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quarta-feira, 20 de julho de 2016

CAPÍTULO 57

CENA 1: Mateus se levanta e Rafael invade o apartamento, seguido por Marcelo. Rafael segura Mateus pelo colarinho.
-Tá feliz agora, seu verme? Você era o único que sabia dos meus planos, só contei pra você!
-Vai fazer o que? Me processar? Faltei com a verdade? Sua carreira estaria acabada de qualquer jeito! - revida Mateus, sorrindo ironicamente.
Rafael tenta agredir Mateus novamente, mas Marcelo o contém.
-Chega! Parem com isso agora! Tá vendo porque eu tinha de vir junto, amor? Olha só o que você fez!
-Ah, tá! Agora o culpado sou eu? Me poupe do seu moralismo, Marcelo!
-Não, Rafa! Perder a razão diante desse verme não vai ajudar em nada!
Mateus olha para Laura, que permanece parada a observar o desenrolar da situação.
-Não vai fazer nada, Laura? Vai ficar aí parada? Pera... você abriu pra eles... foi você que chamou eles aqui, não foi? Eu não esperava isso de você!
-Eu não concordo com o soco que você levou, Mateus. Mas você mereceu. Sim, eu confirmei tudo pro Rafael hoje lá no teatro. Eu te disse que faria isso.
Marcelo e Rafael sentam-se no sofá e Mateus, na poltrona. Rafael começa a falar.
-Você não passa de um verme, Mateus. O que você acha que ganhou com isso? A sua novela prestes a estrear, você cheio de trabalho e ainda encontra tempo pra uma palhaçada dessas? Sabe o que mais me dói nisso? Que desde que a gente se conheceu eu fui seu amigo, mas você nunca foi amigo de ninguém. Você passa por cima de qualquer um que te represente ameaça e a ameaça é você quem cria. A sua ambição, sem limites, que cria esses monstros que você dá vida. Você justifica que deixou a Bahia muito cedo, ainda quase criança, que nunca mais viu pessoalmente os pais e só fala com eles pela internet, mas eu pergunto: te faltou moradia? Não! Quando você morava com seus pais lá na sua terra, te faltou escola? Não! Te faltou comida? Muito menos! Você diz que eu sou privilegiado por ser de família rica, mas você sempre deixou claro que sua família lá é de classe média. Você é o retrato do brasileiro ganancioso... não contente em ser da classe média, já pensa que é elite ou quer ser a elite. Quando se torna a elite, quer ser rei. Você é, acima de tudo, uma pessoa corrompida. Você é como milhares de pessoas: um corrupto, que passa por cima de qualquer moral ou respeito em nome do que você ambiciona. Você não passa de um corrupto.
Mateus fica impactado com as duras palavras de Rafael e sentindo-se humilhado, segura-se para não chorar na frente de Rafael e Marcelo.
-Chega, amor... você já disse tudo o que era preciso ser dito. Acho que esse daí vai ter muito o que pensar por muitos dias... - fala Marcelo.
-Você tá certo, Marcelo... vamos embora. Laura, desculpe qualquer coisa.
Rafael e Marcelo partem. Mateus chora, arrependido e humilhado e Laura o consola. CORTA A CENA.

CENA 2: Ao amanhecer do dia seguinte, Márcio acorda-se e percebe que Suzanne está pensativa fazendo anotações.
-Você nunca foi de se acordar cedo desse jeito, Suzanne. Ainda mais pra fazer anotações sobre seus planos. O que te deu?
-Você quer dizer o que não me deu, né? Não dei! Não dei pro Haroldo. Ele disse que se sente atraído por mim, mas que não quer nada sério porque não tá preparado, bla bla bla... enfim, um papo chato e cansativo que eu tive que aguentar quando a gente foi no Jardim Botânico a convite dele.
-Tá, mas só por isso você praticamente madrugou pra refazer os planos? Nunca te vi entregar os pontos fácil desse jeito.
-E você acha que eu tenho tempo e condições de insistir no bobo apaixonado e traumatizado pelas merdas do passado? Eu não engoli aquela desconfiança da Riva por causa da gargantilha que você roubou em noventa e seis.
-Roubei porque você disse pra eu passar a mão na herança da Riva, se você esqueceu desse detalhe.
-Eu sei. Que seja.
-Você não acha cedo demais pra desistir do Haroldo?
-Não acho. Tenho é que descobrir rápido por onde eu posso me garantir segura nessa família, isso sim.
-Sinceramente eu não vejo quem mais ali poderia ser sua tábua de salvação. Depois... você não disse agora que ele desabafou um monte contigo?
-Disse mesmo. Ele desabafou tanta coisa que eu tive que me segurar pra não revirar os olhos com aquele monte de palhaçada sentimental que ele tava falando.
-Se ele desabafou é porque de alguma forma ele quer confiar em você, certo?
-É verdade... Márcio, você tem razão! Claro! Como é que não percebi isso antes? Se ele está disposto a ser meu confidente, isso significa que é mais fácil de envolver o pato no que eu quiser... e seduzir ele não seria uma tarefa difícil, basta que eu consiga terminar de ganhar a confiança dele!
-Exatamente, Suzanne. Me surpreende que você não tenha pensado nisso antes.
-Ah, você sabe que eu perco a paciência fácil com esses mela-cueca.
-É, mas não dá pra ser intempestiva numa hora dessas.
-Você sabe muito bem que não gosto de ser contrariada ou que as coisas não saiam do meu jeito. Mas também não sou de ficar me lamentando. A gente joga com as peças que tem.
-E é por isso que você ainda deve focar no Haroldo. Ele pode ser a sua salvação.
-Engraçado... às vezes te sinto distante. Antes você costumava dizer sempre a “nossa” salvação... agora disse “sua”.
-Ah, Suzanne... besteira. O que não dá é pra perder o foco.
-Sei... de qualquer forma você tá coberto de razão. Pode deixar que eu vou pensar num jeito de enredar o pato na minha teia.
CORTA A CENA.

CENA 3: Horas depois, Mateus está em um intervalo das gravações nos estúdios e vê que há uma mensagem do “Chefe”. Ao lê-la, resolve ligar pra ele.
-Incomodo, chefe?
-Não, seu imbecil. Se eu te mandei a mensagem foi justamente porque eu esperava que você retornasse quando pudesse.
-Só não entendi porque você disse que eu tinha que baixar a bola.
-Você está se fazendo de lerdo ou está especialmente lerdo hoje, mesmo?
-Não precisa me tratar feito um criado.
-Mateus... deixa eu refrescar um pouquinho a sua memória: você é meu criado e tudo o que eu quiser que você seja. Se eu resolver que vou te mandar trabalhar pra organização e não te pagar um centavo por isso, eu decido.
-Isso seria escravidão! Dá cadeia, sabia?
-Seu tonto... tudo o que a gente faz pode dar cadeia. Você acha mesmo que estou preocupado com ética? Foda-se a ética! Só que você precisa sim baixar a sua bola. Não adianta negar diante de mim que eu sei que essa última que aconteceu do Rafael e do Marcelo terem sido delatados pelo site de fofoca teve a sua mão. A mão não... o braço inteiro!
-Teve mesmo. Você está esquecido? Eu disse que tava buscando um jeito de resolver as coisas do meu jeito.
-Você é um inconsequente. Se até eu já fiquei sabendo sem ter de mandar meus informantes irem atrás, você acha mesmo que vai ser difícil da imprensa chegar até você? Você se esquece que é uma pessoa pública por ser ator famoso? Se a merda respingar em cima de você, quem me garante que você não ia denunciar a mim e à organização?
-Eu garanto. Eu dou a minha palavra.
-Até hoje você não me deu motivos pra eu duvidar da sua palavra. Mas também sei que você já mentiu pra muita gente, inclusive pra conseguir chegar onde chegou. E é por isso que eu tou te alertando: seja discreto, Mateus. Seja invisível na medida do possível, já que da novela você não tem como escapar e vai acabar em evidência na mídia. Você está colocando a mim e a toda organização em risco por conta das picuinhas que você cria pra crescer rápido na emissora. Pare com isso imediatamente. Isso não é um pedido, isso é uma ordem. Você não tem escolha. Você está proibido de mover mais uma palha pra derrubar quem quer que seja.
-Tá, chega de sermão. Eu sei o tamanho da merda que eu fiz, chefe. Já tinha me arrependido.
-Demorou tempo demais pra se arrepender. Mas fico tranquilo que alguma consciência habita nessa sua cabeça de vento.
-Preciso desligar, senão perco a hora de lanchar...
Mateus desliga. CORTA A CENA.

CENA 4: Valentim está em seu consultório em horário vago, investigando todos os registros do passado de Suzanne disponíveis e encontra dificuldades de encontrar certas informações.
-É no mínimo intrigante que não existe praticamente nenhuma informação sobre Suzanne entre seus vinte e dois e vinte e oito anos. Nenhuma movimentação financeira significativa, apenas a negociação de uma dívida com o banco, a conta corrente suspensa por seis anos... isso tá no mínimo esquisito. Pra uma pessoa suspender a conta corrente por tanto tempo, ela tem de estar passando por uma crise financeira muito grave, a ponto de estar quase em situação miserável... talvez isso seja indicativo de que ela possua identidades falsas, mas... como chegar nelas? Dificilmente os registros no banco de dados dos bancos possuem fotos dos clientes... no máximo os seus registros civis. É, Valentim... essa mulher sabe se esconder como ninguém. Excelente estrategista como grande parte dos psicopatas são...
Valentim pesquisa incessantemente informações e segue anotando e imprimindo o que considera importante. CORTA A CENA.

CENA 5: Horas depois, Adelaide surpreende Renata indo pela primeira vez na companhia de teatro, no horário de descanso dos atores.
-Eu nunca esperei que você viesse aqui, mãe... você costumava dizer que teatro era antro de perdição...
-Ah, minha filha... muita coisa tem mudado aqui dentro. Eu fui conversar com seus sogros. Eles são pessoas maravilhosas, sabia?
-Claro que sei, mãe... por que a Eva não me contou nada?
-A Eva também não sabe. Eu e seu pai fomos lá por conta própria. Entramos em contato com a Regina e com o Geraldo antes... peguei o contato deles no seu celular, quando vocês dormiram lá em casa... desculpe a invasão.
-Não... que isso, mãe! Eu fico feliz que você tenha tomado essa iniciativa! Isso só demonstra que o seu empenho e esforço em se melhorar é genuíno e cada vez maior!
-Sabe, filha... esse caminho nem começou direito ainda. Tenho tanto a aprender ainda! Mas por você eu estou disposta a tudo.
-Não faça só por mim ou para salvar o casamento com o pai... faça também por você...
-Também faço por mim. Mas sabe... ultimamente eu tenho começado a questionar algumas coisas que aprendi desde sempre... a começar pela religião. Eu ainda acredito em Deus, mas não sei se me sinto mais tão evangélica quanto antes. Eu tou começando a abrir meus olhos e não sei se esse caminho tem volta... vejo o pastor apontar o dedo pra tudo e todos, pra tudo aquilo que ele considera do mundo... mas ao mesmo tempo eu vejo muita condescendência dentro daquela igreja. Passam a mão na cabeça de quem cometeu atos graves, desde que se arrependam e aceitem Jesus... de alguma forma isso à deixando de fazer sentido pra mim. São posturas contraditórias. Como podem apontar tanto o dedo pra quem está fora dali e ao mesmo tempo relevarem tantas coisas graves?
-Você não faz ideia de quanto tempo esperei pra senhora começar a perceber essas coisas...
As duas se abraçam, emocionadas.
-Me ajuda, filha?
-Sempre!
CORTA A CENA.

CENA 6: Raquel aproveita que está sozinha no apartamento do hotel e liga seu notebook para pesquisar as informações que dispõe por conhecer os crimes de Márcio na sua juventude para tentar descobrir se Suzanne em algum momento foi fichada na polícia.
-Não entendo. Nada consta na ficha criminal da minha filha! Não é possível que ela tenha permitido que o Márcio assumisse sozinho crimes que certamente foram orquestrados por ela! E o Márcio, então? Que espécie de ser humano aceitaria assumir toda a culpa por crimes que não cometeu sozinho? Tem que ser muito cego de amor, meu Deus do céu...
Pesquisando mais a fundo, Raquel termina por chegar aos registros bancários de Suzanne e constata o mesmo que Valentim, em seu consultório, constatou horas antes.
-Como é que é? Nenhuma movimentação financeira durante seis anos depois de renegociar e quitar uma dívida com o banco? Seis anos de uma conta corrente suspensa? Como é que a Suzanne fez tantas viagens, então? Como é que ela vinha com tanto dinheiro dessas viagens, se no nome dela nada consta aqui?
Raquel resolve entrar em contato com Valentim.
-Oi, Valentim... incomodo?
-De maneira alguma, Raquel. Estou no teatro agora e nas próximas horas.
-Posso ir aí? Tou imprimindo aqui os resultados de uma pesquisa que fiz sobre o passado da minha filha e preciso te mostrar.
-Não é um momento oportuno. Você sabe que aqui, somente Procópio e Laura, além do maior patrocinador, sabem que eu e Mara somos investigadores. Mas venha mesmo assim. Só que antes você pode me dizer do que se trata?
-Claro. Valentim, durante seis anos a conta bancária de Suzanne ficou paralisada. Só que nesse período, dos vinte e dois aos vinte e oito anos dela, ela não parou de viajar... muitas vezes pro exterior! Sempre ostentando bens e dinheiro, me dando presentes e tudo mais.
-Você é boa nessas pesquisas. Você tem como chegar em dez minutos?
-Claro! Vou chamar um uber pelo aplicativo.
Dez minutos depois, Raquel chega e vai direto ao camarim para poder conversar a sós com Valentim.
-Então, Valentim... o que você acha de tudo isso?
-Primeiro eu tenho que te dar parabéns mais uma vez. A cada dia que passa você prova mais e mais que tá envolvida dos pés à cabeça com o nosso ofício. Mas, deixando a rasgação de seda de lado, o fato de sua filha ter feito viagens e ostentado toda essa grana, durante esses seis anos, só prova que ela usou identidades falsas.
-Sim, também concluí isso, Valentim. Só que tem um problema bem sério nisso tudo: não temos provas até o momento e pela dificuldade que tanto eu e você encontramos ao tentar descobrir qualquer mínima prova, é possível que não tenha.
-Você tá certa. A mim não resta dúvida que ela usou o Márcio de testa-de-ferro em alguns crimes. Mas ela deve ter usado ao longo desse tempo outros testas-de-ferro.
-Também concluí isso, afinal de contas já faz muitos anos que o Márcio não participa ativamente de nada nem cometeu algum crime. Só que como nós vamos conseguir efetivamente chegar nesses outros bodes expiatórios?
-Aí é que está o problema. Uma pena que Mara não esteja aqui agora.
-E onde ela foi?
-Ajudar a polícia a efetuar a prisão de um trio de estelionatários.
Os dois seguem a conversar. CORTA A CENA.

CENA 7: Ao anoitecer, Marion e Valquíria já estão na mansão dos Bittencourt por terem sido liberadas mais cedo das gravações no dia. Haroldo resolve comunicar a todos que está ficando com Suzanne.
-Então, gente... aproveitando que tá todo mundo reunido cedo aqui em casa, queria falar pra vocês uma coisa: tenho ficado com a Suzanne. Ela parece querer algo mais sério, mas deixei claro pra ela que a gente só fica. De qualquer maneira, acho melhor comunicar a vocês pra que ninguém se espante se nos flagrar em algum momento, digamos... mais caliente. - fala Haroldo.
Marcelo e Rafael não gostam de saber do que Haroldo diz. Vicente faz cara de reprovação e Riva o recrimina com o olhar.
-Só toma cuidado pra ela não inventar alguma história, tipo golpe da barriga. Vai que ela já tem alguma carta na manga? - fala Marcelo, irônico.
-Poxa, mano... com tanta mulher e tanto homem nesse Rio de Janeiro você resolve ficar de esfrega-esfrega logo com essa falsiane? - protesta Rafael.
Marion resolve intervir, sob os olhares de cumplicidade de Valquíria.
-Poxa, gente! Deem um desconto pra Suzanne! Ela deixou de ser a instrutora da Riva e se tornou amiga da família! É uma pessoa doce, gentil, simpática, amável... não vejo razão pra essa implicância de vocês... - fala Marion, piscando marotamente para Valquíria.
A campainha toca.
-É... parece que a imprensa chegou. Hora de fazer o que tem que ser feito... - fala Rafael.
CORTA A CENA.

CENA 8: Alguns jornalistas se acomodam nas cadeiras do salão de festas da mansão e Rafael e Marcelo se sentam na bancada. Outros jornalistas se aproximam com microfones, gravadores e celulares.
-Rafael Alves, você convocou essa coletiva de imprensa após o incidente com o site de fofocas mais lido do Brasil. Pensa em processar o site? - pergunta uma jornalista.
-Na hora da raiva a gente pensa em processar, mas depois vi que não faria sentido processar um site que já recebe tantas notificações judiciais mensalmente...
-Mas você e seu primo foram difamados por esse site. Não pensa em pedir uma retratação que seja ao site? - pergunta outro jornalista.
-A retratação eu até considero solicitar. Mas gostaria de fazer uma correção: eu não fui difamado. Com ou sem incidente eu teria chamado vocês todos ainda essa semana. Porque cansei de mentiras: eu realmente sou gay. FIM DO CAPÍTULO 57.

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