CENA 1: Suzanne tenta mentir
para Raquel.
-Não sei de onde que você
tirou essa história, mãe. A senhora me viu grávida alguma vez na
vida? Olha, eu não sei quem foi que te contou essa história, mas
ela não passa de uma calúnia. Eu nunca tive filho nenhum!
Raquel perde a paciência e
avança sobre a filha, lhe dando dois tapas.
-Chega, Suzanne, chega de
mentira! Eu sei de tudo! Sei que essa criança nasceu em 4 de maio de
1995. Agora tudo faz sentido! Naquela época você e o Márcio
passavam mais dias longe de casa do que comigo! Assim era fácil você
esconder a sua barriga de grávida: você devia usar aqueles cintos
que apertam a barriga, não é isso? Você não queria esse filho,
tinha só catorze anos, eu entendo, mas esconder de mim, que sou sua
mãe? Você acha que eu sou alguma espécie de monstro, Suzanne? Não
adianta você negar mais nada! Eu sei que você teve esse filho e que
ele nasceu em Niterói!
Suzanne se vê sem saída.
-Sim, mãe... eu tive esse
filho. Não queria essa criança, lógico. Nem o Márcio queria...
Raquel dá outro tapa em
Suzanne!
-Mentira! O Márcio pode ter
cometido os erros dele, muitos dele por sua causa, mas jamais iria
deixar um filho na mão!
-Você tá louca, mãe? Como
que ele não ia deixar um filho na mãe se ele abandonou a Riva
grávida do Marcelo há mais de vinte anos?
-Abandonou porque você o
obrigou a isso. Pensa que eu não sei? Logo depois vocês fugiram.
Passaram um tempo justamente onde? Deixa eu ver se lembro direitinho:
em Niterói! Você esteve por trás disso o tempo inteiro! Eu sou
mãe, mas não sou cega! Levei anos para admitir que você é um
monstro, mas você é. Você impôs ao Márcio que ele abandonasse e
roubasse a Riva, para que assim ele pudesse seguir junto de você.
Você não tem vergonha de ter sempre usado um cara que te ama mais
que tudo, talvez mais que a própria vida? Você passou por cima das
vontades dele, sabendo que ele sempre foi cego de amor por você e te
seguiria onde quer que você fosse. Sabe onde ele tá agora? Na casa
do filho dele, tentando construir uma relação que você não
permitiu que acontecesse! E nem pense em tentar manipular o Márcio
mais uma vez para tirar alguma vantagem disso.
-Mas, mãe...
-Fica quieta que eu não
terminei! Aliás... sabe o que eu acho muito estranho? Que você já
aplicou pequenos golpes em muita gente. Tudo isso aqui que você
conquistou é baseado em mentiras, trapaças, enganações... mas
você sempre mudou de alvo rapidinho... não entendo essa sua cisma
com a Riva. Você tá na cola dessa mulher desde que ela era uma
garota, desde que vocês eram só garotas, desde quando ela não
tinha nada a não ser a pouca herança que a mãe dela deixou... qual
é o seu problema com a Riva?
-Foi o Márcio que te contou
tudo isso, né? Eu sabia!
-Não foi ele. Não te
interessa como eu soube de tudo isso. Fala: qual é seu problema com
a Riva?
-Isso não é da sua conta,
mãe. Você nunca entenderia.
-Posso pelo menos saber onde
você abandonou o seu filho?
-Eu não abandonei meu filho,
mãe! Ele morreu horas depois que nasceu. Eu era só uma garota de
catorze anos, sem um responsável por perto. Eu fugi do hospital
quando vi meu filho morto nos meus braços. Tive medo, mãe...
Raquel acredita nas palavras
da filha. CORTA A CENA.
CENA 2: Na manhã do dia
seguinte, Marcelo vai à edícula acordar Márcio e verificar se ele
se sente melhor.
-Acorda, cara...
Márcio se acorda.
-Se sente melhor?
-Bem melhor agora. Nem parece
que ontem eu tava destruído.
-Excelente. Eu, meu marido e
minha mãe vamos preparar uma coisinha pra você não sair daqui de
estômago vazio.
-Eu sinto muito por ter
causado todo esse transtorno a vocês.
-Não sinta muito. Você não
é o primeiro e não será o último que dá alteração depois de
uma festa. Esse tipo de coisa pode acontecer com qualquer um.
Márcio nota que Marcelo é
frio com ele e tenta se aproximar do filho.
-Sabe... eu sei que você tem
todas as razões do mundo pra não querer se aproximar de mim...
-Ainda bem que você sabe,
Márcio.
-Por que você não me chama
de pai, Marcelo?
-Cara... na boa: não força a
barra. Eu nunca tive um pai, nunca senti falta de um, nunca precisei.
Sou seu filho graças a um acidente biológico, apenas isso.
-Mas você parece ter
ressentimentos. Ressentimento demonstra que não há indiferença...
-Márcio... sério... não
tente bancar o psicólogo porque quem tem noções de psicologia aqui
sou eu. Você só está aqui porque deu alteração e porque
precisava de cuidados até ficar bem depois de ter quase se
envenenado de tanto beber na festa do meu casamento. Eu não deixo de
ajudar nenhuma pessoa que esteja necessitada de ajuda, principalmente
se for dentro da minha casa. Mas não entenda errado nada disso.
-Filho, mas eu queria provar
que estou mudando, que posso ser um pai pra você. Deixa eu tentar
provar!
-Não entendo essa sua mudança
repentina. Ainda lembro do deboche que você tratou a mim e ao meu
marido há quase um ano. Lembro de cada detalhe daquele dia... de
como você fez o possível pra arrancar uma fatia do nosso bolo e
tirar uma vantagem. Me desculpe, mas diante disso, fica difícil
acreditar que você seja diferente daquilo que demonstrou ser meses
atrás...
-Um dia você vai entender
porque agi daquele jeito, meu filho... eu já fiz nessa vida muitas
coisas que eu não queria...
-É mesmo? Engraçado...
porque acho que ninguém te obrigou a abandonar minha mãe grávida
de mim e a roubar ela ao mesmo tempo. Ou será que tinha alguém por
trás disso? Será que tinha? Você realmente quer que eu acredite
nisso? Pelo seu próprio bem, Márcio... poupe-me das suas
justificativas... eu sei exatamente para onde elas vão. Vem comigo
tomar café da manhã e depois disso você vai embora.
-Mas, Marcelo...
-Não tem “mas” nem meio
“mas”. É assim que vai ser.
CORTA A CENA.
CENA 3: Horas mais tarde,
Vicente e Riva passeiam com o filho Lúcio pelo Jardim Botânico.
Vicente resolve falar sobre Márcio com Riva.
-Você não acha esquisito
esse comportamento todo certinho do Márcio que ele mostrou nesses
dois dias pra gente?
-Claro que acho esquisito,
Vicente... mas por outro lado eu não acho que ele esteja mentindo.
-Sério mesmo que você pensa
isso? Olha, amor... você vá me desculpar, mas eu acho que nessa
altura da vida você não pode se dar ao luxo de ser tão ingênua.
-Vicente, vá me desculpar
você, mas embora eu tenha minhas desconfianças, eu entendo que o
Márcio tenha vontade de se aproximar do próprio filho em algum
momento da vida.
-Só acho curioso que esse
momento da vida tenha sido justamente um casamento que foi amplamente
divulgado pela imprensa. Só acho estranho que ele tenha levado mais
de vinte anos pra se dar conta de que é pai do Marcelo.
-Você tem razão por um lado.
Só que por outro lado eu tou vendo que em momento nenhum ele falou
de dinheiro. Não quis tirar vantagem do que a gente tem.
-Mas você acha que só isso é
motivo pra ele se tornar uma pessoa confiável depois de tudo o que
ele te fez passar há mais de vinte anos?
-Eu lembro de tudo melhor que
qualquer pessoa, Vicente. Só que as pessoas mudam... às vezes elas
melhoram.
-Você pode ter razão, Riva.
Mas eu acho cedo demais pra pagar pra ver. Ainda desconfio das
intenções dessa vontade súbita dele se aproximar do Marcelo. Se eu
fosse você, mantinha os olhos abertos...
-Pode deixar, Vicente. Boba eu
não sou... um dia já fui, mas isso foi há muito tempo. Vamos
deixar esse assunto pra lá? O dia está lindo e o Lúcio tá
adorando esse sol...
Os dois seguem o passeio.
CORTA A CENA.
CENA 4: Marcelo e Rafael
arrumam as malas.
-Viu só, amor? No fim das
contas, a presença indesejada do seu pai não nos causou problemas
nem adiou nossa viagem pra Angra dos Reis... tudo nos conformes!
-Rafa... por favor, meu
amor... eu já disse que não tenho pai. O Márcio é apenas um
acidente biológico na minha vida.
-Credo, Marcelo... eu entendo
que ele tenha sido um filho da puta esses anos todos, mas ele disse
que quer tentar ser seu pai agora...
-Você quer mesmo continuar
com esse assunto? Não percebe que agora é muito vantajoso pra ele
querer ser alguma coisa na minha vida? A gente é rico, será que
você esquece disso?
-Tá, amor... desculpa. Não
tá mais aqui quem falou.
-Eu entendo que você queira
ajudar. Mas esse é um assunto que só eu e minha mãe vamos poder
resolver. E isso só depois da nossa lua-de-mel porque dá licença,
a gente tem dias lindos pela frente em Angra!
-Isso aí, Marcelo. Mas me diz
uma coisa: você tá disposto a mergulhar comigo? Eu tou levando
aquelas roupas de mergulho...
-Você sabe que morro de medo
do mar, de me afogar, não sei porque. Mas ao seu lado eu me arrisco
a enfrentar esse medo.
-Já é! Até porque carioca
com medo do mar é o mesmo que paulista com medo da garoa!
-Bobo!
Os dois partem com as malas
para o carro e seguem viagem. CORTA A CENA.
CENA 5: Cláudio recebe Bruno
em sua casa.
-Que saudade que eu estava
sentindo de você, Bruno! E o emprego, como vai?
-Tá indo ótimo... fui até
promovido, acredita?
-Melhor assim... pelo menos
desse jeito você não tem que ficar economizando dinheiro pra pagar
o aluguel...
-Cadê o Guilherme? Achei que
ele ia estar aqui... praticamente se mudou de mala e cuia pra cá...
-Ele tá morando aqui,
praticamente... mas hoje é dia dele se consultar com o psiquiatra,
sabe como é...
-Engraçado... podia jurar que
você deu uma murchada quando falou nele...
-Impressão sua, Bruno...
-Será mesmo que é só
impressão? Somos amigos acima de tudo, Cláudio...
-Sabe o que é? O Guilherme
inventou que quer casar comigo, vê se pode! Acho muito precipitado
pensar nessas coisas. Disse que não tinha certeza se queria casar
com ele...
-Por um lado eu fico aliviado
de você não ter dito sim ainda...
-Eita! Por que?
-Preciso mesmo responder,
Cláudio? No fundo você sabe...
-Bruno... você precisa
entender que o Guilherme é uma pessoa boa e que precisa de mim.
-Eu passei a acreditar que ele
é uma pessoa boa já tem um tempo... mas me pergunto se você está
com ele por amor ou por pena, sabe?
-Bruno, por favor... esse tipo
de questionamento agora nem cabe.
-Eu não desisti de você,
Cláudio... não desisti de nós dois.
-Não se trata de desistir,
Bruno... você tem o direito e o dever de seguir sua vida, de
procurar alguém, de ser feliz com alguém... mas melhor encerrar o
assunto por aqui. Tenho ensaio agora, você quer vir comigo?
-Claro!
Os dois partem. CORTA A CENA.
CENA 6: Mateus chama Laura
para conversar enquanto ela se prepara para ir à companhia de
teatro.
-Laura... a gente pode
conversar um pouco?
-Claro... só não dá pra
demorar muito porque não quero me atrasar pra chegar ao teatro.
-Eu sei que você pode achar
louco o que eu tenho a dizer, mas...
-Não vou te julgar, Mateus.
Se estiver precisando dizer, diga...
-Eu sinto falta de nós dois,
sabe? Como namorados...
-Não vou mentir, Mateus...
também sinto. Mas não será melhor deixar tudo como está? Nós
funcionamos bem como amigos.
-Eu tava pensando numa nova
proposta. Não um namoro necessariamente.
-E seria mais ou menos como?
-Seria um relacionamento
aberto. Sem mentiras. Sem enganações... liberdade para ficar com
quem quisermos, contanto que sejamos leais um ao outro.
-Sabe do mais louco disso,
Mateus? Faz algum tempo que venho pensando nessa possibilidade, só
não tive coragem de te dizer e te propor isso antes. Acho que pode
dar certo desse jeito. Acho que nós merecemos nos dar essa chance.
Eu aceito.
Os dois se beijam, selando o
novo relacionamento.
-Cê tá ocupado hoje?
-Não...
-Vem comigo pro ensaio, então!
Aproveita e já faz uns exercícios com o grupo pra não perder a
prática...
Os dois partem. CORTA A CENA.
CENA 7: Suzanne chega à
mansão dos Bittencourt e Haroldo a atende.
-Oi, Suzanne. Se estiver
procurando a Riva, ela foi com o Vicente e o Lúcio dar um passeio no
Jardim Botânico...
-Não, na verdade eu vim pedir
umas dicas de compras pra Marion...
-Também saiu. Foram ela, a
mãe dela e a Mariana fazer compras.
-Você acha que elas demoram?
-Não sei. Talvez demorem. A
Marion quando sai pra fazer compras sempre acaba comprando mais do
que precisa e vem cheia de coisa, presente pra todo mundo...
-Ah... então quer dizer que
estamos sozinhos aqui?
-Quase sozinhos... não se
esqueça que meu pai tá lá em cima, como de costume.
-Entendo... mesmo assim
estamos praticamente só eu e você nessa casa e isso me dá ideias,
se é que você me entende.
Suzanne tenta se insinuar para
Haroldo, que se esquiva.
-Eu pensei que tinha sido
suficientemente claro da última vez quando disse que nós não
voltaríamos a ficar...
-Poxa, Haroldo... você é tão
atraente! Ficar é só ficar... não é obrigação a nada sério,
não existe nenhum contrato assinado...
-Justamente, Suzanne. Não é
obrigação a nada. E eu não quero mais.
-Entendi... você não é
obrigado, mesmo... desculpe qualquer coisa, viu?
-Não peça desculpas. Só que
entre nós só rola amizade, mesmo.
-Tá certo... eu gosto de
você, Haroldo... mas entendo e respeito sua decisão.
-Daqui a pouco elas devem
chegar... a gente pode assistir um filme enquanto isso...
CORTA A CENA.
CENA 8: Horas mais tarde,
Renata e Eva voltam do cartório, acompanhadas de Regina, Adelaide,
Geraldo e Cleiton. Todos estão chegando à casa de Eva.
-Finalmente casadas! Diante da
lei! - vibra Eva.
-Agora é que a coisa fica
séria... - descontrai Renata.
Ao entrarem em casa, se
deparam com Laura, Mateus, Cláudio, Bruno, Guilherme, Procópio,
Mara e Valentim acendendo as luzes e a bradar em conjunto:
-Surpresa!
Renata e Eva se emocionam ao
ver que é uma festa surpresa.
-Gente... olha as paredes! Tem
toda a nossa história aqui! - espanta-se Renata.
-Agradeça a sua mãe,
mocinha! A ideia dessa festa surpresa de casamento foi toda dela! -
fala Regina.
Adelaide e Renata se abraçam
e todos os convidados cumprimentam Eva e Renata pelo casamento.
-Agora a festa é de vocês,
queridas! De vocês e dos seus amigos! - fala Adelaide.
-Sabe, mãe... eu nunca
imaginei que você fosse fazer tudo isso por mim, pela minha
felicidade... - fala Renata.
-Sua bobinha... enquanto
houver vida, vai haver tempo da gente ver o que é realmente certo
nessa vida. E o certo é amar, amar todos os dias, todas as horas,
por todos os cantos... - fala Adelaide.
-É ou não é uma linda essa
minha mãe? - emociona-se Renata.
A festa segue animada. CORTA A
CENA.
CENA 9: Suzanne chega ao
apartamento e vê que Márcio já está de volta.
-Até que enfim! Pensei que
não morava mais aqui, seu tratante... quer dizer que andou querendo
se aproximar do filhinho, foi? Nem me falou nada... isso pode ser
lucrativo pra gente, sabia?
-Não se meta na minha relação
com meu filho, Suzanne. Dessa vez você não arranca nenhum centavo
dele ou da família dele, tá me ouvindo?
-Uuui! Resolveu bancar o
santinho agora, Márcio? Eu te conheço melhor que ninguém...
-Eu só queria entender como é
que você teve a coragem de mentir mais uma vez pra dona Raquel.
-Do que cê tá falando, cara?
De novo defendendo a dona Raquel?
-Por que você mentiu que
nosso filho morreu, Suzanne?
Suzanne fica sem reação. FIM
DO CAPÍTULO 62.
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