CENA 1: Os sequestradores
chegam ao galpão. Vicente é o primeiro a acordar e percebe que um
dos sequestradores segura Lúcio.
-Me devolva meu filho! -
ordena Vicente.
-Alá o valentão, coitado! Tá
se achando cheio da marra, hein? Vocês sabem onde estão? Viram que
caminho a gente tomou? Mas tudo bem... pega o seu bebê chorão aí
que não quero que um bebê cague ou mije em cima de mim... - fala o
sequestrador que segura o bebê.
Vicente pega o filho no colo.
-Quem vocês são? O que vocês
querem? É dinheiro? Eu e minha mulher damos o dinheiro que vocês
quiserem, mas não façam nada com nosso filho!
-A gente vai esperar a madame
acordar do sono de beleza dela antes de dizer o que a gente quer,
valeu? - fala o sequestrador armado.
-Eu já disse e repito quantas
vezes vocês quiserem ouvir. Dinheiro não é problema pra nós. Se
vocês não quiserem polícia envolvida nisso, a gente entende. -
fala Vicente.
O sequestrador armado perde a
paciência e dá um soco em Vicente, que é segurado pelo outro
sequestrador.
-Qual foi a parte que tu não
entendeu, rapá? A gente só fala sobre o que a gente quer depois que
a madame dorminhoca acordar! Por que em vez de ficar falando, falando
e falando, você não cuida desse bebê chorão aí? Não aguento
choro de criança...
Riva se acorda, ainda grogue
de ter sido dopada.
-Ah, então a madame resolveu
acordar do sono profundo. Dormiu bem, Riva? - fala o sequestrador.
-Como é que você sabe meu
nome? Quem são vocês? Onde é que a gente tá? - pergunta Riva,
desorientada.
-O espetáculo tá pronto. Vou
mandar logo o papo reto: a gente recebeu ordens de pegar o bebê
chorão. Cês fiquem tranquilos que a gente não vai matar o mijão.
Mas vocês também nunca mais vão ver o filho de vocês. Ele vai
sumir no mundo. Ele vale uma grana preta, vocês sabiam? - fala o
sequestrador armado.
Vicente e Riva se olham,
apavorados. CORTA A CENA.
CENA 2: Márcio insiste com
Suzanne para ela falar o que está tramando.
-Anda, Suzanne! Fala de uma
vez o que você anda tramando, fala! Eu tenho certeza que não é
nada bom.
-Como você é chato, Márcio.
Não vai parar de insistir? Que saco! Você não está participando
de nada disso, não tem que saber de nada. Até porque, do jeito que
você anda frouxo nos últimos tempos, tenho certeza de que não
teria estômago pra fazer metade do que eles estão fazendo...
-Eles? Eles quem?
-Não te interessa.
-Você começou a falar...
falou demais. Agora termina!
-Tem certeza que quer saber
mesmo do que tá acontecendo? Tá seguro disso? Não vai vomitar todo
o chão depois? Porque eu não vou querer chamar o serviço de quarto
numa hora dessas pra limpar sua sujeira...
-Você é vaidosa, Suzanne...
sempre foi. Cedo ou tarde vai acabar me falando do que se trata,
cheia de si, orgulhosa de sua própria perspicácia.
-Ah, seu bobo... se eu não
tiver essa vaidade, quem é que vai fazer as coisas por mim? Gosto
mesmo é do perigo, dessa adrenalina, dessa coisa de fazer o que eu
quiser sem sentir um pingo de remorso. Mas você quer saber o que tá
acontecendo, não quer?
-Prefiro saber logo qual é a
bomba da vez pra ver se posso impedir alguma besteira.
-Acho difícil, Márcio. Você
está enredado até o pescoço comigo. Não pode me impedir de fazer
nada, senão eu entrego todos os seus podres pro seu filhinho
querido... acho que você não quer isso.
-Você é sádica, Suzanne.
Faz questão de repetir isso o tempo inteiro. Me diga logo o que está
acontecendo... ou melhor: o que você tramou.
-Tenho meus vários contatos,
você sabe disso, não sabe? Sabe também que aquele bebê chorão da
Riva vale ouro, não sabe? O que planejei foi simples: mandei alguns
contatos meus, meio barra pesada, sequestrarem a Riva, o Vicente e o
bebê chorão. Numa hora dessas eles devem estar no lugar que eu
mandei os homens irem com eles. Não devem fazer a mínima ideia de
onde estão, os tontos. Como são cheios da grana, tenho certeza que
vão oferecer uma grana alta pra se livrarem do cativeiro. Mas eu dei
ordens aos homens para levarem o bebê...
Márcio fica chocado.
-Você é muito mais cruel que
eu imaginava, Suzanne. Passou de todos os limites! Será que não
percebe a dor que uma mãe e um pai sentem ao serem separados do
filho, sem nem saber pra onde esse filho, ainda indefeso, está indo?
-Disso você entende, não é
mesmo, Márcio? Afinal de contas, não fez nada pra impedir que eu
levasse o nosso filho recém-nascido para um orfanato. Ou por acaso
já esqueceu disso? Essa sua indignação seletiva só prova sua
hipocrisia, seu bosta!
-Quem parece ter esquecido de
alguma coisa aqui é você, sua monstra. Você me deixou sem opção,
você impôs que nosso filho fosse deixado no orfanato. Eu quis criar
nosso bebê, você disse que eu nunca mais te veria se eu ficasse com
ele! Quem é hipócrita aqui, mesmo?
-Agora é fácil você vir me
acusar, não é? Mas quando a gente tava no meio de tudo aquilo, você
podia ter me impedido. Não impediu porque não quis, porque sempre
foi um fraco, sem opinião própria, que só fazia o que eu mandava.
Um pau mandado, isso que você sempre foi!
-Você sabe que me ameaçava.
Eu, cego de amor, sempre aceitei todas as suas imposições. Mas sabe
de uma coisa? Não devia ter aceitado. Você acabou com a minha
chance de ser pai dos meus dois filhos!
-Vai fazer o que? Vai chorar?
Foi melhor assim pra todos nós. Senão não teríamos chegado onde
chegamos.
-Você não teria chegado onde
chegou, você quer dizer. Só peço que não mande matar o Lúcio.
-Eu posso não prestar,
Márcio... mas não sou assassina. O bebê chorão vai viver... longe
daqui, quem sabe até fora do país. Mas vai viver. Você fique de
bico calado, porque esse sequestro não pode chegar na mídia, senão
os meus planos estão arruinados!
Márcio vai ao banheiro
vomitar. CORTA A CENA.
CENA 3: Riva, mesmo grogue de
ter sido sedada, levanta-se até Vicente para proteger Lúcio, mas
acaba caindo, ainda tonta.
-Meu filho! Vocês não podem
levar meu filho! - fala Riva.
-Se eu fosse você eu ficava
pianinha, madame. Você mal se aguenta em pé, devia ficar mais na
sua se quiser sair viva daqui. - fala o sequestrador armado, enquanto
o outro sequestrador fica de segurança na porta do galpão.
Vicente tenta proteger o
filho.
-Vocês não podem levar nosso
filho. Não percebem que ele é só um bebê? O que um bebê poderia
valer pra vocês, seus canalhas?
-Dinheiro, playboy. Barras de
ouro! A nossa liberdade, enfim... - fala o sequestrador.
-Quem é que mandou vocês
fazerem isso?
-Não te interessa, playboy. A
gente tá sendo bem pago pra fazer esse serviço. Não precisamos do
dinheiro de vocês. Precisamos da criança, que é nossa mina de
ouro.
Riva se apavora.
-Não façam nada com nosso
filho, por favor! Atira em mim, me mata se quiser, mas não façam
nada com o nosso Lúcio!
Vicente tenta acalmar Riva.
-Amor... a gente vai dar um
jeito. Confia em mim...
-Eu confio, Vicente. Não
confio é nesses malucos...
-Oh, que lindo! Já pode parar
essa cena de amor meloso, viu? - fala o sequestrador, arrancando
Lúcio dos braços de Vicente e entregando ao outro sequestrador.
-Devolve meu filho, seu
desgraçado! - fala Vicente, avançando sobre o sequestrador armado.
Vicente leva um tiro de raspão e cai sentado.
-O próximo vai ser bem no
meio do coração, pra matar. Perdeu, playboy!
Riva se apavora com o
ferimento de Vicente e o acode.
-Amor! Cê tá bem?
-Tou sim... foi de raspão. Tá
ardendo demais, mas eu vou ficar bem.
Riva olha para os lados e
percebe que os sequestradores fugiram com Lúcio.
-Amor, eles fugiram com nosso
bebê!
Vicente e Riva se apavoram.
CORTA A CENA.
CENA 4: O celular de Marcelo
toca.
-Alô? Oi, mãe! Que demora é
essa? Faz quase uma hora que vocês saíram pra comprar os meus
remédios!
-Filho... senta que a mãe
precisa te contar o que aconteceu.
-Ai, mãe... tá me
assustando... fala!
-Nós fomos sequestrados.
Marcelo se apavora.
-O que? Pelo amor de Deus,
mãe! Esses caras querem que a gente pague resgate?
-Eles já foram embora. O
Vicente deixou o celular em casa. Localizem a gente pelo gps porque o
Vicente precisa de um médico, ele levou um tiro de raspão!
-Meu Deus do céu! Ele tá
bem?
-Tá, mas a gente não sabe
onde tá. Localizem onde a gente tá pelo gps e mandem um médico e a
polícia pra cá, pelo amor de Deus!
-Tá certo, mãe. A gente vai
correr atrás disso agora!
-Não venham até aqui. A
gente não sabe se eles estão por perto. Deixem a polícia resolver
isso!
Marcelo desliga e olha
desesperado para Rafael, que se assusta.
-O que tá acontecendo, amor?
-Sequestraram a mãe, o
Vicente e o Lúcio! A gente precisa achar eles pelo gps do celular do
Vicente que tá aqui em casa!
Os dois correm ao quarto de
Riva e Vicente. CORTA A CENA.
CENA 5: Instantes depois, a
polícia e uma ambulância chegam ao galpão onde Riva e Vicente
estão. Um policial aborda Riva, que começa a falar.
-Eles levaram o nosso bebê!
Façam alguma coisa, por favor!
-Primeiramente, se acalme,
dona... nós vamos mandar nossos homens efetuarem buscas pela região.
Não devem ter ido longe. Se tranquilize. - fala o policial.
Os médicos socorrem Vicente.
-Não me levem pro hospital,
por favor! Eu preciso achar meu filho! - implora Vicente.
-Felizmente esse foi um tiro
de raspão. Vamos poder fazer a assepsia do ferimento e colocar um
curativo. De qualquer maneira, você deve tomar um anti inflamatório
para evitar que o ferimento infeccione por uma semana. - fala a
médica que verifica o ferimento de Vicente.
A médica efetua a assepsia do
ferimento de Vicente e faz um curativo. A imprensa chega e Riva
lamenta.
-Poxa vida! Eu devia ter
pedido pro Marcelo não falar pra ninguém da imprensa!
-Amor, talvez seja melhor
assim. A mídia pode ser nossa aliada pra gente achar o nosso
filho... - contemporiza Vicente.
CORTA A CENA.
CENA 6: Marion e Valquíria
estão apreensivas.
-Isso é loucura! Como é que
vocês aceitam o pedido da Riva e insistem ficar aqui em casa,
parados, enquanto o Vicente tá ferido? - indigna-se Marion.
-E o meu bisneto, um
bebêzinho, passando por tudo isso? A gente devia ter ido junto da
polícia! - protesta Valquíria.
Rafael tenta contemporizar
enquanto Marcelo chora, apreensivo.
-Gente, pelo amor de Deus!
Vamos raciocinar? Aquela zona é uma zona de risco! Só a imprensa
chega lá com alguma segurança! A gente ia se colocar em risco, toda
a nossa família em risco? Se dependesse só da nossa vontade, é
claro que a gente ia pra lá, mas aquilo é um galpão abandonado
numa área tomada por policiais corruptos!
-Por esse lado... você tem
razão, filho... - considera Ivan.
-Gente, vocês querem parar de
discutir? Tá entrando o plantão na TV, deve ser sobre isso! - fala
Mariana.
“Chega ao fim o sequestro
de Riva Oliveira e Vicente Fernandes. A socialite, sobrinha da atriz
Marion Bittencourt, não sofreu ferimentos, embora esteja
traumatizada pelo ocorrido. Vicente Fernandes levou um tiro de
raspão, mas passa bem e não deve ser levado a um hospital. Mais
informações ao decorrer de nossa programação.”
-Pelo menos eles estão a
salvo... - fala Marcelo, aliviado.
-Vocês não acharam estranho
ninguém ter falado no Lúcio? - observa Mariana.
-Ai, filha... vira essa boca
pra lá! Não falaram porque os alvos eram os dois! O pior já
passou... - fala Marion.
Todos se abraçam, aliviados.
-Daqui a pouco eles devem
estar estourando aqui em casa... graças a Deus! - finaliza Rafael.
CORTA A CENA.
CENA 7: Riva e Vicente chegam
à delegacia de polícia para prestar depoimento. A delegada de
plantão começa a fazer as perguntas.
-Vocês poderiam detalhar como
foi esse sequestro relâmpago? - questiona a delegada.
Riva está sem condições de
falar e Vicente, percebendo isso, começa a falar.
-Desculpe, delegada. Minha
esposa está sem condições de falar. Deixa que eu falo... pra
começo de história, não foi um sequestro relâmpago. Não roubaram
nosso carro, porque eles já tinham um carro esperando por eles na
entrada do galpão. A intenção deles, desde o início, era capturar
nosso bebê.
Riva e Vicente choram ao
relembrar tudo.
-Certo. E você saberia
descrever fisicamente os sequestradores?
-Evidente que sim. O que
estava armado é alto, meio acima do peso, branco e de cabelos
castanho claros. O outro, que ficou de “segurança” enquanto o
sequestro acontecia, é mais baixo e mais magro, também branco e com
uma pinta na bochecha direita.
-Ótimo. Você saberia
detalhar mais? Podemos fazer um retrato falado deles.
-Claro que posso. Mas já
antecipo que eles estavam a mando de alguém. Não quiseram nos dizer
quem foi o mandante do sequestro.
-Mesmo assim, senhor
Vicente... é importante saber quem são eles, talvez eles sejam
foragidos.
Vicente dá a descrição
detalhada dos sequestradores. CORTA A CENA.
CENA 8: Raquel, já no
apartamento, estranha o fato de Márcio e Suzanne estarem trancados
no quarto há tanto tempo. Márcio vai à cozinha tomar água e
Raquel percebe sua expressão.
-Que cara é essa, Márcio?
Andou passando mal?
-Sim, dona Raquel... acho que
comi alguma coisa estragada. Você sabe se tem sal de frutas aqui?
-Claro que tem... na minha
bolsa.
Raquel alcança o sal de
frutas para Márcio tomar.
-Vou tentar descansar agora.
Muito obrigado pelo sal de frutas, dona Raquel...
Raquel estranha expressão de
assombro no rosto de Márcio, que volta ao quarto com Suzanne,
confrontando-a.
-Viu como seus planos não são
tão perfeitos assim, Suzanne? A porra toda já saiu na TV. Se a
polícia chega nos caras que você mandou fazer esse serviço sujo,
antes de eles fazerem com o bebê o que você mandou, você cai junto
deles, sua imbecil.
-Você bem que tá feliz por
isso, né? O tempo todo torcendo contra.
-Não se trata de torcer
contra, Suzanne, será que você não percebe? Será que não tem
dimensão do quão hediondo foi tudo isso? Lúcio é um bebê de
colo! Afastado dos pais! Você não tem coração!
-Ah, claro... e você tem, né?
Onde é que tava seu coração quando você não fez nada pra impedir
que eu entregasse nosso filho pro orfanato? Eu não fiz nosso filho
com o dedo, não! Onde é que tava o seu coração quando você não
protestou nem fez objeção quando eu te mandei roubar a Riva e
deixar ela sozinha, buchuda do ruivinho?
-Não tenta virar o jogo,
Suzanne. Você sabe que essa merda vai estourar a qualquer hora e eu
não vou precisar fazer nada. Você não vai conseguir tirar o Lúcio
da Riva e do Vicente.
-Isso quem decide sou eu. Eu
trabalho com todas as possibilidades. Não tenho apenas o plano B...
tenho o alfabeto inteiro de planos alternativos. Eu vou dar um jeito
de livrar minha cara de qualquer possível acusação.
-Como você sempre fez, por
sinal. Isso custou anos da minha liberdade.
-Cala a boca, Márcio. Você
tá ficando chato e repetitivo. Deveria levantar as mãos pro céu,
porque se não fosse por mim, nem um teto pra morar você teria
agora.
Suzanne encara Márcio,
triunfante. CORTA A CENA.
CENA 9: Já de madrugada, Riva
e Vicente voltam para a casa. Riva ainda não consegue falar.
-Gente, tentem não fazer
perguntas à Riva... ela ainda tá muito traumatizada e não tá em
condições de falar... - alerta Vicente.
Marcelo abraça a mãe.
-Deixa que eu cuido da minha
mãe, Vicente... - fala Marcelo.
Rafael percebe a ausência de
Lúcio.
-Gente, cadê o Lúcio? Acho
que vocês esqueceram ele no carro... - fala Rafael.
-Gente... não sei nem como
começar a dizer. Não esquecemos do nosso filho no carro. O alvo dos
sequestradores não era eu, nem a Riva. Eles foram instruídos a
levar o Lúcio.
Todos se apavoram. FIM DO
CAPÍTULO 65.
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