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sábado, 30 de julho de 2016

CAPÍTULO 66

CENA 1: Vicente tenta tranquilizar a todos.
-Se vocês estão apavorados, imagina a gente? Tá sendo a pior experiência das nossas vidas. Mas não vai adiantar a gente desesperar agora. Precisamos ter calma, fé e confiar que a polícia vai encontrar o nosso menino. Fé é importante, mas no final das contas, não é Deus quem resolve... são os homens. Precisamos acreditar que tudo isso vai acabar bem.
-A sua força e resignação são admiráveis, Vicente. No seu lugar, eu estaria destroçado... porque já vivi a dor de ter um filho desparecido, por mais de dois anos... - fala Ivan.
-Mas a Riva, coitada... ela tá que não consegue falar! Quanta maldade, meu Deus! Um bebê de colo, levado pelos sequestradores! Não dá pra acreditar... - lamenta Marion.
-Filha... cê não tá ajudando falando essas coisas... não é porque o Vicente tá com essa calma aparente que ele não esteja destruído por dentro... pensa antes de falar, Marion! - repreende Valquíria.
-Ei... não vão brigar por causa disso. Eu entendi a boa intenção da Marion. Agradeço pela preocupação de vocês. Mas infelizmente nesse momento a gente tá de mãos atadas... esperando pelas notícias, que podem ou não chegar.
-Queria poder fazer algo pra ajudar... de verdade. Mas receio que não possamos fazer nada... - lamenta Ivan.
-Vocês já estão sendo maravilhosos de dar esse apoio... vamos confiar que tudo vai dar certo... - finaliza Vicente.
CORTA A CENA.

CENA 2: Na manhã do dia seguinte, Raquel vê pela TV a notícia de que o bebê de Riva e Vicente continua desaparecido após o sequestro da noite anterior. Desconfiada, Raquel resolve ligar para Valentim.
-Oi, Valentim... espero não ter te acordado.
-Não acordou, Raquel. Estou quase indo abrir o consultório, já. Precisando falar sobre alguma coisa?
-Sim.
-Pode falar...
-Você deve estar sabendo do sequestro que a Riva e o Vicente sofreram. Levaram o filho recém-nascido deles. Eu tenho uma leve desconfiança de quem pode ter mandado que esse crime fosse cometido.
-Pois me diga quem é o suspeito que eu avalio a situação.
-Eu desconfio da Suzanne.
-O que? Da sua filha? Tudo bem que ela é uma psicopata, mas ela não é inconsequente. Você acha que ela teria motivos para isso?
-Valentim... pensa comigo. Ela passou a vida inteira aplicando pequenos golpes em várias pessoas, mas nunca voltou para continuar a enganar nenhuma delas. Ela tem uma cisma com a Riva. Márcio já me contou por cima. Essa cisma persiste por mais de vinte anos, desde que ela era uma garota.
-E você faz alguma ideia do motivo que leva a Suzanne a ter essa cisma com a Riva? Porque honestamente isso não se encaixa com o perfil de golpista da Suzanne. O negócio dela é faturar dinheiro através de golpes. Até ano passado, a Riva era pobre... percebe como isso não se encaixa?
-De qualquer forma, Valentim... acho que você deveria dar uma atenção especial a isso.
-Vou levar em consideração. Preciso desligar agora. Nos vemos mais tarde.
CORTA A CENA.

CENA 3: Haroldo e Laura, depois de uma noitada em uma boate, andam pela rua ao amanhecer, levemente embriagados.
-Nossa, Laura, me diverti horrores essa noite!
-O que? Você que não parava de fazer palhaçada na pista! Não conseguia parar de rir!
-Tá vendo como eu não sei dançar? Mesmo assim eu danço.
-Bobo! É dessa cara de pau que eu falo, que é necessária pra fazer teatro. Você é mais desinibido que imagina...
-E você não se cansa de ser essa linda, não? Tá sempre olhando pra mim desse jeito generoso...
-Deixe de ser modesto, Haroldo. Você é um cara incrível. Deveria tratar a si mesmo com mais generosidade... você merece fazer isso por si mesmo.
-Acredite, Laura... eu não sou tão bom quanto pareço ser.
-Engraçado... não é nada disso que eu vejo nos seus olhos.
-Olhos podem enganar. Eu não sou uma boa companhia.
-Como você é bobo, Haroldo. Acha mesmo que vou cair nesse papo? Você é bom, sim! Não me importa o seu passado. Eu sei que você tinha uma identidade falsa e que nesse tempo namorou com meu melhor amigo. Mas também sei que você não fez isso porque quis... eu sinto.
-Laura... você tem curiosidade por coisas que podem ser perigosas. Não sou uma boa companhia justamente por causa disso. Acredite: é melhor manter uma distância segura de mim.
-Você quer essa distância?
-Não quero... mas é preciso.
-E se eu decidir não me afastar? Você não pode me impedir...
-Você é uma força da natureza, Laura...
-Sou? Não sei... mas sei que essa noite ainda não acabou. Foda-se que já amanheceu. Eu quero ir pra praia, você vem comigo?
Haroldo não resiste e segue Laura. CORTA A CENA.

CENA 4: Horas mais tarde, Raquel está no consultório de Valentim, na companhia dele e de Mara.
-E então... alguma novidade sobre minhas suspeitas?
-Olha, Raquel... nós estamos considerando essas suas suspeitas, no entanto nossas buscas estão mais concentradas nos retratos falados que acabamos receber da delegada, dos sequestradores... - fala Mara.
-Entendo seu empenho em auxiliar. Mas talvez nesse momento, Raquel, não seja oportuno levantar essas suspeitas em relação à Suzanne – prossegue Valentim.
-Eu sei, gente... tudo isso é sério. Mas tenho certeza que minha filha tem participação no sequestro da criança.
-Se tem, ela disfarçou muito bem, Raquel. Nada aponta para ela, absolutamente nada. Sequer uma suspeita... - fala Valentim.
-Vocês precisam me ouvir! - protesta Raquel.
-Querida... por favor, contenha-se. A gente entende que você tem seus motivos, mas o momento é delicado e não podemos nos dar ao luxo de trabalhar com suposições. Estamos correndo contra o tempo e o tempo vale ouro pra gente. Precisamos antes de mais nada localizar o filho da Riva, antes que algo pior aconteça com o bebê. Você compreende a gravidade disso, não compreende? Então não leve a mal se não estamos podendo te ouvir agora. Não depende da gente. Estamos seguindo apenas a ordem natural das investigações... - fala Mara.
Raquel fica inconformada. CORTA A CENA.

CENA 5: A imprensa chega à mansão dos Bittencourt e Vicente e Riva começam a falar.
-Estamos aqui hoje para fazer um apelo. Um apelo aos sequestradores que levaram nosso filho. Vocês devem ter família... mãe, pai, ou mesmo filhos. Se coloquem no lugar da gente e imaginem como seria horrível ter um filho ou um familiar sequestrado... - fala Riva, chorando.
Vicente consola Riva.
-Fazemos esse apelo também às autoridades, para que intensifiquem as buscas ao nosso Lúcio. Ele é só um bebê de colo. Precisa de cuidados, pois ainda é um incapaz. Esse apelo é para que as autoridades, que também tem família, lembrem disso. Precisamos saber que nosso menino está bem. - fala Vicente.
O repórter que entrevista os dois se volta para a câmera e começa a falar.
-Como vocês podem ver, a família Bittencourt está arrasada por esse trágico acontecimento. Endossamos o apelo de Vicente Fernandes e Riva Oliveira, para que esse caso seja resolvido rapidamente e da melhor forma. - fala o repórter, solicitando ao câmera que pare a filmagem.
-Então é isso, pessoal. Já filmamos o suficiente. Desejamos muita sorte a vocês e que esse apelo possa chegar às autoridades e aos sequestradores. Toda a sorte do mundo para vocês! - fala o repórter.
A imprensa deixa a mansão.
-Agora é esperar, Riva... esperar que tudo termine bem... - fala Marion.
-Precisamos manter o pensamento firme e acreditar que meu irmãozinho logo vai ser achado... - fala Marcelo, abalado.
CORTA A CENA.

CENA 6: Laura demonstra preocupação pelo que está acontecendo com os Bittencourt.
-Ai, Mateus... que horror tudo isso que tá acontecendo com a mãe do Marcelo... que esse bebê seja logo encontrado e que esteja bem.
-Nem me fala, Laura... nunca imaginei que nossa insegurança na cidade estivesse a esse ponto. Às vezes sinto saudade de Salvador, mas não deve estar muito diferente por lá...
-Verdade. Mas tou me sentindo culpada, Mateus... enquanto toda essa barbárie acontecia, eu e o Haroldo estávamos curtindo a noite na boate, sem fazer a mínima ideia do que tava acontecendo...
-Deixa disso, Lau... vocês não podiam adivinhar o que tava acontecendo. Tinham marcado de sair antes de acontecer tudo isso.
-Mesmo assim... me sinto esquisita com tudo isso. Enquanto a gente se divertia feito dois adolescentes, o mundo tava desabando na cabeça da família dele...
-O Haroldo já passou por muita coisa nessa vida, Laura. Merece esse descanso.
-Você parece saber muita coisa dele, Mateus...
-E sei, mas acredite quando digo que é melhor eu não dizer muita coisa.
-Vocês parecem que estão de combinação, não é possível. Ainda hoje ele me disse que não é uma boa companhia pra mim, que eu devo me afastar.
-Ele tem suas razões. Mas é um cara do bem, nisso você pode confiar.
-Eu sei, querido... eu sinto. Mas algo de muito escabroso deve estar nesse background, pra ele ser tão escondido.
-Laura... sério. Não se mete nisso. Vai ser melhor pra todos nós...
-Às vezes parece que vocês compartilham desses segredos...
-Laura, por favor... não insiste. Vai ser melhor pra nós.
-Já vi que você não vai me dizer nada, mesmo. Pensei que depois de todo esse tempo você tivesse um pouquinho mais de confiança em mim.
-Não se trata de confiança, minha amiga... só quero te proteger.
-Mas proteger do que, Mateus? Você não pode me dizer as coisas pela metade e esperar que eu não tenha dúvidas e questionamentos, entende?
-Você precisa confiar em mim. Confiar no Haroldo também.
-Se eu estou sendo ingênua, eu não sei... mas de alguma forma, eu confio em vocês.
-Ótimo. Tem gente barra pesada que é melhor que você nunca conheça.
Laura fica intrigada. CORTA A CENA.

CENA 7: Suzanne é encurralada por Márcio, que a agarra pelo pescoço.
-O que é isso, cara? Você não mata nem uma mosca!
-Suzanne, chega! Você passou de todos os limites! Você tem que parar essa porra desse sequestro! Lúcio é só um bebê! Eu não vou permitir que ele tenha o mesmo fim do nosso filho. Não vou mesmo!
-Vai fazer o que, imbecil? Me matar? Você não pensa em nada, mesmo, por isso sempre dependeu das minhas ideias pra conseguir a pouca bosta que conseguiu nessa vida. Grande ideia essa sua! Me ameaça pra me pressionar, daí me mata e a coisa fica como? Só eu posso fazer alguma coisa por esse bebê babão!
-Você sabe muito bem que eu não te mataria. Mas você vai ligar agora pros sequestradores. Agora!
-Me obrigue!
-Vai ser desse jeito? Ótimo! Eu ligo agora pra sua mãe e conto que você mandou que o filho da Riva fosse sequestrado. Vai pagar pra ver? Tou com o celular na mão, já.
-Você não teria coragem, tem alta consideração pela dona Raquel, como se ela fosse sua mãe e não minha. Não iria querer causar essa dor no coraçãozinho dela, iria?
-Como você é fria, Suzanne. Mas se engana: eu estou ao lado dela. A verdade pode ser dura, mas deve ser dita.
Márcio começa a discar para Raquel e Suzanne dá um tapa em sua mão, fazendo o celular cair.
-Tá! Eu ligo pros caras! O que você quer que eu mande eles fazer?
-Mande eles devolverem o Lúcio.
-Ficou doido? Assim eles vão ser pegos e eu acabo caindo junto! Você cai comigo, logo na sequência.
-Dá o teu jeito, Suzanne. Você começou tudo isso, você termina. Ou então eu pego o celular do chão e você já sabe...
Suzanne liga para os sequestradores. CORTA A CENA.

CENA 8: Marcelo e Rafael estão no quarto de Riva e Vicente, procurando a certidão de nascimento de Lúcio, quando o celular de Riva toca.
-Alô, quem fala? - fala Marcelo, que atendeu o celular.
-Poderia falar com dona Riva Oliveira? Aqui é da delegacia de polícia.
-Claro! Sou o filho dela, estou levando o celular até ela.
Marcelo e Rafael descem rapidamente.
-Mãe... estão ligando da delegacia pra você. Acho que querem te falar sobre alguma coisa... - fala Marcelo, entregando o celular à Riva.
-Sim?
-Dona Riva... o filho de vocês foi deixado na entrada da nossa DP. Está sob os cuidados de duas enfermeiras e está bem. Vocês podem vir buscar o filho de vocês.
Riva deixa o celular cair e vibra.
-Encontraram o Lúcio! - exclama, emocionada. FIM DO CAPÍTULO 66.

sexta-feira, 29 de julho de 2016

CAPÍTULO 65

CENA 1: Os sequestradores chegam ao galpão. Vicente é o primeiro a acordar e percebe que um dos sequestradores segura Lúcio.
-Me devolva meu filho! - ordena Vicente.
-Alá o valentão, coitado! Tá se achando cheio da marra, hein? Vocês sabem onde estão? Viram que caminho a gente tomou? Mas tudo bem... pega o seu bebê chorão aí que não quero que um bebê cague ou mije em cima de mim... - fala o sequestrador que segura o bebê.
Vicente pega o filho no colo.
-Quem vocês são? O que vocês querem? É dinheiro? Eu e minha mulher damos o dinheiro que vocês quiserem, mas não façam nada com nosso filho!
-A gente vai esperar a madame acordar do sono de beleza dela antes de dizer o que a gente quer, valeu? - fala o sequestrador armado.
-Eu já disse e repito quantas vezes vocês quiserem ouvir. Dinheiro não é problema pra nós. Se vocês não quiserem polícia envolvida nisso, a gente entende. - fala Vicente.
O sequestrador armado perde a paciência e dá um soco em Vicente, que é segurado pelo outro sequestrador.
-Qual foi a parte que tu não entendeu, rapá? A gente só fala sobre o que a gente quer depois que a madame dorminhoca acordar! Por que em vez de ficar falando, falando e falando, você não cuida desse bebê chorão aí? Não aguento choro de criança...
Riva se acorda, ainda grogue de ter sido dopada.
-Ah, então a madame resolveu acordar do sono profundo. Dormiu bem, Riva? - fala o sequestrador.
-Como é que você sabe meu nome? Quem são vocês? Onde é que a gente tá? - pergunta Riva, desorientada.
-O espetáculo tá pronto. Vou mandar logo o papo reto: a gente recebeu ordens de pegar o bebê chorão. Cês fiquem tranquilos que a gente não vai matar o mijão. Mas vocês também nunca mais vão ver o filho de vocês. Ele vai sumir no mundo. Ele vale uma grana preta, vocês sabiam? - fala o sequestrador armado.
Vicente e Riva se olham, apavorados. CORTA A CENA.

CENA 2: Márcio insiste com Suzanne para ela falar o que está tramando.
-Anda, Suzanne! Fala de uma vez o que você anda tramando, fala! Eu tenho certeza que não é nada bom.
-Como você é chato, Márcio. Não vai parar de insistir? Que saco! Você não está participando de nada disso, não tem que saber de nada. Até porque, do jeito que você anda frouxo nos últimos tempos, tenho certeza de que não teria estômago pra fazer metade do que eles estão fazendo...
-Eles? Eles quem?
-Não te interessa.
-Você começou a falar... falou demais. Agora termina!
-Tem certeza que quer saber mesmo do que tá acontecendo? Tá seguro disso? Não vai vomitar todo o chão depois? Porque eu não vou querer chamar o serviço de quarto numa hora dessas pra limpar sua sujeira...
-Você é vaidosa, Suzanne... sempre foi. Cedo ou tarde vai acabar me falando do que se trata, cheia de si, orgulhosa de sua própria perspicácia.
-Ah, seu bobo... se eu não tiver essa vaidade, quem é que vai fazer as coisas por mim? Gosto mesmo é do perigo, dessa adrenalina, dessa coisa de fazer o que eu quiser sem sentir um pingo de remorso. Mas você quer saber o que tá acontecendo, não quer?
-Prefiro saber logo qual é a bomba da vez pra ver se posso impedir alguma besteira.
-Acho difícil, Márcio. Você está enredado até o pescoço comigo. Não pode me impedir de fazer nada, senão eu entrego todos os seus podres pro seu filhinho querido... acho que você não quer isso.
-Você é sádica, Suzanne. Faz questão de repetir isso o tempo inteiro. Me diga logo o que está acontecendo... ou melhor: o que você tramou.
-Tenho meus vários contatos, você sabe disso, não sabe? Sabe também que aquele bebê chorão da Riva vale ouro, não sabe? O que planejei foi simples: mandei alguns contatos meus, meio barra pesada, sequestrarem a Riva, o Vicente e o bebê chorão. Numa hora dessas eles devem estar no lugar que eu mandei os homens irem com eles. Não devem fazer a mínima ideia de onde estão, os tontos. Como são cheios da grana, tenho certeza que vão oferecer uma grana alta pra se livrarem do cativeiro. Mas eu dei ordens aos homens para levarem o bebê...
Márcio fica chocado.
-Você é muito mais cruel que eu imaginava, Suzanne. Passou de todos os limites! Será que não percebe a dor que uma mãe e um pai sentem ao serem separados do filho, sem nem saber pra onde esse filho, ainda indefeso, está indo?
-Disso você entende, não é mesmo, Márcio? Afinal de contas, não fez nada pra impedir que eu levasse o nosso filho recém-nascido para um orfanato. Ou por acaso já esqueceu disso? Essa sua indignação seletiva só prova sua hipocrisia, seu bosta!
-Quem parece ter esquecido de alguma coisa aqui é você, sua monstra. Você me deixou sem opção, você impôs que nosso filho fosse deixado no orfanato. Eu quis criar nosso bebê, você disse que eu nunca mais te veria se eu ficasse com ele! Quem é hipócrita aqui, mesmo?
-Agora é fácil você vir me acusar, não é? Mas quando a gente tava no meio de tudo aquilo, você podia ter me impedido. Não impediu porque não quis, porque sempre foi um fraco, sem opinião própria, que só fazia o que eu mandava. Um pau mandado, isso que você sempre foi!
-Você sabe que me ameaçava. Eu, cego de amor, sempre aceitei todas as suas imposições. Mas sabe de uma coisa? Não devia ter aceitado. Você acabou com a minha chance de ser pai dos meus dois filhos!
-Vai fazer o que? Vai chorar? Foi melhor assim pra todos nós. Senão não teríamos chegado onde chegamos.
-Você não teria chegado onde chegou, você quer dizer. Só peço que não mande matar o Lúcio.
-Eu posso não prestar, Márcio... mas não sou assassina. O bebê chorão vai viver... longe daqui, quem sabe até fora do país. Mas vai viver. Você fique de bico calado, porque esse sequestro não pode chegar na mídia, senão os meus planos estão arruinados!
Márcio vai ao banheiro vomitar. CORTA A CENA.

CENA 3: Riva, mesmo grogue de ter sido sedada, levanta-se até Vicente para proteger Lúcio, mas acaba caindo, ainda tonta.
-Meu filho! Vocês não podem levar meu filho! - fala Riva.
-Se eu fosse você eu ficava pianinha, madame. Você mal se aguenta em pé, devia ficar mais na sua se quiser sair viva daqui. - fala o sequestrador armado, enquanto o outro sequestrador fica de segurança na porta do galpão.
Vicente tenta proteger o filho.
-Vocês não podem levar nosso filho. Não percebem que ele é só um bebê? O que um bebê poderia valer pra vocês, seus canalhas?
-Dinheiro, playboy. Barras de ouro! A nossa liberdade, enfim... - fala o sequestrador.
-Quem é que mandou vocês fazerem isso?
-Não te interessa, playboy. A gente tá sendo bem pago pra fazer esse serviço. Não precisamos do dinheiro de vocês. Precisamos da criança, que é nossa mina de ouro.
Riva se apavora.
-Não façam nada com nosso filho, por favor! Atira em mim, me mata se quiser, mas não façam nada com o nosso Lúcio!
Vicente tenta acalmar Riva.
-Amor... a gente vai dar um jeito. Confia em mim...
-Eu confio, Vicente. Não confio é nesses malucos...
-Oh, que lindo! Já pode parar essa cena de amor meloso, viu? - fala o sequestrador, arrancando Lúcio dos braços de Vicente e entregando ao outro sequestrador.
-Devolve meu filho, seu desgraçado! - fala Vicente, avançando sobre o sequestrador armado. Vicente leva um tiro de raspão e cai sentado.
-O próximo vai ser bem no meio do coração, pra matar. Perdeu, playboy!
Riva se apavora com o ferimento de Vicente e o acode.
-Amor! Cê tá bem?
-Tou sim... foi de raspão. Tá ardendo demais, mas eu vou ficar bem.
Riva olha para os lados e percebe que os sequestradores fugiram com Lúcio.
-Amor, eles fugiram com nosso bebê!
Vicente e Riva se apavoram. CORTA A CENA.

CENA 4: O celular de Marcelo toca.
-Alô? Oi, mãe! Que demora é essa? Faz quase uma hora que vocês saíram pra comprar os meus remédios!
-Filho... senta que a mãe precisa te contar o que aconteceu.
-Ai, mãe... tá me assustando... fala!
-Nós fomos sequestrados.
Marcelo se apavora.
-O que? Pelo amor de Deus, mãe! Esses caras querem que a gente pague resgate?
-Eles já foram embora. O Vicente deixou o celular em casa. Localizem a gente pelo gps porque o Vicente precisa de um médico, ele levou um tiro de raspão!
-Meu Deus do céu! Ele tá bem?
-Tá, mas a gente não sabe onde tá. Localizem onde a gente tá pelo gps e mandem um médico e a polícia pra cá, pelo amor de Deus!
-Tá certo, mãe. A gente vai correr atrás disso agora!
-Não venham até aqui. A gente não sabe se eles estão por perto. Deixem a polícia resolver isso!
Marcelo desliga e olha desesperado para Rafael, que se assusta.
-O que tá acontecendo, amor?
-Sequestraram a mãe, o Vicente e o Lúcio! A gente precisa achar eles pelo gps do celular do Vicente que tá aqui em casa!
Os dois correm ao quarto de Riva e Vicente. CORTA A CENA.

CENA 5: Instantes depois, a polícia e uma ambulância chegam ao galpão onde Riva e Vicente estão. Um policial aborda Riva, que começa a falar.
-Eles levaram o nosso bebê! Façam alguma coisa, por favor!
-Primeiramente, se acalme, dona... nós vamos mandar nossos homens efetuarem buscas pela região. Não devem ter ido longe. Se tranquilize. - fala o policial.
Os médicos socorrem Vicente.
-Não me levem pro hospital, por favor! Eu preciso achar meu filho! - implora Vicente.
-Felizmente esse foi um tiro de raspão. Vamos poder fazer a assepsia do ferimento e colocar um curativo. De qualquer maneira, você deve tomar um anti inflamatório para evitar que o ferimento infeccione por uma semana. - fala a médica que verifica o ferimento de Vicente.
A médica efetua a assepsia do ferimento de Vicente e faz um curativo. A imprensa chega e Riva lamenta.
-Poxa vida! Eu devia ter pedido pro Marcelo não falar pra ninguém da imprensa!
-Amor, talvez seja melhor assim. A mídia pode ser nossa aliada pra gente achar o nosso filho... - contemporiza Vicente.
CORTA A CENA.

CENA 6: Marion e Valquíria estão apreensivas.
-Isso é loucura! Como é que vocês aceitam o pedido da Riva e insistem ficar aqui em casa, parados, enquanto o Vicente tá ferido? - indigna-se Marion.
-E o meu bisneto, um bebêzinho, passando por tudo isso? A gente devia ter ido junto da polícia! - protesta Valquíria.
Rafael tenta contemporizar enquanto Marcelo chora, apreensivo.
-Gente, pelo amor de Deus! Vamos raciocinar? Aquela zona é uma zona de risco! Só a imprensa chega lá com alguma segurança! A gente ia se colocar em risco, toda a nossa família em risco? Se dependesse só da nossa vontade, é claro que a gente ia pra lá, mas aquilo é um galpão abandonado numa área tomada por policiais corruptos!
-Por esse lado... você tem razão, filho... - considera Ivan.
-Gente, vocês querem parar de discutir? Tá entrando o plantão na TV, deve ser sobre isso! - fala Mariana.
Chega ao fim o sequestro de Riva Oliveira e Vicente Fernandes. A socialite, sobrinha da atriz Marion Bittencourt, não sofreu ferimentos, embora esteja traumatizada pelo ocorrido. Vicente Fernandes levou um tiro de raspão, mas passa bem e não deve ser levado a um hospital. Mais informações ao decorrer de nossa programação.
-Pelo menos eles estão a salvo... - fala Marcelo, aliviado.
-Vocês não acharam estranho ninguém ter falado no Lúcio? - observa Mariana.
-Ai, filha... vira essa boca pra lá! Não falaram porque os alvos eram os dois! O pior já passou... - fala Marion.
Todos se abraçam, aliviados.
-Daqui a pouco eles devem estar estourando aqui em casa... graças a Deus! - finaliza Rafael.
CORTA A CENA.

CENA 7: Riva e Vicente chegam à delegacia de polícia para prestar depoimento. A delegada de plantão começa a fazer as perguntas.
-Vocês poderiam detalhar como foi esse sequestro relâmpago? - questiona a delegada.
Riva está sem condições de falar e Vicente, percebendo isso, começa a falar.
-Desculpe, delegada. Minha esposa está sem condições de falar. Deixa que eu falo... pra começo de história, não foi um sequestro relâmpago. Não roubaram nosso carro, porque eles já tinham um carro esperando por eles na entrada do galpão. A intenção deles, desde o início, era capturar nosso bebê.
Riva e Vicente choram ao relembrar tudo.
-Certo. E você saberia descrever fisicamente os sequestradores?
-Evidente que sim. O que estava armado é alto, meio acima do peso, branco e de cabelos castanho claros. O outro, que ficou de “segurança” enquanto o sequestro acontecia, é mais baixo e mais magro, também branco e com uma pinta na bochecha direita.
-Ótimo. Você saberia detalhar mais? Podemos fazer um retrato falado deles.
-Claro que posso. Mas já antecipo que eles estavam a mando de alguém. Não quiseram nos dizer quem foi o mandante do sequestro.
-Mesmo assim, senhor Vicente... é importante saber quem são eles, talvez eles sejam foragidos.
Vicente dá a descrição detalhada dos sequestradores. CORTA A CENA.

CENA 8: Raquel, já no apartamento, estranha o fato de Márcio e Suzanne estarem trancados no quarto há tanto tempo. Márcio vai à cozinha tomar água e Raquel percebe sua expressão.
-Que cara é essa, Márcio? Andou passando mal?
-Sim, dona Raquel... acho que comi alguma coisa estragada. Você sabe se tem sal de frutas aqui?
-Claro que tem... na minha bolsa.
Raquel alcança o sal de frutas para Márcio tomar.
-Vou tentar descansar agora. Muito obrigado pelo sal de frutas, dona Raquel...
Raquel estranha expressão de assombro no rosto de Márcio, que volta ao quarto com Suzanne, confrontando-a.
-Viu como seus planos não são tão perfeitos assim, Suzanne? A porra toda já saiu na TV. Se a polícia chega nos caras que você mandou fazer esse serviço sujo, antes de eles fazerem com o bebê o que você mandou, você cai junto deles, sua imbecil.
-Você bem que tá feliz por isso, né? O tempo todo torcendo contra.
-Não se trata de torcer contra, Suzanne, será que você não percebe? Será que não tem dimensão do quão hediondo foi tudo isso? Lúcio é um bebê de colo! Afastado dos pais! Você não tem coração!
-Ah, claro... e você tem, né? Onde é que tava seu coração quando você não fez nada pra impedir que eu entregasse nosso filho pro orfanato? Eu não fiz nosso filho com o dedo, não! Onde é que tava o seu coração quando você não protestou nem fez objeção quando eu te mandei roubar a Riva e deixar ela sozinha, buchuda do ruivinho?
-Não tenta virar o jogo, Suzanne. Você sabe que essa merda vai estourar a qualquer hora e eu não vou precisar fazer nada. Você não vai conseguir tirar o Lúcio da Riva e do Vicente.
-Isso quem decide sou eu. Eu trabalho com todas as possibilidades. Não tenho apenas o plano B... tenho o alfabeto inteiro de planos alternativos. Eu vou dar um jeito de livrar minha cara de qualquer possível acusação.
-Como você sempre fez, por sinal. Isso custou anos da minha liberdade.
-Cala a boca, Márcio. Você tá ficando chato e repetitivo. Deveria levantar as mãos pro céu, porque se não fosse por mim, nem um teto pra morar você teria agora.
Suzanne encara Márcio, triunfante. CORTA A CENA.

CENA 9: Já de madrugada, Riva e Vicente voltam para a casa. Riva ainda não consegue falar.
-Gente, tentem não fazer perguntas à Riva... ela ainda tá muito traumatizada e não tá em condições de falar... - alerta Vicente.
Marcelo abraça a mãe.
-Deixa que eu cuido da minha mãe, Vicente... - fala Marcelo.
Rafael percebe a ausência de Lúcio.
-Gente, cadê o Lúcio? Acho que vocês esqueceram ele no carro... - fala Rafael.
-Gente... não sei nem como começar a dizer. Não esquecemos do nosso filho no carro. O alvo dos sequestradores não era eu, nem a Riva. Eles foram instruídos a levar o Lúcio.
Todos se apavoram. FIM DO CAPÍTULO 65.

quinta-feira, 28 de julho de 2016

CAPÍTULO 64

CENA 1: Valentim segue a falar.
-Encontrei uma maneira eficaz de descobrirmos de uma vez por todas se o seu neto está vivo ou morto.
-Diga, Valentim!
-Então, Raquel... basta buscar os registros de óbito em Niterói no período correspondente ao nascimento do seu neto. Claro que o período de pesquisa tende a se estender até alguns dias depois. Se de fato tiver acontecido o óbito desse bebê, algum médico, não importa de que hospital, deve ter assinado o atestado de óbito.
-Sim, Valentim... mas tudo isso que cê tá me dizendo é um tanto quanto vago. Evidentemente deve ter acontecido óbitos de recém-nascidos naquele período. Como você vai efetivamente descobrir alguma coisa baseado somente nessas informações? Não faz o mínimo sentido, desculpe dizer...
-Raciocine comigo, Raquel: nos registros de óbito constam a filiação dos falecidos, certo? Independente de serem bebês ou não, pais vivos ou não... faz parte do processo, certo?
-Sim... acho que tou começando a compreender.
-Então, seguindo essa linha de raciocínio, não havendo registro ou denúncia de abandono de incapaz naquele período em toda a cidade, isso facilita as coisas...
-Deixa ver se entendi: facilita porque, se houver um único registro de óbito de recém-nascido de pais desconhecidos, esse então seria o meu neto, é isso que entendi?
-Exatamente, Raquel. Não havendo esse registro em nenhuma documentação, significa então que seu neto não morreu ao nascer.
-De qualquer maneira, vai continuar a ser uma informação de pouco valor. Só vamos confirmar se ele morreu ou não, mas não vamos saber ainda sobre o paradeiro do menino...
-Engano seu. Claro que durante algum tempo essa vai ser a única informação de que vamos dispor. Mas digamos que constatemos que não houve o óbito: qual seria o próximo passo, naturalmente?
-Ir atrás dos registros dos orfanatos e das listas de adoção da cidade...
-Bingo! Viu como você tem o faro de investigadora?
-Certo... mas de qualquer maneira, como é que a gente chegaria numa informação conclusiva a esse respeito, Valentim? A probabilidade de haver bem mais de uma criança nascida em 4 de maio de 1995 deixada em orfanatos é grande...
-Nesse caso eu deixo para você pesquisar a árvore genealógica da família do pai da criança.
-O que? Mas onde que os antepassados do Márcio entrariam nisso? Desculpa, Valentim, mas não entendi nada agora...
-Simples, Raquel: você e sua filha são brancas, de origem espanhola, certo?
-Sim, certo... mas não entendi ainda onde que os antepassados do Márcio entram na jogada.
-Me responda, Raquel: você sabe a descendência dele?
-Claro que sim... ele descende de húngaros, belgas e de indígenas. Acho que tou começando a entender.
-Justamente. Basta a gente jogar no google qualquer pesquisa de biologia pra concluir que juntando esses fatores, a gente exclui automaticamente as crianças de pele escura ou negras, que não poderiam nesse caso, serem o seu neto.
-Sim, mas isso a gente só vai poder fazer se ele realmente estiver vivo...
-Espero que descubramos isso logo, Raquel.
CORTA A CENA.

CENA 2: Em Angra dos Reis, na manhã do dia seguinte, Rafael acorda Marcelo com um café da manhã.
-Bom dia, meu marido!
-Devo ter morrido e ido pro céu. Olha bem pro monstro que cê tá criando, Rafa... sou rápido em ficar mal acostumado. Depois, quando você voltar a trabalhar na TV, não reclame se eu não sair da sua cola...
-Seu bobo. Tá bom esse café da manhã?
-Tá ótimo, amor... tudo o que eu gosto... não é a toa que casei com você.
-E a sua alergia, melhorou?
-Acho que sim... quase não sinto mais a coceira.
-Hmm... que ótimo! Posso dar uma olhadinha nos braços e nas costas?
-Claro, amor!
Rafael olha para os braços e para as costas de Marcelo e fica intrigado.
-Tem certeza que a sensação de coceira diminuiu, Marcelo?
-Tenho sim... por que?
-Porque as irritações continuam iguaizinhas a ontem quando a gente saiu do mergulho, acredita?
-Estranho, Rafa... ainda sinto coceira, mas nem de longe tão intensa quanto ontem.
-Vamos ver como isso evolui, né? De repente foi algum fungo, alguma coisa pouca... mas fico preocupado.
-Para com isso, amor... eu que estou com essas irritações não estou tão preocupado, você não deveria ficar assim.
-Ah, Marcelo... me preocupa o seu bem estar, você sabe disso.
-Mas chega desse papo porque você não comeu nada ainda e imagino que esteja morto de fome.
Os dois seguem com o café da manhã. CORTA A CENA.

CENA 3: Horas mais tarde, Laura está indo para o intervalo de seus ensaios na companhia de teatro quando se depara com Haroldo.
-Haroldo? É esse o seu nome, não é? Irmão do Rafa e tudo mais...
-Sim. Você é a Laura, certo?
-Isso mesmo. Sou amiga do Cláudio e amiga do Marcelo. Não esperava ver você aqui no teatro...
-Às vezes gosto de passar meu tempo vendo os atores ensaiando. Acho que lá no fundo eu sempre quis ser ator, mas como sou péssimo ator, nunca me arrisquei a subir num palco.
-O que te faz pensar que seria péssimo? Bem, se não se importa eu vou indo à lanchonete, se quiser vem comigo...
-Vou sim... enfim, ah... eu não sei se presto pra ser ator. Morro de aflição de imaginar aquele público todo olhando pra mim num dia de apresentação, por exemplo.
-Besteira. A gente passa por esse nervosismo, mesmo... você devia tentar ver como funciona tudo. Fazer as dinâmicas de grupo, os exercícios de confiança e tudo mais... sabia que grande parte de atuar consiste na maneira que expressamos nossos corpos?
-Nossa... nunca parei pra pensar por esse lado, sério mesmo.
-Pois não sabe o que perde, Haroldo. É uma liberação de endorfina equivalente a ir numa academia...
-Sempre detestei academia, Laura...
-Mas é aí que vem a vantagem do que a gente faz nos ensaios... você se exercita sem perceber que tá se exercitando. Acaba pegando gosto pela coisa, fica meio dependente dessa endorfina... se torna até mais feliz, sabia?
-Desse jeito que você fala, tão empolgada e cheia de paixão, dá até vontade de tentar entrar no grupo de atores da companhia.
-Não seria uma má ideia, viu? Tenho certeza que você não se arrependeria e ainda descobriria como é ótimo ser ator...
Os dois se olham, encantados um com o outro. CORTA A CENA.

CENA 4: Regina e Geraldo estranham Eva não ter ido ao ensaio.
-Poxa, filha... você mal casa com a Renata e deixa de ir ao ensaio que vocês sempre costumavam ir juntas? - fala Geraldo.
-Ah, pai... ando tão desanimada, tão pra baixo! Não é que eu não ame o teatro, amo muito! Mas me frustra ter sido esquecida pela emissora... uma ponta em um seriado já tava valendo!
-Minha filha, você tinha plena consciência de que isso poderia acontecer a partir do momento que você tornou público que é lésbica... já conversamos muitas vezes sobre isso e você entendeu que mais importante que estar na TV, é ser feliz ao lado de quem você ama... - fala Regina.
-Eu sei de tudo isso, mãe. Eu sou a mulher mais feliz do mundo em ser casada com a Renata... ela é a mulher que eu amo hoje e vou amar por todos os dias da minha vida... mas mesmo assim, poxa! Será que é pedir demais a Deus ter as duas coisas? Eu amo meu trabalho de atriz... me machuca saber que estão deixando de me chamar por causa da minha orientação sexual...
-Filha... sua mãe tem toda a razão em dizer o que te disse. E depois, tem mais: por um acaso você deixou de ser atriz? Não! Onde é que você começou tudo, quando ainda tinha doze anos e insistiu com a gente até a gente deixar você ir pra companhia de teatro do Procópio? - fala Geraldo.
-É, pai... tudo começou no teatro.
-E não deveria ser suficiente? - prossegue Geraldo.
-Eu sei que deveria. Eu realmente amo o teatro... é onde tudo começou há dez anos... mas me parte o coração saber que essa é a única opção que tenho de concreta de agora em diante.
-Eva, minha querida... assim fica parecendo que você está tratando o teatro com desprezo, como se fosse uma arte menor que a TV. Sabemos que é o exato oposto disso... - contemporiza Regina.
-Eu sei disso, gente... juro que sei! Mas não é fácil abrir mão de um sonho...
-Pensa que você não abriu mão de nada, querida. Você apenas decidiu entre a fama e o amor. Você fez a escolha certa... - fala Geraldo.
-Vocês são os melhores pais do mundo, sabiam disso?
Eva, emocionada, abraça os pais. CORTA A CENA.

CENA 5: Valentim, em seu consultório, liga para Raquel.
-Raquel, cê tá podendo vir aqui o mais rápido possível?
-Claro, Valentim. Alguma novidade sobre o meu neto?
-Exatamente. Você tem como estar aqui em no máximo quinze minutos?
-Tenho como, sim. Vou chamar um uber pelo aplicativo e chego aí em dez minutos.
Raquel chega rapidamente ao consultório, ansiosa.
-Bom dia, Valentim. Descobriu o que sobre meu neto, exatamente? Está vivo ou morto?
-Não há registro de óbito nenhum correspondente a criança de pais desconhecidos. Isso significa que seu neto não morreu logo após ter nascido, como mentiu sua filha.
-Eu sabia!
-Agora nosso desafio vai ser descobrir demais informações sobre seu neto... se ele ainda está vivo, se ele mora no estado ou no país ou mesmo se ele foi adotado por algum casal estrangeiro...
-Isso vai ser rápido, Valentim?
-Não vou te mentir. Na melhor das hipóteses, tende a levar meses para termos alguma pista de seu neto.
-Mas pelo menos temos a vantagem de saber pelo menos por qual tipo étnico procurar...
-Pelo menos isso, Raquel. Mas ainda assim, essa busca pode ser complicada. Ser branco é algo ainda muito vago.
-Ah, mas quanto a isso é o de menos...
-Você que pensa. Precisamos afunilar até chegar em pelo menos três homens que possam ser seu neto e a partir disso solicitar os exames de DNA. Só que não é tão simples quanto parece buscar três possíveis “candidatos” a seu neto...
Os dois seguem conversando sobre o caso. CORTA A CENA.

CENA 6: Horas mais tarde, em Angra dos Reis, Marcelo sente fortes coceiras no quarto da pousada e Rafael percebe incômodo do marido.
-Nossa, amor... pelo visto essa irritação voltou com tudo...
-Ai, Rafa... tá insuportável. Essa coceira tá me deixando louco? Não consigo parar de me coçar, chega a arder!
-Tenta não coçar tanto, amor... seus braços já estão ficando muito vermelhos!
-Eu tento não pensar nisso, mas quanto mais tento me distrair, mais coça!
-Posso dar uma olhada nas suas costas, que você não para de coçar?
Marcelo tira a camiseta e Rafael se assusta.
-Amor, pelo amor de Deus! Para de se coçar agora! Você tá com feridas nas costas, em carne viva! Precisamos dar um jeito de ir ao dermatologista.
-E voltar pro Rio? Amor, a nossa lua-de-mel mal começou! Por que a gente não trata isso com pomadas? É mais vantajoso pegar uma na farmácia e não arruinar nossa lua-de-mel...
-Você é mesmo teimoso, hein Marcelo?
-Até parece que você não é também. Essas feridas vão sarar. Isso deve ter sido algum fungo, que com a pomada certa, morre...
-Tá certo. Nós vamos à farmácia... mas se isso não melhorar em uma hora, a gente volta pro Rio e você não discuta comigo porque nós temos o resto da vida pra ter quantas luas de mel a gente quiser. O que não posso deixar é você sofrendo em nome do nosso lazer... agora veste uma camiseta que a gente vai na farmácia...
Os dois partem da pousada em direção à farmácia. CORTA A CENA.

CENA 7: Márcio estranha quietude de Suzanne.
-Nesse silêncio todo que você tá, sou capaz de apostar que você tá tramando algo...
-Ah, qual foi agora, Márcio? Não foi você que me disse que não participava mais dos meus planos? Não devia nem me perguntar o que eu faço ou deixo de fazer. Não é mais do seu interesse.
-Olha aqui, Suzanne... não é do meu interesse uma pinoia! Eu ainda sou seu namorado, não sou?
-Você quer dizer amante, não é?
-Ah, que seja!
-Márcio, na boa... vai catar o que fazer, vai... e não me enche. Tenho coisas sérias a resolver.
-Se envolver meu filho ou a mãe dele, pode esquecer.
-Quem você pensa que é pra tentar me dizer o que devo ou não fazer, Márcio? Até outro dia você fazia tudo o que eu tramava! Já que você faz tanta questão de saber, eu te digo: tenho que dar um jeito de tirar Lúcio, o bebê de ouro, do meu caminho.
Márcio fica perplexo.
-Você enloqueceu? Fazer mal a um bebê? Você está ficando louca, completamente fora de si. Isso é crueldade! Ele não tem culpa de nada!
-Ele tem culpa a partir do momento que por causa dele eu ganho menos dinheiro, mas não se preocupe. Se não fui capaz de matar nosso filho, eu não mataria outro bebê... eu vou dar um rumo pra ele. Sem família ele não fica.
-O que você tá tramando, sua maluca?
-Já falei demais. Mais do que devia. Você não se atreva a tentar me impedir que não me custa nada jogar seus podres no ventilador pro seu amado filhinho...
Márcio se sente impotente diante da ameaça de Suzanne. CORTA A CENA.

CENA 8: Já com a noite avançada, Rafael e Marcelo voltam à mansão dos Bittencourt, deixando todos surpresos.
-Ué... a lua-de-mel de vocês não era por duas semanas? - espanta-se Haroldo.
-Vocês já brigaram, foi isso? - pergunta Mariana.
-Gente... se acalmem. Não brigamos... é que o Marcelo começou com umas irritações horríveis na pele. Hoje mais cedo viraram feridas nas costas dele. Voltamos pra podermos ir ao dermatologista se possível amanhã... - esclarece Rafael.
Riva se preocupa.
-Meu filho... o que será isso? Será algum fungo, alguma coisa que você comeu?
-Não sei, mãe... só sei que incomoda demais. Nem a pomada que a gente comprou ajudou. Fico me segurando pra não coçar...
Vicente se intriga.
-Marcelo... se não for muito invasivo, posso dar uma olhada nas suas costas? - fala Vicente.
Marcelo tira a camiseta e Vicente e Mariana observam as feridas nas costas de Marcelo. Riva, Marion, Ivan, Haroldo e Valquíria preferem não olhar...
-Tá com jeito de ser psoríase, isso... minha falecida mãe tinha... o que você acha, Mariana? Você que é a estudante de medicina aqui... - fala Vicente.
-Estudo medicina, mas pouco ou nada vi da área da dermatologia. Mas baseada no pouco que sei, tem a característica de ser psoríase, mesmo... de qualquer forma, o diagnóstico só é confirmado pelo dermatologista... - fala Mariana.
-E o que a gente faz? - questiona Marcelo.
-Tem meios de aliviar esses sintomas agora. Amanhã a gente vê isso certinho... - prossegue Mariana.
CORTA A CENA.

CENA 9: Riva e Vicente vão com Vicente à uma farmácia próxima à casa deles.
-Poxa, Riva... os meninos não disseram que já estão com a pomada que compraram em Angra?
-Sim, mas você ouviu o que a Mari disse... que é preciso pegar mais medicamentos pra suavizar esses sintomas aparentes... quero cuidar do meu filho, posso?
-Claro que pode, amor... só fico preocupado com o horário... já passa das onze.
-Relaxa, querido... estamos de carro e a cinco quadras de casa. Estamos seguros.
Riva termina de falar isso e é dopada por um homem que chega por trás dela. Vicente tenta reagir batendo no outro homem que tenta dopá-lo, mas acaba sendo dopado também. Um sequestrador se dirige ao outro.
-Aonde a gente vai com esses três, agora? - pergunta o primeiro.
-Pro galpão que a madame mandou a gente ir... - responde o segundo.
FIM DO CAPÍTULO 64.