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terça-feira, 26 de julho de 2016

CAPÍTULO 62

CENA 1: Suzanne tenta mentir para Raquel.
-Não sei de onde que você tirou essa história, mãe. A senhora me viu grávida alguma vez na vida? Olha, eu não sei quem foi que te contou essa história, mas ela não passa de uma calúnia. Eu nunca tive filho nenhum!
Raquel perde a paciência e avança sobre a filha, lhe dando dois tapas.
-Chega, Suzanne, chega de mentira! Eu sei de tudo! Sei que essa criança nasceu em 4 de maio de 1995. Agora tudo faz sentido! Naquela época você e o Márcio passavam mais dias longe de casa do que comigo! Assim era fácil você esconder a sua barriga de grávida: você devia usar aqueles cintos que apertam a barriga, não é isso? Você não queria esse filho, tinha só catorze anos, eu entendo, mas esconder de mim, que sou sua mãe? Você acha que eu sou alguma espécie de monstro, Suzanne? Não adianta você negar mais nada! Eu sei que você teve esse filho e que ele nasceu em Niterói!
Suzanne se vê sem saída.
-Sim, mãe... eu tive esse filho. Não queria essa criança, lógico. Nem o Márcio queria...
Raquel dá outro tapa em Suzanne!
-Mentira! O Márcio pode ter cometido os erros dele, muitos dele por sua causa, mas jamais iria deixar um filho na mão!
-Você tá louca, mãe? Como que ele não ia deixar um filho na mãe se ele abandonou a Riva grávida do Marcelo há mais de vinte anos?
-Abandonou porque você o obrigou a isso. Pensa que eu não sei? Logo depois vocês fugiram. Passaram um tempo justamente onde? Deixa eu ver se lembro direitinho: em Niterói! Você esteve por trás disso o tempo inteiro! Eu sou mãe, mas não sou cega! Levei anos para admitir que você é um monstro, mas você é. Você impôs ao Márcio que ele abandonasse e roubasse a Riva, para que assim ele pudesse seguir junto de você. Você não tem vergonha de ter sempre usado um cara que te ama mais que tudo, talvez mais que a própria vida? Você passou por cima das vontades dele, sabendo que ele sempre foi cego de amor por você e te seguiria onde quer que você fosse. Sabe onde ele tá agora? Na casa do filho dele, tentando construir uma relação que você não permitiu que acontecesse! E nem pense em tentar manipular o Márcio mais uma vez para tirar alguma vantagem disso.
-Mas, mãe...
-Fica quieta que eu não terminei! Aliás... sabe o que eu acho muito estranho? Que você já aplicou pequenos golpes em muita gente. Tudo isso aqui que você conquistou é baseado em mentiras, trapaças, enganações... mas você sempre mudou de alvo rapidinho... não entendo essa sua cisma com a Riva. Você tá na cola dessa mulher desde que ela era uma garota, desde que vocês eram só garotas, desde quando ela não tinha nada a não ser a pouca herança que a mãe dela deixou... qual é o seu problema com a Riva?
-Foi o Márcio que te contou tudo isso, né? Eu sabia!
-Não foi ele. Não te interessa como eu soube de tudo isso. Fala: qual é seu problema com a Riva?
-Isso não é da sua conta, mãe. Você nunca entenderia.
-Posso pelo menos saber onde você abandonou o seu filho?
-Eu não abandonei meu filho, mãe! Ele morreu horas depois que nasceu. Eu era só uma garota de catorze anos, sem um responsável por perto. Eu fugi do hospital quando vi meu filho morto nos meus braços. Tive medo, mãe...
Raquel acredita nas palavras da filha. CORTA A CENA.

CENA 2: Na manhã do dia seguinte, Marcelo vai à edícula acordar Márcio e verificar se ele se sente melhor.
-Acorda, cara...
Márcio se acorda.
-Se sente melhor?
-Bem melhor agora. Nem parece que ontem eu tava destruído.
-Excelente. Eu, meu marido e minha mãe vamos preparar uma coisinha pra você não sair daqui de estômago vazio.
-Eu sinto muito por ter causado todo esse transtorno a vocês.
-Não sinta muito. Você não é o primeiro e não será o último que dá alteração depois de uma festa. Esse tipo de coisa pode acontecer com qualquer um.
Márcio nota que Marcelo é frio com ele e tenta se aproximar do filho.
-Sabe... eu sei que você tem todas as razões do mundo pra não querer se aproximar de mim...
-Ainda bem que você sabe, Márcio.
-Por que você não me chama de pai, Marcelo?
-Cara... na boa: não força a barra. Eu nunca tive um pai, nunca senti falta de um, nunca precisei. Sou seu filho graças a um acidente biológico, apenas isso.
-Mas você parece ter ressentimentos. Ressentimento demonstra que não há indiferença...
-Márcio... sério... não tente bancar o psicólogo porque quem tem noções de psicologia aqui sou eu. Você só está aqui porque deu alteração e porque precisava de cuidados até ficar bem depois de ter quase se envenenado de tanto beber na festa do meu casamento. Eu não deixo de ajudar nenhuma pessoa que esteja necessitada de ajuda, principalmente se for dentro da minha casa. Mas não entenda errado nada disso.
-Filho, mas eu queria provar que estou mudando, que posso ser um pai pra você. Deixa eu tentar provar!
-Não entendo essa sua mudança repentina. Ainda lembro do deboche que você tratou a mim e ao meu marido há quase um ano. Lembro de cada detalhe daquele dia... de como você fez o possível pra arrancar uma fatia do nosso bolo e tirar uma vantagem. Me desculpe, mas diante disso, fica difícil acreditar que você seja diferente daquilo que demonstrou ser meses atrás...
-Um dia você vai entender porque agi daquele jeito, meu filho... eu já fiz nessa vida muitas coisas que eu não queria...
-É mesmo? Engraçado... porque acho que ninguém te obrigou a abandonar minha mãe grávida de mim e a roubar ela ao mesmo tempo. Ou será que tinha alguém por trás disso? Será que tinha? Você realmente quer que eu acredite nisso? Pelo seu próprio bem, Márcio... poupe-me das suas justificativas... eu sei exatamente para onde elas vão. Vem comigo tomar café da manhã e depois disso você vai embora.
-Mas, Marcelo...
-Não tem “mas” nem meio “mas”. É assim que vai ser.
CORTA A CENA.

CENA 3: Horas mais tarde, Vicente e Riva passeiam com o filho Lúcio pelo Jardim Botânico. Vicente resolve falar sobre Márcio com Riva.
-Você não acha esquisito esse comportamento todo certinho do Márcio que ele mostrou nesses dois dias pra gente?
-Claro que acho esquisito, Vicente... mas por outro lado eu não acho que ele esteja mentindo.
-Sério mesmo que você pensa isso? Olha, amor... você vá me desculpar, mas eu acho que nessa altura da vida você não pode se dar ao luxo de ser tão ingênua.
-Vicente, vá me desculpar você, mas embora eu tenha minhas desconfianças, eu entendo que o Márcio tenha vontade de se aproximar do próprio filho em algum momento da vida.
-Só acho curioso que esse momento da vida tenha sido justamente um casamento que foi amplamente divulgado pela imprensa. Só acho estranho que ele tenha levado mais de vinte anos pra se dar conta de que é pai do Marcelo.
-Você tem razão por um lado. Só que por outro lado eu tou vendo que em momento nenhum ele falou de dinheiro. Não quis tirar vantagem do que a gente tem.
-Mas você acha que só isso é motivo pra ele se tornar uma pessoa confiável depois de tudo o que ele te fez passar há mais de vinte anos?
-Eu lembro de tudo melhor que qualquer pessoa, Vicente. Só que as pessoas mudam... às vezes elas melhoram.
-Você pode ter razão, Riva. Mas eu acho cedo demais pra pagar pra ver. Ainda desconfio das intenções dessa vontade súbita dele se aproximar do Marcelo. Se eu fosse você, mantinha os olhos abertos...
-Pode deixar, Vicente. Boba eu não sou... um dia já fui, mas isso foi há muito tempo. Vamos deixar esse assunto pra lá? O dia está lindo e o Lúcio tá adorando esse sol...
Os dois seguem o passeio. CORTA A CENA.

CENA 4: Marcelo e Rafael arrumam as malas.
-Viu só, amor? No fim das contas, a presença indesejada do seu pai não nos causou problemas nem adiou nossa viagem pra Angra dos Reis... tudo nos conformes!
-Rafa... por favor, meu amor... eu já disse que não tenho pai. O Márcio é apenas um acidente biológico na minha vida.
-Credo, Marcelo... eu entendo que ele tenha sido um filho da puta esses anos todos, mas ele disse que quer tentar ser seu pai agora...
-Você quer mesmo continuar com esse assunto? Não percebe que agora é muito vantajoso pra ele querer ser alguma coisa na minha vida? A gente é rico, será que você esquece disso?
-Tá, amor... desculpa. Não tá mais aqui quem falou.
-Eu entendo que você queira ajudar. Mas esse é um assunto que só eu e minha mãe vamos poder resolver. E isso só depois da nossa lua-de-mel porque dá licença, a gente tem dias lindos pela frente em Angra!
-Isso aí, Marcelo. Mas me diz uma coisa: você tá disposto a mergulhar comigo? Eu tou levando aquelas roupas de mergulho...
-Você sabe que morro de medo do mar, de me afogar, não sei porque. Mas ao seu lado eu me arrisco a enfrentar esse medo.
-Já é! Até porque carioca com medo do mar é o mesmo que paulista com medo da garoa!
-Bobo!
Os dois partem com as malas para o carro e seguem viagem. CORTA A CENA.

CENA 5: Cláudio recebe Bruno em sua casa.
-Que saudade que eu estava sentindo de você, Bruno! E o emprego, como vai?
-Tá indo ótimo... fui até promovido, acredita?
-Melhor assim... pelo menos desse jeito você não tem que ficar economizando dinheiro pra pagar o aluguel...
-Cadê o Guilherme? Achei que ele ia estar aqui... praticamente se mudou de mala e cuia pra cá...
-Ele tá morando aqui, praticamente... mas hoje é dia dele se consultar com o psiquiatra, sabe como é...
-Engraçado... podia jurar que você deu uma murchada quando falou nele...
-Impressão sua, Bruno...
-Será mesmo que é só impressão? Somos amigos acima de tudo, Cláudio...
-Sabe o que é? O Guilherme inventou que quer casar comigo, vê se pode! Acho muito precipitado pensar nessas coisas. Disse que não tinha certeza se queria casar com ele...
-Por um lado eu fico aliviado de você não ter dito sim ainda...
-Eita! Por que?
-Preciso mesmo responder, Cláudio? No fundo você sabe...
-Bruno... você precisa entender que o Guilherme é uma pessoa boa e que precisa de mim.
-Eu passei a acreditar que ele é uma pessoa boa já tem um tempo... mas me pergunto se você está com ele por amor ou por pena, sabe?
-Bruno, por favor... esse tipo de questionamento agora nem cabe.
-Eu não desisti de você, Cláudio... não desisti de nós dois.
-Não se trata de desistir, Bruno... você tem o direito e o dever de seguir sua vida, de procurar alguém, de ser feliz com alguém... mas melhor encerrar o assunto por aqui. Tenho ensaio agora, você quer vir comigo?
-Claro!
Os dois partem. CORTA A CENA.

CENA 6: Mateus chama Laura para conversar enquanto ela se prepara para ir à companhia de teatro.
-Laura... a gente pode conversar um pouco?
-Claro... só não dá pra demorar muito porque não quero me atrasar pra chegar ao teatro.
-Eu sei que você pode achar louco o que eu tenho a dizer, mas...
-Não vou te julgar, Mateus. Se estiver precisando dizer, diga...
-Eu sinto falta de nós dois, sabe? Como namorados...
-Não vou mentir, Mateus... também sinto. Mas não será melhor deixar tudo como está? Nós funcionamos bem como amigos.
-Eu tava pensando numa nova proposta. Não um namoro necessariamente.
-E seria mais ou menos como?
-Seria um relacionamento aberto. Sem mentiras. Sem enganações... liberdade para ficar com quem quisermos, contanto que sejamos leais um ao outro.
-Sabe do mais louco disso, Mateus? Faz algum tempo que venho pensando nessa possibilidade, só não tive coragem de te dizer e te propor isso antes. Acho que pode dar certo desse jeito. Acho que nós merecemos nos dar essa chance. Eu aceito.
Os dois se beijam, selando o novo relacionamento.
-Cê tá ocupado hoje?
-Não...
-Vem comigo pro ensaio, então! Aproveita e já faz uns exercícios com o grupo pra não perder a prática...
Os dois partem. CORTA A CENA.

CENA 7: Suzanne chega à mansão dos Bittencourt e Haroldo a atende.
-Oi, Suzanne. Se estiver procurando a Riva, ela foi com o Vicente e o Lúcio dar um passeio no Jardim Botânico...
-Não, na verdade eu vim pedir umas dicas de compras pra Marion...
-Também saiu. Foram ela, a mãe dela e a Mariana fazer compras.
-Você acha que elas demoram?
-Não sei. Talvez demorem. A Marion quando sai pra fazer compras sempre acaba comprando mais do que precisa e vem cheia de coisa, presente pra todo mundo...
-Ah... então quer dizer que estamos sozinhos aqui?
-Quase sozinhos... não se esqueça que meu pai tá lá em cima, como de costume.
-Entendo... mesmo assim estamos praticamente só eu e você nessa casa e isso me dá ideias, se é que você me entende.
Suzanne tenta se insinuar para Haroldo, que se esquiva.
-Eu pensei que tinha sido suficientemente claro da última vez quando disse que nós não voltaríamos a ficar...
-Poxa, Haroldo... você é tão atraente! Ficar é só ficar... não é obrigação a nada sério, não existe nenhum contrato assinado...
-Justamente, Suzanne. Não é obrigação a nada. E eu não quero mais.
-Entendi... você não é obrigado, mesmo... desculpe qualquer coisa, viu?
-Não peça desculpas. Só que entre nós só rola amizade, mesmo.
-Tá certo... eu gosto de você, Haroldo... mas entendo e respeito sua decisão.
-Daqui a pouco elas devem chegar... a gente pode assistir um filme enquanto isso...
CORTA A CENA.

CENA 8: Horas mais tarde, Renata e Eva voltam do cartório, acompanhadas de Regina, Adelaide, Geraldo e Cleiton. Todos estão chegando à casa de Eva.
-Finalmente casadas! Diante da lei! - vibra Eva.
-Agora é que a coisa fica séria... - descontrai Renata.
Ao entrarem em casa, se deparam com Laura, Mateus, Cláudio, Bruno, Guilherme, Procópio, Mara e Valentim acendendo as luzes e a bradar em conjunto:
-Surpresa!
Renata e Eva se emocionam ao ver que é uma festa surpresa.
-Gente... olha as paredes! Tem toda a nossa história aqui! - espanta-se Renata.
-Agradeça a sua mãe, mocinha! A ideia dessa festa surpresa de casamento foi toda dela! - fala Regina.
Adelaide e Renata se abraçam e todos os convidados cumprimentam Eva e Renata pelo casamento.
-Agora a festa é de vocês, queridas! De vocês e dos seus amigos! - fala Adelaide.
-Sabe, mãe... eu nunca imaginei que você fosse fazer tudo isso por mim, pela minha felicidade... - fala Renata.
-Sua bobinha... enquanto houver vida, vai haver tempo da gente ver o que é realmente certo nessa vida. E o certo é amar, amar todos os dias, todas as horas, por todos os cantos... - fala Adelaide.
-É ou não é uma linda essa minha mãe? - emociona-se Renata.
A festa segue animada. CORTA A CENA.

CENA 9: Suzanne chega ao apartamento e vê que Márcio já está de volta.
-Até que enfim! Pensei que não morava mais aqui, seu tratante... quer dizer que andou querendo se aproximar do filhinho, foi? Nem me falou nada... isso pode ser lucrativo pra gente, sabia?
-Não se meta na minha relação com meu filho, Suzanne. Dessa vez você não arranca nenhum centavo dele ou da família dele, tá me ouvindo?
-Uuui! Resolveu bancar o santinho agora, Márcio? Eu te conheço melhor que ninguém...
-Eu só queria entender como é que você teve a coragem de mentir mais uma vez pra dona Raquel.
-Do que cê tá falando, cara? De novo defendendo a dona Raquel?
-Por que você mentiu que nosso filho morreu, Suzanne?
Suzanne fica sem reação. FIM DO CAPÍTULO 62.

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