disqus

terça-feira, 19 de julho de 2016

CAPÍTULO 56

CENA 1: Rafael está em desespero e Marcelo tenta conter o namorado.
-Amor... respira fundo. A gente não pode perder a calma agora.
-Como é que eu não vou perder a calma? Essa situação saiu de controle! Eu não tive tempo de chamar a imprensa pra falar tudo antes. Daí chega essa imprensa marrom e lança a informação na frente! Você tem noção do quanto isso é prejudicial e tem potencial destrutivo? Olha a linguagem baixa e cheia de preconceitos que essa gente nojenta usa! Eu estou acabado...
-Rafa... eu não sei se você percebeu um pequeno detalhe nisso tudo. Um detalhe que eu te avisei, inclusive, mas receio que tenha sido tarde demais...
-Que detalhe é esse, Marcelo?
-Para e pensa, Rafael... quem é a única pessoa que sabia dos seus planos de contar tudo pra imprensa?
-O Mateus... mas você acha que ele faria isso?
-Às vezes a sua ingenuidade me surpreende e não é de forma positiva, amor... você esqueceu que foi o Mateus que mexeu os pauzinhos dele dentro da emissora pra ficar com o papel que era pra ser seu? Quem faz isso, faz muito mais...
-Mas ele já conseguiu o que queria. Não faz sentido ele fazer isso.
-Tem certeza que não faz sentido? Eu esperava mais do seu raciocínio, Rafael...
-Você está insinuando que ele... teria feito isso pra me tirar do caminho dele de vez? Pra conseguir o destaque dele na TV e não me ter como ameaça? Se ele fez isso, esse cara não tem um pingo de caráter!
-Você ainda duvida disso, amor? Ele já provou que é um ser invejoso e recalcado, que só consegue alguma coisa derrubando quem ele considera ameaça.
-Claro! E ele me considerou ameaça desde sempre.
-Com certeza. Ele sempre teve inveja. Devia ficar com raivinha porque você é filho da Marion, que já nasceu famoso, com o que ele considera facilidade. Ele ignora o seu talento... pensa que você só chegou onde chegou porque é da família que é... enquanto ele saiu quase criança da Bahia e teve de lutar sozinho pra chegar onde chegou.
-Mas não entendo onde o caráter desse infeliz do Mateus se perdeu. Pensei que todo esse esforço, toda essa luta pra superar as dificuldades iniciais pudessem fazer dele uma pessoa que reconhece o valor de lutar pra se chegar onde se quer.
-Você às vezes é tão ingênuo, Rafael... não percebe que algumas pessoas tem o caráter torto de largada. Elas se revelam quando ganham a primeira mínima dose de poder nas mãos.
-Eu vou dar um jeito de dar uma lição nesse babaca. Mas ao contrário dele, eu não preciso prejudicar ele. Um dia ele vai acabar se queimando por conta própria.
-Ainda bem que você entendeu isso, amor... mas o que exatamente você pretende fazer sobre o Mateus?
-Isso eu vou terminar de decidir amanhã, Marcelo... mas não vamos perder nosso sono por isso...
-Isso mesmo, amor... não vamos dar esse gostinho pra ele. Vamos dormir o sono dos justos...
-Amanhã esse infeliz vai se ver comigo. Pode escrever!
-Tá, Rafael... vamos tentar esquecer disso agora... precisamos descansar.
Os dois tentam dormir. CORTA A CENA.

CENA 2: Na manhã do dia seguinte, Mateus está se preparando para ir para as gravações quando Laura o surpreende.
-Nunca te vi acordar tão cedo, Laura... caiu da cama?
-Nem dormi. Sabe por que? Porque eu vi aquela palhaçada que foi publicada no site de fofocas sobre o Rafael e o Marcelo.
-E daí? Não é verdade? Eles estão juntos! Querem se casar... se esse pessoal da imprensa marrom descobriu antes, paciência.
-Você deve estar achando que sou alguma espécie de anta, não é possível. Eu sei que foi você quem fez isso!
-Você tá maluca, Laura? Como é que eu ia fazer isso? Eu tinha gravações ontem.
-Só depois das dez da manhã. E eu lembro direitinho quando você veio me contar cheio de ironia que os “pombinhos” iam se casar antes de ir pra emissora.
-Ah, claro, Laura... e eu ia me arriscar a chegar atrasado nas gravações pra falar com o pessoal desse site?
-Tenho certeza de que você pensou no álibi antes. Não tenho a mínima dúvida de que foi você o responsável por esse vazamento lamentável.
-Você pode provar? Não pode. Agora dá licença que eu preciso me arrumar, sabe como é... não gosto de chegar atrasado no meu trabalho.
-Aos outros você pode enganar, mas não a mim, Mateus. Eu te conheço. Você realmente não tem noção das coisas, né? Parece ignorar que coisas como essa tem consequências, cedo ou tarde.
-Ué... deu pra falar de lei do retorno agora, Laura? Me poupe, se poupe, nos poupe! Você nem acredita em Deus...
-Você não percebe que essa cachorrada que você fez com o Rafael pode acontecer um dia com você?
-Não vai acontecer. Sabe por que? Porque eu sou precavido.
-Você não é precavido. É um covarde, um ladino, traiçoeiro. Saiba que isso pode acontecer com você sim. Você não sabe quantos ali na emissora agem dessa mesma forma suja que você agiu. E ao que me consta, você tem tantas coisas a esconder quanto o Rafael tinha... ou mais ainda. Um dia, tudo isso pode se voltar contra você e daí, meu querido, quem vai ter a carreira acabada é você. E vai ser justo, porque você só vai estar colhendo o que você mesmo plantou.
-E o que você vai fazer, posso saber? Protestar no teatro? Chamar a imprensa? Falar com o Rafael que fui eu? Pode falar! Quero mais é que ele saiba. Na posição que eu tou dentro da emissora, com a novela prestes a estrear, eu não tenho como perder o que conquistei. Vai em frente, faça o que você quiser.
-Você já perdeu há muito tempo a dignidade. Não deve ter mais nada a perder, mesmo. E o que você conquistou não foi por mérito... foi na desonestidade, na base de golpe, na base de intriga.
-Laura... você realmente não entende. Nada foi fácil pra mim na vida. Saí da Bahia praticamente criança e nunca mais vi meus pais.
-E onde é que o Rafael entra nisso? Suas desculpas pra ter inveja do que ele conquistou são patéticas. Mas vai, termina de se arrumar aí... afinal, você não pode se atrasar pro seu trabalho, não é mesmo?
Laura deixa o quarto furiosa. CORTA A CENA.

CENA 3: Horas mais tarde, Suzanne e Haroldo passeiam pelo Jardim Botânico.
-Achei ótima a sua ideia de virmos aqui, Haroldo... esse lugar é tão inspirador!
-Não é, Suzanne? Gosto da paz que consigo encontrar aqui. Você já ficou aqui nos dias que chove? É mágico. Dá vontade de sair rodopiando, dançando, abraçando essa natureza toda...
-Nossa, Haroldo... você me surpreende. Tem sensibilidade. Pra te ser sincera, nunca fui de vir muito aqui... nunca estive em dias de chuva no Jardim Botânico. Mas imagino que seja ótimo diante de tanto verde.
-É algo único, inigualável. Palavras não podem descrever. Um dia eu ainda te trago aqui quando estiver pra chover. Você vai sentir como a força da natureza é incrível. Vai sentir como a terra se comunica com a gente e nos revela coisas sobre nós mesmos que quase sempre ignoramos...
-Nossa... deve ser incrível, mesmo. Mas sabe o que mais eu acho daqui?
-Diga, Suzanne.
-Que esse lugar é romântico.
-Ah, isso também é... principalmente pela manhã. Esse ar fresco, ainda sem sentir o calorão do resto do dia... dá uma sensação de renovação na gente... como os sentimentos que se renovam entre os apaixonados.
Os dois se beijam.
-Você tá se apaixonando por mim ou eu tou ficando doida? Porque tou começando a gostar de você.
-Suzanne... não. Eu preciso ser claro contigo: não temos nada sério. E não pretendo ter nada sério com você.
-Por que? Tem algo de errado comigo?
-Não tem nada de errado com você. Só não estou preparado pra me apaixonar por alguém agora. Ainda não superei completamente o Cláudio. Não abri mão dele por vontade própria, fui obrigado a isso. Preciso do meu tempo pra digerir tudo isso.
-Mas e se não tivesse existido o Cláudio antes, você se apaixonaria por mim?
-Não sei dizer. Não costumo tergiversar sobre o que poderia ter sido. Não foi assim que as coisas aconteceram na minha vida. Talvez eu me apaixonasse, talvez não. Mas não se iluda comigo, Suzanne... nós não vamos passar dessas ficadas e passeios eventuais. Não tenho estrutura emocional pra encarar um romance agora. Não sei quando vou conseguir. Você ainda é jovem, um pouco menos que eu... não deve esperar por mim. Você merece alguém que esteja entregue. E eu não vou estar entregue a você tão cedo... desculpe a franqueza.
-Imagina, Haroldo... aprecio sua sinceridade. Podemos ser grandes amigos ainda assim...
Suzanne esconde sua raiva de Haroldo. CORTA A CENA.

CENA 4: Adelaide e Cleiton chegam à casa de Regina e Geraldo.
-Demoramos, queridos? - fala Adelaide.
-Chegaram em boa hora. As meninas já saíram pra trabalhar... - fala Regina.
-Bem, como vocês devem saber, eu sou a Adelaide e esse é meu marido Cleiton, somos os pais da Renata.
-Entrem, por favor... - convida Geraldo.
-Bem, na verdade eu só vim acompanhando a Adelaide. A conversa que ela precisa ter com vocês foi iniciativa dela. Então não se espantem se eu não me manifestar muito... - fala Cleiton.
-Está certo. Sentem-se, por favor. - fala Regina.
-Sabe, gente... eu vim conversar com vocês porque ainda tou encontrando dificuldades em lidar com tudo. Sei que não devia, mas foi uma vida inteira acreditando em muitas coisas que alimentavam meus preconceitos em relação a gays e lésbicas... - começa a falar Adelaide.
-Nós aceitamos receber vocês porque queremos ajudar. Não se acanhe em dizer sobre suas dúvidas, dores e tudo o que quiser nos dizer. Nós sempre aceitamos a homossexualidade de Eva porque entendemos que não devemos aceitar, mas sim respeitar a individualidade de nossa filha, mas sabemos perfeitamente que nós não somos ensinados, nem pelos nossos próprios pais, a acolher a diferença no nosso seio familiar. É preciso que saibamos romper com os “valores” que na realidade são preconceitos que nos são repassados, muitas vezes de forma impensada e automática, ao longo das gerações... - fala Regina.
-É mais ou menos sobre isso que eu queria desabafar, sabe Regina? Tem sido uma dificuldade muito grande pra eu conseguir me desfazer desses “valores” que absorvi desde sempre. Mais difícil ainda porque sou da igreja e fico morrendo de medo da reação do pastor...
Todos seguem a ouvir o relato de Adelaide.

CENA 5: Rafael e Marcelo chegam à companhia de teatro no intervalo para lanche dos atores. Marcelo fica a conversar com Cláudio e Rafael chama Laura para uma conversa.
-Então, Laura... nós precisamos falar sobre o Mateus.
-Eu já sei do que se trata, Rafael... ainda bem que terminei com ele. Eu vi aquela notícia lamentável no site de fofocas.
-E sabe que foi ele, não sabe?
-Sei. Se você tinha alguma dúvida sobre isso, Rafael... pode ficar sem dúvida nenhuma. Tive uma discussão feia com ele hoje pela manhã. Não consegui pregar o olho depois que li a notícia ainda ontem à noite. Sabia que aquilo tinha dedo do Mateus.
-E o que você fez?
-Ele tá ciente de que eu confirmaria a você. E se você não me procurasse aqui no teatro, eu mesmo te procuraria ainda hoje. Cansei dessas mentiras, dessas intrigas. A coisa ficou insustentável nos últimos tempos. Ele também gosta de meninos e devia pensar duas vezes antes de fazer essas merdas que fez contra você. E sabe do pior? Ele fez isso foi pra te derrubar mesmo, por inveja e despeito.
-Ele só não contava, Laura, que eu fosse me manter firme. Eu disse que vou assumir minha sexualidade e o relacionamento com Marcelo pra imprensa e vou! Mas antes disso... acho que vou querer levar um papinho com ele.
-Por mim você pode fazer o que quiser. Minha casa tá aberta a qualquer hora. Ele precisa ouvir poucas e boas, mesmo... talvez assim caia na real.
CORTA A CENA.

CENA 6: Horas depois, Cláudio chega em casa depois do ensaio no teatro e encontra um bilhete de Bruno.
Fui ao supermercado. Guilherme está dormindo e medicado. Teve uma crise, mas logo ficou tranquilo. Volto antes das nove.
Beijos, Bruno.
Cláudio vai até o quarto e encontra Guilherme profundamente adormecido, coberto por um edredom. Cláudio senta-se ao lado dele e acaricia seus cabelos.
-É, seu meninão... acho que tou aprendendo a te amar...
Cláudio pensa em Bruno. Seu pensamento ganha voz.
“Mas não consigo deixar de pensar no Bruno... eu sinto falta do que a gente teve... essa dúvida ainda vai me deixar maluco...”
CORTA A CENA.

CENA 7: Marion e Valquíria chegam em casa mais cedo. Marion vai direto ao quarto de Rafael e Marcelo para conversar com o filho.
-Oi queridos.
-Chegou cedo em casa hoje, mãe... - constata Rafael.
-Eu consegui liberação pra mim e pra sua avó irmos embora mais cedo, porque não estávamos conseguindo nos concentrar... você deve imaginar porque, filho.
-Então, mãe... eu tava conversando agora com o Marcelo sobre isso. Eu tou pensando em falar com a imprensa amanhã mesmo. Faria isso de qualquer jeito. Mas antes, eu tou pensando em fazer uma visitinha a quem vazou essa informação, que eu sei quem é...
-Você acha que precisa? O site de fofoca que não devia ter publicado, filho. Vou processar esse site.
-Mãe, você tá louca? Não faz o mínimo sentido. Geralmente o site é processado por espalhar mentiras e boatos. Minha sexualidade e meu amor por Marcelo não são mentira. Processar o site de fofocas não faz sentido...
-Você tá certo, meu filho. Às vezes esqueço que você decidiu mesmo se assumir pra imprensa toda.
-Agora eu preciso tomar um banho, mãe...
-Tudo bem...
Marion deixa o quarto. CORTA A CENA.

CENA 8: Instantes depois, Rafael sai do banho e começa a se arrumar.
-Você tem certeza de que vai mesmo ir lá na casa da Laura?
-Claro que tenho, Marcelo. Antes de falar à coletiva de imprensa, eu preciso falar umas verdades na cara daquela bicha infeliz.
-Tenho medo que você perca a cabeça.
-E daí se eu perder? Mateus faz as merdas e cedo ou tarde vai acabar pagando por isso. Se eu antecipar esse pagamento, o que é que tem?
-O que é que tem? Você realmente tá me perguntando isso a sério? Eu te respondo, Rafael: se você perder a razão, ele pode virar o jogo a favor dele. Já tivemos provas de que ele é ardiloso o suficiente pra isso.
-Tá... eu sei disso. Eu prometo que vou me controlar.
-Eu só vou acreditar que você realmente consegue se controlar diante desse infeliz vendo com meus próprios olhos. Você só vai se eu for com você.
-Ah, não... negativo. Esse papo é entre eu e Mateus. Não se mete, meu amor... por favor.
-Eu já tou metido nisso desde aquela notícia no site de fofocas.
-É, mas já tá ficando tarde e eu não quero demorar muito pra chegar lá.
-Eu tomo um banho rápido, mas eu vou com você.
-Marcelo, eu tou te pedindo. Confia em mim...
-Eu confio em você. Não confio é nesse Mateus. Se esqueceu que eu conheço esse daí de outros carnavais? Estudamos no mesmo colégio... vai por mim, Rafa...
-Já vi que não tem jeito mesmo. Tá, você vem comigo... no fim eu até prefiro que seja assim. Eu não sei como eu vou reagir quando olhar para aquela cara lavada do Mateus.
-Eu tou dizendo...
-Então se apressa e vai pro banho, amor. Já tá ficando tarde.
-Tá. Não demoro nem cinco minutos no banho, eu prometo.
Marcelo parte para o banho. CORTA A CENA.

CENA 9: Rafael e Marcelo chegam ao prédio onde Laura e Mateus moram e estacionam. Marcelo nota que Rafael está tremendo de raiva.
-Procura se conter, amor! Tou vendo você tremendo de longe...
-Tá... vou respirar fundo.
Os dois caminham e chegam ao apartamento de Laura e tocam a campainha. Laura abre.
-Olá, meninos... Mateus, visita pra você!
-Quem será? Não lembro de ter chamado ninguém... - fala Mateus, se levantando. Ao chegar na porta, se depara com Rafael e Marcelo.
-Seu desgraçado! - fala Rafael, nocauteando Mateus com um soco. FIM DO CAPÍTULO 56.

Nenhum comentário:

Postar um comentário