... antes de começarmos a namorar você mesmo me disse que se maltratava por causa do que tinha feito pro Cláudio... não venha querer me fazer acreditar nessa historinha que cê tá inventando.
-Não tou inventando. Pra te explicar tudo, eu vou ter que voltar a um ano atrás...
-Prossiga.
-Recebi a ligação de um homem misterioso numa manhã que eu estava no motel com o Cláudio. Ele dizia que sabia exatamente o que vestíamos e onde estávamos. Aquilo por si só me assustou demais... mas não é só isso. Eu o enfrentei e disse que ele deveria ser um desocupado...
-Sei... e daí? - fala Victor, encarando Diogo com desdém.
-E daí que esse cara me disse que o Cláudio tinha que ser só dele e de mais ninguém. Mandei ele se tratar que ele estava louco e para parar de nos perturbar. Foi então que ele disse que ia me mandar provas de que tinha como arrasar com minha vida. Eu desafiei esse cara, afinal de contas tava duvidando dele. Naquela mesma noite eu fui recolher os papeis da minha caixa de correio e me deparei com um envelope sem remetente. Naquele envelope tinha as fotos dos meus avós de São Bernardo do Campo que me criaram até eu me mudar pra cá... e uma carta anônima, daquelas feitas com colagem de jornais e revistas, dizendo que se eu não terminasse tudo imediatamente com o Cláudio, minha família e eu morreríamos. Mas não era só isso: a carta dizia que o Cláudio morreria também se eu não deixasse ele. Foi então que eu tive a ideia de fazer o Cláudio se magoar de tal forma que nunca mais quisesse ter mais nada comigo: inventei que tinha ficado mais de uma vez com um colega de trabalho, o Jefferson. Esse Jefferson nem existe, mas o plano funcionou. Cláudio terminou tudo comigo e assim eu salvei as nossas vidas.
Diogo começa a chorar e Victor o abraça, também chorando.
-Quer dizer que você fez tudo isso por amor?
-Sim. Mas não tem como voltar atrás. O que está feito está feito. Cláudio nunca volta pra quem o trai. Eu sabia exatamente o que tava fazendo.
Victor encara Diogo sério.
-Você faria algo desse tamanho por mim?
Diego fica perplexo com a pergunta de Victor.
-Eu não acredito que eu acabei de desabafar e você me pergunta isso. Você não consegue ver a gravidade de tudo isso?
Victor tenta se justificar.
-Mas amor, eu...
-Outra hora quando eu estiver de cabeça fria a gente fala. Agora não. Vou me atrasar pro trabalho. Mais tarde nos falamos.
Diogo vai embora indignado com Victor e Victor sofre. CORTA A CENA.

CENA 3: Mateus desliga frustrado seu celular e Laura estranha expressão do namorado.
-Notícia ruim, Mateus?
-Não, amor... só não gostei muito do que ouvi.
-E o que te deixou com essa cara de bunda?
-Fui escalado pra próxima novela das nove.
-Mas isso não é bom? - estranha Laura.
-Você deve estar debochando da minha cara, Laura, não é possível.
-Não tou entendendo essa sua reação, Mateus, na boa. Não é o sonho de todo ator que tá na televisão fazer a novela do horário nobre? Não tou entendendo esse beiço de criança que não ganhou doce.
Mateus explode.
-Você não entende nada, mesmo! Eles me escalaram pra um papel de coadjuvante, uma merdinha secundária! Entendeu agora?
-Olha bem como cê fala comigo que eu não sou qualquer pessoa, não! Que é que tem, criatura? Você vai continuar a estar no programa mais assistido do país, cacete. Coloca isso na sua cabeça e para de ser megalomaníaco.
-Você me acusa de megalomania, claro... pra você é muito fácil falar. Nunca teve os mesmos sonhos que eu.
Laura respira fundo e tenta acalmar Mateus.
-Mateusinho, meu amor... coloca uma coisinha nessa sua cabecinha: uma coisa é sonhar, outra coisa é delirar. E antes que você venha com pedrada pra cima de mim eu vou desenhar, ok? Mateus, ninguém começa no topo. Ninguém.
-Menos o Rafael, né? Afinal ele já começou protagonista. Filho de atriz, né? Assim o caminho fica mais fácil. Talento pra que, não é?
-O Rafa é talentosíssimo e os melhores críticos reconhecem isso. Você realmente acha que ele chegaria onde chegou se fosse ruim ou sem expressão? Às vezes você fala de um jeito que parece que tem recalque com ele...
-Eu lá vou ter recalque com amigo meu? Cada ideia, Laura...
-É o que pareceu. Olha, querido, eu não gosto de brigar contigo. Você aceitou o papel pelo menos?
-Claro, né. Não tinha como recusar.
-Então faça o seu trabalho, dê o seu melhor. Cedo ou tarde você chega onde quer.
Os dois se abraçam. CORTA A CENA.

CENA 4: Suzanne está no luxuoso quarto de hotel onde está hospedada quando a campainha toca. Sem fazer vaga ideia de quem possa ser, ela atende e se surpreende.
-Ma... mãe? Como é que você me achou aqui?
Raquel, mãe de Suzanne, começa a falar.
-Seria difícil se você tivesse se escondido em outra cidade, mas convenhamos que mudar de zona não é tão imprevisível assim...
-Fala logo o que você quer, dona Raquel.
-Poxa vida, Suzanne! Eu sou sua mãe! Esperava pelo menos um beijo e um abraço de recepção! Não vai me deixar entrar, é isso mesmo?
Suzanne, contrariada, abre para sua mãe, que entra. Raquel a beija e a abraça, mas Suzanne demonstra frieza.
-Uma pedra de gelo teria sido mais quente que isso, filha... você nunca mais me procurou, nunca mais deu notícias...
-Tive meus motivos.
-Sempre com a mesma ladainha, né? Filha, confia na mãe! Você nunca se abre comigo!
-Deve ser porque você me deu uma surra quando eu disse que tava namorando com o Márcio, lembra? Eu era uma adolescente, precisava do seu apoio, o pai tinha morrido, a vó também. Mas o que você fez? Disse que eu estava andando com um bandido e me bateu!
-Suzanne, você pode distorcer as coisas pra qualquer pessoa, menos pra mim. O Márcio não é uma pessoa ruim, mas poxa vida! Ele já tinha sido interno da Febem, poxa! Ninguém queria o garoto por perto e eu dei uma condição dele recomeçar a vida sendo nosso caseiro! Você sabe muito bem que eu não te espanquei, tudo o que fiz foi te dar um tapa na cara. Chamei o Márcio de bandido porque tava de cabeça quente e... poxa vida, minha filha! Tem mais de vinte anos, isso!
-Você deveria ter ficado do nosso lado.
-Filha, já tem muito tempo tudo isso. Depois, você fugiu porque quis. Nunca te expulsei de casa. Você tem ideia do quanto me fez sofrer? Em um ano eu perco minha mãe, meu marido e minha filha! Você pensou em mim quando passou mais de cinco anos sumida?
-Desculpe, mãe... mas as circunstâncias me levaram a isso. Mas a senhora sabe que depois que apareci de novo, nunca te deixei faltar nada. Mesmo quando eu tava no exterior eu te mandava dinheiro todo mês...
-Tá certo, filha. Eu não quero discutir nem remoer o passado. Na verdade eu vim passar um tempo aqui com você. Sinto sua falta. Você nunca fica mais de dois dias lá em casa... até agora não entendo porque tá nesse hotel.
-E onde estão suas malas?
-Estão subindo. Posso ficar?
-Não tenho escolha...
Raquel estranha frieza da filha Suzanne. CORTA A CENA.

CENA 5: “Chefe” liga para Mateus.
-Fala, chefe. O que manda dessa vez?
-É sobre o namoro do Cláudio com o Bruno.
-As notícias correm rápido, mesmo... ei, pera! Como é que você já sabe se eu não te contei nada ainda?
-Tenho meus meios de saber sem precisar de você, bobinho. Tenho mais olhos espalhados por aí do que você possa imaginar.
-Você me assusta...
-É bom que eu te assuste. Por que eu tou te ligando pra te passar uma ordem que não pode ser contrariada.
-Então fala de uma vez que eu tou com pressa.
-Não se aproxime dos dois. De jeito nenhum. Esqueça o Bruno, finja que nunca tiveram nada.
-Por que isso? Posso saber? Não faz o mínimo sentido.
-Não pode saber e eu não preciso te explicar. Pra mim faz sentido e é isso que importa. Fique longe dos dois. Vai ser melhor pra todo mundo.
“Chefe” desliga e Mateus fica intrigado.

CENA 6: Na companhia de teatro, Laura está lanchando quando Mara e Valentim a abordam.
-Boa tarde, querida. Você está indo muito bem ultimamente... - fala Mara.
Laura estranha a fala da preparadora de elenco. Valentim começa a falar.
-Queremos falar com você, Laura.
-Sobre o que, Valentim?
-Sobre o seu namorado... - esclarece Valentim.
-O que tem o Mateus? Olha, se vocês estão pensando em propor ao Procópio que o chame para participar de alguma peça, melhor esquecer essa ideia. Mateus mal entrou em férias e já foi chamado pra outra novela.
-Não, querida... não é nada disso... - esclarece Mara.
-E qual é o interesse de vocês em saber do meu namorado? - estranha Laura.
-O mesmo interesse que você tem tido em desvendar certas coisas. - fala Valentim.
Laura fica sem compreender onde eles querem chegar.
-Eu não tou entendendo nada, gente, desculpem. Vocês poderiam ser mais objetivos?
Os três seguem conversando. CORTA A CENA.

CENA 7: Suzanne passa condições e orientações à sua mãe.
-Então vai ser assim, mãe: se alguma amiga ou amigo aparecer aqui, você é minha empregada.
-Pra que isso, Suzanne? - estranha Raquel.
-Não faça perguntas. Você quer ficar aqui comigo, não quer? Então vai ter de ser dentro das minhas condições e termos.
-Não entendo você, minha filha.
-Não é pra entender, dona Raquel. Tenho negócios importantes em curso. Preciso zelar pela minha imagem. Faz parte do “espetáculo” eu dizer que sou de uma família do interior de São Paulo.
-Mas você é daqui, filha!
-Me ouve com atenção, pode ser? Eu ainda tou com o Márcio, de vez em quando ele vai aparecer por aqui e se alguma amiga minha perguntar se eu tenho alguém, você não diz nada...
Raquel fica contrariada.
-E desamarra essa cara se quiser ficar aqui.
-Já que não tem outro jeito, aceito tudo isso... - rende-se Raquel. CORTA A CENA.

CENA 8: Marion chama Riva para conversar a sós com ela.
-Fala, Marion...
-Já tenho uma resposta sobre aquele assunto.
-É o que tou pensando? É sobre vovó?
-Sim, Riva... é sobre minha mãe.
-Espero sinceramente que você tenha tomado a decisão certa.
-Acho que tou fazendo a coisa certa...
-Ai, mulher, fala de uma vez que esse mistério todo tá me botando é doida, viu?
-Vou dar uma chance à dona Valquíria. Quem sabe ela não mudou mesmo?
Riva abraça Marion.
-Eu não esperava outra coisa de você. Tenho orgulho de ser sua irmã!
-Riva... você não é minha irmã. É minha sobrinha.
-Ah, cê entendeu o que eu falei, nem vem.
As duas riem com cumplicidade e se abraçam novamente.
-Marion, cê vai contar pra ela que ela fica?
-Se você quiser falar com ela eu prefiro, Riva. Ainda preciso de um pouco mais de tempo pra falar com ela sem me sentir estranha por isso...
-Então tá certo. Hoje à noite eu falo pra ela, tá?
As duas voltam à sala. CORTA A CENA.

CENA 9: Durante a noite, todos estão preparados para o jantar na mansão dos Bittencourt. Marion estranha ausência de Valquíria.
-Gente, vocês sabem por que mamãe ainda não desceu?
-Não faço ideia, mãe. Quer que eu suba e vá ver como a vó está? - oferece-se Rafael.
-Claro, meu filho, por favor! Diga a ela que tem risoto de camarão que ela adora.
-Tou indo lá... - anuncia Rafael.
Rafael vai ao quarto onde está sua avó e a encontra encolhida na cama, com as mãos sobre a cabeça.
-Vó? O que a senhora tem?
-Me ajuda, Rafael! Eu tou passando mal. Minha cabeça parece que vai explodir, eu não posso morrer agora!
Rafael se apavora. FIM DO CAPÍTULO 19.

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