CENA 1: Riva segue a tentar
entender o motivo do pranto de Suzanne, que parece estar soluçando
de tanto chorar.
-Fala, Suzanne, tá me
assustando!
-Desculpe, Riva. Está sendo
muito difícil pra mim.
-Entra, amiga. Do jeito que
você tá, precisa de uma água com açúcar.
Suzanne entra e todos ficam
encarando ela com preocupação. Marcelo e Rafael olham para ela e
conversam entre si, discretamente.
-Gente... olha o tanto que
essa mulher tá chorando, amor... será que a gente andou pegando
pesado com os julgamentos antecipados? - questiona Rafael.
-Ai, sinceramente? Tou bem
confuso. Olha lá, ela chega a tremer! De repente a gente pode ter
sido injusto sim, talvez ela só seja uma oportunista sem noção...
- divaga Marcelo.
-De qualquer maneira não
custa não baixar a guarda, não é? - continua Rafael.
-Ah, isso sem dúvida. Mal
sabemos quem ela é...
Riva chega com o copo de água
com açúcar e Suzanne toma tudo num único gole.
-Fala, Suzi. O que tá
acontecendo? - questiona Riva.
Suzanne aparenta estar
subitamente calma e começa a falar.
-Meu pai, Riva. Ele está
morrendo. É questão de dias, semanas... no máximo meses. Acabei
saindo às pressas porque minha mãe ligou dizendo que precisava de
mim por lá...
As duas seguem conversando e
Marcelo nota que Rafael está incomodado com o que Suzanne falou.
-Ih, Rafa, que foi? Eu que sou
todo trabalhado na desconfiança não vi nada demais no que ela
disse...
-Esperava mais de você,
Marcelo... será que você não vê que ela tá usando de novo a
família distante dela de desculpa?
-Você acha?
-Eu não acho, amor... eu
tenho certeza. Ainda não engoli esse sotaque de carioca da gema
legítima dela, sendo que ela diz que vem de São Paulo...
-Você tá parecendo mais
comigo do que eu mesmo, Rafael... olha, eu sinceramente não vejo
tanto mistério em torno de um simples sotaque. Algumas pessoas
aprendem rápido por convivência com as outras, né...
-Pode ser. Mas que não engoli
essa historinha dela envolver a família dela de novo pra justificar
o sumiço, não engoli mesmo...
-Nisso cê tem razão. Pode
até ser verdade, mas não custa abrir o olho.
Suzanne força intimidade com
os dois.
-Falando de mim, queridos?
Marcelo engole a seco e tenta
ser agradável.
-Estávamos preocupados com o
seu pai. Quem sabe ele sai dessa, não é mesmo?
O clima fica claramente tenso.
CORTA A CENA.
CENA 2: Na manhã seguinte,
Diogo está indignado com Victor.
-Que cena absurda e ridícula
de ciúme ainda agora? Poxa vida, Victor! Que espécie de rato você
pensa que sou pra dar em cima do padeiro? Tem horas que você passa
de todos os limites...
-Tenho motivos, não tenho?
Afinal de contas o seu ex terminou contigo por causa de outro.
-Na verdade, não. Eu não
queria te falar isso, mas vou te falar pra você parar de uma vez por
todas de desconfiar de mim, ok?
Victor olha com desdém para
Diogo.
-Fala a sua história
mirabolante, quem sabe a emissora não te chama, né?
-Dispenso as suas ironias. O
que vou falar é sério, Victor. Se você não quiser acreditar isso
não é problema meu. O fato é que nunca traí Cláudio nem ninguém
nessa vida.
-E você espera que eu
acredite nisso? Você me subestima às vezes, Diogo... antes de
começarmos a namorar você mesmo me disse que se maltratava por
causa do que tinha feito pro Cláudio... não venha querer me fazer
acreditar nessa historinha que cê tá inventando.
-Não tou inventando. Pra te
explicar tudo, eu vou ter que voltar a um ano atrás...
-Prossiga.
-Recebi a ligação de um
homem misterioso numa manhã que eu estava no motel com o Cláudio.
Ele dizia que sabia exatamente o que vestíamos e onde estávamos.
Aquilo por si só me assustou demais... mas não é só isso. Eu o
enfrentei e disse que ele deveria ser um desocupado...
-Sei... e daí? - fala Victor,
encarando Diogo com desdém.
-E daí que esse cara me disse
que o Cláudio tinha que ser só dele e de mais ninguém. Mandei ele
se tratar que ele estava louco e para parar de nos perturbar. Foi
então que ele disse que ia me mandar provas de que tinha como
arrasar com minha vida. Eu desafiei esse cara, afinal de contas tava
duvidando dele. Naquela mesma noite eu fui recolher os papeis da
minha caixa de correio e me deparei com um envelope sem remetente.
Naquele envelope tinha as fotos dos meus avós de São Bernardo do
Campo que me criaram até eu me mudar pra cá... e uma carta anônima,
daquelas feitas com colagem de jornais e revistas, dizendo que se eu
não terminasse tudo imediatamente com o Cláudio, minha família e
eu morreríamos. Mas não era só isso: a carta dizia que o Cláudio
morreria também se eu não deixasse ele. Foi então que eu tive a
ideia de fazer o Cláudio se magoar de tal forma que nunca mais
quisesse ter mais nada comigo: inventei que tinha ficado mais de uma
vez com um colega de trabalho, o Jefferson. Esse Jefferson nem
existe, mas o plano funcionou. Cláudio terminou tudo comigo e assim
eu salvei as nossas vidas.
Diogo começa a chorar e
Victor o abraça, também chorando.
-Quer dizer que você fez tudo
isso por amor?
-Sim. Mas não tem como voltar
atrás. O que está feito está feito. Cláudio nunca volta pra quem
o trai. Eu sabia exatamente o que tava fazendo.
Victor encara Diogo sério.
-Você faria algo desse
tamanho por mim?
Diego fica perplexo com a
pergunta de Victor.
-Eu não acredito que eu
acabei de desabafar e você me pergunta isso. Você não consegue ver
a gravidade de tudo isso?
Victor tenta se justificar.
-Mas amor, eu...
-Outra hora quando eu estiver
de cabeça fria a gente fala. Agora não. Vou me atrasar pro
trabalho. Mais tarde nos falamos.
Diogo vai embora indignado com
Victor e Victor sofre. CORTA A CENA.
CENA 3: Mateus desliga
frustrado seu celular e Laura estranha expressão do namorado.
-Notícia ruim, Mateus?
-Não, amor... só não gostei
muito do que ouvi.
-E o que te deixou com essa
cara de bunda?
-Fui escalado pra próxima
novela das nove.
-Mas isso não é bom? -
estranha Laura.
-Você deve estar debochando
da minha cara, Laura, não é possível.
-Não tou entendendo essa sua
reação, Mateus, na boa. Não é o sonho de todo ator que tá na
televisão fazer a novela do horário nobre? Não tou entendendo esse
beiço de criança que não ganhou doce.
Mateus explode.
-Você não entende nada,
mesmo! Eles me escalaram pra um papel de coadjuvante, uma merdinha
secundária! Entendeu agora?
-Olha bem como cê fala comigo
que eu não sou qualquer pessoa, não! Que é que tem, criatura? Você
vai continuar a estar no programa mais assistido do país, cacete.
Coloca isso na sua cabeça e para de ser megalomaníaco.
-Você me acusa de
megalomania, claro... pra você é muito fácil falar. Nunca teve os
mesmos sonhos que eu.
Laura respira fundo e tenta
acalmar Mateus.
-Mateusinho, meu amor...
coloca uma coisinha nessa sua cabecinha: uma coisa é sonhar, outra
coisa é delirar. E antes que você venha com pedrada pra cima de mim
eu vou desenhar, ok? Mateus, ninguém começa no topo. Ninguém.
-Menos o Rafael, né? Afinal
ele já começou protagonista. Filho de atriz, né? Assim o caminho
fica mais fácil. Talento pra que, não é?
-O Rafa é talentosíssimo e
os melhores críticos reconhecem isso. Você realmente acha que ele
chegaria onde chegou se fosse ruim ou sem expressão? Às vezes você
fala de um jeito que parece que tem recalque com ele...
-Eu lá vou ter recalque com
amigo meu? Cada ideia, Laura...
-É o que pareceu. Olha,
querido, eu não gosto de brigar contigo. Você aceitou o papel pelo
menos?
-Claro, né. Não tinha como
recusar.
-Então faça o seu trabalho,
dê o seu melhor. Cedo ou tarde você chega onde quer.
Os dois se abraçam. CORTA A
CENA.
CENA 4: Suzanne está no
luxuoso quarto de hotel onde está hospedada quando a campainha toca.
Sem fazer vaga ideia de quem possa ser, ela atende e se surpreende.
-Ma... mãe? Como é que você
me achou aqui?
Raquel, mãe de Suzanne,
começa a falar.
-Seria difícil se você
tivesse se escondido em outra cidade, mas convenhamos que mudar de
zona não é tão imprevisível assim...
-Fala logo o que você quer,
dona Raquel.
-Poxa vida, Suzanne! Eu sou
sua mãe! Esperava pelo menos um beijo e um abraço de recepção!
Não vai me deixar entrar, é isso mesmo?
Suzanne, contrariada, abre
para sua mãe, que entra. Raquel a beija e a abraça, mas Suzanne
demonstra frieza.
-Uma pedra de gelo teria sido
mais quente que isso, filha... você nunca mais me procurou, nunca
mais deu notícias...
-Tive meus motivos.
-Sempre com a mesma ladainha,
né? Filha, confia na mãe! Você nunca se abre comigo!
-Deve ser porque você me deu
uma surra quando eu disse que tava namorando com o Márcio, lembra?
Eu era uma adolescente, precisava do seu apoio, o pai tinha morrido,
a vó também. Mas o que você fez? Disse que eu estava andando com
um bandido e me bateu!
-Suzanne, você pode distorcer
as coisas pra qualquer pessoa, menos pra mim. O Márcio não é uma
pessoa ruim, mas poxa vida! Ele já tinha sido interno da Febem,
poxa! Ninguém queria o garoto por perto e eu dei uma condição dele
recomeçar a vida sendo nosso caseiro! Você sabe muito bem que eu
não te espanquei, tudo o que fiz foi te dar um tapa na cara. Chamei
o Márcio de bandido porque tava de cabeça quente e... poxa vida,
minha filha! Tem mais de vinte anos, isso!
-Você deveria ter ficado do
nosso lado.
-Filha, já tem muito tempo
tudo isso. Depois, você fugiu porque quis. Nunca te expulsei de
casa. Você tem ideia do quanto me fez sofrer? Em um ano eu perco
minha mãe, meu marido e minha filha! Você pensou em mim quando
passou mais de cinco anos sumida?
-Desculpe, mãe... mas as
circunstâncias me levaram a isso. Mas a senhora sabe que depois que
apareci de novo, nunca te deixei faltar nada. Mesmo quando eu tava no
exterior eu te mandava dinheiro todo mês...
-Tá certo, filha. Eu não
quero discutir nem remoer o passado. Na verdade eu vim passar um
tempo aqui com você. Sinto sua falta. Você nunca fica mais de dois
dias lá em casa... até agora não entendo porque tá nesse hotel.
-E onde estão suas malas?
-Estão subindo. Posso ficar?
-Não tenho escolha...
Raquel estranha frieza da
filha Suzanne. CORTA A CENA.
CENA 5: “Chefe” liga para
Mateus.
-Fala, chefe. O que manda
dessa vez?
-É sobre o namoro do Cláudio
com o Bruno.
-As notícias correm rápido,
mesmo... ei, pera! Como é que você já sabe se eu não te contei
nada ainda?
-Tenho meus meios de saber sem
precisar de você, bobinho. Tenho mais olhos espalhados por aí do
que você possa imaginar.
-Você me assusta...
-É bom que eu te assuste. Por
que eu tou te ligando pra te passar uma ordem que não pode ser
contrariada.
-Então fala de uma vez que eu
tou com pressa.
-Não se aproxime dos dois. De
jeito nenhum. Esqueça o Bruno, finja que nunca tiveram nada.
-Por que isso? Posso saber?
Não faz o mínimo sentido.
-Não pode saber e eu não
preciso te explicar. Pra mim faz sentido e é isso que importa. Fique
longe dos dois. Vai ser melhor pra todo mundo.
“Chefe” desliga e Mateus
fica intrigado.
CENA 6: Na companhia de
teatro, Laura está lanchando quando Mara e Valentim a abordam.
-Boa tarde, querida. Você
está indo muito bem ultimamente... - fala Mara.
Laura estranha a fala da
preparadora de elenco. Valentim começa a falar.
-Queremos falar com você,
Laura.
-Sobre o que, Valentim?
-Sobre o seu namorado... -
esclarece Valentim.
-O que tem o Mateus? Olha, se
vocês estão pensando em propor ao Procópio que o chame para
participar de alguma peça, melhor esquecer essa ideia. Mateus mal
entrou em férias e já foi chamado pra outra novela.
-Não, querida... não é nada
disso... - esclarece Mara.
-E qual é o interesse de
vocês em saber do meu namorado? - estranha Laura.
-O mesmo interesse que você
tem tido em desvendar certas coisas. - fala Valentim.
Laura fica sem compreender
onde eles querem chegar.
-Eu não tou entendendo nada,
gente, desculpem. Vocês poderiam ser mais objetivos?
Os três seguem conversando.
CORTA A CENA.
CENA 7: Suzanne passa
condições e orientações à sua mãe.
-Então vai ser assim, mãe:
se alguma amiga ou amigo aparecer aqui, você é minha empregada.
-Pra que isso, Suzanne? -
estranha Raquel.
-Não faça perguntas. Você
quer ficar aqui comigo, não quer? Então vai ter de ser dentro das
minhas condições e termos.
-Não entendo você, minha
filha.
-Não é pra entender, dona
Raquel. Tenho negócios importantes em curso. Preciso zelar pela
minha imagem. Faz parte do “espetáculo” eu dizer que sou de uma
família do interior de São Paulo.
-Mas você é daqui, filha!
-Me ouve com atenção, pode
ser? Eu ainda tou com o Márcio, de vez em quando ele vai aparecer
por aqui e se alguma amiga minha perguntar se eu tenho alguém, você
não diz nada...
Raquel fica contrariada.
-E desamarra essa cara se
quiser ficar aqui.
-Já que não tem outro jeito,
aceito tudo isso... - rende-se Raquel. CORTA A CENA.
CENA 8: Marion chama Riva para
conversar a sós com ela.
-Fala, Marion...
-Já tenho uma resposta sobre
aquele assunto.
-É o que tou pensando? É
sobre vovó?
-Sim, Riva... é sobre minha
mãe.
-Espero sinceramente que você
tenha tomado a decisão certa.
-Acho que tou fazendo a coisa
certa...
-Ai, mulher, fala de uma vez
que esse mistério todo tá me botando é doida, viu?
-Vou dar uma chance à dona
Valquíria. Quem sabe ela não mudou mesmo?
Riva abraça Marion.
-Eu não esperava outra coisa
de você. Tenho orgulho de ser sua irmã!
-Riva... você não é minha
irmã. É minha sobrinha.
-Ah, cê entendeu o que eu
falei, nem vem.
As duas riem com cumplicidade
e se abraçam novamente.
-Marion, cê vai contar pra
ela que ela fica?
-Se você quiser falar com ela
eu prefiro, Riva. Ainda preciso de um pouco mais de tempo pra falar
com ela sem me sentir estranha por isso...
-Então tá certo. Hoje à
noite eu falo pra ela, tá?
As duas voltam à sala. CORTA
A CENA.
CENA 9: Durante a noite, todos
estão preparados para o jantar na mansão dos Bittencourt. Marion
estranha ausência de Valquíria.
-Gente, vocês sabem por que
mamãe ainda não desceu?
-Não faço ideia, mãe. Quer
que eu suba e vá ver como a vó está? - oferece-se Rafael.
-Claro, meu filho, por favor!
Diga a ela que tem risoto de camarão que ela adora.
-Tou indo lá... - anuncia
Rafael.
Rafael vai ao quarto onde está
sua avó e a encontra encolhida na cama, com as mãos sobre a cabeça.
-Vó? O que a senhora tem?
-Me ajuda, Rafael! Eu tou
passando mal. Minha cabeça parece que vai explodir, eu não posso
morrer agora!
Rafael se apavora. FIM DO
CAPÍTULO 19.
Nenhum comentário:
Postar um comentário